ÓRFÃO, ABANDONADO E PRESSIONADO: A FRENÉTICA INFÂNCIA DE DOM PEDRO II
Com o objetivo de impedir que o futuro monarca seguisse os passos do pai, diversos tutores fizeram de Pedro um erudito nas mais diversas áreas e línguas
ANDRÉ NOGUEIRA PUBLICADO EM 25/04/2020
Dom Pedro II foi a criança que passou por uma infância ambígua: rica e perturbadora. O jovem, que perdeu a mãe, Maria Leopoldina, com um ano de idade, cresceu rodeado por criados num grande palácio, mas distante do pai, que revezava entre comemorações e o governo. Todavia, as coisas ficariam ainda piores em 1831, quando, por diversas pressões, D. Pedro I abdicou o trono e fugiu para Portugal.
Abandonado pelo pai, o garoto passou a ser criado pelos tutores, diante de uma situação bagunçada: sendo herdeiro do trono, era constitucionalmente muito jovem para governar. Tendo apenas seis anos, sem saber como foi parar lá, a infância do futuro Magnânimo foi marcada pela solidão, apesar da centralidade na corte.
Além disso, seus dias também eram marcados pela imensa pressão diária. Ele deveria ser instruído para liderar um gigante império. Mais do que isso: precisaria transpassar as dificuldades do pai, sendo conciliador, bom administrador e articulador político, diante das contradições do império brasileiro, marcado pela escravidão e o isolamento.
Como consequência, José Bonifácio tornou-se o tutor do jovem. Seria sua responsabilidade o treinamento político, diplomático e cultural do futuro imperador. Ao mesmo tempo, a Assembleia Geral exigia constantes relatórios do desenvolvimento do herdeiro. O tutor começou bem sua educação, mas logo foi destituído pelo Parlamento diante da situação caótica do país.
Então, Manuel Inácio de Andrade, o Barão de Itanhaém, tornou-se o novo responsável por Dom Pedro II. Ele foi um dos principais instrutores do jovem, e chegou a indicar o Marquês de Sapucaí como um de seus instrutores na criação de um vasto léxico ao monarca. Desde criança, foi levado a acordar diariamente às 6h30, para iniciar seus estudos às 7, com poucos intervalos. A jornada durava até às 22h, quando jantava e ia para a cama.
D. Pedro ainda teve a ajuda de personagens notáveis durante sua criação, como D. Mariana Carlota de Verna, principal aia e professora, que ensinou ao lado do padre Antônio de Arrábida, antigo tutor de Pedro I, e do frei Pedro Mariana, que o lecionou línguas, matemática e religião.
Seu último responsável foi um homem de nome Rafael, no entanto, pouco se sabe sobre sua vida. No entanto, afirma-se que se trata de um homem negro e veterano da Guerra da Cisplatina.
Aprendendo desde cedo, Pedro desenvolveu grande inteligência e foi versado nas mais diversas áreas. Forçou-se a desenvolver uma personalidade distante do boêmio pai, o fazendo ser empático e disciplinado, além de alfabetizado em latim, francês, inglês, italiano, espanhol, grego, árabe, hebraico, occitano e tupi. Ainda entendia de engenharia, astronomia, matemática, esgrima, biologia e diversas outras áreas.
Pedro cresceu em cenário catastrófico: o Brasil não tinha um imperador, sendo regido por juntas e depois por regentes únicos que disputavam o poder entre conservadores e federalistas.
Era exigido que se assumisse logo o imperador legitimado pelo poder dinástico. Como consequência, a articulação tomou conta, buscando a retomada do unitarismo nacional contra uma possível fragmentação ameaçada pela série de revoltas que ocorriam no país.
Ou seja, era impossível que a corte e Pedro não fosse pressionada a agir. Além disso, o herdeiro foi iniciado nos círculos políticos e nos debates entre alas logo cedo, enquanto muitos políticos tentavam articular uma redução da maioridade necessária para a ascensão do monarca ao trono.
Ele foi levado a negociar com o parlamento, que desenvolveu um programa que levou ao Golpe da Maioridade em 1980, quando o Bragança tinha apenas 15 anos.
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