PORTUGAL – ESPANHA
Portugal
e a Espanha são países amigos. Diz-se que são países irmãos. A história é comum
entre eles, a língua aproximadamente e tradições idênticas. São frequentes os
pontos de contato da nossa cultura e civilização. A influência que mutuamente
exercemos é enorme e não podemos negá-la nem destruí-la. Conhecendo melhor a
História da Espanha, compreenderemos melhor a História de Portugal. As duas
confundem-se muitas vezes com a crônica das respectivas famílias reais.
Entendemos, pois, haver conveniência em seguir, um por um, os laços de
parentesco que as ligam entre si. A árvore genealógica das duas casas reinantes
tem muitos ramos comuns.
No
tempo de Cristo, a Península Ibérica estava integrada no Império Romano, era
dominada pela estrutura política de Roma. Falava-se o Latim, língua da região e
cidade de Roma, o Lácio. Os costumes dos seus naturais foram substituídos por
outros, trazidos pelos homens do império ou integrados nele: os funcionários,
os comerciantes e os soldados.
Vieram
depois os povos bárbaros. Vários ramos deles se estabeleceram no território
peninsular. Os suevos e os visigodos foram os principais. As normas
administrativas sofreram a sua influência, ao princípio caótica e demolidora,
mas depois ordenada e benéfica. Após a sua conversão ao Catolicismo, os
visigodos e suevos transformaram-se nos grandes pilares da Fé e da Civilização.
Estes povos tinham qualidades que suplantavam as dos romanos, um povo então
decadente.
Chegaram
finalmente os árabes. Tomaram conta de todo o território da Península Ibérica,
com exceção das zonas montanhosas do norte, as Astúrias e as Vascongadas.
Refugiaram-se um punhado de hispanos, chefiado por Pelágio. Os invasores e
usurpadores infiéis começaram desde logo a ser repelidos. A gesta da
Reconquista prosseguiu. O problema era não só hispânico, mas também europeu. O
conhecido Carlos Martel viu a gravidade da situação e opôs a força dos seus
exércitos à marcha vitoriosa dos árabes, vencendo-os na batalha de Poitiers.
Prosseguiu, no entanto, a luta entre cristãos e mouros. Portugal deu por finda
a conquista do seu território em 1249, enquanto que a Espanha só lhe pôs termo
anos depois, em 1492.
LEÃO
E CASTELA
D.AFONSO
VI (1065-1109)
O rei de Leão e Castela, D.Afonso VI,
era filho de Fernando I, vulgarmente chamado Fernando Magno. Recebera o trono
de Leão por herança direta de seu pai, e o de Castela por morte de seu irmão,
D.Sancho II. Teve de jurar estar isento de culpas na sua morte, pois foi
assassinado. D.Afonso VI fez esse histórico juramento na igreja de Santa
Águeda, em Burgos. O rei castelhano D.Sancho II era muito querido do povo e a
sua morte foi muito sentida. D.Afonso VI fez prender, ardilosamente, seu irmão
Garcia, rei da Galiza, e apoderou-se dos seus domínios. Seu pai tinha dividido
o reino pelos cinco filhos, mas D.Afonso VI conseguiu apoderar-se
de todos aqueles territórios. Conquistou Toledo, onde estabeleceu a
corte. Foi derrotado em Zalaca e Uclés. O célebre Cid, o Campeador, ainda
tomou a cidade de Valença, que teve de ser abandonada; o rei reconheceu que não
havia vantagem em sustentar uma praça de guerra tão profundamente
encravada em território inimigo.
D.Afonso
VI foi um dos reis de maior influência que exerceu na gesta da reconquista
do território de Portugal. Chamou a si alguns fidalgos e aventureiros
europeus, que tomaram parte na luta. Distinguiram-se entre eles Raimundo
de Borgonha, seu irmão Henrique, e o primo destes, Raimundo de Amous,
sobrinhos e protegidos de D.Constança, rainha cônjuge de Leão e Castela.
Casaram com as filhas do rei, D.Urraca, D.Teresa e D.Elvira,
respectivamente.
D.URRACA
(1109-1126)
D.Urraca
sucedeu no trono de seu pai D.Afonso VI. Casou com Raimundo de Borgonha e
desse matrimônio nasceu o seu sucessor, D.Afonso VII. Depois de viúva,
casou com o rei D.Afonso I de Aragão, mas este casamento foi anulado. O
seu governo ficou marcado por períodos de guerra e de tréguas com sua irmã
D.Teresa, Condessa de Portugal, tendo algumas vezes chegado a fazer as
pazes. No entanto, nunca aceitou a sua independência.
D.AFONSO VII (1126-1157).
A
História de Espanha chamava o rei D.Afonso VII, neto de D.Afonso VI
e filho de D.Urraca, o "Imperador", devido a conquista do
território, que estava com os mouros. A mais famosa das suas
conquistas deve ter sido a da cidade de Almeria, importante porto do sul
da Espanha. Depois da sua morte, os seus reinos foram repartidos
pelos filhos. D.Sancho III recebeu Castela e D.Fernando II ficou com Leão. D.Afonso
VII reconheceu a independência de Portugal, pelo Tratado de Samora, em
5 de Outubro de 1143.
D.SANCHO
III (1157-1158)
Era
filho de D.Afonso VII. Celebrou com seu irmão D.Fernando II, rei de Leão,
um tratado para a conquista e partilha do reino de D.Afonso Henriques. O
seu curto e insignificante reinado não lhe permitiu, felizmente, realizar
os projetos arquitetados. D.Sancho III instituiu a Ordem de Calatrava, introduzida
em Portugal, onde é conhecida pela designação de Ordem de Avis,
poderosa e influente organização militar, no Alentejo. D.Fernando II,
rei de Leão, instituiu a Ordem de Santiago de Compostela, vulgarmente
conhecida pela denominação de Santiago da Espada. O nome vem-lhe, segundo
alguns autores, de a cruz ter a forma de uma espada. Foi introduzida em
Portugal ainda no tempo de D.Afonso Henriques.
D.AFONSO
VIII (1158-1214).
Era
filho de D.Sancho III. Herdou o trono sendo jovem. Enquanto pequeno, houve
sangrentas lutas pela posse do poder, travadas entre as duas famílias
rivais, Castros e Laras. Porém, ao chegar à maioridade, o rei conseguiu
sacudir a tutela e a influência de ambas, governando os seus estados em
paz e com a preocupação de justiça. Deve-se-lhe o "Fuero Viejo
de Castilla", que regulava os privilégios da nobreza. Fundou a
Universidade de Palência, depois transferida para Valhadolid. Foi a
primeira que se estabeleceu na Península Ibérica, tendo sido fundada em
1208. Auxiliado por elementos guerreiros de todas as regiões da
Península, entre os quais se contavam algumas tropas portuguesas, venceu
os mouros na batalha de Navas de Tolosa. O auxílio lusitano parece
não ter sido oficial, mas de iniciativa particular, frequente naquela
época. Depois de os mouros conquistarem a cidade de Silves e outras terras
do sul, o exército dos infiéis atacou D.Afonso, que sofreu uma
dura derrota na famosa batalha de Alarcos, na qual perdeu a vida, o
príncipe herdeiro do trono, D.Fernando. O rei de Leão, D.Afonso IX,
uniu-se aos mouros na luta contra os príncipes cristãos; por esse motivo,
o Papa castigou-o com a pena de excomunhão. Combatiam contra os
mouros os reis de Aragão, Castela e Portugal, aos quais foram concedidas
pelo Sumo Pontífice, as mesmas indulgências que eram concedidas aos
cruzados do Oriente. No tratado de paz, D.Afonso IX comprometeu-se a casar
com D.Berengária, filha do rei de Castela. O casamento foi mais
tarde anulado, por razões de consanguinidade. D.Afonso VIII fez
questão em que o rei de Leão restituísse o país, e as terras arrebatadas
durante as lutas que D.Afonso II travou contra as irmãs. O rei leonês
casara em Portugal com D.Teresa, irmã do monarca, e por isso tinha
interesses a defender na luta travada.
D.HENRIQUE
I (1214-1217).
O
reinado deste soberano foi muito curto. Governou em todo este período a
sua irmã e sucessora, D.Berengária. Inclui-se o seu nome na lista
cronológica dos reis de Castela por ter morrido o herdeiro do trono, seu
irmão D.Fernando, na batalha de Alarcos. D.Henrique I morreu de
desastre. Andando a brincar com outros jovens da sua idade, sofreu um
acidente de que veio a falecer.
O infante D.Pedro de Portugal, filho de D.Sancho I, residiu em Leão,
onde sua irmã D.Teresa estava casada. Consorciou-se com D.Aurêmbias,
Condessa de Urgel, que antes tinha sido casada com D.Álvaro Pérez de
Castro, de quem se separou por razões de parentesco.
D.BERENGÁRIA (1217-1217).
Herdou
o trono, por terem morrido os seus dois irmãos, D.Fernando, em combate, e
D.Henrique, por acidente. Abdicou logo a seguir, em seu filho D.Fernando,
herdeiro presumptivo do trono de Leão, sucessor de D.Afonso IX, o rei seu
pai. Para poder abdicar, foi coroada rainha de Castela, na cidade de
Valhadolid. O rei leonês, seu marido, de quem estava separada por ter sido
anulado o casamento, não aceitou de boa vontade as negociações em que a
sua voluntariosa esposa se embrenhou, pois desejava ocupar ele o lugar de
monarca castelhano. Mas D.Berengária não acedeu às suas exigências. Sustentou
as pretensões de seu filho D.Fernando III ao trono de Leão, contra os
hipotéticos direitos de D.Dulce e D.Sancha, filhas de D.Afonso IX e de
D.Teresa de Portugal. Compreendeu que "mais vale ruim acordo que boa
demanda" e assim, em vez de se entregar a lutas estéreis e
destruidoras, veio ao país e resolveu tudo a seu contento. Pagou às filhas
de D.Teresa uma avultada pensão, mas garantiu ao próprio filho a sucessão
no trono leonês.
D.FERNANDO
III (1217-1252).
Era filho
de D.Berengária de Castela e de D.Afonso IV de Leão, D.Afonso IX de
Castela; não se esqueça, contudo, que a numeração normalmente atribuída a este
monarca é a respeitante à coroa castelhana, como facilmente se pode
verificar. Encontraremos a seguir o rei D.Afonso X. Logo que subiu ao
trono, D.Fernando III castigou exemplarmente os fidalgos que haviam
procurado lançar o reino nos horrores da guerra civil. Era dotado de
grande valentia nos combates e de grande habilidade diplomática. Foi um
dos mais gloriosos monarcas castelhanos, ótimo legislador, bom político,
organizador consciencioso, protetor da cultura, promotor do fomento
nacional e virtuoso em alto grau. Ocupou Córdova e Jaén, além de
outras importantes cidades do sul da Espanha. Foi neste reinado que o rei
de Aragão e senhor da Catalunha, D.Jaime I, conquistou as ilhas Baleares,
assim como a cidade de Valência, na costa oriental da Península. Com
a conquista e ocupação do reino mouro de Múrcia, as fronteiras de Castela
ficaram com uma grande extensão de costa, no Mediterrâneo, e alguns bons
portos ao sul e sueste. Também ocupou a cidade de Sevilha, em cuja ação se
distinguiram alguns fidalgos portugueses, salientando-se entre eles o
Infante D.Pedro, segundo referem alguns autores espanhóis. Cremos tratar-se
do filho de D.Sancho I, o mesmo que chegou a ser "Rei das
Baleares". As fulminantes conquistas de D.Fernando III puseram em
perigo a posse do Algarve, por parte de Portugal. Talvez isso levasse o rei D.Afonso
III a apressar a sua conquista, aproveitando a oportunidade que
surgia. D.Fernando III transferiu a Universidade de Palência para
Valhadolid. Por influência e iniciativa de D. Rodrigo Ximenez de Rada,
arcebispo de Toledo, fundou-se a Universidade de Salamanca, em 1240. Cinquenta anos
depois, era fundada a Universidade de Coimbra. Este monarca é vulgarmente
conhecido pela designação de São Fernando.
***
Ao
conceder ao Conde D.Henrique, por ocasião do seu casamento com D.Teresa, o
governo do Condado Portucalense, o rei D.Afonso VI deu existência prática,
talvez involuntária e inconscientemente, ao reino de Portugal. O fato
ocorreu em data mal determinada, provavelmente em 1093. Por essa altura,
em 1095, começavam as Cruzadas do Oriente. O rei D.Afonso VII era filho de
D.Urraca, irmã de D.Teresa de Portugal. O primeiro rei de Portugal era, primo
coirmão do rei de Castela. Houve uma guerra entre os dois, porque D.Afonso
VII não estava resolvido a reconhecer a independência portuguesa. Foi
derrotado pelas tropas de D.Afonso Henriques nas escaramuças de Cerneja e
Arcos de Valdevez. Por influência da Santa Sé, que enviou à Península o
cardeal Guido de Vico, o rei de Leão e Castela reconheceu a independência portuguesa,
pelo Tratado de Samora, assinado em 5 de Outubro de 1143.
D.Mafalda, filha de D.Afonso
Henriques, casou com o rei de Aragão, D.Afonso II, tendo falecido em
1196.
O rei de Leão, D.Fernando II, casou
com outra filha de D.Afonso Henriques, D.Urraca de Portugal, em 1165.
Alguns historiadores afirmam que foi repudiada; outros, porém, dizem que o
casamento foi anulado por razões de parentesco. Os dois cônjuges eram
bisnetos de D.Afonso VI. Deste matrimônio nasceria o rei D.Afonso IX,
rei-cônjuge de Castela, monarca reinante em Leão; como soberano leonês, é
por vezes chamado de D.Afonso IV. D.Sancho I, rei de Portugal, casou com
D.Dulce de Aragão, filha de D.Raimundo e de D.Petronilha, tendo-se
celebrado o matrimônio pelo ano de 1174. O rei de Leão, D.Afonso IX,
veio a casar com uma princesa de Portugal, a Beata D.Teresa, filha de
D.Sancho. Este casamento foi mais tarde anulado, também sob o pretexto de
consanguinidade. Havia sido celebrado em Guimarães, no ano de 1191. Os
dois esposos eram netos de D.Afonso Henriques. Dizem alguns autores que ele a
amava extremamente e que só se separaram em obediência à disciplina
da Igreja; defendeu pelas armas os prováveis ou supostos direitos de
sua esposa (e de seus irmãos dela) contra a ambição do nosso rei D.Afonso II.
A
futura rainha de Portugal, D.Mécia Lopes de Haro, mulher do rei D.Sancho II,
era neta de D.Afonso IX; nascera de sua filha natural, D.Urraca Afonso.
D.Urraca
de Castela, filha de D.Afonso VIII, casou com o rei português D.Afonso II.
