HUMILHADA E ABANDONADA: A VIDA INFELIZ DA PRINCESA LEOPOLDINA NO BRASIL
Após chegar no território brasileiro, a imperatriz se decepcionou com sua própria realidade e com todos que estavam ao seu redor
NICOLI RAVELI PUBLICADO EM 24/04/2020
A primeira imperatriz brasileira, Maria Leopoldina Josefa Carolina de Habsburgo, atraiu a atenção de Dom Pedro I, seu marido, em diversos aspectos, como sua vasta inteligência nos campos da educação e boas maneiras. Entretanto, para o monarca, a beleza e a sensualidade de sua mulher deixavam a desejar.
Maria, que nasceu na Áustria, uma das cortes mais ricas da Europa, não ligava muito para os olhares tortos de seu marido. Sem se preocupar com seu próprio corpo e com suas vestimentas, a imperatriz dava mais valor as coisas mais simples da vida, como seu fascínio pela natureza e pelos animais.
Todavia, ela sempre tentava agradar seu marido, por isso participava de festas e noitadas que Dom Pedro I tanto amava. Com o passar do tempo, Leopoldina se decepcionou com sua própria vida e com todos que estavam ao seu redor.
A infância de Leopoldina.
Os primeiros anos da princesa foram destinados a servir o Estado, ou seja, ela aprendeu que sua função era engravidar e oferecer frutos saudáveis para os príncipes, reis e imperadores.
Além disso, seus dias eram completamente rigorosos e calculados com orações, aulas particulares, exercícios de leitura, trabalhos no jardim, encontros com familiares, visita a teatro e a museus.
Não obstante, sua família enfrentava momentos de tensão naquela época, já que Napoleão comemorava suas primeiras vitórias contra a família Habsburgo. Os anos seguintes também foram marcados por perdas e, em uma ocasião posterior, seus familiares tiveram que fugir da Europa às pressas.
A vinda ao Brasil.
O casamento de Leopoldina e Dom Pedro I não passava de um ato arranjado por altos interesses. Com a queda de Napoleão, Dom João VI procurava uma forma de construir um laço entre a coroa portuguesa e os Habsburgo. Da mesma maneira, a Áustria também tinha interesse em dar ênfase a monarquia na América. Não obstante, Maria não questionou sobre o casamento e aceitou seu destino.
Ela já estava casada no papel antes mesmo de deixar Viena. Em 1817, a imperatriz chegou ao Rio de Janeiro, mas esperava um local completamente diferente. Ao ler diversos livros sobre o local, Leopoldina acreditava que estava a caminho de uma terra mágica. Entretanto, ao chegar no Brasil, encontrou um sol escaldante e bichos peçonhentos.
Em uma de suas cartas destinadas à família, a mulher referiu-se a corte portuguesa como anjos de bondade. Todavia, foi surpreendida pelo caráter das pessoas. A corte de D. João enfrentava diversas intrigas devido ao casamento do rei e da rainha. Além disso, tratava-se de uma família conservadora, na qual não havia espaço para pessoas cultas.
Mais tarde, a princesa se decepcionou novamente. Maria e seu marido moravam no palácio da Quinta da Boa Vista, enquanto Carlota Joaquina morava em uma deslumbrante chácara em Botafogo. Dessa maneira, a jovem passou a morar no local que não continha nem mesmo um tratamento de esgoto. Ademais, muitas vezes os lixos das casas eram jogados na rua ou na praia, fazendo com que houvesse diversas enchentes nos arredores do palácio.
A vida com Dom Pedro I.
Em poucos dias de convivência, Leopoldina teve outras surpresas: seu marido era epilético e tinha gênio forte. Em decorrência, seus surtos de mau humor assustavam a princesa.
Apesar de todos os fatos negativos, o casal viveu feliz durante os três primeiros anos do casamento. Todavia, com o passar dos anos, Dom Pedro adotou características um tanto quanto questionadoras.
Na hora de dormir, por exemplo, ele fazia um guarda vigiar o quarto da princesa. De acordo com o historiador Eugênio dos Santos, isso era parte do seu plano para que Leopoldina não descobrisse suas escapadas noturnas.
Quatro anos após o casamento, Maria e o príncipe anunciaram a chegada do primeiro fruto do casal. Entretanto, as gestações seguintes não foram motivo de alegria por muito tempo, já que a mulher havia dado à luz seis herdeiros. Dois deles morreram poucos meses após o nascimento.
Mais tarde, uma de suas filhas morreu aos 10 anos de idade. Não obstante, Maria da Glória, Maria Januária, Francisca Carolina e Pedro de Alcântara foram os únicos que viveram por um longo tempo.
O grande número de gestações fez com que seu corpo enfrentasse diversas consequências. Porém, Leopoldina não se importava. Com o passar do tempo, Dom Pedro fez com que suas escapadas noturnas fossem cada vez mais descaradas.
A proximidade da política.
Acredita-se que foi no mesmo momento que a mulher ficou cada vez mais próxima da política. Dessa maneira, seus pensamentos estavam muito ocupados para dar espaço às atividades extraconjugais do marido.
Em questão de anos, Leopoldina deixou para trás a figura de jovem e percebeu que sua vida não era um conto de fadas. Entretanto, há historiadores que apontam essa mudança como o principal motivo da decadência de sua saúde.
A política passou a fazer parte de sua vida e, posteriormente, Maria foi a responsável pelo discurso liberal que deu vida a Independência. Entretanto, a ascensão na política não era o único fator que havia mudado.
Devido ao desprezo causado pelo marido, Leopoldina escreveu uma carta a sua irmã, na qual alegava que estava abandonada no Brasil. “Começo a crer que se é muito mais feliz quando solteira, pois agora só tenho preocupações e dissabores que engulo em segredo. Infelizmente vejo que não sou amada”, escreveu.
Na mesma época, o imperador levou a marquesa Domitila para o Rio de Janeiro. Isso fez com que a Leopoldina fosse ainda mais ofuscada e humilhada. Além disso, enquanto ela passava fome por receber cada vez menos dinheiro do monarca, a marquesa dispunha de joias e diversos presentes.
Segundo os historiadores, Dom Pedro I havia cortado a mesada da imperatriz devido ao momento de crise econômica. Dessa maneira, há pesquisadores que alegam que a morte de Maria também foi causada pelo desgosto devido a suas enormes dívidas. Sem saída, ela chegou até mesmo a recorrer a um agiota alemão.
A morte da imperatriz.
Em 1826, Dom Pedro I foi para o Rio Grande do Sul a fim de acompanhar a Guerra da Cisplatina. Enquanto isso, Leopoldina continuava no Rio de Janeiro e enfrentava seus últimos dias no conselho de ministros.
Após um compromisso público, começou a ter febre e convulsões, o que resultou no aborto do feto de um menino. Ela veio a falecer no mesmo dia, apenas um mês antes de completar 30 anos.
Os rumores sobre a morte.
Não se sabe, ao certo, a causa da morte de Leopoldina. Entretanto, há um rumor de que Dom Pedro I, antes mesmo de viajar para o sul do país, deu um chute na barriga da esposa durante uma discussão.
Todavia, o fato nunca foi comprovado. Ao saber sobre a morte da mulher, o imperador retornou para o Rio de Janeiro e ficou em luto por oito dias. Por meio das cartas, acredita-se que o luto não tenha durado tanto tempo assim, pois, nanoite seguinte ele já estava na cama com a Marquesa de Santos.
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