sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Olaf, Rei da Noruega.


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OLAF II HARALDSSON, REI DA NORUEGA,

DE GUERREIRO VIKING A SANTO CRISTÃO

Para muitos, a história da Noruega gira em torno de vikings pagãos aterrorizando a todos, da Irlanda a Istambul. No entanto, há uma figura que simboliza a mudança que a Noruega realizou nos últimos anos da “Era Viking”: Olaf II Haraldsson.
Não é fácil descrever Olaf Haraldsson, o guerreiro e o santo. Com poucas excepções, as fontes escritas que tratam de sua vida são cerca de duzentos anos depois da sua existência, por isso nem sempre se pode confiar que sejam fidedignas. Não é de surpreender, portanto, quando autores que tentaram descrever Olaf, chegaram a resultados amplamente diferentes, para alguns ele foi um guerreiro brutal, para outros ele foi um santo, e para outros ainda ele foi um génio como líder militar, e um rei que fez uso do cristianismo para promover os seus objetivos políticos.
Muito tem sido escrito sobre o significado que Santo Olaf assumiu para a história norueguesa, desde o período após sua morte, até os dias actuais, pois as opiniões são bastantes divergentes, mas o certo, é que é necessário um pouco mais do que conhecimento histórico. se quisermos chegar ao fundo da personalidade de Santo Olaf, e é igualmente importante estar identificado com a realidade social do período do rei Olaf.
Olaf II Haraldsson, foi o primeiro rei efectivo duma Noruega unida, , que conseguiu uma pausa de 12 anos da dominação dinamarquesa e aumentou amplamente a aceitação do Cristianismo, sendo que mais tarde, após a sua morte, tornou-se o seu santo padroeiro, e o código religioso de 1024, que lhe é atribuído é considerado a primeira legislação nacional da Noruega.
Olaf ll Haraldsson era filho de Harald Grenske, rei dum pequeno teino em Vestfold, Noruega, e descendente do governante norueguês Harald l Fairhair, Olaf foi criado como pagão e tornou-se um famoso guerreiro viking na região do Báltico, onde lutou contra a dominação dos ingleses em 1009/11, mas anos mais tarde, ajudou o governante inglês Ethelred II na luta contra os dinamarqueses em 1013. Contudo, quando o rei dinamarquês Svein I ganhou a sua luta contra a Inglaterra, Olaf retirou-se para Espanha e mais tarde para a França, onde consta que foi batizado em 1013 em Rouen.
Retornando à Noruega em 1015, Olaf reconquistou os territórios que anteriormente tinham sido ocupados pela Dinamarca, pela Suécia e pelo conde norueguês Haakon de Lade, e em 1016, Olaf tinha consolidado seu domínio total sobre toda a Noruega. Nos 12 anos seguintes Olaf tentou pacificar os conflitos feudais e construir uma sólida base de apoio entre a aristocracia do interior, e pugnou pela aceitação do cristianismo, como factor aglutinador de toda a população, usando para o efeito missionários que trouxe da Inglaterra.
Olaf ll Haraldsson fez um acordo de paz com o rei sueco Olaf Skötkonung em 1019, e juntou as suas forças com as do filho do rei sueco, Anund Jakob quando Canuto, rei da Inglaterra e Dinamarca, ameaçou conquistar a Noruega. No entanto, o controle de Canuto das rotas comerciais para o oeste da Noruega, e a perspectiva da divisão dos lucros daí adventes, conquistou o apoio dos principais chefes noruegueses, e Canuto forçou Olaf ll Haraldsson a fugir para a Rússia em 1028, onde o rei norueguês se refugiou com os seus parentes e a sua esposa sueca.
Olaf ll Haraldsson tentou reconquistar a Noruega em 1030 com a ajuda de Anund Jakob, mas foi derrotado por um exército norueguês, onde alguns de seus próprios súbditos do centro e norte da Noruega pegaram em armas contra ele, e pelo exército dinamarquês, aliados dos ingleses, no Batalha de Stiklestad em 1030, uma das batalhas mais célebres da história nórdica antiga, e onde Olaf perdeu a vida.
O rei Canuto, embora ocupado com a tarefa de governar a Inglaterra, governou a Noruega por cinco anos depois de Stiklestad, com o seu filho Svein e a mãe de Svein, Álfifa como regentes. Mas sua regência tornou-se impopular, e quando o filho ilegítimo de Olaf, Magnus reivindicou o trono norueguês, Svein e Álfifa foram forçados a fugir e retornaram a Inglaterra.
