A MÚMIA DE JOHN WILKES BOOTH, O HOMEM QUE ASSASSINOU ABRAHAM LINCOLN
Em seu leito de morte, o criminoso confessou o homicídio a um advogado. Ele desapareceu e, anos mais tarde, se tornou o protagonista de um grande mistério
PAMELA MALVA PUBLICADO EM 15/03/2020
Três histórias completamente diferentes se cruzaram quando o nome de John Wilkes Booth foi publicado em um jornal norte-americano. Entre o assassinato do presidente Lincoln, um advogado do Texas e um homem suicida, uma trama complexa se formou no século 19.
Tudo começou em meados de 1877, quando Finis L. Bates, formado em direito, foi convocado para uma reunião misteriosa e urgente. Ele rumou até o destino no qual deveria comparecer e, lá, encontrou um homem moribundo, a beira da morte.
O pulso do enfermo estava sendo medido por um médico e ele parecia bastante inquieto. Simpatizante dos Confederados, o homem um crítico do governo de Lincoln, fortemente contrário ao fim da escravidão nos Estados Unidos.
No que ele pensava ser seu último suspiro, o morimbundo agarrou o pulso de Finis e confessou um crime inesperado. “Estou morrendo. Meu nome é John Wilkes Booth e sou o assassino do presidente Lincoln”, disse, em seu — quase — leito de morte.
Em seguida, o homem narrou todo o crime, em seus mínimos detalhes. Segundo ele, o vice-presidente Andrew Johnson teria planejado o assassinato, dando-lhe o necessário para fugir sem ser capturado na perseguição policial. Dessa forma, John apenas precisou atirar em Lincoln e desaparecer, pulando de cidade para cidade.
Ficou claro para o advogado que John apenas estava contando tais fatos porque imaginava que iria morrer. Entretanto, segundo Finis, ele sobreviveu àquela noite e todas as outras que se seguiram. Mesmo assim, ele sumiu do radar e nunca mais contatou seu confidente.
Anos mais tarde, Finis estava lendo uma matéria no jornal quando uma trama confusa apareceu entre as palavras publicadas. Segundo o veículo, um homem chamado David E. George teria cometido suicídio ao ingerir uma quantidade letal de arsênico, em janeiro de 1903.
De acordo com o texto, a esposa de um ministro de Oklahoma afirmou que David já tentara se matar nove meses antes. Na época, ao imaginar que estaria deixando essa vida para trás, o homem confessou: “Eu não sou David Elihu George. Fui eu quem matou o melhor homem que já viveu. Eu sou J. Wilkes Booth”.
Finis automaticamente pulou na cadeira ao perceber que o homem morto no jornal era o mesmo que agarrara seu pulso anos antes. Ele foi até Oklahoma e tentou reivindicar a custódia do corpo de David. Àquele momento, o cadáver do assassino de Lincoln já era uma atração turística da cidade.
De terno preto, David estava embalsamado, sentado em uma cadeira, com olhos de vidro esbugalhados olhando fixamente para um jornal. Seu corpo teria sido perfeitamente conservado graças ao arsênico ingerido pelo suicida e usado na técnica de preservação.
Por anos Finis tentou adquirir a múmia de John — ou David — mas as chances foram poucas. Foi apenas em 1907, quando publicou o livro A Fuga e o Suicídio de John Wilkes Booth: Escrito para a Correção da História, que ele conseguiu a custódia do cadáver embalsamado.
Com o corpo em mãos, o advogado passou a alugar a múmia para carnavais, feiras estaduais e espetáculos, sempre apresentando o homem como sendo John Wilkes Booth, o assassino de Lincoln. A exploração do cadáver se seguiu por anos e fez as manchetes de diversas revistas e tabloides da época por sua narrativa polêmica.
Segundo publicado pelo Saturday Evening Post em 1938, a múmia de John "espalhou a má sorte quase tão livremente quanto Tutancâmon deveria ter feito". Na respectiva matéria, relatos diziam que quase todos os artistas que ousaram exibir o corpo do assassino entraram em falência.
Em 1920, inclusive, o trem de um circo descarrilhou enquanto carregava a múmia à caminho de San Diego. Oito pessoas morreram no acidente e, logo em seguida, o cadáver embalsamado foi sequestrado e um resgate foi exigido.
Em 1923, Finis, o então dono da múmia, morreu. Com isso, sua esposa vendeu o corpo a William Evans, conhecido como o rei do carnaval do sudoeste. De forma óbvia, William continuou cobrando pela imagem de John e chegou a colocar uma enorme placa na frente de sua casa, com os dizeres “veja o homem que assassinou Lincoln”.
Àquela altura do campeonato, um entusiasta da trajetória do antigo presidente dos Estados Unidos pediu que William entrasse em turnê com a múmia pela América. O lançamento, todavia, fracassou e o homem decidiu vender o cadáver de uma vez por todas.
Dessa forma, John Harkin e sua esposa compraram a múmia de John por cinco mil dólares, em meados de 1930. O casal, então, viajou com o cadáver pelos Estados Unidos, prometendo pagar mil dólares a qualquer um que pudesse provar que a múmia de David não era de John. Ele nunca desembolsou um centavo.
Em 1931, médicos de Chicago examinaram o corpo e determinaram que as fraturas na perna de David, seu polegar quebrado e a cicatriz no pescoço eram consistentes com os ferimentos de John. Assim, atestaram que eles eram a mesma pessoa, mesmo que a perna machucada de David fosse a direita, enquanto a de John era a esquerda.
A polêmica múmia foi vista pela última vez no final da década de 1970. Ela pertencia à um colecionador particular. Durante anos especialistas tentaram atestar a ideia de que David e John eram a mesma pessoa, mas o mistério segue sem respostas até hoje.
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