segunda-feira, 27 de abril de 2020

Desmond Doss: o soldade da 2ª guerra que salvou 100 homens.

DESMOND DOSS: O SOLDADO DA SEGUNDA GUERRA QUE SALVOU 100 HOMENS

Mesmo sem uma arma, o homem agiu com bravura ao ser enviado para o campo de batalha e resgatar seus colegas feridos
NICOLI RAVELI PUBLICADO EM 27/04/2020
Desmond Doss, soldado da Segunda Guerra Mundial
Desmond Doss, soldado da Segunda Guerra Mundial - Divulgação
Diferente do primeiro conflito mundial, a Segunda Guerra já foi tema de diversos filmes, como Até o Último Homem, dirigido por Mel Gibson, que conquistou os prêmios de melhor filme, direção, edição, mixagem de som, edição de som e ator, com Andrew Garfield.
O longa-metragem conta a história de Desmond Doss, um homem que deseja se alistar para o exército americano a fim de salvar as vidas dos soldados que iriam a combate durante a guerra. Todavia, existem determinadas partes do filme que não condizem com a verdade, enquanto outras chegam próximas à realidade.
Cena do filme Até o Último Homem, no qual Desmond Doss é interpretado por Andrew Garfield / Crédito: Divulgação

A infância de Desmond.
Durante a infância, o garoto e seu irmão viviam em constantes brigas. Em um dos embates, Doss chegou a atirar uma pedra na cabeça de Harold, fazendo com que o menino ficasse desacordado.
Por um momento, pensou que havia matado o próprio irmão. O episódio, que não terminou em tragédia, fez com que ele se tornasse devoto, seguindo os Dez mandamentos adventistas. “Sim, havia uma gravura dos Dez Mandamentos na sala de sua casa, e ele ficou muito comovido com as figuras de Caim e Abel”, afirmou Robert Schenkkan, que produziu o roteiro do filme.
Foi dessa maneira que nasceu a concepção de que matar alguém era pecado. Diante dessas informações, os produtores do filme fizeram questão de seguir, nessa cena, a história real, sem alterar os fatos.
Entretanto, no filme, o pai de Desmond é retratado como um ex-combatente da Primeira Guerra Mundial, o que não condiz com a realidade. De acordo com Schenkkan, William Thomas Doss era, na verdade, um carpinteiro.
Desmond Doss, soldado do exército americano / Crédito: Divulgação 

Dessa maneira, ele não sofria de depressão devido aos estresses pós-traumáticos proporcionados pela guerra. Todavia, o roteirista alegou que o homem realmente tinha problemas com álcool, assim como é relatado no longa-metragem.
O relacionamento com Dorothy.
No decorrer das cenas, Desmond vai até o hospital para doar sangue a um acidentado. Na unidade, ele conhece a jovem Dorothy, interpretada por Teresa Palmer.
Para a felicidade dos amantes de romance, o roteirista disse que o futuro casal realmente havia se conhecido no hospital, mas isso não aconteceu logo após Doss ajudar um acidentado. Não obstante, os dois começaram a namorar antes do homem se alistar no exército e continuaram com o relacionamento mesmo após a decisão de Desmond.
Dorothy e Desmond Doss / Crédito: Divulgação 