O bispo do Porto, ao tempo D.Martinho Rodrigues, ainda levantou a questão do
impedimento canônico, mas sem consequências. Estava-se num tempo em que os
reis e os bispos se digladiavam e para isso tudo servia! Os desposórios
realizaram-se em fins de 1208 ou princípios de 1209, não estando definida
a data exata.
Outra irmã de D.Urraca, D.Branca de
Castela, casou com o rei Luís VIII da França. Por isso, D.Sancho II e
D.Afonso III de Portugal, S.Fernando, de Leão e Castela, e S.Luís, da
França, eram primos coirmãos entre si, e todos eles dotados de qualidades
muito apreciáveis, bons guerreiros e bons governantes. O rei
D.Henrique I de Castela casou em Portugal com uma filha do rei português D.Sancho
I, D.Mafalda. Todavia, o casamento não chegou a ser consumado por o noivo
ter falecido. Contava nessa altura cerca de 13 anos de idade. Há
ainda quem afirme que D.Mafalda casou também com D.Afonso IX,
não coabitando nunca com ele; esta informação não se confirma.
D.Álvaro veio a casar com D.Mécia
Lopes de Haro, a qual casou, já viúva, com o rei D.Sancho II. D.Pedro
herdou de sua mulher o título e os privilégios de Conde de Urgel; trocou
depois o seu condado pelo governo das ilhas Baleares, elevadas à categoria
de reino e por isso ficou conhecido como "Rei das
Baleares". Conquistou a ilha de Ibiza, tendo mais tarde cedido o
senhorio das suas terras ao rei D.Jaime I de Aragão, em troca de
ponderáveis vantagens. O infante D.Fernando de Portugal, filho do rei
D.Afonso II, vulgarmente conhecido na História pela designação de Infante
de Serpa, por ter o senhorio e haver residido nesta vila, fez-se vassalo
de D.Fernando III e casou com D.Sancha Fernandez de Lara, filha do
conde Fernando Nunez de Lara, cujo nome é omitido pelos autores da
obra "Nobreza de Portugal".
O nosso D.Sancho II casou com D.Mécia
Lopes de Haro, filha do fidalgo biscainho Lopo Dias de Haro e da infanta
D.Urraca Afonso, filha natural do rei D.Afonso IX, de Leão. Devido à
guerra travada entre D.Sancho II e D.Afonso III, seu irmão, pela posse do
trono, D.Mécia separou-se ou foi forçada a separar-se do marido. Morreram
ambos fora de Portugal, ele em Toledo, onde foi inumado, e ela em
Palência, sendo sepultada no mosteiro beneditino de Nájera, em túmulo que
ela mandara construir. Na entrevista que D.Sancho II teve no Sabugal
com D.Fernando III de Castela, em fins de 1230 ou princípios de 1231, ficou
assente que seria restituído ao País de Portugal a cidade de Chaves, que havia
sido arrebatada durante as lutas anteriores. Vencido por seu irmão,
o desditoso rei pediu asilo ao rei de Castela, seu primo co-irmão,
vindo a falecer em Toledo pouco depois de ali se ter fixado. Sabe-se
que foi sepultado na catedral toledana, então muito diferente do que é hoje,
desconhecendo-se o lugar do seu sarcófago. Nunca chegou a ser trasladado
para o Mosteiro de Alcobaça, como desejava.
***
Demos a
este primeiro capítulo a designação de "Leão e Castela"
por estes reinos terem fronteiras com Portugal e se ter jogado entre
eles o predomínio peninsular, a que estávamos mais ou menos presos
também. Deve reparar-se que as duas coroas uniam-se frequentemente para
logo se separarem.
O elemento comum a todos os povos
peninsulares era a luta contra os mouros. Deve procurar-se
neste pormenor uma das razões da supremacia de Castela sobre Leão,
cuja fronteira ficava longe das zonas em que se processava a reconquista
cristã. Os monarcas comuns aproximavam-se o mais possível das terras em
que a sua presença se tornava mais necessária. Tem certo interesse
salientar que houve como que um paralelismo entre as qualidades e defeitos
dos reis portugueses e castelhanos. Além do que pertence a cada um,
individualmente considerados, manifestou-se claramente a influência das
diversas épocas que se viveram, em que os interesses e necessidades tinham
muito de especial. Embora Portugal tivesse saído do reino de Leão,
primitivamente, Castela não tinha fronteiras com o Portugal, a influência
castelhana parece ter sido muito mais dominante do que a leonesa. Por este
motivo são mais apertados os laços de parentesco que unem as respectivas
famílias reais.
C A S T E L A.
D.AFONSO
X (1252-1284).
Era
filho de D.Fernando III. Sendo ainda infante, entrou em Portugal à frente
de um exército, para defender a soberania e os direitos de D.Sancho II. Os
guardiães dos conventos franciscanos da Guarda e da Covilhã, assim como os
bispos das dioceses de Braga e Coimbra, suplicaram-lhe que não quisesse
impedir o cumprimento da bula pontifícia, no que dizia respeito a D.Afonso
III. Como não acedesse, consideraram-no abrangido pela pena eclesiástica
da excomunhão, mas o próprio Papa declarou, mais tarde, que a sentença
proferida o não atingira.
Teve
uma guerra contra Portugal, por pretender dominar o Algarve, contra os
nossos direitos e pretensões. A questão foi arrumada por volta do ano de 1267.
D.Afonso X havia concedido a D.Afonso III, na pessoa do seu neto D.Dinis,
a posse futura das terras algarvias; a entrega definitiva deveria
efetuar-se só depois da sua morte, porém, quando D.Dinis o visitou, para
por ele ser armado cavaleiro, concedeu-lhe a posse efetiva e imediata
daquelas terras.
Segundo alguns historiadores,
interessou-se pela restauração da diocese de Silves; no entanto, o fato
está envolvido em dificuldades cronológicas, pois o primeiro bispo é
anterior a este monarca. Não conseguiu fugir ao mal da época, as revoltas
dos filhos dos reis. O seu sucessor, quando infante de Castela, pretendeu
arrebatar-lhe a coroa. O nosso rei D.Dinis foi ajudar o rebelde, o
que causou profundo desgosto a sua mãe, que abandonou o nosso País e se
retirou para a corte castelhana, onde se criara. Foi este monarca que
deu existência jurídica ao princípio da hereditariedade real, em Castela,
que até então era consuetudinária.
As ordens militares - Alcântara,
Calatrava e Santiago, conseguiram grande prestígio e expansão. Dizia-se
dos seus membros que eram cordeiros ao ouvirem os sinos das igrejas, mas
que se transformavam em leões quando ouviam o som das trompas
guerreiras. O grande pedagogo espanhol P.André Manjón diz dele que com
todo o seu saber e inteligência, não soube governar, nem educar, nem
pelejar, nem conseguiu ser coroado imperador da Alemanha, como ambicionava
e para que gastou muito dinheiro e toda a sua influência. D. Afonso X
extinguiu o tributo simbólico que Portugal devia pagar ao rei de Leão,
completando assim a sua independência, no ano de 1268. Grande parte da
produção poética deste trovador está escrita na língua galaico-portuguesa,
no seu tempo usada pelas pessoas de cultura mais destacada, na Península
Ibérica.
D.SANCHO IV
(1284-1295).
Era
filho de D.Afonso X. Neste reinado iniciou-se um novo sistema de comércio,
sobretudo com as ilhas do arquipélago britânico, por meio
de salvos-condutos passados em favor de comerciantes e marinheiros peninsulares,
portugueses e castelhanos. Tem certa fama a concessão outorgada pelo rei
Eduardo I, em 1294. Pretendendo criar uma marinha poderosa, comprou em
Gênova algumas galés e contratou o almirante genovês Benito Zacarias.
Seguiu neste particular o princípio político ensaiado em Portugal por
D.Dinis, que mandou vir para o seu reino o célebre almirante Manuel
Peçanha. O mar começava a ser considerado importante fator de progresso. O seu
valor aumentou nos dois séculos seguintes. Foi no tempo de D.Sancho
IV que se deu o celebérrimo feito de D.Afonso Pérez de Gusmão, o Bom.
Havia sido encarregado da defesa de Tarifa, recentemente conquistada. O
irmão do rei, D.João de Castela, aliou-se com os infiéis para combater os
seus, por causas mal determinadas, mas que se prendem com a sua ambição de
poder. Um filho do defensor foi feito prisioneiro e seu pai viu-se na
alternativa de entregar a fortaleza que defendia ou deixar que lhe
matassem o filho. O pérfido e desleal castelhano, D.João, cumpriu a
ameaça; o jovem cativo foi decapitado e a sua cabeça atirada ao pai por
cima das muralhas da cidade. A memória do cobarde infante ficou para
sempre desonrada e coberta de ignomínia, não conseguindo, nem mesmo assim,
tomar o castelo. Ao revoltar-se, D.João de Castela refugiou-se em
Portugal, de onde passou a Tânger. O seu filho e sucessor no trono,
D.Fernando IV, casou em Portugal, assim como sua filha D.Beatriz, mas já
depois da sua morte.
D.FERNANDO
IV (1295-1310).
Era
filho de D.Sancho IV. A História de Espanha chama-lhe
"O Emprazado" porque, segundo refere a lenda, dois fidalgos
foram injustamente condenados à morte e um deles, ao ser conduzido ao
local do suplício, profetizou que o rei morreria dentro de um mês e que
isso veio a verificar-se. Nada há que documente tal ocorrência. A
rainha viúva, D.Constança de Portugal, ficou com o encargo da regência do
reino, por morte deste monarca, pois o herdeiro da coroa tinha apenas
cerca de 1 ano de idade. Revelou ter poucas qualidades para o desempenho
de tal função. Cresceu logo o perigo de lutas internas, em guerra civil
provocada pelos elementos da nobreza. Morreu também muito jovem, com cerca
de 24 anos, pouco depois de se ter completado um ano sobre a morte do rei,
seu marido, que contava 26 anos quando faleceu. O herdeiro do trono
casou mais tarde em Portugal; e sua irmã, D.Leonor de Castela, veio a ser
rainha-cônjuge de Aragão, pelo seu casamento com D.Afonso IV, rei deste
país.
D.AFONSO XI
(1310-1350).
A
menoridade deste soberano, filho de D.Fernando IV, foi perturbada por
numerosas convulsões. Ao tomar conta do poder, em 1325,
conseguiu pacificar os seus turbulentos vassalos e reinar em paz, sem
grandes entraves, embora por vezes tivesse de aplicar justiça dura e
cruel, segundo os costumes do tempo. O rei Eduardo III, da
Inglaterra, continuou a pôr em execução a política de aproximação
comercial do arquipélago britânico com a Península Ibérica, concedendo
facilidades aos marinheiros e comerciantes portugueses e castelhanos.
Foram-lhes concedidas grandes vantagens mercantis, sobretudo no porto de
Bruges, na Flandres, então sob o domínio dos reis britânicos. Em
consequência da pressão exercida pelos maometanos, as forças dos reis
cristãos congregaram-se e derrotaram os infiéis na famosa batalha do
Salado, nas margens do rio deste nome; os espanhóis costumam designá-la
por batalha de Tarifa.
Uma neta de D.Afonso X, D.Violante Manuel, filha do infante D.Manuel de
Castela, casou com o infante português D.Afonso, também seu neto, filho de
D.Afonso III, o mesmo que disputou o trono a D.Dinis. O rei D.Dinis casou, em
1288, com D.Isabel de Aragão, a Rainha Santa. Era filha dos monarcas
aragoneses, D.Pedro III e D.Constança da Sicília. Diz-se que lhe foi dado aquele
nome por ser o de uma sua tia-avó, Santa Isabel da Hungria. D.Dinis combinou
com os infantes de Aragão, seus cunhados, aí pelo ano de 1296, fazer a
conquista e a partilha dos estados sujeitos à autoridade de D.Fernando IV. Foi mais
um projeto estulto que ficou sem realização prática!
D.PEDRO I (1350-1369).
Era
filho de D.Afonso XI e de D.Maria de Portugal, a
"formosíssima Maria", de Camões. É um dos monarcas castelhanos
mais duramente tratados pela História. Manchou-se com o sangue de inúmeras
vítimas. Desejando vingar-se de alguns fidalgos castelhanos refugiados
em Portugal, negociou com seu tio, o nosso rei D.Pedro I, o escambo
dos perseguidos, entregando em troca dois dos culpados da morte de
D.Inês de Castro. Diz-se também que mandou matar, na cidade de Toro,
alguns fidalgos que haviam condenado os seus desvarios sangrentos; entre
eles contava-se pelo menos um português, Martim Afonso Telo de Meneses,
pai de D.Leonor Teles, rainha de Portugal. O povo costuma dizer que
"quem com ferro mata com ferro morre" e por vezes tem razão.
D.Pedro I foi também assassinado em Montiel por seu irmão bastardo e
futuro rei, seu sucessor, D.Henrique de Transtâmara, que vingou desta
forma a morte de sua mãe e de seu irmão. Este monarca tinha também grandes
qualidades de generosidade, retidão e espírito de justiça, sendo estimado
pelo seu povo. Enquanto criança, sofreu humilhações que lhe foram
infligidas por D.Leonor de Gusmão, amante de seu pai, o que ajudou a criar
nele um carácter amargo, levando-o a castigar com demasiada severidade,
o que estava bem dentro do espírito e dos costumes da época.
D.HENRIQUE
II (1369-1379).
Este
rei concedeu muitos privilégios aos nobres que o apoiaram, procurando
desta forma atrair à sua causa outros elementos influentes, pois nem todos
apoiaram a maneira desleal como se apoderou do trono. Lembremo-nos de que
assassinou o seu antecessor e que muitos fidalgos o viam pouco
amistosamente. Era irmão, do rei castelhano D.Pedro I e filho de D.Afonso
XI e de D.Leonor de Gusmão. Alguns autores dizem que a morte de sua mãe e
de seu irmão D.Frederico ou Fradique, às mãos do rei, resolveu este
bastardo a lançar-se abertamente no caminho do crime, pois poderia recear
bastante pela sua vida, vindo a ter igual sorte!
D.JOÃO
I (1379-1390).
Era
filho de D.Henrique II. A personalidade deste monarca, em relação ao nosso
País, ficou marcada pelo papel exercido no desenrolar das operações
guerreiras, quer no tempo de D.Fernando quer no reinado de D.João I, seu
sucessor. Durante a Guerra da Independência, fomos auxiliados pelas forças
do Duque de Lencastre, que reivindicava para sua mulher direitos ao
trono castelhano. Com efeito, D.Constança de Castela, sua esposa, era
filha de D.Pedro I, que fora assassinado em Montiel por D.Henrique
II. Embora as suas pretensões não chegassem a concretizar-se
diretamente, conseguiu colocar uma das suas filhas, D.Filipa de Lencastre,
no trono de Portugal e outra, D.Catarina de Lencastre, no trono de
Castela, pondo para tanto em execução uma hábil política de
casamentos. Juntaram-se assim, quanto à coroa castelhana, a linha espúria
e a legítima.
