WLADYSLAW SZPILMAN: A INCRÍVEL HISTÓRIA REAL POR TRÁS DE O PIANISTA
Através da música, o judeu-polaco encontrou uma maneira de sobreviver às atrocidades do Holocausto — e teve sua história transformada em um filme de Roman Polanski
FABIO PREVIDELLI PUBLICADO EM 23/01/2020.
![Wladyslaw Szpilman (esq.) em comparação a Adrien Brody (dir)](https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/_versions/gettyimages-809226_widelg.jpg)
Dirigido por Roman Polanski e estrelado por Adrien Brody, O Pianista (2002) retrata a história de um judeu-polaco que teve na música o meio mais inusitado para sobreviver ao Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial.
Vencedor de 3 prêmios do Oscar, 2 BAFTAs, 6 Césars e a Palma de Ouro, a produção é baseada na história de Wladyslaw Szpilman, que relatou os detalhes de sua vida em um livro homônimo ao filme.
Quem foi Wladyslaw Szpilman?
Nascido em 5 dezembro de 1911, na cidade polonesa de Sosnowiec, Wladyslaw Szpilman fez sua primeira aula de piano com sua mãe — ele não sabia na época, mas esse seria o primeiro passo para salvar sua vida.
Anos depois, ele passou pela Escola Superior de Música de Varsóvia, entre 1926 e 1930, antes de seguir para Berlim, onde estudou em 1933. Após esse período, ele retornou a Varsóvia para ter aulas até 1935.
Foi nessa época que ele tornou-se pianista da Rádio Estatal Polonesa em Varsóvia, tocando obras clássicas e jazz. Lá, ele ficou até o dia 1º de setembro de 1939 — mesma data em que a Alemanha nazista invadiu a Polônia durante a Segunda Guerra Mundial.
![](https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/uploads/gettyimages-541559933.jpg)
Com a chegada da tropa hitlerista, os alemães forçaram o desligamento da Rádio Estatal Polonesa. A última transmissão, ao vivo, que as pessoas ouviram, foi a apresentação de Szpilman do Noturno de Chopin — em dó menor.
A vida de Wladyslaw Szpilman sob o regime nazista.
Wladyslaw Szpilman e sua família foram levados para o gueto de Varsóvia. O local, extremamente apertado, abrigou cerca de 400 mil judeus e fornecia apenas rações alimentares para os prisioneiros — a maior parte da comida era contrabandeada ilegalmente. Periodicamente, ocorriam deportações, o que forçava alguns judeus a serem transferidos para campos de concentração.
Apesar de toda a falta de conforto, os guetos contavam com algumas instalações recreativas. E foi em uma delas, o café Nowaczesna, que Szpilman começou a trabalhar como pianista para sustentar sua família.
No verão de 1942, ocorreu o início das deportações em massas da população do gueto para os campos de concentração e morte. Embora fosse capaz de se manter seguro por um tempo, o pianista e sua família receberam a ordem para serem transportados para Treblinka — um campo de concentração na Polônia dominada por alemães. Construído especificamente para o extermínio de pessoas, o local ficou somente atrás de Auschwitz em relação ao número de baixas.
Em certo momento, um membro da policia judia reconheceu Szpilman de um de seus shows e o retirou da fila para embarcar no trem. Apesar de não ser levado, ele viu seus pais e irmãos serem levados para Treblinka — nenhum deles sobreviveria à guerra.
![](https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/uploads/gettyimages-2674218.jpg)
Wladyslaw permaneceu no gueto ajudando no contrabando de armas para o levante da resistência judaica. Então, em 13 de fevereiro de 1943, ele conseguiu escapar e se escondeu em um prédio abandonado em torno de Varsóvia até agosto do ano seguinte.
Passado alguns meses, ele se mudou novamente, desta vez para a região de Niepoldleglosci. Foi se escondendo por lá que ele acabou sendo encontrado pelo capitão Wilm Hosenfeld — um veterano da Primeira Guerra Mundial condecorado com uma cruz de ferro de primeira classe para galanteria e membro das Forças Armadas da Alemanha nazista.
A relação entre um judeu e um alemão
Szpilman relatou seu encontro com Hosenfeld no seu livro de memórias The Pianist: The Extraordinary True Story of One Man’s Survival in Warsaw. "Fiquei lá, gemendo e olhando atentamente para o oficial".
O veterano perguntou a Szpilman o que ele fazia da vida: “sou pianista”, respondeu. Com a respostas, Hosenfeld o levou para a sala de jantar da casa em que ele estava escondido — onde havia um piano. Ele exigiu que Szpilman tocasse alguma coisa.
Suas unhas estavam rígidas e cobertas de sujeira. Ele estava enferrujado por falta de prática. Nervosamente ele levou as mãos às teclas e começou a tocar. Foi então que Hosenfeld disse, depois de algum momento de silêncio: “Você não deve ficar aqui. Vou levá-lo para fora da cidade, para uma vila. Você estará mais seguro lá”.
“Não posso sair deste lugar”, disse Szpilman. “Você é judeu?”, indagou o alemão. Assentindo com a cabeça ele disse um breve “sim”.
Embora a revelação tenha mudado drasticamente o comportamento de Hosenfeld — que anteriormente pensava que o pianista seria um polonês não judeu que se escondia após a revolta da Varsóvia, em 1944 — ele não o denunciou.
Em vez disso, o veterano ordenou que Szpilman lhe mostrasse o sótão em que estava escondido. No meio do caminho, o alemão percebeu algo que o judeu deixou passar: em cima do sótão havia uma prancha de madeira que abafava uma luz fraca, quase que imperceptível para os mais desatentos. Mas o militar acabara de encontrar um esconderijo melhor.
Depois disso, Wladyslaw passou a se esconder lá e era frequentemente alimentado pelo alemão, que lhe trazia pão e geleia. Já, em 1945, os alemães acabaram derrotados. Wladyslaw Szpilman havia sobrevivido à guerra com a ajuda de um alemão, embora ele só aprendesse o nome do oficial que o ajudou em 1950.
![](https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/uploads/wladyslaw-szpilman-warsaw-uprising-museum.jpg)
Wilm Hosenfeld foi posteriormente condenado por supostos crimes de guerra e acabou sentenciado a 25 anos de trabalho duro. Hosenfeld teria salvado outros judeus durante a guerra e, no julgamento, escreveu uma carta para sua esposa pedindo que ela os contatasse para ajudá-los com sua libertação — incluindo Szpilman.
Em 1950, os papéis de inverteram. Com a ajuda da polícia secreta polonesa, Szpilman tentou ajudar Hosenfeld, mas não conseguiu. Hosenfeld morreu em um campo de prisioneiros soviético em 1952.
A vida pós guerra
Com a Guerra finalmente encerrada, Wladyslaw Szpilman continuou trabalhando com aquilo que fazia de melhor. De 1945 até 1963, ele atuou como diretor do departamento de música de uma rádio polonesa.
![](https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/uploads/wladyslaw-zpilman.jpg)
Até os últimos dias de sua vida, Szpilman foi grato a Hosenfeld e a todas as outras pessoas, incluindo Irena Sendler, que contribuíram para que ele sobrevivesse durante o Holocausto. Wladyslaw Szpilman morreu em 2000, aos 88 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário