sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Escravo que projetava igrejas é reconhecido como arquiteto 200 anos após sua morte.

ESCRAVIDÃO
Um escravo conhecido como Tebas se destacou no século XVIII em São Paulo por criar projetos de edifícios, principalmente religiosos. Ele era famoso por dominar a técnica da cantaria, arte de talhar pedras em formas geométricas. Apesar da importância de suas obras, ele só foi reconhecido como arquiteto 200 anos após sua morte.
Entre os trabalhos de Tebas estão a ornamentação da fachada da antiga igreja do Mosteiro de São Bento e a construção do Chafariz da Misericórdia, o primeiro chafariz público da capital paulista. Algumas dessas obras, como as partes frontais da igreja da Ordem Terceira do Carmo e da igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco ainda existem. Mesmo tendo feito trabalhos de destaque, seu nome acabou caindo no esquecimento.
Sua história foi relembrada recentemente com o lançamento do livro Tebas: Um Negro Arquiteto na São Paulo Escravocrata, organizado pelo jornalista Abilio Ferreira. Nascido em Santos, em 1791, o nome verdadeiro de Tebas era Joaquim Pinto de Oliveira. Como escravo, seu proprietário era um renomado mestre de obras da cidade chamado Bento de Oliveira Lima, com quem aprendeu o ofício. Segundo o inventário de Lima, Tebas era mais valioso do que seus outros quatro escravos que atuavam como pedreiros juntos. 
Com o tempo, Lima e Tebas passaram a ser solicitados para trabalhar em São Paulo. Entre as obras em que atuaram estava a restauração da antiga Catedral da Sé (demolida em 1911). Como Lima morreu antes de terminar a obra, sua viúva ficou endividada e teve que vender Tebas. Como queria concluir a fachada da igreja, o arcebispo Matheus Lourenço de Carvalho comprou Tebas. Após a conclusão da reforma, o religioso concedeu a alforria a ele no fim da década de 1770.
Livre, Tebas continuou a trabalhar na área da construção. Ele morreu aos 90 anos. Em 2018, foi considerado oficialmente arquiteto pelo Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo.

Imagem: Marc Ferrez/Instituto Moreira Salles, via Wikimedia Commons

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