D.HENRIQUE
III (1390-1406).
Era
filho de D.João I de Castela, de quem herdou o trono sendo ainda muito
moço. Durante a menoridade, instalou-se nos seus reinos um ambiente de
terror e anarquia, que conseguiu dominar quando tomou conta do governo.
Afirma-se dele que, quando criança, foi tratado com pouco cuidado, sem
consideração pela sua dignidade; porém, mais tarde impôs a sua autoridade
de forma enérgica, obrigando muitos nobres que se tinham locupletado com
bens da coroa a restituir aquilo que haviam subtraído ao domínio régio. Os
acusados de delapidarem o patrimônio real submeteram-se, pois começava a
manifestar-se já o absolutismo dos monarcas, que tinha no carrasco um valioso
auxiliar! Embora o seu reinado esteja incluído inteiramente no período em
que Portugal e Castela estavam em guerra, passou-se quase todo
sem combates, abrangido por repetidas tréguas. Deveria ter influência no fato
a circunstância de estar na corte a irmã da nossa rainha D.Filipa de
Lencastre, que seu pai pensara antes sentar no trono português. Deveria
ter algumas das nobres e excelsas qualidades que adornavam o espírito de
sua irmã! D.Henrique III procurou estabelecer nas Canárias um ponto de
apoio que permitisse novas empresas guerreiras na África. Foi o que nós
fizemos também com a conquista de Ceuta! Os estados peninsulares começavam
a olhar com interesse para o mar!
D.JOÃO
II (1406-1454).
Herdou
o trono de seu pai D.Henrique III no próprio ano do seu nascimento. O seu
reinado caracterizou-se por desordens contínuas, turbulências e abusos de
toda a espécie, pois o rei mostrava-se fraco perante a arrogância da
nobreza. Durante uma grande parte do período de tempo correspondente a
este monarca exerceu o poder soberano o famoso ministro Álvaro de Luna,
que veio a morrer decapitado. Afirma-se que a prisão e morte do favorito
se ficou devendo à atuação de D.Isabel de Portugal, rainha de Castela, que
tomou a peito a sua detenção e julgamento.
O tratado de paz que pôs fim à Guerra
da Independência, travada entre Portugal e Castela, foi assinado em Medina
del Campo. Por essa altura falecia o grande D. Nuno Álvares Pereira, o
maior herói daquela guerra. O rei castelhano casou com uma sua
bisneta. Pretendem alguns autores espanhóis que neste reinado, em 1449,
Vicente Yáñez Pinzón descobriu as costas do Brasil. Esta afirmação
é insustentável, sobretudo por antecipar em meio século o descobrimento oficial
e porque os monarcas castelhanos não reivindicaram direitos que teriam, se
isso houvesse acontecido!
D.HENRIQUE
IV (1454-1474).
Era
filho de D.João II. O seu reinado ficou conhecido pela anarquia que
durante ele se registou, devido à sua fraqueza e desmandos. D.Henrique IV
e sua mulher, D.Joana de Portugal, permitiram que o seu nome fosse
enxovalhado , tanto em vida como na memória que deles ficou. Foi chamado
"Impotente", por se dizer que tinha este defeito fisiológico. O
nome de "Beltraneja", dado à sua filha, vem do de um fidalgo da
sua corte, D.Beltrão de la Cueva, que diziam ser o seu verdadeiro pai.
Este ponto nunca foi devidamente esclarecido. Foi destronado em efígie, na
cidade de Ávila. Nada melhor do que isso para provar até onde chegava o
orgulho e arrogância dos nobres castelhanos! Estes ofereceram o trono ao
seu irmão D.Afonso e à sua irmã D.Isabel, que o não aceitaram. No entanto,
esta veio a ser a sua sucessora.
***
D.Afonso III, rei
de Portugal, casou em circunstâncias muito especiais com uma filha de
D.Afonso X, rei de Castela, D.Beatriz de Guillen y Gusmão. Nesta altura
persistia ainda o casamento com D.Matilde, Condessa de Bolonha. A sua
noiva era muito mais nova do que ele, que até era alguns anos mais velho
do que seu sogro; a desposada, muito criança ainda, aguardou a idade núbil na
corte portuguesa, portanto em poder de seu marido. Referimos isto como
curiosidade histórica! A união matrimonial de D.Afonso III e D.Beatriz foi
celebrada por conveniência política, mas sob o aspecto ilegal da bigamia,
condenada pelas leis canónicas, tendo sido revalidado passados bastantes anos.
Deste casamento nasceu o futuro rei
D.Dinis e os seus seis irmãos, entre os quais o infante D.Afonso, que lhe
contestou o direito ao trono, pois nascera depois da revalidação do matrimónio,
ao contrário de D.Dinis, nascido no período de vigência do consórcio com a
Condessa de Bolonha. Era também sua filha deles a infanta D.Branca, que Garrett
imortalizou no poema do mesmo nome, com o qual introduziu o romantismo em
Portugal.
Numa
guerra sem importância especial, D.Dinis favoreceu as pretensões ao trono
sustentadas por seu tio D.João de Castela. Ao assinar-se a paz, conseguimos
obter algumas vantagens territoriais; foi daí que nasceu o Tratado de
Alcanizes, que nos deu a posse das terras do Ribacoa e das vilas de Olivença,
Serpa, Moura, etc. A rainha de Castela, D.Maria de Molina, que não simpatizava
com D.Dinis, fez negociações secretas com diversas individualidades, obrigando o
rei de Portugal a preparar os seus exércitos e a mantê-los em pé de guerra,
pois receava-se que nos quisessem arrebatar as terras transcudanas, as da
margem direita do rio Côa. Ainda em consequência das negociações relativas ao
Tratado de Alcanizes, efectuaram-se 2 casamentos reais. O rei D.Fernando IV de Castela
casou com D.Constança de Portugal, filha de D.Dinis e da Rainha Santa, D.Isabel
de Aragão. E o rei D.Afonso IV de Portugal casou com D.Beatriz de Castela.
Daqui se conclui que o rei castelhano era irmão da rainha de Portugal e o rei
português irmão da rainha de Castela.
Afirma-se
que D.Beatriz trouxe consigo para Lisboa uma jovem toledana de grande beleza,
D.Teresa Anes, que veio a ser a inspiradora principal da poesia do conde
D.Pedro, filho bastardo do nosso rei D.Dinis, o qual se apaixonou loucamente
por ela. D.Dinis e o seu genro D.Fernando IV assinaram um convénio em que se obrigavam
a assegurar que os bens dos Templários não sairiam dos respectivos países.
Estava a decorrer o processo que levou à extinção da Ordem do Templo. Reuniu-se
um concílio ou sínodo em Salamanca, em que o caso foi estudado e, depois de
conveniente e minucioso exame, chegou-se à conclusão de que os seus membros de
Portugal, Castela e Aragão estavam isentos das acusações e crimes que lhes
imputavam noutros países da Europa, nomeadamente a França. A Ordem de Cristo
foi buscar aqui as suas raízes, como todos sabemos.
O
rei D.Afonso XI de Castela casou com D.Maria de Portugal, filha de D.Afonso IV
e da rainha D.Beatriz. Trata-se da "formosíssima Maria" celebrada por
Camões. Antes, havia combinado o seu casamento com D.Constança Manuel, bisneta
de D.Fernando III e neta de D.Jaime II de Aragão. Visto que este rei aragonês
era irmão da Rainha Santa Isabel, D.Constança era sobrinha-neta desta rainha
portuguesa; e uma vez que D.Afonso XI de Castela e D.Pedro I de Portugal eram
ambos netos de D.Isabel de Aragão, o parentesco era idêntico relativamente a D.Constança.
Como toda a gente sabe e como vamos referir, D.Constança veio a ser a desditosa
esposa do nosso rei D.Pedro.
D.Afonso
XI propusera contrair tal casamento para evitar que um seu inimigo,
João-o-Torto, senhor de Biscaia, se aliasse com D.João Manuel de Vilhena y
Escalona, pai de D.Constança, de quem, aliás, não gostava igualmente. Mandou
matar o primeiro e nunca fez o casamento previsto. Porém procurou por todos os
meios ao seu alcance evitar o casamento de D.Constança Manuel com D.Pedro de
Portugal. Chegou a propor o reatamento do noivado! D.Constança e seu pai
recusaram, nobre e altivamente, esta nova proposta, coisa rara naquele tempo. Depois
de celebrado o casamento com D.Pedro, D.Afonso XI fez tudo quanto pôde para
retardar a sua partida para o nosso País. Chegou a haver actividades bélicas
por tal motivo. Foi durante estas lutas que morreu a Rainha Santa, sem
conseguir fazer as pazes, ela que sempre procurou harmonizar os desavindos.
As
intervenções da rainha de Portugal, D.Beatriz, do Papa Bento XIII e de Filipe
IV, rei da França, também não foram bem sucedidas. Mas, como diz o povo,
"Deus escreve direito por linhas tortas". A pressão exercida pelos
mouros obrigou os reis desavindos a fazer as pazes. A noiva pôde então vir para
junto de seu marido, D.Pedro, que era também seu parente não muito remoto. Morreu
5 anos mais tarde, após uma vida de dissabores; prende-se com a sua vida íntima
o célebre caso de D.Inês de Castro, que consigo veio para Portugal. Devemos
acentuar ainda que contribuiu para acender a guerra entre Castela e Portugal o
facto de o rei D.Afonso XI tratar pouco convenientemente a sua esposa, D.Maria,
filha do nosso rei D.Afonso IV. Um irmão bastardo de D.Constança, D.Henrique
Manuel, veio com ela para Portugal.
Mais
tarde, seu sobrinho D.Fernando elevou-o à dignidade de Conde de Seia. Quando
surgiu o problema da sucessão, ainda começou por servir o Mestre de Avis,
certamente por antipatia por D.Leonor Teles, mas pouco depois passava-se para o
partido de D.Beatriz, sua sobrinha-neta. Obteve importante doação em Sintra,
sendo por vezes chamado conde deste título, o que não está certo, não é exacto.
O rei castelhano, por sua vez, concedeu-lhe o título de Conde de Montalegre,
cuja validade pode ser contestada.
Um
dos irmãos de D.Inês de Castro, D.Álvaro Perez de Castro, foi o primeiro Conde
de Viana do Minho ou Viana da Foz do Lima. Como teve também o senhorio de
Caminha, há quem o chame Conde de Caminha de Riba Minho. Foi igualmente Conde
de Arraiolos e desempenhou o cargo de condestável de Portugal. O primeiro Conde
de Barcelos, D.João Afonso Telo de Meneses, casou em Castela com D.Teresa
Sanchez, filha bastarda do rei D,Sancho IV. Foi este o primeiro condado
territorial que houve no nosso País, depois do Conde D.Henrique e do Condado
Portucalense. A primeira esposa de D.Pedro I de Portugal, D.Branca de Castela,
cujo casamento não chegou a consumar-se devido a ter-se manifestado na infanta
elevado grau de debilidade mental, era neta do mesmo monarca castelhano,
D.Sancho IV. D.João Afonso, filho natural do rei D.Dinis e de D.Maria Pires do Porto
de Gança, que tomou o partido de D.Afonso Sanches contra D.Afonso IV, quando
pretendeu arrebatar-lhe a coroa, foi casado com D.Joana Ponce, filha de uma
nobilíssima família asturiana. Tendo sido aprisionado pelas tropas do rei, foi
julgado e condenado à morte, sob a acusação de alta traição, vindo a ser
degolado. Uma sua irmã, também filha bastarda de D.Dinis, D.Maria Afonso, casou
com um fidalgo castelhano, D.João de Lacerda, de quem se ignoram outros dados
biográficos.
D.Leonor
de Portugal, filha de D.Afonso IV e de D.Beatriz de Castela, portanto irmã do
rei D.Pedro I, casou em Barcelona com o rei de Aragão, D.Pedro IV, também seu
próximo parente. Foi atacada pela peste, pouco depois do seu casamento, tendo
falecido em Exerica. Deixou uma filha, D.Beatriz, que veio para Portugal, tendo
falecido com cerca de dez anos de idade. A infanta D.Maria de Portugal, filha
de D.Pedro I e de D.Constança Manuel, casou com o infante D.Fernando de Aragão,
Marquês de Tortosa, que era seu parente bastante próximo. O rei D.Pedro IV, de
quem acima se fala, mandou matá-lo, traiçoeiramente, no castelo de Boviana. A viúva
contava então 23 anos de idade. Ficou a residir durante algum tempo em Aragão,
onde o seu comportamento escandaloso mereceu graves censuras. Por fim,
regressou a Portugal.
D.Dinis,
filho de D.Pedro I de Portugal, candidato ao trono com o Mestre de Avis, casou
com D.Joana de Castela, filha bastarda do rei D.Henrique II. D.João, filho de
D.Pedro I e de D.Inês de Castro, depois de ter assassinado sua esposa D.Maria
Teles, irmã da rainha D.Leonor Teles, retirou-se para a corte de Castela, onde
o rei D.Henrique II o acolheu benignamente, chegando a casar com sua filha
bastarda, D.Constança. Voltou a Portugal, integrado nos exércitos que vinham
contra nós, no tempo de D.Fernando I. Quando começou a Guerra da Independência,
foi preso e metido numa masmorra, onde morreu. Segundo alguns autores de
outrora, deve ter morrido no castelo de Almonacid, em Toledo; outros, porém,
sobretudo entre os modernos, inclinam-se para a hipótese de ter morrido em
Salamanca. Foi assim tratado devido a ser um dos virtuais pretendentes à coroa
de Portugal. O assassinato de D.Pedro I de Castela lançou o nosso País nos
horrores da guerra. D.Fernando acreditou na possibilidade de colocar as 2 coroas
sobre a sua cabeça. A luta renovou-se por 3 vezes, mas foi sempre prejudicial a
Portugal. Nos diversos tratados de paz, assinados com Castela, o nosso rei arranjou
sempre situações bastante perigosas para a independência nacional.
No
Tratado de Alcoutim, comprometeu-se a casar com a filha do rei castelhano,
D.Leonor; já antes tinha prometido casar com a infanta D.Leonor de Aragão; por
fim veio a casar com D.Leonor Teles. Daí a razão de frequentemente ser chamado,
sarcasticamente, "o rei das 3 Leonores". Camões tratou-o pior,
chamou-lhe "remisso".
No
Tratado de Santarém, ficou assente que a irmã de D.Fernando, D.Beatriz de
Portugal, casaria com o irmão do rei D.Henrique II, D.Sancho de Castela, Conde
de Albuquerque, o que veio a acontecer. Uma filha ilegítima do nosso rei
D.Fernando, D.Isabel de Portugal, casou também em Castela com um filho
ilegítimo do rei D.Henrique II, segundo as cláusulas do tratado de paz de 1373.
