TORTURADO E FERIDO: ESTUDANTE FOI VISITAR A COREIA DO NORTE POR CINCO DIAS E ACABOU PRESO POR 15 MESES
Otto Warmbier só voltou a sua terra natal depois que entrou em um grave estado de coma — falecendo seis dias após seu regresso
FABIO PREVIDELLI PUBLICADO EM 02/02/2020
O mais velho entre os três filhos de Fred e Cindy Warmbier, Otto nasceu em 12 de dezembro de 1994. Considerado um aluno popular e estudioso, ele se formou em 2013, recebendo um importante título acadêmico. Por ter muito interesse em outras culturas, o jovem já havia visitado alguns países da Europa, além de Israel, Cuba e o Equador.
Em 2015, Otto planejava participar de um programa de estudos em Hong Kong. Aproveitando seus planos na Ásia, ele decidiu que visitaria a Coreia do Norte durante o período do Ano Novo, antes de partir para Hong Kong. Segundo o pai do jovem, ele disse que a viagem era segura para os cidadãos americanos e declarou que estava "curioso sobre a cultura deles, queria conhecer o povo da Coreia do Norte".
A última viagem de Otto Warmbier.
Em 29 de dezembro de 2015, Warbier partiu para uma escala em Pequim antes de chegar na Coreia. Já em terras coreanas, ele e um grupo de turistas — que incluía outros 10 cidadãos americanos — passariam 5 dias no país.
O grupo comemorou o ano novo em uma festa na Praça Kim Il-sung, em Pyongyang, antes de retornar para suas acomodações no Yanggakdo International Hotel, onde continuou consumindo algumas bebidas alcóolicas.
No início da manhã do dia de Ano Novo, Warmbier, supostamente, tentou roubar um cartaz de propaganda política para levar de volta aos Estados Unidos como um "troféu" para alguém da igreja da sua cidade. O pôster dizia, "Vamos armar-nos fortemente com o patriotismo de Kim Jong-il!".
Causar qualquer tipo de dano ou até mesmo roubar materiais com o nome ou a imagem de um líder norte-coreano é considerado um crime grave pelo governo norte-coreano — Kim Jong-il é o pai do atual líder,Kim Jong-un.
Em 2 de janeiro de 2016, Warmbier foi preso no Aeroporto Internacional de Pyongyang enquanto aguardava a partida da Coréia do Norte. Danny Gratton, um membro britânico do grupo de turistas de Warmbier, testemunhou a prisão.
“Nenhuma palavra foi dita. Dois guardas chegaram e simplesmente deram um tapinha no ombro de Otto e o levaram embora. Eu apenas disse meio nervoso: 'Bem, essa é a última vez que veremos você'. Há uma grande ironia nessas palavras. Foi isso. Essa foi a última vez em que vi Otto. Otto não resistiu. Ele não parecia assustado. Ele meio que sorriu”, narrou Gratton.
Quando o avião do grupo estava prestes a deixar o terminal, um oficial entrou a bordo e anunciou: "Otto está muito doente e foi levado para o hospital". Não era verdade. A Agência Central de Notícias da Coréia (KCNA), estatal da Coréia do Norte, anunciou inicialmente que Warmbier havia sido detido por "atos hostis contra a República Democrática da Coreia do Norte". O país asiático se recusou a detalhar a natureza exata de suas irregularidades por seis semanas.
A confissão de um crime.
A confissão de um crime.
Em uma conferência de imprensa, em 29 de fevereiro de 2016, Warmbier, lendo uma declaração escrita, confessou que havia tentado roubar um cartaz de propaganda de uma área restrita do segundo andar do Yanggakdo Hotel para levar de volta para os Estados Unidos.
Em 16 de março de 2016, poucas horas após o enviado americano Bill Richardson se encontrar em Nova York com dois diplomatas norte-coreanos no escritório das Nações Unidas, para pressionar pela libertação de Warmbier, Otto foi julgado e condenado na Suprema Corte da Coréia do Norte.
As evidências em seu julgamento, que duraram uma hora, incluíram sua confissão em vídeo, imagens do circuito interno de segurança do hotel, evidências de impressões digitais no cartaz e o testemunho de algumas pessoas.
Warmbier informou, em sua confissão, que abandonou o pôster depois de descobrir que ele era grande demais para ser transportado. Mas isso não evitou sua sentença a 15 anos de trabalho braçal.
