sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Ilhas misteriosas no Brasil: medo, história e isolamento.

ILHAS MISTERIOSAS NO BRASIL: MEDO, HISTÓRIA E ISOLAMENTO

Algumas ilhas são paradisíacas e a ideia de passar um tempo nelas parece um sonho. Outras, contudo, se tornaram estigmatizadas por histórias bizarras e acontecimentos estranhos
M. R. TERCI ATUALIZADO EM 20/09/2019
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O isolamento que torna o ambiente das ilhas tão único possibilita também a criação de pequenos universos repletos de histórias fantásticas. Todo mundo já se perguntou: o que você levaria para uma ilha deserta? Um livro, talvez um rádio ou uma câmera. Quem sabe uma bola de vôlei para chamar de Wilson? Qualquer coisa que tornasse a estadia agradável e a solidão menos desoladora. E quem você levaria para uma ilha deserta? Qualquer que seja sua resposta, temos certeza de que não seria uma assombração, uma criatura sinistra ou um alienígena pegajoso.
Algumas ilhas são paradisíacas e a ideia de passar um tempo nelas parece um sonho. Outras, contudo, se tornaram estigmatizadas por histórias bizarras e acontecimentos estranhos, cujas circunstâncias, jamais esclarecidas, tornam essas ilhas pequenas porções de terra, rodeadas de mistérios por todos os lados.
Venham comigo, pelos caminhos mais escuros de nossa história, explorar algumas das ilhas misteriosas do nosso litoral brasileiro e das histórias desses locais.
Vila Fantasma.
Crédito: Reprodução
Não bastava o mar criar uma nova ligação entre Paraná e São Paulo, tinha de ter fantasmas no meio. A paisagem no litoral paranaense está mudando rapidamente, devido às transformações causadas pelo mar. Primeiro o avanço das águas deu origem às Vilas Fantasmas de Guaraqueçaba, depois, do fundo do mar, assurgiu uma conexão entre a Ilha de Superagui e a do Cardoso, no litoral paulista.
Agora mais eventos estranhos voltam em sucessão na porção mais isolada da Vila de Ararapira, uma das vilas fantasmas em derredor de Guaraqueçaba. Um vulto de mulher vestida de branco acena para as embarcações. Gemidos são ouvidos nas dependências da delegacia abandonada. Vultos fantasmagóricos e sombras silenciosas são vistas na velha igreja, ou cambaleando pela vila deserta.
Túmulos violados, ossadas expostas sobre as sepulturas. Crianças enterradas no cemitério vagam pela região. Alguns ex-moradores, ligados à Associação dos Moradores do Marujá, comunidade da Ilha do Cardoso em São Paulo, afirmam que isso é boataria para explorar os turistas. Qualquer que seja a verdade, histórias de assombrações não faltam na Vila Fantasma, onde além dos boatos, os sustos fazem parte do roteiro turístico.
Ilha do Medo.
Crédito: Reprodução
O menor pedaço de terra de todas as 56 ilhas da Baía de Todos os Santos, dizem, ser assombrado. A Ilha do Medo merece a alcunha. Partindo de Salvador, são duas horas de barco até ela. Vozes, gritos e gemidos se espremem para fora da mata, no momento em que os barcos se aproximam. Um velho casarão em ruínas, antigo leprosário que se prestava a isolar os portadores de hanseníase da capital baiana é o epicentro do fenômeno. O investigador do oculto vai ter muita dificuldade de alcançar esse sítio, pois mesmo durante o dia, os pescadores se recusam a pisar na ilha;
Ilha Anchieta.
Crédito: Reprodução
Ilha Anchieta, no litoral de Ubatuba, onde existem ruínas de um antigo presídio, sobre o qual orbitam histórias de assombrações e luzes misteriosas. As histórias contadas pelos moradores registram coisas fantásticas sobrevoando a ilha, como fantasmas, demônios e discos-voadores.
A casuística ufológica do litoral norte paulista vem de longa data, com ocorrências de diversos graus acontecidas ao longo de décadas. Afora esses causos de botar medo, o pesquisador poderá travar contato com um dos casos mais conhecidos daquela região: a explosão de um UFO numa praia de Ubatuba, no ano de 1957.