Trata-se de D.Afonso que usou o título nobiliárquico de Conde de Gijón y
Noronha. D.Fernando concedeu à sua filha os senhorios de Viseu, Fornos de Algodres,
Linhares e Celorico da Beira. O casamento esteve em risco de ser anulado,
devido ao facto de o noivo não estar disposto a consumá-lo; no entanto, os dois
cônjuges passaram a fazer vida matrimonial e tiveram numerosa prole, que está
na origem de muitas famílias nobres da Espanha e de Portugal.
Um
dos seus filhos, D.Pedro de Noronha, ocupou a cadeira arquiepiscopal de Évora e
passou daqui para a sede metropolitana de Lisboa, também com o título de
arcebispo. D.Afonso, primeiro Duque de Bragança, tendo ficado viúvo de
D.Beatriz Pereira de Alvim, filha do grande D.Nuno Álvares Pereira, contraiu segundas
núpcias com D.Constança de Noronha, filha dos Condes de Gijón y Noronha, de
quem acabámos de falar. Este matrimónio não teve descendência. D.Constança foi
a primeira Duquesa de Bragança, visto que D.Beatriz Alvim nunca usou o título,
pois ainda não havia sido concedido; faleceu em idade muito avançada e está
sepultada em Guimarães.
O
primeiro Conde de Odemira, D.Sancho de Noronha, era também filho dos Condes de
Gijón y Noronha. Distinguiu-se pelo auxílio que em 1424 ou 1425 levou a Ceuta.
Exerceu papel um tanto antipático no drama de Alfarrobeira. Era pessoa da
confiança de D.Afonso V, que o mandou a Ceuta com o encargo de tentar convencer
o infante D.Fernando a regressar ao reino, quando ele levianamente se deslocou
para aquela praça do norte de África, sem autorização régia. O segundo Conde de
Vila Real, D.Fernando de Noronha, era também filho dos Condes de Gijón y
Noronha, portanto, irmão do prelado de Évora e Lisboa e do Conde de Odemira,
respectivamente D.Pedro e D.Sancho. Usou o título por direito de matrimónio,
pois sua mulher, D.Brites ou D.Beatriz, era filha do primeiro Conde de Vila
Real, D.Pedro de Meneses, e de D.Margarida de Miranda, sua primeira mulher, que
não chegou a usar o título. D.Pedro de Meneses viveu em Castela enquanto durou
a Guerra da Independência, desde 1383 até 1411, tendo sido feito Conde de
Aguilar e de Aillón.
Explica-se
isso pelo facto de seu pai, D.João Afonso Telo, Conde de Viana do Alentejo, ter
tomado o partido de D.Beatriz. Assinada a paz, voltou a Portugal, onde foi
agraciado com o título de Conde de Vila Real. Quando os portugueses ocuparam a
cidade de Ceuta, foi nomeado seu governador. A sequência das referências
anteriores levou-nos a avançar cronologicamente, pelo que nos vemos forçados a
retroceder, a fim de fazermos menção a factos que não podem nem devem ser
omitidos.
O
rei D.João I de Castela casou, em segundas núpcias, com D.Beatriz de Portugal,
filha de D.Fernando I e de D.Leonor Teles. Esta infanta havia, primeiramente,
sido destinada para esposa de um filho ilegítimo do monarca castelhano,
D.Frederico ou Fradique. Foi depois seu noivo o primogénito do mesmo soberano,
o futuro rei D.Henrique III. Combinou-se ainda que casaria com o filho segundo
do rei de Castela, o infante D.Fernando. Também esteve para casar com um
fidalgo inglês, filho do Conde de Cambridge. E apesar de tantas vezes mudar de
noivo, veio a fazer o casamento com menos de 12 anos de idade! Com perspicaz
ironia, Mário Domingues comenta, acertadamente, no seu livro "A Vida
Grandiosa do Condestável", que "bem cedo aquele pedacinho de carne
tenra começa a ser usado como valiosa moeda em negociações"!
O
rei D.João I de Castela casou com a infanta portuguesa com a ideia clara de vir
a herdar o trono de D.Fernando; na altura do casamento, o monarca lusitano
estava já muito doente, vindo a falecer poucos meses depois. O título de Conde
de Ourém ficou, de certo modo, estreitamente ligado às relações portuguesas e
castelhanas. O seu primeiro detentor, D.João Afonso Telo de Meneses, era filho
de um rico-homem de Castela, Afonso Martins Telo, que foi também importante e
influente fidalgo em Portugal. O segundo Conde de Ourém foi o famoso João
Fernandes Andeiro, que o Mestre de Avis executou no paço real de Lisboa. Era
natural da Galiza, estando ali casado com uma senhora que se sabe chamar-se
D.Mayor, a qual chegou a vir para Lisboa, por sugestão de D.Leonor Teles. A
rainha de Portugal pretendia com a sua presença fechar os olhos e calar as
bocas do mundo, em relação ao seu comportamento amoroso com aquele valido.
Apesar
de já termos falado no casamento do rei de Castela, D.Henrique III, com D.Catarina
de Lencastre, recordamos aqui que se tratava de uma irmã da nossa rainha
D.Filipa de Lencastre, o que vem reforçar e apertar ainda mais os laços de
parentesco que unem as duas famílias régias, a portuguesa e a castelhana. O rei
D.João II de Castela casou com D.Isabel de Portugal, filha do infante D.João,
neta de D.João I e de D.Filipa de Lencastre; aquela senhora era ainda, e ao
mesmo tempo, bisneta de D.Nuno Álvares Pereira. Naquele tempo, os reis de
Portugal, a rainha de Castela, a imperatriz da Alemanha (D.Leonor, filha de
D.Duarte), Carlos-o-Temerário de Borgonha (filho da infanta D.Isabel, irmã dos
"altos infantes"), os pretendentes ao trono de Aragão e ainda outras
personagens ilustres e importantes da nobreza europeia eram todos parentes
próximos e descendentes do rei D.João I de Portugal.
A
propósito do casamento da infanta D.Isabel com o duque Filipe-o-Bom, progenitores
de Carlos-o-Temerário, recordaremos que a família real portuguesa teve a sua
origem em Borgonha, onde nasceu o Conde D.Henrique, em 1057. A rainha de
Castela, D.Isabel de Portugal, esposa do rei D.João II, perdeu o uso da razão.
Segundo alguns escritores, a causa do seu desarranjo mental foi a morte do
marido, mas a razão não é convincente. Sua mãe, de nome igual ao dela, deslocou-se
para junto da filha doente e acompanhou-a dedicada e pacientemente enquanto
viveu, tendo falecido em Arévalo, no ano de 1465.
Trinta
anos mais tarde, falecia também, na mesma localidade, a desditosa rainha
castelhana. D.Duarte, rei de Portugal, casou em 1428 com D.Leonor de Aragão,
filha do monarca daquele país, D.Fernando I. Esta nossa rainha era bisneta de
D.Pedro I e D.Inês de Castro, por sua filha D.Beatriz ou D.Brites. Foi regente
do reino por morte de seu marido, o que motivou graves discórdias internas,
relacionadas sobretudo com o infante D.Pedro, a figura central do drama de
Alfarrobeira, onde morreu ingloriamente. O rei castelhano D.Henrique IV casou
com D.Joana de Portugal, filha póstuma de D.Duarte, pois nascera 6 meses após a
sua morte. Foi a mãe da famosa "Beltraneja", D.Joana de Castela,
também conhecida pela designação de "Excelente Senhora", nome muito
mais honroso e dignificante do que aquele. O nosso rei D.Afonso V aceitou casar
com esta sua sobrinha, a fim de juntar duas coroas reais na sua cabeça. Isso
nos levou à guerra, de que a batalha do Toro foi o episódio mais conhecido. No
final da luta, os Reis Católicos , D.Isabel e D.Fernando, acharam-se solidamente
instalados no trono de Castela.
Mais
tarde, nas famosas "Terçarias", tratou-se ainda do consórcio de D.Joana
de Castela com o príncipe herdeiro dos Reis Católicos, monarcas de Castela e
Aragão; mas ela não mostrou nenhuma vontade de fazer esse casamento, preferindo
conservar-se na paz e tranquilidade do convento. O Conde de Penamacor, D.Lopo
de Abreu, desempenhou importante papel nas negociações tendentes ao casamento
de D.Afonso V com sua sobrinha D.Joana de Castela, a "Excelente
Senhora" (de que se desinteressou quando deixou de pôr-se a hipótese de
vir a ocupar o trono castelhano), sendo agraciado com aquele título
nobiliárquico. Casou com uma filha do arcebispo D.Pedro de Noronha, D.Leonor, descendente
das duas famílias reais. Após a morte do marido, esta senhora chegou a passar
privações em Castela, onde residia, pelo que o nosso rei D.Manuel I, sabendo
isso, procurou socorrê-la, mandando que lhe fossem pagas as rendas da vila de
Abiul, próximo de Pombal, na região de Leiria, que recebera enquanto casada mas
que deixara de cobrar, por estarem vinculadas à coroa.
Depois
da morte do Príncipe de Viana, D.Carlos, em 1461, as cortes catalãs elegeram
rei de Aragão o condestável D.Pedro de Portugal, filho do regente D.Pedro. Era
da família real aragonesa por sua mãe, D.Isabel de Aragão, filha de D.Jaime,
Conde de Urgel, pretendente ao trono daquele reino. Faleceu pouco tempo depois,
sem ter consolidado a sua posição, ficando a reinar o célebre D.João , pai do
Príncipe de Viana. D.Pedro foi escritor de algum mérito, a quem se atribui a autoria
de diversas obras.
***
Este
segundo capítulo, que abrange um período de cerca de 220 anos, é dominado pela
supremacia castelhana, em face dos demais países cristãos independentes e
reinos mouros autónomos da Península Ibérica. Continuaram a verificar-se
estreitas relações familiares e políticas entre Portugal e Castela, os dois
reinos mais influentes das terras hispânicas. Portugal consolidou a sua
independência; Castela procurou exercer a hegemonia, agregando a si os países
vizinhos, tendendo para a unificação, que por várias vezes se vislumbrou, ora
sob o domínio português ora sob a tutela castelhana. Deu-se início à expansão
ultramarina, abrindo novos horizontes ao mundo e alargando desmedidamente o
conceito de soberania, cujos frutos vão colher-se no período seguinte,
continuando embora as relações de parentesco e vizinhança que vinham de longa
data.
E
S P A N H A.
D.ISABEL
I ( 1474-1504).
Era
irmã de D.Henrique IV e filha de D.João II e de D.Isabel de Portugal. Afastou
do trono dos seus antepassados a conhecida "Beltraneja", D.Joana de
Castela, também conhecida pelo epíteto mais elogioso e dignificante de
"Excelente Senhora", aproveitando o pretexto corrente de que era
filha adulterina. Casou com D.Fernando II, rei de Aragão, que na sucessão
monárquica castelhana tem a designação de D.Fernando V. D.Henrique IV desejava
que ela casasse com o nosso rei D.Afonso V, então viúvo, e que D. Joana , sua
filha, acima referida, se unisse em matrimónio com o futuro rei D.João II. Mas
D.Isabel era extremamente voluntariosa e fez o seu casamento com o príncipe
aragonês sem dar satisfação ao rei, o que então poucas senhoras nobres se
atreveriam a intentar.
No
reinado de D.Isabel I e de D.Fernando V, os "Reis Católicos", na denominação
corrente, foi conquistada aos mouros a cidade de Granada, afastando os árabes
da Península Ibérica e dando um passo importante para a unificação espanhola. Os
Reis Católicos são asperamente criticados por terem expulsado os judeus e por
terem introduzido na Espanha o tribunal da Inquisição, no qual a acção
religiosa e o poder civil colaboravam e cujos métodos de actuação eram cruéis. Eles
viram os problemas com olhos do seu tempo e não podemos nós apreciá-los e ao
seu procedimento vendo-os apenas com olhos do nosso tempo! Cada época tem o seu
condicionalismo. Restringiram muito os privilégios da nobreza, à semelhança do
que aconteceu noutros lugares e países europeus. Também estas medidas se prendem
de perto com as que se relacionam com os mouros e judeus. Estabeleceram o
absolutismo régio em Espanha, embora ainda sob forma relativamente moderada. Fundou-se
no seu tempo uma instituição designada por "La Santa Hermandad",
organismo destinado a perseguir os malfeitores e a assegurar a ordem pública.
Segundo alguns autores, sofreu mais tarde a benéfica influência das nossas
"Misericórdias", que também são do mesmo período histórico. Ao lado
da finalidade repressiva foram colocados os serviços de assistência e o combate
à miséria. Referindo-se aos Reis Católicos, o grande educador espanhol P.André Manjón
afirma que foram felizes como monarcas mas desgraçados como pais. Morreu-lhes o
herdeiro do trono, D.João de Castela e Aragão; sua filha D.Catarina fez um
casamento infeliz com o célebre Henrique VIII da Inglaterra, sendo a primeira
das suas 6 esposas; a sucessora no trono, D.Joana de Castela e Aragão,
enlouqueceu; e D.Isabel, por 2 vezes casada em Portugal, morreu muito jovem,
tendo apenas 27 anos de idade, e faleceu também o filho desta, D.Miguel da Paz.
D.JOANA
I (1504-1517).
Casou
com D.Filipe da Áustria, vulgarmente conhecido pelo nome de Filipe-o-Belo, mas
não deve confundir-se com o rei da França que se notabilizou numa das Cruzadas.
Na lista dos reis da Espanha tem a designação de D.Filipe I. Era filho de
D.Maria de Borgonha, filha de Carlos-o-Temerário, neto do nosso rei D.João I
por sua filha D.Isabel. O rei-cônjuge de Espanha era ainda bisneto de D.Duarte,
cuja filha D.Leonor casara com o imperador Frederico III, de quem nasceu
Maximiliano I, seu pai. A propósito do imperador Frederico III da Áustria,
podemos indicar que, apesar de ser considerado um governante medíocre, adoptou
a famosa divisa da casa imperial, condensada nas 5 vogais A E I O U, a que se
atribui a tradução: AUSTRIA EST IMPERARE ORBE UNIVERSO. A versão para português
desta frase latina é: --"Compete à Áustria dominar o mundo inteiro".
Atribui-se-lhe ainda outra significação, também em latim, que seria: --AQUILA
ELECTA IUSTE OMNIA VINCIT, que significa:--"A águia eleita triunfa de tudo
sem contestação". Dá-se também às vogais uma versão alemã, que é esta:
--ALLES ERDREICH IST OESTERREICHS UNTERTHAN; a tradução para o nosso idioma
poderá ser: -- "Toda a terra está subordinada à Áustria", e que
corresponde, realmente, à primeira.