A popularidade de Olaf, o seu trabalho na disseminação do cristianismo, e a aura de lendas que cercaram a sua morte, onde o imaginário popular referiu ter sido acompanhada de supostos milagres, levaram à sua canonização em 1031. Naquela época, os bispos locais e o seu povo reconheciam e proclamavam uma pessoa como santa, e um procedimento formal de canonização pela curia papal papal não era costumeiro, e a popularidade de Santo Olaf espalhou-se rápidamente, e igrejas e santuários foram construídos em sua homenagem na Inglaterra, Suécia e Roma..
Muitos textos antigos reportam informações sobre Olaf II Haraldsson, o mais antigo é o Glælognskviða ou "Poema da Calma do Mar", composto pelo islandês Pórarinn Loftunga, que elogia Olaf e menciona alguns dos supostos milagres que lhe foram atribuídos. As histórias sinóticas norueguesas também mencionam Olaf, nomeadamente o Agrip af Nóregskonungasogum em 1190, a Historia Norwegiae 1160–1175, e um texto latino, Historia de Antiquitate Regum Norwagiensium , de Teodorico, o Monge em 1177.
Os islandeses escreveram extensivamente sobre Olaf e há mesmo várias sagas islandesas sobre ele, sagas essas que foram bastante importantes para os estudiosos sobre a vida e obra de Olaf. Finalmente, muitas fontes hagiográficas descrevem Santo Olaf, (uma notável é A Paixão e os Milagres do Beato Olafr), mas estas concentram-se principalmente em supostos milagres atribuídos a Olaf e não podem ser usadas para estudar com precisão a sua vida.
Olaf tem sido tradicionalmente visto como líder da cristianização da Noruega, mas a maioria dos actuais estudiosos desse período, acredita que Olaf teve pouco a ver com o processo. Olaf trouxe consigo Grimkell, que geralmente é citado por ajudá-lo a criar as sedes episcopais, e a organizar a igreja norueguesa, mas sabe-se hoje que Grimkell era apenas um membro da família de Olaf. e que nenhuma sede religiosa permanente foi criada até ao ano 1100.
Também foram levantadas diversas questões sobre a natureza do cristianismo de Olaf, os historiadores geralmente concordam que Olaf estava inclinado à violência e à brutalidade, e observam que os estudiosos anteriores muitas vezes negligenciaram esse lado de seu carácter. Hoje pareçe óbvio que tal como muitos outros reis escandinavos, ( e não só, temos Roma também, por exemplo ) Olaf usou o cristianismo para pacificar o país e assim ganhar mais poder para a monarquia e centralizar nele próprio o controle na Noruega.
No seu livro The Conversion of Scandinavia , Anders Winroth argumenta que houve um "longo processo de assimilação, no qual os escandinavos adoptaram, um a um, e ao longo do tempo, práticas cristãs individuais". Winroth não afirma que Olaf não era cristão, mas argumenta que não se pode pensar em nenhum viking como totalmente convertido, como retratados nas hagiografias ou sagas posteriores. O próprio Olaf, retratado em fontes posteriores como uma figura santa que opera milagres para ajudar a apoiar essa visão rápida de conversão para a Noruega, não é o Olaf histórico, pois ele não agiu dessa maneira, como se pode verificar especialmente nos versos escáldicos atribuídos a ele próprio.
A realidade é que, quer devido ao status posterior de Olaf como santo padroeiro da Noruega, quer quanto à sua importância na historiografia medieval posterior, quer no folclore norueguês, é difícil poder avaliar o carácter histórico de Olaf.
Olaf II Haraldsson e Olaf Tryggvason, são tradicionalmente considerados as forças motrizes por trás da conversão final da Noruega ao cristianismo, mas as grandes cruzes de pedra, e outros símbolos cristãos encontrados, sugerem que, pelo menos as áreas costeiras da Noruega, foram profundamente influenciadas pelo cristianismo muito antes do tempo de Olaf. Mas com uma excepção, todos os governantes da Noruega desde Håkon o Bom ( 920–961) eram cristãos, no entanto, Håkon mais tarde voltou ao paganismo.
