A presença do mal no mundo e nas
decisões humanas é um mistério
09/04/2020 -
Por Dom Leomar Brustolin, bispo auxiliar de Porto
Alegre e coordenador do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Teologia da
PUCRS
Diante da pandemia da covid-19 alguém pode se
questionar: "Onde está Deus?". Teólogos após a Segunda Guerra Mundial
se perguntavam: "Como falar de Deus para quem contemplou Hiroshima,
Nagasaki, Auschwitz e Birkenau?"
A complexa situação que a humanidade está vivendo
implica na revisão das nossas relações econômicas, culturais, políticas e
culturais. Também as religiões enfrentarão essa tarefa. Para a tradição
judaico-cristã, trata-se de redescobrir o sentido do silêncio do Eterno diante
do sofrimento, superando discursos que interpretam a pandemia como castigo.
Isso não é bíblico, mas desejo humano projetado sobre o divino. Um Deus
violento só pode ser pensado por quem não conhece o amor e a misericórdia. É
necessário também rever a postura que insiste na "exigência" de curas
milagres, quase tornando Deus um prestador de serviços à humanidade. Rezar para
livrar a humanidade dos males e perigos é indispensável, mas pedir a proteção
somente para determinados eleitos, é falta de sentimento de pertença à
humanidade.
Deus criou este mundo e lhe concedeu total
autonomia. A presença do mal no mundo e nas decisões humanas é um mistério.
Isso exigiria aqui uma reflexão maior sobre a Teodiceia. Creio, porém, que a
urgência deste flagelo precisa de uma palavra mais breve.
O silêncio de
Deus não é apatia, pois o crente sente seu amor real que não o livra da cruz,
como não poupou Jesus. Quem crê, sabe que a última palavra da história não será
a doença e a morte. Não é o fim de tudo. Deus é empático com a humanidade, e
por ser discreto, ele está agindo em cada médico, enfermeiro, colaborador de
hospital, cientista e em todos que colaboram para superar esta crise. Está
presente naqueles que arriscam a vida para salvar a vida dos outros. Ele está
na solidariedade revigorada, naqueles que animam a esperança e rezam, porque
são sabedores que ao final de toda essa provação, a humanidade vai precisar ver
além do horizonte. A finitude e a impotência nos ensinam que ninguém nasceu
para sofrer, mas a dor nos faz crescer. Deus está conosco, sempre!
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