D.Joana,
conhecida também por Joana-a-Louca, foi elevada ao trono sobre uma série de
mortes na família real espanhola. Seu irmão, D.João de Castela e Aragão; o
filho deste, que morreu ao nascer; sua irmã D.Isabel, rainha de Portugal; o
filho desta, o príncipe D.Miguel da Paz. Diz-se que a avó desta rainha,
D.Isabel de Portugal, enlouquecera de desgosto pela morte do marido; afirma-se
também que D.Joana perdeu a razão ao saber das muitas aventuras amorosas de seu
esposo. Estas explicações não convencem ninguém! Depois da morte de D.Isabel I,
ficou a governar o rei-cônjuge, D.Filipe I, que faleceu 2 anos mais tarde.
Foram também regentes do reino o cardeal Cisneros e o rei- viúvo D.Fernando,
pai da infeliz rainha. Por morte deste, tomou conta do poder o herdeiro do
trono, seu filho D.Carlos. Embora na sucessão dos reis castelhanos lhe pertença
a designação de D.Carlos I, é mais conhecido por Carlos V, na contagem imperial
da Alemanha ou Áustria. D.Joana I faleceu em 1555. No ano seguinte, seu filho
D.Carlos I entrava para o convento de Yuste, onde morreu 3 anos depois. Diz-se que,
ao recolher ao convento, sofreu o desgosto de verificar que o seu neto
D.Carlos, filho de D.Filipe e de D.Maria de Portugal, sofria do mal que era
herança fatídica da sua família, a debilidade mental. Podemos, realmente,
atender a que se sucedem nesta geração os casos de loucura intercalados com
outros em que os dotes de inteligência foram excepcionais!
D.CARLOS
I (1517-1556).
O
imperador Carlos V, como vulgarmente é conhecido, teve como preceptor o deão de
Lovaina, P.Adriano Dedel, mais tarde elevado ao sólio pontifício, adoptando o
nome de Adriano VI (1522-1523). Foi o último Papa não italiano até à eleição de
João Paulo II, em 1978. Ao princípio, considerava a Espanha como uma
dependência da Flandres, o que lhe causou aborrecimentos. Teve de enfrentar
desordens e revoltas, a principal das quais foi a dos "Comuneros",
derrotados na batalha de Villalar, perto de Valhadolid. Com decisão e boa
vontade, D.Carlos I conseguiu integrar-se no modo de ser dos espanhóis,
chegando a ser muito estimado e respeitado. Foi um dos monarcas mais poderosos
de todos os tempos. Os domínios espanhóis atingiam uma extensão geográfica
quase ilimitada. Mas não quis que a Espanha e a Alemanha estivessem unidas sob
a mesma coroa. Por isso, abdicou do trono imperial a favor de seu irmão D.Fernando
I e do trono espanhol em favor de seu filho D.Filipe II. O reinado de D.Carlos
I ficou marcado com o célebre assalto à cidade de Roma. O comandante das tropas
imperiais foi morto, e a soldadesca praticou enormes desatinos, abusos inacreditáveis.
A Cidade Eterna sofreu as maiores afrontas da sua história!
***
O
nosso rei D.Afonso V e os monarcas castelhanos, D.Fernando V e D.Isabel I,
assinaram um convénio vulgarmente conhecido por Tratado de Toledo, com o qual
se iniciaram as complicadas e morosas conversações, as exigentes actividades
diplomáticas que levaram à elaboração do Tratado de Tordesilhas, assinado em
Arévalo, no dia 2 de Julho de 1494. A América tinha já sido descoberta por
Cristóvão Colombo. Ainda no decorrer do reinado dos Reis Católicos, concedemos
definitivamente à Espanha a posse das ilha Canárias, que reivindicávamos sem
grande convicção! D.Isabel de Castela e Aragão, filha dos Reis Católicos, casou
por 2 vezes em Portugal. Fez o primeiro casamento com o príncipe herdeiro do trono,
D.Afonso, que morreu pouco depois, em Santarém, de uma queda de cavalo; casou
em segundas núpcias com o rei D.Manuel I, que era tio do primeiro marido.
Chegou deste modo a cingir a coroa de Portugal. Deste matrimónio nasceu um
filho, D.Miguel da Paz, que estava destinado a fazer a união política de toda a
Península Ibérica, se a morte o não arrebatasse, pois seria o herdeiro do rei
de Portugal e também dos de Castela e Aragão. Com o falecimento da mãe e do
filho, o sonho da união ibérica desfez-se... Veio a concretizar-se mais tarde! Esta
princesa viveu, em criança, durante quase 4 anos, na vila portuguesa de Moura,
com o futuro marido D.Afonso -- e provavelmente também com D.Manuel --
entregues como penhor da paz assinada entre estes países e confiados aos
cuidados de D.Beatriz, que era a mãe do rei Venturoso.
Outra
filha dos Reis Católicos, D.Maria de Castela e Aragão, veio ocupar o lugar
deixado vago por sua irmã, quando faleceu, casando com o monarca português. A
numerosa prole de D.Manuel I nasceu toda deste matrimónio. O rei de Portugal, D.Manuel
I, casou ainda com outra princesa espanhola, D.Leonor, filha de Filipe-o-Belo e
de Joana-a-Louca, que era sobrinha das suas 2 primeiras esposas. O casamento de
D.Manuel com D.Leonor deu origem a uma lenda histórica que ainda hoje corre. Disse-se
que houve um romance de amor entre ela e o seu enteado D.João, mas os
historiadores modernos não o aceitam.
A
lenda desses amores teve origem no facto de ele ter sido, primeiramente, o
noivo escolhido para aquela princesa; não custa aceitar que a substituição do
príncipe herdeiro por seu pai não fosse muito do agrado da jovem esposa, pois
D.Manuel I estava nos 50 anos enquanto D.João ia completar 17 e pouco mais novo
era do que ela; todavia, aceitou-a sem resistência e talvez sem relutância, uma
vez que as conveniências políticas dispunham da sua vida e das suas afeições
mais íntimas sem qualquer susceptibilidade. A mudança de posição nas
negociações matrimoniais entre pessoas de ascendência régia não representava
novidade nem causava estranheza! Aquela lenda nasceu já depois da morte do rei
D.Manuel. O seu filho e sucessor visitava algumas vezes a rainha-viúva, sua
madrasta, e em Lisboa defendia-se até o projecto do casamento entre eles, para
evitar a reposição dos valores recebidos em dote. O monarca não acedeu. E o irmão
dela, o imperador Carlos V, cuidava já de a colocar no trono francês, pelo seu
casamento com o rei Francisco I.
D.João
III foi também buscar esposa à Espanha, visto que casou com uma irmã de
D.Leonor, aquela que costumamos chamar D.Catarina da Áustria, filha póstuma de
Filipe-o-Belo e de Joana-a-Louca. Esta senhora exerceu profunda influência no
nosso País, onde foi regente do reino, na menoridade de seu neto D.Sebastião, interessando-se
muito pela fundação da segunda universidade portuguesa, a Universidade de
Évora, que os jesuítas estabeleceram nesta cidade. Atribui-se a D.Joana I de
Castela, sob reserva, a iniciativa da confecção de um belíssimo túmulo de
alabastro para nele repousarem os restos mortais do seu antepassado
Nun'Álvares, seu quarto avô. Este monumento funerário, hoje apenas conhecido
por imagens que dele ficaram, foi destruído pelo terramoto de 1755.
O
rei de Espanha D.Carlos I, ou seja o imperador Carlos V, filho de D.Joana e de
D.Filipe, casou em Portugal com a princesa D.Isabel, filha de D.Manuel I. Eram
ambos netos dos Reis Católicos. A imperatriz D.Isabel governou ainda a Espanha,
na ausência de seu marido. Ficou historicamente famosa pela sua beleza. Era
também muito devota e modesta na maneira de viver. Dois filhos deste casal
contraíram núpcias no nosso País, com seus primos coirmãos. D.Filipe II, também
rei português, casou com D.Maria; D.Joana casou com o herdeiro presumptivo da
coroa, D.João. Eram ambos filhos de D.João III e de D.Catarina de Áustria. D.João
e D.Joana são os pais do nosso rei D.Sebastião, que nasceu postumamente em
relação ao seu progenitor e por isso foi chamado "Desejado".
Desapareceu na batalha de Alcácer Quibir.
Outra
filha de Carlos V e de D.Isabel de Portugal, D.Maria de Castela e Aragão, casou
com Maximiliano II, filho do imperador Fernando I; eram primos coirmãos entre
si. São os pais do cardeal-arquiduque Alberto da Áustria, vice-rei de Portugal
e futuro rei da Bélgica.
Fernão
de Magalhães realizou a sua célebre viagem de circum-navegação, que ainda hoje
é apresentada como uma das provas da esfericidade da Terra. A Espanha manteve
com Portugal uma questão de certa importância, por causa da soberania sobre as
ilhas do arquipélago das Molucas. Também surgiram dificuldades em relação à
demarcação das fronteiras sul-americanas, especialmente na região do Rio da
Prata, o actual Uruguai, e sua capital, Montevideu.
No
período que acabamos de percorrer, merecem referência muito especial as relações
que existiram entre os Reis Católicos, Fernando e Isabel, e o Duque de
Bragança, D.Fernando. Devido à correspondência trocada entre eles, ou pelo
menos com base na acusação de tratar assuntos de extrema importância e
gravidade, o duque veio a ser preso, julgado, condenado à morte e decapitado em
Évora. A sua família, nomeadamente a sua viúva D.Isabel, neta do rei D.Duarte,
procurou refúgio em Castela. O sucessor do decapitado de Évora, D.Jaime, que
contava então apenas poucos anos de idade, foi educado em Espanha, sob o patrocínio
dos monarcas do país. Ali casou com D.Leonor de Mendonça, filha dos Duques de
Medina Sidónia, registando-se nova tragédia com este casal, pois ela veio a ser
assassinada pelo marido, sob suspeita de infidelidade conjugal, que nunca foi
demonstrada e quase ninguém aceita. Tinha sido reconduzido na dignidade
nobiliárquica e regressado a Vila Viçosa, no Alto Alentejo, onde a família
tinha o seu solar. D.Dinis, Duque de Lemos, em Castela, terceiro filho de
D.Fernando de Bragança, usou aquele título devido a ter casado com a sua
detentora, D.Beatriz de Castro. Nada mais sabemos da sua vida.
***
O
curto período abrangido por este capítulo, de menos de um século, tem grande
importância nas relações entre Portugal e Espanha, com manifestações bem
salientes, em contrastes vivos e enérgicos. Processou-se nesta altura a fase
principal da expansão ultramarina, que está na origem de longas negociações e
complicados convénios. Vivendo em paz, a diplomacia travou importantes e
decisivas batalhas, que se umas vezes terminaram em festas nupciais outras
vezes tiveram como epílogo dramas arrepiantes.
Os
três reinados de Isabel-a-Católica, Joana-a-Louca e Carlos-o-Imperador abrangem
a chamada "idade de ouro" da História de Espanha, que muitos tomaram
já como exemplo e como símbolo da grandeza e da glória do seu país, a qual se
prolongou ainda pelo reinado do Rei Prudente, D.Filipe II.
Quanto
a Portugal, abrange os reinados de D.João II, D.Manuel I, D.João III e
D.Sebastião, o período de maior glória e poderio, mas também do rápido
declínio. Devemos salientar que o engrandecimento da Espanha é posterior ao de Portugal,
mas a sua decadência veio também algumas dezenas de anos mais tarde. As duas
Histórias seguem linhas quase paralelas, vivendo-se um período de uniões
matrimoniais muitas vezes repetidas. Quanto à nobreza, não se nota que houvesse
entre os grandes fidalgos ibéricos as relações de convivência que noutros
períodos se registaram.
U
N I F I C A Ç Ã O I B É R I C A.
D.FILIPE
II (1556-1598 – rei da Espanha; 1580-1598 – rei de Portugal).
Era
neto do rei D.Manuel I de Portugal, filho de D.Carlos I da Espanha e da
imperatriz D.Isabel. Nasceu em Valhadolid, no dia 21 de Maio de 1527. As festas
programadas por motivo do seu nascimento foram suspensas devido a ter chegado à
corte espanhola a notícia do assalto a Roma, de que falámos ao tratar de
D.Carlos I. Quando sua mãe morreu, ainda muito jovem, tinham nascido já 2
meninas, D.Joana, a mãe do rei portugues D.Sebastião, e D.Maria, futura
imperatriz da Áustria, esposa do imperador Maximiliano II.
O
seu primeiro casamento foi efectuado com D.Maria, filha dos reis D.João III e
D.Catarina da Áustria. Sua esposa morreu de parto, quando nasceu o príncipe
D.Carlos, de quem já falámos e voltaremos a falar ainda. Pensou-se depois em
fazer novo casamento com sua tia D.Maria, filha de D.Manuel I, "A Sempre
Noiva", que pouco mais velha era do que ele; não chegou a realizar-se este
enlace. D.Filipe II casou pela segunda vez com a rainha Maria Tudor, da Inglaterra.
Fez o terceiro casamento com Isabel de Valois, filha do rei da França. A sua
quarta esposa foi a sua sobrinha D.Ana Maria da Áustria, filha do imperador
Maximiliano II. Pode dizer-se que nenhuma delas foi rainha de Portugal, visto
que a última faleceu em Outubro de 1580. Sua filha D.Isabel Clara Eugénia,
infanta de Espanha e de Portugal, esteve para casar com o rei D.Sebastião.
Veio, finalmente, a contrair matrimónio com o vice-rei de Portugal, o cardeal-arquiduque
Alberto da Áustria. Este casamento efectuou-se pouco depois da morte de Filipe II.
Seu marido tinha governado Portugal de 1583 a 1593.
D.Filipe
II mostrou-se contrário ao casamento de sua filha com D.Sebastião. Segundo
alguns autores, pensava nos frutos doentes de casamentos entre parentes
próximos da sua família, muitas vezes repetidos. Isso, porém, não convence,
pois D.Isabel Clara Eugénia casou com um príncipe da sua parentela; eram filhos
de irmãos, Filipe e Maria, e de primos coirmãos, Filipe e Maximiliano. E ele
mesmo fez o seu quarto casamento com uma sobrinha! Pensou-se ainda no casamento
de seu filho D.Diogo com uma das filhas dos Duques de Bragança, D.Maria. O
plano tinha a vantagem de unir os direitos dos dois príncipes pretendentes ao
trono português numa só família. Estes projectos não se concretizaram. O mesmo
príncipe, D.Diogo, chegou a ser jurado herdeiro do trono de Portugal, mas faleceu
pouco depois de seu pai cingir a coroa. Contava 7 anos de idade.
O
príncipe D.Carlos, filho de D.Filipe e de D.Maria de Portugal, é o mesmo que
seu avô, o imperador Carlos V, visitou antes de entrar para o convento e no
qual reconheceu francos sinais de diminuição mental. Parece ter morrido
tuberculoso. A sua vida irregular e os desmandos a que se entregou
apressaram-lhe talvez a morte. Esta figura da História da Espanha foi
aproveitada pelos poetas, dramaturgos e romancistas que pretenderam denegrir o
rei, dizendo que ele o não estimava, o perseguia e o maltratava. Foi também
assunto repetidas vezes utilizado para combater o funcionamento da Inquisição. Quanto
ao rei, nota-se a má-fé e o exagero, algumas vezes a ignorância; quanto à
Inquisição, tem bastante matéria incriminativa e bem pode dispensar aleivosias!
