A flor-de-lis é até hoje o símbolo da nacionalidade e, anteriormente, da realeza francesa. Mas de onde os franceses tiraram o hábito de usar este símbolo na heráldica? Bem, tudo remonta ao seu contato com a nobreza turca durante as Cruzadas. Nas planícies da Síria, os Cruzados adotaram um esporte local conhecido como "jarid", torneios de justa de cavalaria, onde os jogadores tentavam desmontar uns aos outros com um dardo sem corte (o jogo ao chegar na Europa, tornou-se o próprio símbolo da Idade Média) e muitos cavaleiros turcos decoravam suas armas, escudos e bandeiras com a flor-de-lis no exato estilo da heráldica francesa posterior (ela pode ser encontrada até mesmo na parte superior da proteção nasal de alguns elmos mamelucos).
Exemplos arqueológicos mostram a flor-de-lis em sua forma heráldica ''francesa'', com as três folhas separadas ligadas no meio por uma faixa, como o brasão do sultão turco Nur al -Din Zengi (1118-1174) em dois de seus monumentos em Damasco na Síria, dentre eles o bimaristan al-Nur e o portão Bab al-Faraj.
Como relata a especialista na área Diana Darke em seu livro "Stealing from the Saracens: How Islamic Architecture Shaped Europe'' (''Roubando dos sarracenos: Como a arquitetura islâmica moldou a Europa''):
‘’Os soldados francos na Síria passavam a maior parte do tempo aquartelados em seus castelos e quartéis raramente se misturando com os intelectuais, cujo o nível cultural era indubitavelmente maior que o deles - o fracasso dos cruzados em entender as origens do Domo da Rocha ou a as inscrições em árabe deixam isso claro. Mas eles aprenderam dos ‘’nativos’’ como treinar pombos para carregar a inteligência militar e também pegaram emprestado muitos aspectos das justas cavalheirescas, conhecidas localmente como ‘’jarid’’, que remetia ao dardo sem corte usado no esporte equestre. Como nos diz Philip Hitti:
‘’Diversos aspectos da instituição da cavalaria desenvolveram-se nas planícies da Síria. O crescente uso de brasões heráldicos foi devido ao contato com os cavaleiros muçulmanos. A água de duas cabeças, a flor-de-lis e as duas chaves podem ser citados como elementos da heráldica muçulmana deste período...A maioria dos mamelucos tinha nomes de animais, cujas imagens correspondentes eles gravavam em seus escudos. Governantes mamelucos tinham corpos militares diferentes, o que deu impulso à prática de se distinguir pelos desenhos heráldicos em escudos, bandeiras, distintivos, e brasões. A insígnia de Baibars era um leão, tal qual a de Ibn Tulun antes dele, e a do sultão Barquq era a de um falcão. Na europa os brasões apareceram de uma forma rudimentar no século XI, e o início da heráldica inglesa data da primeira parte do XII.’’
A água de duas cabeças aprecia em moedas de Sinjar cunhadas por Zengi, governante de Mosul, Alepo, Hama e Edessa (1127-46) que lutou contra os cruzados, mas o símbolo foi visto primeiramente na Suméria, de onde foi passado para os babilônios e hititas. Ele foi adotado pelos turcos seljúcidas quando se estabeleceram nas regiões hititas da Anatólia Central, e dos seljúcidas foi passado para Bizâncio, de onde chegou á Austria, Prissia, e Rússia.
Ambos os símbolos reais da flor-de-lis francesa e o leão inglês - como vistos no plano de fundo da coroação do menino rei Henrique VI da Inglaterra como rei da França na Notre-Dame de Paris - eram usados como brasões em torneios de justa sarracenos nas planícies da Síria.