Mais tarde, durante um dia de folga do treinamento, eles decidiram se casar antes do soldado ser encaminhado para o campo de guerra. O pedido foi negado, o que resultou no adiamento do casamento para o dia 17 de agosto de 1942.
O motivo para Doss não pegar em armas.
Já no treinamento do exército, Desmond relembra – em uma das cenas do filme – um momento de quando era criança, no qual seu pai e sua mãe discutem enquanto William pega uma arma. Consequentemente, o garoto interfere na briga para tirar o revolver de sua mão. Segundo o filme, esse é um dos motivos do soldado não pegar em armas.
Na realidade, seu pai havia pegado a arma durante uma briga com seu cunhado. Mais tarde, a mãe de Desmond pediu que o marido a entregasse e pediu que o filho a jogasse no rio.
Segundo o roteirista, a mudança foi realizada para torná-lo mais humano. “Ele não era um santo. Podia ficar bravo como qualquer pessoa. Era capaz de pensar em atos violentos. Por isso, sua decisão de imperativo de consciência é ainda mais impressionante”.
O treinamento e o julgamento.
“O treinamento de Desmond na verdade foi mais extenso, e sua companhia viajou para múltiplos locais nos Estados Unidos. Aí, quando foram mandados para o exterior, primeiro estiveram em Guam antes de chegar a Okinawa”, afirmou Schenkkan sobre uma das partes encurtadas no filme.  
Além disso, Doss realmente era ridicularizado por não aceitar pegar em uma arma. “Exageramos as surras que ele levou, mas os outros soldados jogavam seus sapatos nele enquanto rezava”, completou o roteirista.
Não obstante, seu principal torturador, Smitty, interpretado por Luke Bracey, é ficcional. Na realidade, um dos comandantes foi obrigado a dispensá-lo por questões psiquiátricas.
Da mesma maneira, o longa-metragem trás as informações sobre seu julgamento, quando Desmond enfrentou a corte marcial devido a seus valores. “Dramatizamos um pouco a participação de seu pai no julgamento”, alegou Schenkkan.
Como já citado anteriormente, o pai de Desmond não havia participado da Primeira Guerra Mundial. Assim, ele não obteve da ajuda de um companheiro de combate a fim de evitar que seu filho fosse preso. Em Até o Último Homem, a carta realizada pelo colega de William chega na hora do julgamento de Doss.
“O pai de Desmond tinha um conhecido no Departamento de Guerra, e esse contato escreveu a carta que levou o comandante a recuar”, afirmou o roteirista. Além disso, o homem afirmou que a carta não chegou tão dramaticamente como o filme indica.
A luta em Okinawa.
O batalhão foi encaminhado a outras batalhas antes de chegar a Okinawa, mas essa é a única que é mostrada no filme, já que foi a mais sangrenta do conflito no Pacífico, resultando na morte de mais de 80 mil soldados. Assim como as filmagens abordam, os soldados precisavam escalar paredão de pedras por meio de uma corda. Uma vez no topo, podiam avistar seus inimigos.
Como Doss era contra armas, não possuía uma. Por consequência, corria desarmado em meio ao combate a fim de ajudar os feridos. Para os japoneses, ele era somente mais um americano e poderia ser morto a qualquer momento.
Cena de Desmond Doss resgatando um soldado / Crédito: Divulgação 

Com o passar do tempo, Desmond passa a conquistar o respeito e admiração de seus colegas, inclusive de Smitty, que é um personagem fictício. Nas cenas seguintes, o soldado Ralph Morgan é ferido durante uma explosão e perde as duas pernas e um dos paramédicos se recusa a ajudá-lo, mas Doss não desiste do colega e volta para resgatá-lo. Segundo Schenkkan, isso aconteceu na realidade e o homem sobreviveu.
Todavia, ele não foi o único que foi salvo pelo soldado. Ao cair da noite, os americanos precisavam se retirar, deixando os feridos para trás. Mas isso não impediu que Desmond voltasse ao local de batalha para salvar outros combatentes durante 12 horas.
Desmond Doss durante evento governamental / Crédito: Divulgação 

No longa-metragem, ele pede: “Deus, me ajude a ajudar só mais um”, e repete a frase diversas vezes. Uma vez com os feridos em seus braços, Desmond levava um por um até a corda, onde os amarava e baixava até a superfície do penhasco. Segundo o dramaturgo, a única diferença com a realidade é que seus companheiros que estavam embaixo do penhasco mandaram reforços.  
Ademais, o filme retrata que Doss se perde em uma das cavernas que os japoneses utilizavam como esconderijo e chega até mesmo a ajudar um inimigo. “Ele nunca mencionou ter entrado no sistema de cavernas, mas em mais de uma ocasião cuidou de soldados japoneses feridos”, relatou Schenkkan.
Não se sabe, ao certo, quantos homens foram salvos pelo combatente. Nas contas de Desmond, 50 homens foram salvos. Já para seus colegas, foram mais de 100. Para isso, eles chegaram a um acordo de 75 combatentes que foram salvos.
A busca incansável.
Após o ato de bravura de Doss, seus colegas passaram a respeitá-lo e até mesmo esperaram sua oração acabar para depois retornar à batalha. A tropa recusava subir o paredão de pedras sem o homem.
Batalhão de Desmond Doss no filme Até o Último Homem / Crédito: Divulgação 

“É verdade, eles se recusaram a ir sem ele!”, afirmou Schenkkan. Novamente na batalha, uma granada é jogada em direção a Desmond, e ele a chutou para longe para não ferir seus companheiros.
Segundo o roteirista, isso realmente aconteceu. “Ele ficou gravemente ferido e foi transferido de Okinawa para uma série de hospitais”. Durante a transferência, sua Bíblia foi perdida, assim como é mostrado no filme. “E sua companhia realmente voltou ao campo de batalha e procurou até achá-la”, comentou Schenkkan.
Entretanto, ao invés de recuperá-la antes mesmo de Doss ser levado por um helicóptero, ele a recebeu de volta durante uma condecoração realizada presidente Harry Truman, na qual o combatente foi enaltecido com uma Medalha de Honra.
Desmond Doss recebendo a Medalha de Honra do presidente Harry Truman / Crédito: Divulgação 

Além disso, Robert declarou que teve que cortar alguns rechos da realidade, uma vez que os considerou inverossímeis, como é o exemplo de quando Desmond saiu de sua maca, ferido, cedendo o seu lugar para outro soldado que estava machucado.

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