D.Filipe
II sustentou uma guerra contra a França por este país recear que um hipotético
filho do rei da Espanha e de Maria Tudor (de cujo matrimónio não houve
descendência) chegasse a ser rei comum da Inglaterra, Espanha e Países Baixos,
então sob o domínio da coroa espanhola. Até parece que os governantes não sabem
nem querem resolver dificuldades e divergências a não ser pela força!
Maria
Tudor era filha de Henrique VIII e de Catarina de Castela e Aragão. Foi nesta
guerra que se travou a célebre batalha de S.Quintino. Pelo Tratado de
Château-Cambresis, em que se assinou a paz, estipulou-se que D.Filipe II, viúvo
pela segunda vez, casaria com a filha de Henrique II da França, Isabel de
Valois. Foi deste matrimónio que nasceram as famosas princesas D.Isabel Clara
Eugénia e D.Catarina Micaela. Para comemorar a batalha e vitória de S.Quintino,
D.Filipe II mandou construir o mosteiro do Escurial. A primeira pedra do
grandioso edifício foi colocada no dia 23 de Abril de 1563; a sua construção arrastou-se
até 13 de Setembro de 1584. No mesmo dia e mês, mas 14 anos mais tarde, falecia
ali o seu fundador; a consagração da basílica só havia sido efectuada no dia 30
de Agosto de 1595.
D.João
da Áustria, filho bastardo do imperador Carlos V, portanto irmão do rei D.Filipe
II, ganhou a famosa batalha de Lepanto. Em 1587, os ingleses em luta contra a
Espanha, incendiaram a esquadra espanhola fundeada no porto de Cádis. O rei
organizou então a célebre "Armada Invencível", de que fazia parte a
frota naval portuguesa. Foi destruída pelos temporais, pela astúcia do
almirante britânico e pela incompetência do chefe espanhol, o Duque de Medina
Sidónia. Os Países Baixos revoltaram-se contra o jugo espanhol, que detestavam.
As divergências de mentalidade e as diferenças religiosas manifestaram-se com
tal vigor que se formaram dois blocos. Ambos conseguiram a independência, tendo
a parte norte formado a Holanda, república protestante, e a parte sul
constituído a Bélgica, monarquia católica. Os primeiros soberanos belgas foram
o cardeal-arquiduque Alberto da Áustria e sua esposa D.Isabel Clara Eugénia.
Muito
se tem escrito acerca da personalidade e da política de D.Filipe II. A maior
parte desses escritos foram ditados pelo ódio ou pela má-fé. Para começar,
temos o caso de seu filho, o príncipe D.Carlos. Nunca se fez completa luz sobre
este enigmático processo, todavia, não devemos condenar o rei sem apelo... Quanto
ao mais, encontraremos sempre uma razão, política ou religiosa, para explicar
as calúnias que foram postas a correr e, uma vez ou outra, também os louvores
exagerados que lhe dedicaram escritores pouco exigentes. Por vezes é difícil
manter o equilíbrio e a sensatez! Filipe II fez a sua política, certamente a
que julgou ser a mais apropriada àquele momento histórico. Nós, portugueses,
não podemos esquecer que o neto de D.Manuel I defendeu o que julgou serem os
seus direitos naturais. Defendeu energicamente os seus interesses, pessoais e
nacionais. Em face das normas jurídicas em vigor no seu tempo, tinha mais
direitos do que o Prior do Crato; talvez se não possa dizer a mesma coisa em
relação a D.Catarina, Duquesa de Bragança, mas os contemporâneos tiveram as
suas razões para se não baterem por ela... Historicamente, D.Filipe II é rei de
Portugal. Hoje apreciamo-lo muito diferentemente de como o foi há cem ou
duzentos anos... Pesam-se os seus defeitos e as suas qualidades, pois teve
pecados e virtudes.
***
Disputou
o trono de Portugal ao lado de D.Filipe, do Prior do Crato e da Duquesa de
Bragança, após o falecimento do cardeal-rei D.Henrique, o Príncipe de Parma,
Rainúncio, que alegava pertencer-lhe mais do que a qualquer outro pretendente,
pelo privilégio da progenitura e da varonia. Era filho de Maria de Bragança e
Guimarães, neta de D.Manuel I por seu pai D.Duarte. A sua candidatura não foi
levada em consideração nem ele a defendeu como quem depositasse alguma
esperança de vencer, segundo os direitos que dizia reunir! D.Maria era irmã de
D.Catarina de Bragança e mais velha do que ela. A quarta Condessa de
Portalegre, D.Filipa da Silva, casou em Espanha com D.João da Silva, Conde de
Salinas, que era também de ascendência portuguesa, por sua mãe, dama de honra
da imperatriz D.Isabel de Portugal, esposa de Carlos V. O primeiro Conde de
Vila Flor e único na sua família, D.Luís Enriquez, era filho dos Condes de Alba
de Liste. O título continuou a ser usado em Espanha, na sua descendência,
tendo-se unido ao espanhol.
O
segundo Duque de Aveiro, D.Jorge de Lancastre, casou em Espanha com D.Madalena
Girón, filha dos Condes de Ureña e irmã do Duque de Ossuna. Deste casamento
nasceu apenas uma menina, D.Juliana de Lancastre, que veio a casar com seu
primo D.Álvaro, resolvendo-se deste modo um pleito de sucessão, que alguns
diziam não poder verificar-se na descendência feminina. Dos seus numerosos
filhos, um deles usou o título espanhol de Marquês de Malagón, D.Luís de Girón
y Lancastre.
O
quarto Duque de Aveiro, D.Raimundo de Lancastre, recebeu também o título
honorífico espanhol de Duque de Ciudad Real, tendo-se passado para este país,
traindo a pátria, pelo que foi julgado, condenado à morte e executada a
sentença em efígie, sendo-lhe confiscados os seus bens. Em Espanha, foi ainda
Duque de Maqueda, Marquês de Montemayor e Marquês de Elche.
A
sexta Duquesa de Aveiro, D.Maria de Guadalupe de Lancastre, recebeu o título
por sentença judicial, com a condição expressa de regressar a Portugal e
prestar homenagem ao nosso rei. Casou em Espanha com D.Manuel Ponce de León,
Duque de Arcos. Esta senhora era dotada de excepcionais qualidades artísticas,
sendo pintora de certo valor e escritora com bastante mérito. Para poder vir tomar
conta da sua casa, teve de separar-se do marido, que não quis deslocar-se e
fixar-se em Portugal.
O
sétimo Duque de Aveiro, D.Gabriel de Lancastre Ponce de Léon, filho dos
anteriores, usou também o título espanhol de Duque de Baños, que lhe foi
concedido com a intenção de o prender a Madrid; este estratagema não deu
resultado, pois ele acabou por se fixar entre nós. Queremos chamar a atenção
para o facto de as referências aos Duques de Aveiro avançarem bastante no
tempo, atingindo os meados do século XVIII.
D.FILIPE
III (1598-1621).
Era
filho de D.Filipe II e da rainha D.Ana Maria da Áustria. O cardeal-arquiduque
Alberto da Áustria era irmão da rainha-cônjuge de Espanha. Outra irmã,
D.Margarida da Áustria, a penúltima de quinze irmãos, recusou-se a casar com o
rei D.Filipe II, seu tio; seria a quinta esposa deste monarca. Raramente se
encontra na História desta época o exemplo de uma mulher que se atrevesse a
contrariar os interesses e projectos dos grandes, sobretudo se os seus planos a
faziam rainha! D.Filipe III casou com D.Margarida da Áustria, também conhecida
por Margarida de Gratz ou Graetz. Apesar da semelhança do nome, a sua esposa
não era a pressuposta "noiva" de Filipe II. Na mesma ocasião, celebrou-se
também o casamento de D.Isabel Clara Eugénia, de quem já falámos. O seu pai e
antecessor tinha falecido poucos meses antes. Este rei apoiou decididamente a
causa da canonização da rainha Santa Isabel, que se celebrou já no reinado
seguinte, em 1625. Um escritor espanhol afirmou que mais parecia um frade do
que um rei. Esta observação é muito curiosa, sobretudo por vir exactamente de
um eclesiástico. Os espanhóis chamaram-lhe "Apático", enquanto os
portugueses lhe deram o epíteto de "Pio"; os dois cognomes
completam-se e definem a sua personalidade. Decretou a expulsão dos mouros de
Castela e outros estados sujeitos ao seu domínio. Já nos reinados anteriores
haviam sido forçados a disseminar-se pelos reinos de Castela, Galiza e
Andaluzia. Procurou-se desta forma diminuir a densidade da população mourisca
na região de Granada, onde mais de uma vez se manifestaram tendências
separatistas, o desejo da independência. Podemos notar que, tendo tomado
medidas semelhantes, não deixou atrás de si um rasto de ódio, como os monarcas que
o antecederam. Afirma-se que D.Filipe III, ao visitar Portugal, em 1619, quis
ver touradas e autos-de-fé. Custa aceitar esta informação. Estes espectáculos
eram bem conhecidos na Espanha. Não seriam as autoridades portuguesas que, para
o lisonjear, elaboraram o programa da visita de forma a incluir tais funções!?
Isso apenas nos indica gosto pouco apurado, tanto de um lado como do outro! Mandou
colocar na basílica do Escurial as famosas estátuas orantes, que representam
seu avô Carlos V e seu pai Filipe II. São grupos escultóricos de grande beleza
que podem ser admirados na capela-mor daquele templo. Enriqueceu a biblioteca
deste mosteiro com mais de 4 mil manuscritos. E iniciou as obras do monumental
panteão real.
O
herdeiro do trono casou com D.Isabel de Bourbon, filha do rei Henrique IV da
França. O príncipe herdeiro do trono francês casou com a princesa D.Ana
Maurícia, conhecida na História pelo nome de Ana da Áustria. Esta infanta da
Espanha e de Portugal não se dava bem com o marido, Luís XIII da França, e
chegaram a estar separados durante bastantes anos. Só depois da reconciliação
do casal nasceu o sucessor do trono, o futuro rei Luís XIV. Na menoridade
deste, governou ela a França, na qualidade de regente; afastou os partidários
do cardeal Richelieu e entregou os negócios públicos nas mãos do cardeal
Mazarino.
Outra
princesa de Espanha e de Portugal, D.Maria Ana, casou com o imperador da
Alemanha, Fernando III. E o infante português e espanhol D.Fernando exerceu
durante alguns anos as funções de Cardeal-Legado, em Lisboa.
***
S.Francisco
de Borja, o conhecido superior-geral da Companhia de Jesus, fez o seu casamento
com D.Leonor de Castro, de nacionalidade portuguesa. O famoso jesuíta usava os
títulos de Marquês de Lombay e de Duque de Gandia. Residiu bastante tempo em
Portugal, onde passou os últimos meses da sua vida. Morreu em Roma. D.Filipe
III concedeu o título de Conde de Ficalho a D.João de Borja, filho de
S.Francisco de Borja e de sua esposa, D.Leonor de Castro. Em Espanha era ainda
Conde de Mayalde. Casou em primeiras núpcias com D.Lourença de Oñaz y Loyola,
sobrinha de S. Inácio. Foi embaixador do rei de Espanha em Lisboa, onde estava
pelo ano de 1576, quando fez o seu segundo casamento com D. Francisca de
Aragão, da família real aragonesa, pois descendia do rei D.João II, daquele
país. Três filhos do Conde de Ficalho e de sua segunda esposa foram titulares espanhóis:
--D.Francisco usou o título de Príncipe de Esquilache; D.Fernando foi
Comendador-Mor de Montesa; D.Carlos ascendeu a Duque de Villahermosa.
O
segundo Conde de Ficalho, que foi D.Carlos de Aragón y Borja, agora referido,
casou com D.Maria de Aragón y Guerrea, filha dos Duques de Villahermosa e
Condes de Ribargorza. O terceiro Conde de Ficalho, D.Fernando de Guerrea Aragón
y Borja, foi também Duque de Villahermosa. Casou com D.Luísa de Aragón,
Condessa de Luna; e, depois da morte desta senhora, contraiu segundas núpcias
com D.Maria da Silva, viúva do Conde de Sinarcas, Visconde de Chelva, Barão de
Sat y Quartell, filha dos Marqueses de Orani. Finalmente, o quarto Conde de
Ficalho, D.Carlos de Aragón Borja Alagón y Guerrea, foi Duque de Villahermosa,
Conde de Luna e de Sástago, Barão de Pedrola, Ersa e Pina. Era filho do
primeiro casamento do terceiro conde. Matrimoniou-se com D.Maria Henriquez de
Guzmán, filha dos Condes de Alba de Liste. Devemos esclarecer que as
referências a esta família se estendem no tempo, atingindo o final do século
XVII.
São
Francisco de Borja, tronco da Casa de Ficalho, foi outrora invocado como
padroeiro secundário de Portugal, que agora é Santo António, e festejado a 10
de Outubro. A padroeira principal é Nossa Senhora da Conceição, representada
pela imagem de Vila Viçosa. A Condessa da Feira, D.Joana Forjaz Pereira de
Meneses e Silva, casou com o fidalgo espanhol D.Manuel Pimentel, governador de
Antuérpia e filho dos Condes de Benavente e Mayorga. Depois de viúva, regressou
a Portugal com os seus filhos. O Marquês de Alenquer, D.Diogo da Silva e
Mendonça, usou também os títulos espanhóis de Conde de Salinas de Ribadeo e
Duque de Francavilla. Em 1615 foi nomeado vice-rei de Portugal, porém, a Câmara
de Lisboa protestou tão energicamente contra esta nomeação que não tomou conta do
cargo. Dizia-se, para justificar a atitude da vereação lisboeta, que embora
tivesse nascido em Portugal não era português, pois estava profundamente
espanholizado. Em 1617, o monarca impôs que tomasse conta do lugar,
concedendo-lhe nessa altura aquele título nobiliárquico. O seu governo foi
desastroso para o País, tendo sido substituído só depois da morte do rei.
O
Conde de Arcos, D.Luís de Lima Brito e Nogueira, casou em Espanha com D.Vitória
de Cadaillac, filha do Barão de La Chapelle Marival, descendente dos reis
castelhanos, pelo ramo de Bourbon-Malause. O terceiro Conde de Tentúgal, D.Nuno
Álvares Pereira de Melo, casou com D.Mariana de Castro, dama das infantas
D.Isabel Clara Eugénia e D. Catarina Micaela, filha dos Condes de Altamira. E o
quarto Conde de Tentúgal e terceiro Marquês de Ferreira, D.Francisco de Melo,
casou com sua prima D.Maria de Moscoso Sandoval, filha dos Condes de Altamira,
em Espanha. Tendo enviuvado, contraiu segundas núpcias com sua sobrinha D.Joana
Pimentel, filha do Marquês de Tavara e vice-rei da Sicília e Valença, D.António
Pimentel.
