OBSESSÃO PELA MORTE: A MALDIÇÃO DA TUMBA DE HERODES, O GRANDE
Há 13 anos, a tumba de um dos reis mais sanguinários de Israel foi encontrada e, pouco depois, contabilizou mais uma morte
WALLACY FERRARI PUBLICADO EM 27/04/2020
Herodes foi um rei da Judeia subordinado ao Império Romano que viveu entre 73 a.C até 4 a.C. Apesar de ter ganho a alcunha de ‘O Grande’ por suas grandes construções, tanto a historiografia judaica quanto a cristã caracterizam o rei como um louco e sanguinário, com desejos obscuros e mirabolantes em relação a morte.
O mais famoso deles foi ordenar a morte de todas as crianças com idades abaixo dos dois anos. A medida, motivada pela inveja e tirania, buscava exterminar Jesus Cristo, ainda durante a infância, e evitar que o mesmo exercesse a função de rei em Israel futuramente. A medida não foi eficiente, mas criou um legado ainda maior do que o de suas obras arquitetônicas.
Em outra ocasião, há registros de que Herodes continuou a fazer sexo com o corpo de sua companheira Mariana, que havia se suicidado pela desonra em seu clã. Acredita-se que o rei não apenas mantinha relações frequentes com o cadáver da garota, como conservou seu corpo em uma banheira de mel e repetiu o ato diversas vezes por cerca de sete anos.
Obcecado pela morte, Herodes planejou a sua morte com classe ao construir Herodium. Sua tumba ficaria no centro de uma colina artificial erguida no meio do deserto. No topo da mesma, um palácio sediaria o seu local do descanso eterno, repleto de extravagâncias e ostentação de poder.
O rei não apenas planejou onde seria enterrado, mas programou a estrutura para receber seu cortejo fúnebre, seus ornamentos do sepultamento e até mesmo seu funeral. Para isso, construiu, ao lado do palácio, um teatro com capacidade de 450 espectadores e uma piscina de mais de 2 mil metros quadrados.
Claro que a morte dos outros não poderia ficar de fora; há registros de que, antes de morrer, Herodes ordenou que os líderes judeus da época fossem mortos imediatamente após sua morte, de maneira que o mesmo conseguisse fazer toda a população chorar em seu funeral — por bem ou por mal.
Seu pedido é uma ordem.
Bestificado com a história, o professor da Universidade Hebraica de Jerusalém Ehud Netzer decidiu dedicar seu tempo para reescrever as passagens de Herodes com registros visuais e físicos obtidos de Herodium. Por isso, instalou um acampamento na colina, em 1973, e só saiu satisfeito 38 anos depois.
Em 2007, Ehud encontrou o maior achado bíblico relacionado ao rei: o túmulo. Após anos de escavações e análises, pôde concluir que os vestígios realmente se tratavam de itens pertencentes a Herodes. Apesar de ter sido parcialmente contestado pela comunidade arqueológica da época por não encontrar nenhum tipo de inscrição mortuária indicando o nome do rei, o pesquisador preferiu se manter nas instalações para realizar mais estudos.
Assim como ocorreu com Howard Carter — arqueólogo que descobriu o túmulo de Tutancâmon, porém faleceu devido a uma intoxicação com gases liberados pelo sarcófago — Ehud prosseguiu com a escavação nas ruínas, enfrentando perigos com uma idade já avançada.
Três anos depois da descoberta, em outubro de 2010, Netzer estava com 73 anos e continuava a auxiliar na análise presencial da equipe arqueológica de sua universidade, quando apoiou-se em um corrimão de madeira de mais de 2 mil anos. O mesmo se desprendeu, fazendo o pesquisador cair de uma altura de seis metros. Na queda, Ehud não resistiu aos ferimentos na coluna e faleceu.
Diversas autoridades da comunidade científica e autoridades de Israel prestaram condolências em seu falecimento, associando suas contribuições acadêmicas como as mais importantes na história recente do país. O pedido de Herode, no entanto, foi finalmente cumprido: sua morte foi chorada por pessoas de todo o país, por bem e por mal.
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