A flor-de-lis foi primeiramente conhecida na Assíria e tornou-se um elemento decorativo de arte muito difuso. A Enciclopédia Britânica diz que é um antigo símbolo de pureza, ‘’prontamente adotado pela Igreja Católica Romana para associar a santidade de Maria com eventos de significado espeital.’’ Ele foi encontrado nu antigo celo cilindrico de Ramsés III, assim como em decorações murais em Samarra e em gragmentos ceramicos em Fustat, a primeira capital do Egito sob governo muçulmano. Ele está claramente relacionado com o motivo do trevo e também aparece em abundância no estuco esculpido do palácio omíada de Khirbat al-Mafjar perto de Jericó. Ele surgiu inicialmente como brasão do sultão zêngida Nur al-Di Ibn Zanki e em dois de seus monumentos em Damasco, notavelmente sobre o mihrab na sua Madrassa de Damasco construída em 1154-73. O estudioso alemão L.A. Mayer, em seu exaustivo estudo de dez anos sobre a heráldica sarracena, concluiu que a flor-de-lis, ‘’em sua forma heráldica verdadeira’’ no brasão da França, onde ela consiste em três folhas separadas que são ligadas no meio por uma faixa, deve ser de origem sarracena. Seu raciocínio consiste em que a forma pré-heráldica da flor-de-lis ocidental, os três elementos são conectados, crescendo para fora de um caule. A forma estabelecida da heráldica francesa, entretanto, como aparece no brasão de Luís VII, rei dos francos de 1137 à 1180, está da maneira sarracena com as três folhas separadas. Mayer também nos fala dos elmos mamelucos que comumente tinham a guarda nasal terminando em uma flor-de-lis.
Temos como ‘’azure’’ (o árabe para lapis-lazuli, lazaward) usados na heráldica também apontam para o elo entre a heráldica europeia e muçulmana. Hoje no mundo islâmico, apenas a estrela e o crescente, o leão e o sol restaram destes símbolos heráldicos mamelucos, provavelmente, na opinião de Hamilton Gibb, ex-professor laudiano de árabe em Oxford, porque não havia organização correspondente ao Colégio de Heráldica Européia para preserva-los com tal entusiasmo. Diferente do Ocidente, onde se conferia à heráldica posse de terras envolvendo serviço militar obrigatório, nenhuma grande importância era adicionada aos brasões sarracenos, eles não conferiam qualquer privilégios especiais. Os cavaleiros sarracenos não utilizavam elmos de estilo ocidental com viseira facial completa que tornava a identificação do cavaleiro impossível sem seu símbolo. Este pode ser outro exemplo de onde a abordagem oriental era pessoal, baseada numa simples preferência, enquanto a abordagem ocidental preocupava-se em registrar o status e proteção legal.’’
-Darke, Diana (2019) ‘’Stealing from the Saracens: How Islamic Architecture Shaped Europe’’, pg 269-271.
Exemplos arqueológicos mostram a flor-de-lis em sua forma heráldica ''francesa'', com as três folhas separadas ligadas no meio por uma faixa, como o brasão do sultão turco Nur al -Din Zengi (1118-1174) em dois de seus monumentos em Damasco na Síria, dentre eles o bimaristan al-Nur e o portão Bab al-Faraj.
Como relata a especialista na área Diana Darke em seu livro "Stealing from the Saracens: How Islamic Architecture Shaped Europe'' (''Roubando dos sarracenos: Como a arquitetura islâmica moldou a Europa''):
‘’Os soldados francos na Síria passavam a maior parte do tempo aquartelados em seus castelos e quartéis raramente se misturando com os intelectuais, cujo o nível cultural era indubitavelmente maior que o deles - o fracasso dos cruzados em entender as origens do Domo da Rocha ou a as inscrições em árabe deixam isso claro. Mas eles aprenderam dos ‘’nativos’’ como treinar pombos para carregar a inteligência militar e também pegaram emprestado muitos aspectos das justas cavalheirescas, conhecidas localmente como ‘’jarid’’, que remetia ao dardo sem corte usado no esporte equestre. Como nos diz Philip Hitti:
‘’Diversos aspectos da instituição da cavalaria desenvolveram-se nas planícies da Síria. O crescente uso de brasões heráldicos foi devido ao contato com os cavaleiros muçulmanos. A água de duas cabeças, a flor-de-lis e as duas chaves podem ser citados como elementos da heráldica muçulmana deste período...A maioria dos mamelucos tinha nomes de animais, cujas imagens correspondentes eles gravavam em seus escudos. Governantes mamelucos tinham corpos militares diferentes, o que deu impulso à prática de se distinguir pelos desenhos heráldicos em escudos, bandeiras, distintivos, e brasões. A insígnia de Baibars era um leão, tal qual a de Ibn Tulun antes dele, e a do sultão Barquq era a de um falcão. Na europa os brasões apareceram de uma forma rudimentar no século XI, e o início da heráldica inglesa data da primeira parte do XII.’’
