O OUTRO TUTANCÂMON: O LUXUOSO TÚMULO DE PSUSENES I, O FARAÓ DE PRATA
Com um caixão de prata maciça, máscara funerária feita somente de ouro e inúmeros objetos valiosos, a tumba do rei se tornou rival da do Faraó de Ouro
ISABELA BARREIROS PUBLICADO EM 07/05/2020
Enquanto na Europa a Segunda Guerra Mundial eclodia e massacrava parte da população, no Egito aconteciam algumas das maiores descobertas faraônicas da História. Arqueólogos e egiptólogos exploravam o deserto e inúmeras localidades no país que ainda guarda riquezas inestimáveis do período em que os faraós governavam a região.
Foi em 1940 que o arqueólogo francês Pierre Montet encontrou, na cidade de Tanis, no Egito, um dos mais ricos e importantes túmulos já descobertos. A tumba do faraó Psusenes I, que também ficaria conhecido como o Faraó de Prata, acomodava uma enorme riqueza, que antes só havia sido vista em outro icônico sarcófago: o de Tutancâmon.
Rivalidade entre os faraós
O egiptólogo britânico Howard Carter, descobriu, no dia 4 de novembro de 1922, o túmulo de Tutancâmon — quase 20 anos antes de Montet encontrar o de Psusenes I. O primeiro se tornou famoso e um dos mais conhecidos achados do século 20. O último, no entanto, quase caiu no esquecimento. A preocupação com o grande conflito que ocorria na Europa fez com que a descoberta se tornasse pouco relevante.
As duas se rivalizariam: seria o Faraó de Prata, Psusenes I, contra o Faraó de Ouro, o próprio rei Tut. Ambos continham riquezas extraordinárias, que acabaram sendo comparadas durante muito tempo, mas a do faraó menino sempre se destacando devido ao seu maior reconhecimento.
O Faraó de Prata.
Psusenes I foi o terceiro faraó da 21ª dinastia do Egito Antigo, sendo filho de Pinedjem I e Henuttawy, uma das filhas de Ramsés XI. Como a prática do incesto era muito comum entre a família real durante todo o período, principalmente com o intuito de manter o poder em apenas um grupo, o governante se casou com sua irmã Mutnedjmet.
O reinado foi marcado por instabilidade, assim como todo o Terceiro Período Intermediário. Naquele momento, o Alto Egito e o Baixo Egito estavam divididos, ou seja, cada um tinha seu próprio líder. Essa fragmentação fez com que os faraós sofressem com inúmeros atentados e conspirações.
O Faraó de Prata era o responsável pela cidade de Tanis, controlando, limitadamente, o delta do Baixo Egito. Seu concorrente era o Sumo Sacerdote de Amon, baseado em Tebas, que governava todo o Alto Egito. Durante muito tempo, esse enfraquecimento e divisão fizeram com que arqueólogos pensassem que os membros da 21ª dinastia possuíssem menos riquezas que os das próximas. Quando o túmulo de Psusenes I foi encontrado, esse pensamento foi colocado em cheque.
A tumba de Psusenes I.
Acredita-se que a o poder do faraó, e consequentemente seu luxo, vieram do fato de que seu reinado pode ser considerado muito longo — entre 41 a 46 anos. Alguns arqueólogos atribuem até mesmo 51 anos de governo ao rei. E isso tudo aconteceu ainda em meio a um período de instabilidade política, o que muitos consideram impressionante.
Quando Pierre Montet começou a explorar o túmulo, observou o que foi sem dúvidas a maior descoberta do local. O caixão de prata maciça do rei foi tão importante que deu o apelido ao seu dono, que ficou conhecido como o Faraó de Prata. Isso provavelmente só foi possível porque a sepultura foi a única a sair ilesa de ataques de ladrões de túmulo.
Os egípcios consideravam o ouro como a carne dos deuses e a prata seus ossos. O primeiro material era vasto na região. Para se obter a prata, no entanto, era preciso importa-la do exterior, possivelmente da Ásia Ocidental ou do Mediterrâneo, o que a tornava um item de maior valor.
Entre outros artefatos que demonstram a riqueza do faraó que foram encontrados em sua tumba constam sua impressionante máscara de ouro maciço, frascos canópticos, shabtis e inúmeros objetos de ouro. Além disso, anéis dourados e feitos de lápis-lazúli também foram observados.
Ainda assim, as condições naturais do local não eram ideais para preservar os materiais perecíveis que estavam guardados ali. A terra úmida e pantanosa do Baixo Egito, diferentemente da do Alto Egito, que possuía um ambiente árido e desértico, responsável por preservar a tumba de Tutancâmon, por exemplo, fez com que os objetos de madeira fossem destruídos.
Mas, mais que isso, a múmia de Psusenes I também não conseguiu sobreviver às adversidades do clima local. O que o egiptólogo encontrou foram apenas restos, como seus ossos e dentes. De acordo com o pesquisador responsável pela análise, Douglass Derry, ele era um homem velho quando morreu, tendo dentes desgastados e cheios de cáries e artrite extensa.
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