Ilha das Cobras.
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Cobras. Se você tem fobia desse animal, nem pense em pisar na Ilha de Queimada Grande, ou como é conhecida mundialmente, a Ilha das Cobras. Cenário do livro Imperiais de Gran Abuelo, a ilha fica à quase 35 quilômetros do litoral paulista. Possuí cerca de um quilômetro e meio de comprimento, e é habitada por milhares exemplares da jararaca-ilhoa, cobra que se destaca entre as espécies mais mortais do planeta.
O governo brasileiro delimitou a área como reserva ambiental e para entrar lá, é preciso ter autorização. Afora o perigo mortal das cobras, existem dois estranhos relatos.  Na década de 1920, um zelador do farol foi enviado à ilha com sua mulher e sua filha de cinco anos. O farol era utilizado para avisar os navegantes sobre as perigosas correntes em torno da ilha. Durante uma viagem para levar recursos, a equipe encontrou o farol abandonado e a porta aberta. A família foi encontrada, morta, em uma trilha na encosta.
Até hoje, muitos dos que visitam a ilha afirmam ouvir algo semelhante a uma risada de uma garotinha ecoando com o vento. Há quem diga, entretanto, que a ilha jamais foi habitada. Outra história fala sobre três pescadores famintos que voltavam ao continente de uma viagem de pesca infrutífera. Atraídos pelas bananeiras da ilha, os pescadores desembarcaram e logo foram picados por cobras.
Desesperados, voltaram para o barco e tentaram alcançar o litoral a força de remos. Mas o veneno já agia em seu sistema nervoso e eles se perderam no mar. Várias semanas depois, dois marinheiros foram encontrados mortos, deitados sobre poças de sangue. O terceiro pescador jamais foi encontrado. O cultista do bizarro poderá tirar suas próprias conclusões.
Ilhabela.
Crédito: Reprodução
Quem desembarca em Ilhabela, no litoral de São Paulo, não imagina que por trás do belíssimo espetáculo proporcionado por sua exuberante natureza e paradisíacas praias da maior ilha de nossa costa, se encontram fatos fantásticos, como causos de assombrações, mistérios noturnos ligados ao folclore local, trágicos e inexplicáveis acidentes náuticos e aparições de UFOs, alienígenas, histórias tantas, capazes de encher os olhos dos mais afamados epicuristas do insólito.
Os mais velhos residentes do lugar comentam sobre as dezenas de naufrágios ocorridos na parte costeira da ilha, voltada para o oceano. Referem-se também aos primeiros habitantes da região, os índios tupinambás, e aos piratas que ali estiveram em busca de tesouros. São fartas, ainda, histórias sobre escravos que trabalharam em engenhos de cachaça, que viam assombrações e luzes misteriosas, além de misteriosos objetos suspensos no ar na praia do Jabaquara.
Na região de Barra Velha, em uma das antigas fazendas de café, há coisa de duzentos anos, conta-se que uma jovem mulher, casada com um coronel aposentado, costumava se banhar numa das cachoeiras das proximidades. Certa tarde, um dos escravos da fazenda, em fuga, surpreendeu sinhá nesse local.
 Nem sinhá, nem o escravo nunca mais foram vistos, mas até hoje, naquelas paragens, dizem que é possível ouvir os gritos e súplicas da moça. Dizem também que o espírito do escravo ainda pode ser avistado nas matas próximas vagando sem nunca encontrar um caminho para fora da ilha.
Qualquer que seja a origem dessas histórias, mentira ou superstição, aparentemente, o turismo macabro começa a tomar forma no Brasil.

M.R. Terci é escritor e roteirista; criador de “Imperiais de Gran Abuelo” (2018), romance finalista no Prêmio Cubo de Ouro, que tem como cenário a Guerra Paraguai, e “Bairro da Cripta” (2019), ambientado na Belle Époque brasileira, ambos publicados pela Editora Pandorga.

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