D.FILIPE
IV (1621-1640, rei de Portugal; 1621-1665, rei da Espanha). Era filho de
D.Filipe III e da rainha D.Margarida da Áustria ou Margarida de Gratz. Casou,
como já dissemos, com D.Isabel de Bourbon, em 1620. Esta senhora foi, portanto,
rainha de Portugal. Tendo enviuvado, em 1644, contraiu segundo casamento, agora
com sua sobrinha D.Maria Ana da Áustria, filha de Fernando III e de D.Maria Ana
de Espanha. Deste matrimónio nasceu o sucessor da coroa. Uma filha de D.Filipe
IV, D.Maria Teresa, infanta de Espanha e de Portugal, casou com Luís XIV da
França. A sua vida matrimonial foi marcada por dissabores, pois seu marido
entregava-se descaradamente a contínuas aventuras amorosas. Um neto do casal,
Filipe de Anjou, ocupou o trono espanhol depois da Guerra da Sucessão, como
veremos mais adiante.
Outra
filha de D.Filipe IV, D.Margarida Maria Teresa, casou com o imperador Leopoldo
I da Áustria. São os pais do outro pretendente ao trono, o arquiduque Carlos,
que baseava as suas aspirações no facto de sua tia ter renunciado aos direitos
à coroa. No tempo deste monarca, os holandeses começaram a atacar o Brasil, onde
ocuparam Pernambuco, Baía e outras terras do litoral. O almirante espanhol
António Oquendo defendeu corajosamente as terras brasileiras, ao lado de outras
figuras de nacionalidade portuguesa. Angola sofreu também alguns assaltos,
embora a ocupação de Luanda e Benguela pelos flamengos se efectuasse já no
reinado de D.João IV.
A
Revolução de 1 de Dezembro de 1640 afastou este soberano do trono de Portugal.
Depois da sua elevação ao trono, o rei D.João IV ainda tentou fazer as pazes
com Filipe IV, propondo o casamento de seu filho D.Teodósio com a infanta
D.Maria Teresa, futura rainha da França. A sugestão foi repelida. As grandes
batalhas da Guerra da Restauração: Elvas, Ameixial, Castelo Rodrigo e Montes
Claros, foram todas travadas ainda neste reinado. D.Filipe IV colocou o governo
dos seus estados nas mãos do Conde-Duque de Olivares, que se comportava como
ditador e cometeu graves erros de administração; os seus desregramentos
contribuíram para que a Catalunha e Portugal se revoltassem. Manejava o
soberano ao seu arbítrio e procurava sujeitar todos os elementos aos seus
caprichos, inclusive a própria rainha. A sublevação da Catalunha e a independência
de Portugal puseram em evidência os erros da sua administração e passou a ser
considerado culpado da ruína e decadência da Espanha. D.Filipe IV foi designado
pelos historiadores espanhóis, depreciativamente, pelo cognome de
"Alegre"; em Portugal, é chamado "Grande", havendo também
quem lhe chame "Opressor". O P.André Manjón escreveu a seu respeito
que, quando morreu, andava a aprender a governar bem!...
***
O
Marquês de Porto Seguro, D.Afonso de Lancastre, permaneceu em Espanha depois da
restauração da autonomia política, em Portugal no ano de 1640, conservando-se
fiel a D.Filipe , que o cumulou de mercês. Casou com D.Ana de Sande Padilla y
Bobadilla, Marquesa de Valdefuentes. Ele teve também os títulos de Marquês de
Sardoal e Duque de Abrantes, que não foram reconhecidos em Portugal, apesar de
se referirem a designações portuguesas. Depois de viúvo, tomou ordens sacras. O
título português de Marquês de Porto Seguro continuou a ser usado pelos seus
filhos, em Espanha, embora não fosse reconhecido no nosso País; referia-se à cidade
desse nome, no Brasil.
D.Cristóvão
Luís Guilherme, neto do pretendente ao trono de Portugal, em 1580, D.António,
Prior do Crato, recebeu de D.Filipe IV o título de Marquês de Trancoso, em
1653, portanto muito depois da restauração da independência de Portugal. Nunca
teve validade em Portugal. Referimo-nos a ele apenas por curiosidade histórica.
Podemos registar ainda que D.Manuel de Portugal, filho do Prior do Crato, casou
em segundas núpcias com uma senhora espanhola, D.Luísa Osório, dama de honor de
D.Isabel Clara Eugénia. Era, como os demais irmãos, de filiação ilegítima,
visto que D.António nunca contraiu matrimónio, engendrando filhos de diversas
mulheres. Salientemos ainda que a numerosa descendência deste efémero rei de Portugal
manifestou acentuada tendência religiosa, católicos uns e calvinistas outros.
O
terceiro Conde de Tarouca, D.Duarte Luís de Meneses, seguiu também o partido da
Espanha, contra o rei D.João IV, tornando-se mais acérrimo adversário depois da
conspiração de 1641 e repressão política que se lhe seguiu. Recebeu do monarca
espanhol o título de Marquês de Penalva, que nunca foi aceite entre nós. Seu
filho, D.Luís de Meneses, sucedeu-lhe no uso daquela dignidade nobiliárquica, e
casou com D.Francisca Henriquez, filha dos Marqueses de Oropesa, tendo mais
tarde contraído segundas núpcias com D.Luísa Ximenez de Gôngora, Marquesa de
Almodovar e Condessa de Pinar, da nobreza espanhola.
D.Jorge
de Lancastre, terceiro Marquês e primeiro Duque de Torres Novas, contraiu
casamento por duas vezes e ambas em Espanha. A sua primeira esposa foi D.Ana Dória
Colonna, filha do Príncipe de Melfi e da Princesa de Paliano; a sua segunda
mulher veio a ser D.Ana Manrique de Cárdenas, filha dos Duques de Maqueda. O
Duque de Caminha, Conde de Alcoutim e Valença, e ainda Marquês de Vila Real,
D.Miguel Luís de Meneses, casou em segundas núpcias com sua sobrinha D.Maria
Brites de Meneses. Esta, depois de viúva, veio a casar em Espanha com D.Pedro
Portocarrero, Conde de Medellin, que também usou a denominação de Duque de
Caminha, embora nunca chegasse a ser reconhecida em Portugal. O Conde de
Castelo Novo, D.Francisco Mascarenhas, casou em Espanha com D.Luísa Antónia de
Velasco, filha dos Condes de Sástago, sendo já viúva do Conde de Salazar.
Morreu em luta contra os mouros, numa sortida efectuada em Mazagão, de que era
governador. A praça, surpreendida por um ataque inimigo, foi corajosamente
defendida pela varonil senhora, que assumiu o comando das tropas e a chefia do governo
até chegar o sucessor de D.Francisco Mascarenhas.
O
Conde de Óbidos, D.Vasco Mascarenhas, que deu o nome a uma conhecida zona
portuária de Lisboa, a "Rocha do Conde de Óbidos", onde mandou construir
o seu palácio residencial, casou em Espanha com D.Jerónima de la Cueva y
Mendonza. Deste enlace nasceu D.Joana Mascarenhas, que casou também em Espanha
com o Conde de Montijo, D.António de Luna Portocarrero. Os seus sucessores
continuaram a usar indevidamente o título, a que juntaram o de Marquês de
Castro Fuerte. O Conde de Linhares, D.Miguel de Noronha, que antes tinha
servido exemplarmente o seu País, não aceitou a restauração da nossa autonomia na
pessoa de D.João IV, continuando fiel ao rei de Espanha, que o nomeou general
das galés (na Sicília e na Espanha), e o elevou à dignidade de Marquês de Gijón
e Duque de Viseu.
Finalmente,
vamos referir-nos à família próxima do nosso rei D.João IV. Este, enquanto
Duque de Bragança, casou com D.Luísa Francisca de Gusmão, filha dos Duques de
Medina Sidónia. A notável senhora possuía grandes qualidades, tendo influído favoravelmente
no ânimo de seu esposo, apoiando-o e entusiasmando-o. Descendia de D.João I e
de D.Fernando I de Portugal, e de D.Henrique II de Castela, além de outros. O
pai deste monarca, D.Teodósio, sétimo Duque de Bragança, casou igualmente em
Espanha, com D.Ana de Velasco, filha do condestável de Castela, Duque de Frias,
Marquês das Berlengas e Conde de Haro. D.Serafina de Bragança, tia de D.João
IV, casou com o Duque de Escalona e Marquês de Vilhena, D.João Fernandez
Pacheco. E outro tio do rei de Portugal: D.Duarte de Bragança, foi Marquês de Frechilla,
em Espanha, onde casou com duas titulares deste país; o seu primeiro casamento
foi com D.Brites de Toledo Monroy y Ayala, Marquesa de Jarandilla; contraiu segundas
núpcias com a Marquesa de Malagón, D.Guiomar Pardo y Tavara.
***
Não
deve surpreender-nos o facto de muitos nobres portugueses casarem em Espanha,
no período em que as duas coroas estiveram unidas. A corte atraía muitos
membros da aristocracia, que por vezes tinham ali missões a desempenhar. Assim
se estabeleciam conhecimentos e relações que estão na base de futuros enlaces
matrimoniais. Também não deve surpreender-nos que muitos nobres portugueses continuassem
fiéis ao rei D.Filipe IV, mesmo depois de Portugal ter sacudido o jugo
espanhol. O sentimento nacional, ao tempo, ainda se confundia com a fidelidade
ao soberano. Grande número de fidalgos tinha interesses familiares e económicos
na Espanha, e quase sempre estes valores pesam sobre a conduta dos seus
detentores...
Nem
toda a nobreza nacional se tinha comprometido com a conjuração de 1640,
dando-se o caso de haver até quem não fosse partidário de D.João IV. Sessenta
anos antes, a Duquesa de Bragança, D.Catarina, também não congregara à sua volta
a grande maioria dos portugueses. E 60 anos é período insuficiente para a
mudança de mentalidades, sobretudo num tempo em que a evolução se fazia em
ritmo moderado...
Nós
vemos os acontecimentos a mais de trezentos e cinquenta anos de distância, e não
devemos deixar-nos arrastar pelas paixões que se justificariam no momento mas
que hoje são insustentáveis e inaceitáveis. Os nossos antepassados não pediram
a nossa opinião para regularem por ela o seu procedimento e o pensamento dos
descendentes portugueses também não coincidirá perfeitamente com a nossa mentalidade!
INFLUÊNCIA FRANCESA.
D.
CARLOS II (1665-1700).
Era
filho de D.Filipe IV e de sua esposa e sobrinha D.Maria Ana de Áustria. Herdou
o trono sendo ainda muito jovem, tendo governado por ele, como regente do
reino, o seu irmão bastardo, D.João da Áustria, o general vencido na batalha de
Ameixial. Este rei possuía fracas qualidades de governante, tendo sido uma
sorte que a regência estivesse noutras mãos. Tinha temperamento muito difícil, estando
próximo da loucura. Depois da sua morte, entrou-se na Guerra da Sucessão da
Espanha, em que Portugal tomou parte activa. Os pretendentes ao trono eram
Filipe de Anjou, seu sobrinho-neto, filho de Luís, o Grande Delfim, e neto de
sua irmã D.Maria Teresa, o qual tinha como opositor o neto de D.Filipe IV e seu
sobrinho, filho do imperador Leopoldo I e de D.Margarida Maria, o arquiduque
Carlos da Áustria.
Filipe
de Anjou foi reconhecido como rei da Espanha em virtude de o arquiduque Carlos
ter sido aclamado imperador, por morte de seu irmão, pois não convinha às
grandes potências europeias restaurar o império de Carlos V. A guerra terminou
pelo Tratado de Utreque, mais tarde confirmado pela Paz de Rastadt. Foi durante
a Guerra da Sucessão da Espanha que os ingleses ocuparam o morro de Gibraltar e
nunca mais o entregaram aos espanhóis. Os Países Baixos aumentaram a sua
autonomia; a autoridade da Espanha era simplesmente nominal, não tinha valor
real, carecia de influência efectiva.
D.FILIPE
V (1700-1746).
Firmou-se
no trono espanhol em resultado da Guerra da Sucessão, tendo-lhe sido dado o
epíteto de "Animoso" pela intrepidez demonstrada durante o conflito. A
primeira esposa deste monarca, D.Maria Luísa de Sabóia, foi o seu anjo bom. O
tempo que viveu com ela foi, segundo quase todos os autores, o mais feliz da
sua vida. Casou depois, em segundas núpcias, com D.Isabel Farnésio, que dominou
os acontecimentos políticos da Espanha. O rei não era dotado de qualidades
excepcionais e chegou a ser preciso haver um regente, por se lhe ter turvado a
razão. Contam-se entre eles a rainha D.Isabel Farnésio e o político José Patiño
y Rosales. Em certa altura, abdicou em seu filho D.Luís, aí pelo ano de 1724, resolvendo
abandonar a governação; porém, a morte prematura do jovem rei obrigou-o a
voltar a interessar-se pelos assuntos da administração pública. O malogrado
monarca costuma ser incluído na lista dos reis espanhóis sob o nome de D.Luís
I. No tempo de D.Filipe V (cujo reinado corresponde, na prática, ao do nosso
rei D.João V) a Espanha levantou-se da letargia em que tinha caído e começou a
progredir, sob diversos aspectos. Deu-se também grande desenvolvimento à
difusão da cultura e à instrução, tal como sucedeu em Portugal, usando os
mesmos métodos e processos, a fundação das Academias de História, Língua e Medicina.
Uma
neta de D.Filipe V e de D.Isabel Farnésio, D.Maria Teresa de Bourbon y
Vilabriga, veio a casar com o famoso Príncipe de Paz, D.Manuel de Godoy, a quem
foi concedido o título e a dignidade nobiliárquica de Conde de Évora Monte.
Vamos referir-nos a esta família no lugar e na altura próprios.
D.FERNANDO
VI (1746-1759).
Era
filho de D.Filipe V. Seu pai pensou ainda em lhe entregar o trono em vida, como
fizera com seu irmão D.Luís, mas não o concretizou. Elevou a Espanha a um grau
de prosperidade relativamente alto. Protegeu as ciências, as artes e a marinha.
Foi chefe prestigioso e competente; soube rodear-se de pessoas honestas e de
valor. Governou em paz, e por isso foi chamado "Pacífico". Recusou-se
a todo o custo a entrar nas actividades bélicas da Guerra dos Sete Anos, para
que a política europeia queria arrastá-lo. A morte de sua mulher, D.Maria
Bárbara de Bragança, que ele amava com ternura pouco vulgar em cônjuges reais,
abateu-lhe o ânimo de tal maneira que entrou numa espécie de obsessão, muito
próxima da monomania. Morreu um ano depois de ter enviuvado. O grande pedagogo
espanhol P.André Manjón escreveu dele que "morreu cedo porque o que é bom
dura pouco". É o maior elogio que pode fazer-se-lhe!
