domingo, 26 de janeiro de 2020

A sórdida verdade por trás da foto de Stalin com uma garotinha soviética.

A SÓRDIDA VERDADE POR TRÁS DA FOTO DE STALIN COM UMA GAROTINHA SOVIÉTICA

A imagem estampou pôsteres e jornais da época para mostrar a complacência e gentileza do tirano, todavia, a fotografia guarda uma história melancólica
CAIO TORTAMANO PUBLICADO EM 26/01/2020
Stalin e a menina foram o ícone da gentileza do líder por um bom tempo
Stalin e a menina foram o ícone da gentileza do líder por um bom tempo - Getty Images
O “amigo das crianças” — como ficaria conhecida a fotografia — é mais uma daquelas ironias históricas que só foram ser evidenciadas após anos. A menina em questão se chamava Engelsina Markizova, uma menina soviética com origem buriate (da etnia mongol).
Seu pai, Ardan Markizov, era membro do partido comunista e um oficial soviético com boa reputação e muito bem-sucedido. Em 1936, Markizov participou de uma comitiva do partido para encontrar Stalin em Moscou.
Engelsina, com somente sete anos, implorou para seu pai que a levasse com ele para a capital a fim de conhecer o grande líder do país. O oficial ficou com o pé atrás, acreditando que não a deixariam entrar no Kremlin.
A preocupação foi à toa, uma vez que crianças não precisavam de autorização especial para adentrar o complexo. Com isso, a garota pode ir conhecer Stalin sem maiores complicações. A visita estava pacata, e Engelsina teve a ideia de levar um buquê de flores para o líder soviético.
Josef aceitou de muito bom grado as flores e o abraço da menina. Depois de ser presenteado, o comunista colocou a menina em cima da mesa e deu um relógio de ouro de presente para a filha do oficial, que assistia à cena orgulhoso.
Josef Stalin e Engelsina Markizov, mais tarde o líder viria a deixá-la órfã / Crédito: Getty Images
O momento foi capturado por diversos jornalistas que estavam no local, e a imagem foi rapidamente divulgada nos jornais soviéticos da época, mostrando um lado "simpático" e "gentil" do temido primeiro-ministro. A foto, porém, não demorou muito pra se tornar uma melancólica contradição.
Durante o Grande Expurgo promovido por Stalin, diversos oficiais do partido comunista soviético foram perseguidos e assassinados pelo próprio Estado. O líder tinha medo que seu governo fosse deposto e começou a eliminar possíveis conspiracionistas, o pai de Engelsina, Ardan, foi um deles.
Por mais que não estivesse envolvido em nenhuma conspiração, Markizova foi preso em 1937, somente um ano depois da foto que mostrava a suposta compaixão de Stalin. Agonizando por um ano na cadeia, o oficial foi morto a tiros em junho de 1938, Engelsina fez o que podia para evitar a fatalidade, e enviou diversas cartas para Stalin, das quais nenhuma surtiu efeito.
Sua mãe, Dominika, também foi presa e encontrada morta em circunstâncias suspeitas. A situação gerou grande desconforto no governo, Stalin não poderia ser visto posando com uma inimiga, porém a foto já tinha sido amplamente divulgada e estampava monumentos e jornais por toda União.
A solução encontrada foi mudar a identidade da menina que aparecia na foto. Por mais que fosse Engelsina Markizov a sorridente menina presenteando Stalin, os créditos de aparição eram dados à Mamlakat Nakhangova.
A vida da orfã se transformou de maneira drástica. Mudou-se para Moscou e passou a viver com a sua tia, adotando o sobrenome dela: Dorbeyeva. Apesar de seu passado, Engelsina confessa que chorou pela morte de Stalin. Morreu aos 75 anos em 2004.

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