O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Mark Toner, afirmou que estava claro que a Coreia do Norte prendia cidadãos americanos para usá-los para fins políticos — apesar do país asiático negar veementemente a acusação.
O retorno de Otto aos Estados Unidos.
Em 13 de junho de 2017, o Secretário de Estado Rex Tillerson anunciou que Otto foi libertado da Coreia do Norte e chegaria nas próximas horas nos Estados Unidos. Entretanto, o rapaz jamais retornaria a sua nação da mesma maneira que havia saído: Warmbier estava em coma.
Relatórios subsequentes apontam que, em uma reunião em Nova York, em 6 de junho, as autoridades norte-coreanas informaram o Representante Especial do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Joseph Yun, que o jovem havia contraído botulismo de origem alimentar logo após sua sentença e entrara em coma depois de tomar uma pílula para dormir.
Os médicos de Otto, do Centro Médico da Universidade de Cincinnati, afirmaram que ele estava "em um estado de vigília sem resposta", comumente conhecido como estado vegetativo persistente. Ele era capaz de respirar por conta própria e piscar os olhos, mas, por outro lado, não mostrava sinais de consciência de seu ambiente.
Registros médicos da Coréia do Norte mostraram que Otto estava nesse estado desde abril de 2016, um mês após sua condenação. Durante sua libertação, os norte-coreanos forneceram registros de duas imagens cerebrais de ressonância magnética, datadas de abril e julho daquele ano, que evidenciava os danos no cérebro do jovem.
De acordo com sua equipe médica, as varreduras do cérebro revelaram que Warmbier sofreu uma extensa perda de tecido cerebral em todo a região, consistente com um evento cardiopulmonar que causou a privação de oxigênio na cabeça.
Os médicos disseram que não sabiam o que causou a parada cardíaca, mas que ela poderia ter sido desencadeada por uma parada respiratória — um especialista em cuidados neurointensivos do hospital afirmou que não haviam evidências que indicavam quaisquer sinais de botulismo.
Depois que seus pais solicitaram a remoção do tubo de alimentação, Otto Warmbier morreu no hospital às 14h20 de 19 de junho de 2017, com 22 anos de idade.
O desabafo em rede nacional.
Em entrevista à rede de TV Fox, em 2017, os pais de Otto quebraram o silêncio desde a morte do filho. Fred e Cindy acusaram os norte-coreanos de "sistematicamente torturarem" seu filho, além de chamá-los de “terroristas”.
Os pais do jovem estudante afirmaram que a entrevista foi uma maneira que encontraram para "contar a verdade sobre as condições em que Otto se encontrava". O pai do garoto disse que, quando viu o filho, ele “estava perambulando, tendo espasmos violentos e emitindo sons e uivos que não pareciam humanos". Ele ainda disse que o garoto teve sua cabeça raspada e “estava surdo e cego”.
“Suas pernas e braços encontravam-se totalmente deformados e ele tinha uma imensa cicatriz em um dos pés. Parecia ainda que alguém tinha usado um alicate para trocar de lugar seus dentes inferiores", disse Fred.
"Otto foi sistematicamente torturado e ferido intencionalmente por Kim [Jong-un, líder da Coreia do Norte] e seu regime. Isso não foi um acidente”. Ele também criticou o governo norte-americano e a comunidade internacional por terem "abandonado" seu filho.
Apesar das fortes acusações feitas pelos familiares de Otto, o jornal Cincinnati Enquirer questionou as afirmações do casal. O veículo informou que teve acesso ao atestado de óbito do estudante. Segundo eles, o corpo do rapaz apresentava diversas cicatrizes pequenas, mas nada que indicasse ou configurasse qualquer prática de tortura.
O jornal ainda informou que o legista que examinou Otto disse que seus dentes estavam “em bom estado” e que o óbito seria proveniente de danos cerebrais causados por falta de oxigênio.
A verdadeira causa da morte de Otto Warmbier jamais foi conhecida, já que os pais do estudante não permitiram que fosse feita uma autópsia no corpo de seu filho — sendo realizado apenas um exame externo post-mortem.
O governo norte-coreano ficou com a certeza de que fez todo o possível pela saúde do jovem americano, os pais do garoto têm a convicção de que a Coreia do Norte mandou o rapaz de volta para casa apenas porque eles não gostariam que ele morresse no país.
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