COMO A IMPERATRIZ LEOPOLDINA ENCARAVA AS TRAIÇÕES DE DOM PEDRO I?
O governante era infiel à esposa, tendo como amante favorita Domitila de Castro, a Marquesa de Santos — mas a deslealdade teve troco
VANESSA CENTAMORI PUBLICADO EM 16/07/2020
Com a edição especial da novela Novo Mundo, muitos telespectadores se perguntam se a imperatriz Leopoldina realmente sofreu tanto nas mãos de Dom Pedro I. E a resposta é: sim, muito.
Porém, ela respondia às inúmeras infidelidades com bastante elegância, inteligência e, acima de tudo, atitude política — sendo uma figura crucial para o nosso processo de Independência.
Casamento conturbado
Leopoldina era uma princesa austríaca, que teve que deixar seu local de nascimento aos 20 anos de idade para conhecer seu marido, com quem já tinha se casado na Áustria, por procuração, antes mesmo de conhecê-lo pessoalmente. A realeza se dirigiu ao Rio de Janeiro, chegando por lá em 5 de novembro de 1817.
Após alguns anos de convivência, Leopoldina já percebeu que o marido tinha gênio forte e apresentava momentos de fúria que assustavam a princesa. No entanto, logo em 1819 eles tiveram a primeira filha, Maria II. Depois dela, vieram mais seis crianças, das quais dois meninos morreram de modo precoce e trágico.
Não bastassem as perdas dos filhos, Leopoldina teve que suportar as famosas traições do marido, que virou regente do Brasil. Mas a mais conhecida era Domitila de Castro, que seria mais tarde a Marquesa de Santos.
Apesar de ter fisgado D. Pedro de vez, com quem trocou cartas eróticas, a própria Domitila também foi traída, já que o governante também dormiu com a irmã dela, Maria Benedita de Canto e Melo, a baronesa de Sorocaba.
Tristeza e angústia
Perante o comportamento do marido, a princesa austríaca escrevia para a irmã, Maria Luísa da Áustria, para desabafar. Em uma das cartas, ela contou que o caráter de D. Pedro I era "extremamente exaltado".
Leopoldina o atribuía ainda um "tratamento contraditório, duro e injusto em relação a todas as mudanças, de modo que tudo que denote levemente liberdade lhe é odioso". "Assim só posso continuar observado e chorando em silêncio”, relatou na carta.
Já quanto às traições, a austríaca se mostrava bastante ressentida na questão amorosa, tanto que a historiadora Mary Del Priore a descreveu como “uma figura absolutamente solitária”, em entrevista à AVH. Del Priore também considera que ela tinha ciência de que estava em uma relação conjugal onde exercia apenas papel de reprodutora.
Uma resposta estratégica
Além de não ser um marido afetuoso, D. Pedro I, quando ainda era regente, não dava liberdade política para Leopoldina. E nem econômica. Em uma correspondência de setembro de 1820, a então princesa escreveu ao pai, Francisco I, solicitando um empréstimo de 24 mil florins.
A questão era que ela mantinha várias despesas com salários e pensões de famílias necessitadas e dos criados. A austríaca informou à figura paterna que o dinheiro mensal não era pago regularmente e quando acontecia, Dom Pedro retinha a fortuna para suas despesas.
Além de criticar a mão fechada do regente, ela comentava ao pai naquele mesmo ano que faltava firmeza política no marido. Como resposta, Leopoldina tentou convencer D. Pedro ao máximo de suas opiniões políticas.
Já havia passado o Dia do Fico, 9 de janeiro de 1822. O Brasil se agitava no caminho da independência e ela relatou ao pai que o marido tinha declarado que ficaria em terras brasileiras como governante.
"Meu esposo declarou que ficará aqui; embora pensemos diferentemente em alguns aspectos, é melhor que me cale e observe silenciosamente", escreveu ela, de modo enganoso, já que jamais se calou diante do esposo. Como sabemos, Leopoldina agiu de modo bastante influenciador.
Aproveitando que em agosto de 1822 D. Pedro I tinha ido para São Paulo, ela ficou como Princesa Regente Interina do Brasil. Aquilo só foi possível pela insistência da mulher. Nessa deixa, a princesa voltou a interferir nos "negócios do cônjuge" e presidiu uma reunião do Conselho de Ministros, assinando o decreto da Independência, que declarou o Brasil separado de Portugal.
Ou seja, só faltava então a aprovação do esposo para a emancipação ser oficial. O trabalho árduo já tinha sido iniciado por ela. E como uma cereja no topo do bolo da independência, Leopoldina ainda escreveu a D. Pedro, pedindo que ele deveria anunciar a emancipação de uma vez por todas. A vitória foi dela: em 7 de setembro de 1822, nas margens do Rio do Ipiranga, o português nos deixou independentes.
fonte: aventurasnahistoria.com.br
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