INCESTO NO EGITO ANTIGO: A POLÊMICA PRÁTICA QUE ESPALHOU DOENÇAS GENÉTICAS FARAÔNICAS
Os pais de Tutancâmon eram irmãos e seu pai, Aquenáton, costumava procriar com as próprias filhas. Mas a que custo?
VANESSA CENTAMORI PUBLICADO EM 10/03/2020
O incesto era uma prática muito comum no Antigo Egito. Os registros mais antigos de relações consanguíneas do tipo datam da 18ª Dinastia. A partir desse período, se inicia o Império Novo, que ocorreu entre o século 14 a.C e 9 a.C. Nessa época, relações sexuais entre pais e filhos aconteciam muito na realeza - e até mesmo entre os sacerdotes - afinal, os faraós e sua família eram considerados criaturas divinas.
Isso os dava a autoridade para que fossem além das regras que abrangiam as demais pessoas. Não por acaso, um time de pesquisadores do Egito e da Alemanha fez uma descoberta em 2010 que mostra como o incesto era recorrente nas famílias faraônicas.
Eles encontraram um total de 11 múmias da 18ª Dinastia, que eram parentes de Tutancâmon. O DNA dos corpos mumificados foi analisado, o que permitiu saber quais tipos de relacionamentos que a família real mantinha entre si. Surpreendentemente, o faraó era filho de um relacionamento entre a irmã de Aquenáton e o próprio Aquenáton, cujo nome significava “a glória de Aton”, o deus Sol.
Graças à essa descoberta, os pesquisadores esclareceram uma grande confusão feita há tempos. Antes, por causa de algumas pistas espalhadas pela arte egípcia, acreditava-se que tanto Tutancâmon quanto seu pai, Aquenáton, tinham traços femininos. Isso estaria relacionado à uma doença genética chamada síndrome de Marfan.
Mas isso veio à tona como sendo falso. Na verdade, aquela impressão era causada apenas pela reforma religiosa de Aquenáton, que afetou muito a arte da época. E quem tinha uma doença genética era somente Tutancâmon, que sofria de deformidade equinovarus, que deixa os pés tortos. O motivo: o incesto de seus pais.
Em entrevista ao jornal britânico Daily Mail, o professor do Imperial College London, Hutan Ashrafian, que fez parte do estudo, contou que, por conta do incesto, vários membros da família de Tutancâmon sofreram de doenças envolvendo desequilíbrios hormonais - possivelmente ligados à uma vida mais curta.
“Vários de seus antecessores da família viveram até uma idade avançada”, disse Ashrafian. “Somente sua linha imediata morreu cedo, e eles estavam morrendo mais cedo a cada geração".
Visto isso, é notável que o ato de se relacionar somente com os membros próximos da família não saía barato - escapar das doenças e anomalias era difícil com a ciência ainda em desenvolvimento. Mas por que mesmo assim os egípcios insistiam no incesto, que era tão recorrente?
Uma das hipóteses mais comuns para explicar isso é que existia um grande desejo de manter a “pureza” do sangue real. Aquenáton, por exemplo, procurava procriar com suas próprias filhas. Ele era casado com a Rainha Nefertiti, com quem teve seis meninas. O pai então se casou com a filha Meritaton, com quem teve uma bebê ( sendo não só pai, como avô da criança).
O mesmo aconteceu com sua filha Anquesenamom, com quem ele também teve uma neta-filha. Após a morte do pai, ela ainda se tornou esposa do meio-irmão,Tutancâmon.
Outro faraó da 18ª Dinastia foi Amenófis III, que precedeu Aquenáton e Tutancâmon. Ele também se casou com a própria filha e, por aquilo ser novidade, causou um alvoroço entre o povo egípcio. Acontece que antes o que era mais comum era os reis casarem-se com as meias-irmãs.
A esposa de Amenófis II era conhecida como Rainha Tiy e especialistas acreditam que ela possivelmente era a prima do faraó. A primeira filha do casal, chamada de Sitamón teve que fazer parte de um casamento com o próprio pai quando tinha 20 anos de idade. Assim como aconteceu com Aquenáton, a suspeita é de que ele também tenha se casado com outras filhas que teve com Rainha Tiy.
Depois que o incesto foi aderido pela realeza, a população, naturalmente, também foi seguindo os passos daqueles que eram considerados deuses. O relacionamento incestuoso na família nuclear, não só no Egito Antigo, como também na Persa, também estava presente nas famílias das pessoas menos abastadas.
Os historiadores não sabem ao certo se isso surgiu exatamente como uma propaganda do governo, mas alguns outros motivos podem ser apontados. Estão entre eles a religião e também a questão econômica, já que ter filhos dentro da própria família significava mais mão-de-obra. E também, o famoso dote não teria que ser pago ao pedir a noiva-filha em casamento.
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