Muitos acreditam que Olaf introduziu a lei cristã na Noruega em 1024, com base na pedra Kuli, mas essa pedra é difícil de interpretar. O que parece claro, é que Olaf fez esforços para estabelecer uma organização eclesiástica, numa escala bem mais ampla do que anteriormente, entre outras coisas importando bispos e missionários da Inglaterra, Normandia e Alemanha. Olaf tentou de facto impor o cristianismo nas regiões do interior, que tinham menos comunicação com o resto da Europa, que económicamente eram mais fortemente baseadas na agricultura, e onde a inclinação para manter o antigo culto pagão da fertilidade, era mais forte do que nas partes ocidentais, mais diversificadas e expansivas da Noruega.
A estabelecimento do cristianismo como a religião legal da Noruega foi atribuída a Olaf, e os seus apoios para a Igreja da Noruega chegaram a ser tão altos aos olhos do povo e do clero noruegueses, que quando o Papa Gregório VII decidiu tornar o celibato clerical obrigatório para os padres da Europa Ocidental em 1074, os noruegueses ignoraram-no, já que não havia menção ao celibato clerical no código legal de Olaf para sua igreja, e apenas depois que a Noruega teve o seu próprio arcebispo nomeado por Roma, em 1153, tornando a igreja norueguesa, por um lado, mais independente de seu rei, mas por outro lado, mais diretamente responsável perante o Papa, o direito canónico ganhou maior importância e proeminência na vida e jurisdição da igreja norueguesa.
Grimkell foi afastado pelo novo arcebispo, embora posteriormente nomeado bispo na diocese de Selsey, no sudeste da Inglaterra. É provavelmente por isso, que os primeiros vestígios de um culto litúrgico de Olaf são encontrados na Inglaterra, e um serviço de oração, para Olaf é encontrado nos cadernos de oração que o bispo Leofric de Exeter legou no seu testamento à Catedral de Exeter, mas este culto inglês parece ter sido de pouca duração.
Escrevendo por volta de 1070, Adam of Bremen menciona a peregrinação ao Santuário de Santo Olaf, em Nidaros, mas este é o único vestígio firme da existência de um culto a St. Olaf na Noruega antes de meados do século XII. Os textos usados ​​para a celebração litúrgica de Santo Olaf durante a maior parte da Idade Média provavelmente foram compilados ou escritos por Eystein Erlendsson, o segundo Arcebispo de Nidaros, e os nove eventuais milagres relatados em Glælognskviða formam o núcleo do catálogo de milagres nesta diocese.
Mas a realidade é que St. Olaf era muito popular em toda a Escandinávia, e inúmeras igrejas na Noruega, Suécia, Finlandia e Islândia foram-lhe dedicadas e muitos viajaram de todo o mundo nórdico para visitar o seu santuário. Várias igrejas na Inglaterra foram dedicadas a St Olaf, e até a aldeia de St. Olaf em Norfolk ostenta o seu nome, pois é o local onde se situam as ruínas dum convento agostiniano do século XIII dedicado a Olaf.
A basílica de Sant'Ambrogio em Roma tem mesmo uma Capela dedicada a Santo Olaf com um retábulo que contém uma pintura do santo, mostrado como um rei mártir derrotando um dragão, representando a vitória sobre seu passado pagão. Foi originalmente um presente apresentado ao Papa Leão XIII em 1893 para o jubileu de ouro de sua ordenação como bispo pelo nobre norueguês Barão Wilhelm Wedel-Jarlsberg.
Nas Ilhas Faroé, o dia da morte de St. Olaf é comemorado como Olavsøka, um feriado nacional. St. Olaf está entre os últimos santos ortodoxos da Europa Ocidental e há igrejas na Rússia dedicadas a Santo Olaf, principalmente em Novgorod e em Staraya Ladoga, onde viveu por vários anos.
Recentemente, a rota de peregrinação à Catedral de Nidaros, em Trondheim, local do túmulo de Santo Olaf, foi restabelecida, e é conhecida como Caminho do Peregrino ( Pilegrimsleden ). Um Centro de Peregrinos em Trondheim, sob a égide da Catedral, concede certificados aos peregrinos quando completam as suas viagens, no entanto, as relíquias não estão mais expostas na catedral, e não é certo onde exatamente na cripta da catedral os seus restos mortais estão enterrados.
Existem 7 rotas diferentes para fazer o caminho dos peregrinos e que são:

1) O Caminho de Gudbrandsdalen: a Rota de Peregrinação mais comum usada, pois esta já foi a única estrada principal para Nidaros (Trondheim) por centenas de anos, começa em Oslo e estende-se por 642 quilómetros .

2) O Caminho do Norte : este caminho começa na Igreja de Gloshaug em Gloshaugen e segue para o sul por 299 quilómetros para depois se conectar ao Caminho de Santo Olavo e à Catedral de Nidaros.

3) O Caminho de Santo Olaf: Uma rota de 563 quilómetros que se estende de Selånger na Suécia a Stiklestad na Noruega, e segue o caminho que Olaf fez a caminho da Batalha de Stikkelstad em 1030, onde foi morto.

4) O Caminho de Østerdalen : Este é o caminho reservado apenas para os caminhantes mais experientes, pois atravessa terrenos selvagens e acidentados com diversas travessias de pequenas ribeiras e por quase 500 quilómetros.

5) O Caminho de Valldals : a mais nova das rotas dos peregrinos, serpenteia entre fiordes e montanhas, e segue a rota que Santo Olaf fez no inverno de 1028 quando desembarcou em Valldall e percorreu 30 quilómetros sobre montanhas cobertas de neve.

6) O Caminho Borg: O caminho mais adequado para ciclistas, abrange partes dos condados de Østfold e Akershus e é a mais fácil das rotas, pois percorre 175 quilómetros antes de se conectar ao Caminho Gudbrandsdalen.

7) O Caminho Rombo : Este caminho liga Skardøra, na fronteira sueca com a Noruega, à Catedral de Nidaros, a uma distância de 150 quilómetros. O primeiro trecho deste caminho é um terreno montanhoso a mais de 1.000 metros acima do mar, por isso condições de neve, mesmo em climas mais quentes são expectáveis!
As rotas são para todos em todos os tipos de condicionamento físico e condição, onde outrora a devoção religiosa era o principal motivo de caminhadas ao longo destas rotas, o turismo é hoje a principal razão pela qual tantas pessoas fazem a viagem por estes caminhos bem trilhados. O clima no entanto pode ser extremamente variado e pode mudar quase instantaneamente, como tal, mesmo em condições de verão, algumas secções das rotas podem apresentar condições climáticas extremas. Também vale a pena referir que existem albergues para dormir e centros de peregrinação ao longo dos vários caminhos.
Fontes:
Norway Today - Tekking St. Olaf's way to Trondheim
Britannica - Olaf II Haraldsson, King of Norway
Wikipédia - St. Olaf of Norway
Wikipédia - Olaf II of Norway
Jonathan Williamson - Following in the footsteps of St. Olaf
Myriam Michelle - Olaf II Haraldsson, King, Saint and Christian icon
Fotos:
Foto 1 - Catedral de Nidaros, Trondheim
Foto 2 - Painel representando a morte de St. Olav na Catedral de Nidaros, Trondheim
Foto 3 - Moeda de Olaf datada de 1023-1028
Foto 4 - Estátua de S. Olaf na Igreja Austevoll
Foto 5 - Vitral com St. Olaf na Igreja de St Olaf Hart Street em Londres
Foto 6 - Brasão de St Olaf, na cidade medieval de Satakunta, Finlandia
Foto 7 - Brasão de St. Olaf na cidade de Jomala, Åland, Finlandia
Foto 8 - Olaf cai no campo de batalha, ilustra ção de Halfdan Egedius.
Foto 9 - Pintura romântica de Peter Nicolai Arbo representando A Morte de Olaf
Foto 10 - Pintura de St Olaf na Igreja da Ilha de Leka, Trøndelag, Noruega
Foto 11 - Estátua de St. Olaf na Igreja de Helgøy, em Hemnes, Helgeland, Noruega
Foto 12 - Escultura de madeira, Museu Nacional da Islândia, Reykjavik

Publicação de João Luis Gomes.
Boa pesquisa.



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Boa pesquisa.

 

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