A água de duas cabeças aprecia em moedas de Sinjar cunhadas por Zengi, governante de Mosul, Alepo, Hama e Edessa (1127-46) que lutou contra os cruzados, mas o símbolo foi visto primeiramente na Suméria, de onde foi passado para os babilônios e hititas. Ele foi adotado pelos turcos seljúcidas quando se estabeleceram nas regiões hititas da Anatólia Central, e dos seljúcidas foi passado para Bizâncio, de onde chegou á Austria, Prissia, e Rússia.
Ambos os símbolos reais da flor-de-lis francesa e o leão inglês - como vistos no plano de fundo da coroação do menino rei Henrique VI da Inglaterra como rei da França na Notre-Dame de Paris - eram usados como brasões em torneios de justa sarracenos nas planícies da Síria.
A flor-de-lis foi primeiramente conhecida na Assíria e tornou-se um elemento decorativo de arte muito difuso. A Enciclopédia Britânica diz que é um antigo símbolo de pureza, ‘’prontamente adotado pela Igreja Católica Romana para associar a santidade de Maria com eventos de significado espeital.’’ Ele foi encontrado nu antigo celo cilindrico de Ramsés III, assim como em decorações murais em Samarra e em gragmentos ceramicos em Fustat, a primeira capital do Egito sob governo muçulmano. Ele está claramente relacionado com o motivo do trevo e também aparece em abundância no estuco esculpido do palácio omíada de Khirbat al-Mafjar perto de Jericó. Ele surgiu inicialmente como brasão do sultão zêngida Nur al-Di Ibn Zanki e em dois de seus monumentos em Damasco, notavelmente sobre o mihrab na sua Madrassa de Damasco construída em 1154-73. O estudioso alemão L.A. Mayer, em seu exaustivo estudo de dez anos sobre a heráldica sarracena, concluiu que a flor-de-lis, ‘’em sua forma heráldica verdadeira’’ no brasão da França, onde ela consiste em três folhas separadas que são ligadas no meio por uma faixa, deve ser de origem sarracena. Seu raciocínio consiste em que a forma pré-heráldica da flor-de-lis ocidental, os três elementos são conectados, crescendo para fora de um caule. A forma estabelecida da heráldica francesa, entretanto, como aparece no brasão de Luís VII, rei dos francos de 1137 à 1180, está da maneira sarracena com as três folhas separadas. Mayer também nos fala dos elmos mamelucos que comumente tinham a guarda nasal terminando em uma flor-de-lis.
Temos como ‘’azure’’ (o árabe para lapis-lazuli, lazaward) usados na heráldica também apontam para o elo entre a heráldica europeia e muçulmana. Hoje no mundo islâmico, apenas a estrela e o crescente, o leão e o sol restaram destes símbolos heráldicos mamelucos, provavelmente, na opinião de Hamilton Gibb, ex-professor laudiano de árabe em Oxford, porque não havia organização correspondente ao Colégio de Heráldica Européia para preserva-los com tal entusiasmo. Diferente do Ocidente, onde se conferia à heráldica posse de terras envolvendo serviço militar obrigatório, nenhuma grande importância era adicionada aos brasões sarracenos, eles não conferiam qualquer privilégios especiais. Os cavaleiros sarracenos não utilizavam elmos de estilo ocidental com viseira facial completa que tornava a identificação do cavaleiro impossível sem seu símbolo. Este pode ser outro exemplo de onde a abordagem oriental era pessoal, baseada numa simples preferência, enquanto a abordagem ocidental preocupava-se em registrar o status e proteção legal.’’
-Darke, Diana (2019) ‘’Stealing from the Saracens: How Islamic Architecture Shaped Europe’’, pg 269-271.
fonte: https://www.facebook.com/historiaislamica/photos/a.179269395601634/1614805635381329/
Nenhum comentário:
Postar um comentário