D.CARLOS
III (1759-1788).
Era
irmão do rei D.Fernando VI, que morreu sem descendência. Era já "Rei das
Duas Sicílias" quando foi chamado a ocupar o trono espanhol. Foi grande
impulsionador da cultura. Fundaram-se neste reinado a Biblioteca Nacional de
Madrid, o Observatório Astronómico, o Jardim Botânico, o Seminário dos Nobres,
o Conservatório de Música e Declamação, a Escola Pia, a Academia Latina, o
Museu de Ciências Naturais, a Academia de Belas Artes, que foi o antecedente do
actual Museu do Prado, fundado mais tarde por D.Maria Isabel de Bragança, filha
do nosso rei D.João VI. A cidade de Madrid foi provida com um sistema de
esgotos e as suas ruas pavimentadas. No tempo do rei D.Carlos III fundou-se o
Vice-Reinato do Rio da Prata, na América do Sul, causa futura de algumas perturbações
diplomáticas entre os nossos dois países. Em 24 de Março de 1778, assinou-se o Tratado
do Prado, que restabelecia as boas relações entre as duas cortes, de Lisboa e
Madrid, pouco cordiais até então. Este convénio ficou a dever-se à benéfica
influência da rainha D.Mariana Vitória, viúva de D.José , que depois da morte
do marido se retirou para o seu país de origem, sem deixar de se interessar
pelos problemas referentes a Portugal. Por este tratado, a Espanha garantiu a
posse das ilhas de Fernando Pó e Ano Bom, que já no Tratado de Santo Ildefonso
tinham sido consideradas como pertencentes à Espanha. Sob a inspiração do Conde
de Aranda, o rei D.Carlos expulsou os jesuítas do território espanhol. Imitou
nisso o, nosso Marquês de Pombal! O respectivo decreto foi aplicado com um
cinismo repugnante! Aproveitando a conhecida "Revuelta de los
Sombreros", foram enviadas em que se determinava que os colégios da
Companhia de Jesus fossem cercados e todos os seus membros presos em data
definida. A ordem estava selada e devia ser aberta apenas em dia de antemão estabelecido.
Os jesuítas aprisionados seriam enviados para os Estados Pontifícios,
destinados ao porto de Civita Vechia. As condições em que a viagem era feita
tinham muito de desumano, tendo morrido bastantes religiosos no trajecto para a
Itália ou nos cárceres em que foram recolhidos.
A
expulsão dos jesuítas foi prejudicial ao progresso do país, sobretudo quanto ao
ensino. D.Carlos III colaborou com outros soberanos nas negociações que levaram
extinção da Companhia de Jesus, tendo conseguido este objectivo depois da morte
do Papa Clemente XIII, fazendo com que fosse eleito um Pontífice favorável à
ideia da extinção, Clemente XIV. Mas a vitória não foi definitiva, visto que alguns
anos mais tarde a famosa congregação voltou a ser restaurada. A História da
Espanha dá ao rei D.Carlos III o nome de "Contraditório", pois, como
afirma o tantas vezes citado P.André Manjón, "sendo piedoso, inspirou-se
na Maçonaria; amando a Espanha, sacrificou-a aos interesses da sua família;
tendo-se por honrado, dispôs da liberdade e da fazenda dos cidadãos como o
faria um sultão da Turquia".
D.CARLOS
IV (1788-1808).
Era
filho de D.Carlos III. Diz-se dele que quem na verdade governava era sua mulher
D.Maria Luísa de Parma e o Príncipe da Paz, Manuel Godoy. A rainha D.Maria
Luísa é considerada, por alguns autores, como a mais imoral das rainhas de
Espanha, vivendo intensamente o mal da época. Saliente-se que nem todas foram
imorais, antes as houve muito virtuosas, verdadeiramente modelares. A Espanha
intrometeu-se demasiadamente nos negócios políticos da França, umas vezes pela
Monarquia e outras vezes pela República. A política dúbia de Manuel Godoy
levou-nos à guerra, provocando as invasões francesas. Em 1801, a Espanha ocupou
a cidade de Olivença, então portuguesa, que nunca mais voltou ao nosso domínio,
o que foi previsto no Tratado de Paris e na Conferência de Berlim.
O
príncipe herdeiro, futuro D.Fernando VII, promoveu uma revolta em Aranjuez, no
dia 17 de Março de 1808. Assim colocou a coroa sobre a sua cabeça. Parece que
Napoleão favoreceu a mudança e sugeriu mesmo a abdicação de D.Carlos IV; esta
cerimónia realizou-se no palácio régio daquela vila, com grande esplendor
externo. Já antes havia sido movido contra o príncipe herdeiro o chamado
"processo do Escurial", por motivo idêntico. A Espanha estava cansada
do governo do inepto rei e do seu antipático ministro, e punha as suas
esperanças no sucessor do trono, que tantas desilusões veio a causar!
Receava-se
em Espanha que a sua família real seguisse o exemplo da corte de Lisboa e se
mudasse para alguma das cidades da América. Nos acontecimentos de Aranguez, o
povo sublevado quis linchar Manuel de Godoy, que teve de se esconder para poder
escapar à morte. A desastrosa política seguida pela Espanha e as numerosas
intrigas diplomáticas postas em acção levaram os monarcas espanhóis a entregar-se
a Napoleão, em Baiona, curvando a cabeça a todas as suas imposições e
acusando-se mutuamente de deslealdade quase todas as personagens desta farsa.
Esteve em grande perigo a independência da pátria que os Reis Católicos
criaram!
No
dia 10 de Maio de 1808, Napoleão tomava "legalmente" nas suas mãos os
destinos da Espanha, cuja política manobrava há muito tempo, em consequência da
abdicação de D.Carlos IV e de D.Fernando VII. O infante D.Carlos Maria Isidro
nunca cedeu às imposições imperiais e por isso teve de suportar o cativeiro,
embora suave, pois ficou detido às ordens de Napoleão em diversos castelos e
palácios da França. O povo madrileno revoltou-se contra o domínio francês e
sofreu a vingança dos opressores, os famosos fuzilamentos de Moncloa; isso deu a
Goya o tema para o seu quadro imortal. A guerra começava a ser favorável aos
espanhóis e Napoleão resolveu deslocar-se à Península. Em Janeiro seguinte,
como consequência da abdicação de Baiona, colocou no trono espanhol seu irmão
José. O seu nome não se inclui na lista dos reis do país. O período do seu
"reinado" vai de 1808 a 1813.
D.FERNANDO
VII (1808-1833).
Era
filho de D.Carlos IV e tomou conta do poder por seu pai ter abdicado. O povo de
Madrid revoltou-se, em 2 de Maio de 1808, contra o domínio francês e a tirania
de Napoleão Bonaparte, sofrendo os terríveis fuzilamentos de Moncloa. Começou então
a Guerra da Independência, que nós chamamos Guerra Peninsular. Saragoça sofreu
um horrível cerco, assim como Gerona. Em 1810, os portugueses venceram os
franceses na batalha do Buçaco e, em Espanha, foram derrotados em Fuentes de
Oñoro e outros lugares. Ciudad Rodrigo defendeu-se valorosamente durante o cerco
que lhe foi posto. A guerra terminou, praticamente, com a batalha de Arapil,
perto de Salamanca, em 1812, embora as atividades bélicas prosseguissem ainda
durante bastante tempo, em ritmo moderado. Neste reinado, tornaram-se
independentes quase todas as colónias espanholas da América: México, Venezuela,
Colômbia, Bolívia, Equador, Peru, Chile, Argentina, etc. Praticamente, só
restaram as de Cuba e Porto Rico, continuando a exercer a soberania sobre as Filipinas,
na Oceania.
D.Fernando
VII casou 4 vezes. O seu casamento com a infanta portuguesa D.Maria Isabel de
Bragança foi o segundo; a sua última esposa era a famosa D.Maria Cristina de
Bourbon, regente do reino na menoridade de sua filha D.Isabel II. Quando a
Academia de Belas Artes propôs a reunião, num local único, das valiosas
pinturas do tesouro artístico espanhol, a rainha D.Maria Isabel acolheu a ideia
com entusiasmo e cedeu para esse fim uma avultada pensão que recebia. Assim conseguiu
reunir no Museu do Prado a sua famosa pinacoteca. No entanto, deve atender-se a
que a sua fundação efectiva vem de quase um ano após o falecimento da rainha: 29-12-1818
e 19-11-1819.
***
No
tempo de D.Afonso VI de Portugal e D.Carlos II de Espanha, foi assinado, em 13
de Fevereiro de 1668, o tratado de paz que pôs fim à Guerra da Restauração.
Tentámos por duas vezes negociar o casamento de D.Carlos II com a infanta de
Portugal, D.Isabel Luísa Josefa, filha de D.Pedro II, mas sem resultado. O Marquês
de Gouveia e Conde de Santa Cruz, D.João de Mascarenhas, casou em Espanha com
D.Teresa de Moscoso Osório y Aragón, filha dos Marqueses de Almazan y Poza e
Condes de Monteagudo, já viúva do Marquês de Malpica. Enquanto casado, D.João
de Mascarenhas fugiu com uma mulher nobre e fixou-se com ela na Galiza, onde
mais tarde e por influência do prelado de Tui foi acolhida num convento. O
Marquês deslocou-se para a Inglaterra, passando a ter vida airada, sem pouso definido,
renunciando mesmo aos seus direitos e títulos nobiliárquicos.
D.Teresa
de Moscoso Osório y Aragón foi elevada, depois de viúva, pelo rei D.João V, à
categoria de Marquesa de Santa Cruz, tendo exercido as funções de aia dos
príncipes reais portugueses, o futuro rei D. José I e seus irmãos, os
"Meninos da Palhavã". O rei de Espanha, D.Filipe V teve dois filhos
que contraíram matrimónio com príncipes de Portugal. O futuro rei espanhol
D.Fernando VI casou com D.Maria Bárbara de Bragança, e o nosso rei D.José I
casou com D.Mariana Vitória. A "troca das princesas" efectuou-se, com
faustosas cerimónias, no dia 19 de Janeiro de 1729, num pavilhão armado na
fronteira dos dois países, sobre o rio Caia. Os monarcas espanhóis D.Fernando
VI e D.Maria Bárbara são os fundadores do Convento das Salesas Reales, o actual
Palácio da Justiça, de Madrid. Estão ambos sepultados na igreja deste convento,
em magnífico sepulcro expressamente construído, preferindo-o ao panteão régio
do Escurial, por expressa vontade dos instituidores. D.Fernando VI e D.Maria
Bárbara de Bragança eram muito queridos do seu povo e a sua memória ainda hoje
é evocada com respeito. Os espanhóis apreciavam as suas virtudes e compreendiam
quanto eles se preocupavam com o bem-estar geral, segundo as normas do tempo. D.Carlos
III assinou o conhecido Pacto da Família. Portugal não o aceitou, apesar de ter
sido convidado a subscrevê-lo. Isso nos arrastou para a guerra com a Espanha, a
chamada "guerra fantástica" dos historiadores hispânicos. Parece ser
aqui que se localiza o lendário episódio do embaixador de Espanha e do Marquês
de Pombal, quando este lhe disse que, para tirar um morto de sua casa, são
precisos quatro homens vivos. Ninguém pode garantir, efectivamente, a
autenticidade da famosa objecção!
Em
8 de Maio de 1785, realizou-se em Vila Viçosa a cerimónia da "troca de
princesas", que não deve confundir-se com a do Caia, 56 anos antes. Veio
para Lisboa D.Carlota Joaquina, e partiu para Madrid a princesa D.Mariana
Vitória Josefa. Aquela casava com o futuro rei D.João VI e esta consorciava-se
com o infante D.Gabriel António Francisco, irmão de D.Carlos IV e tio de Carlota
Joaquina. Explicando melhor, diremos que o infante D.Gabriel era filho de D.Carlos
III e a princesa D.Carlota era filha de D.Carlos IV. Do matrimónio de D.Mariana
Vitória com aquele infante espanhol nasceu D.Pedro Carlos António, que depois
da morte de seus pais e de seu avô D.Carlos III (que faleceram os 3 com poucas
semanas de diferença, no final de 1788), veio para Portugal, onde foi educado.
Seguiu com a corte para o Brasil, e aí casou com sua prima coirmã, D.Maria
Teresa Francisca, filha de D. João VI e de D.Carlota Joaquina.
Na
Paz de Badajoz, que pôs fim à Campanha do Roussilhão e escaramuças seguintes,
os espanhóis arrebataram-nos Olivença e tivemos de pagar ainda vinte e cinco
milhões de francos, como dívida de guerra. Apesar de aquele convénio ter sido
anulado pelo Tratado de Paris e pela Conferência de Berlim, nunca mais pudemos
recuperar Olivença, apesar do esforço desenvolvido.
Pelo
Tratado de Fontainebleau, que antecedeu as invasões francesas, Portugal era
formalmente riscado do mapa da Europa. Napoleão serviu-se dele para, na
prática, dominar toda a Península Ibérica, sujeitando aos seus caprichos as
duas gloriosas nações hispânicas. D.Teresa Cristina de Bourbon, neta do rei de
Espanha, D.Carlos IV, veio a casar com o imperador do Brasil, D.Pedro II,
bisneto do mesmo soberano. O famoso político espanhol D.Manuel Francisco
Domingos de Godoy y Alvarez de Faria Rios Sánchez Zargosa, abreviadamente
conhecido por D.Manuel de Godoy, e que usou o nome de Príncipe de Paz, foi o primeiro
Conde de Évora Monte, em Portugal. Nesta altura, 1797, os dois países estavam
de boas relações, mas pouco depois abriam-se as hostilidades, chegando o Conde
de Évora Monte a entrar em Portugal à frente de um exército, na qualidade de
capitão-general, durante a campanha que os espanhóis chamam Guerra das Laranjas
- não sabemos por que motivo! Foi ele um dos negociadores do Tratado de Fontainebleau,
que riscava Portugal do mapa da Europa, tendo-lhe sido atribuído o hipotético
Principado do Algarve, que abrangia parte do Baixo Alentejo. Felizmente, as
previsões não se concretizaram!
Em
Espanha, D.Manuel de Godoy foi Duque de Alcudia, Duque de Sueca, Marquês de Alcudia,
Visconde de Alto Castillo e Barão de Mascalbó. O Papa fê-lo ainda Príncipe
Paserano. Depois de a armada espanhola ter sido desfeita na batalha de
Trafalgar, fugiu para a França, sendo-lhe confiscados os seus bens.
Atribuiu-se-lhe a culpa do desastre, pois ele era o generalíssimo das forças de
terra e mar. Casou pela primeira vez com D.Maria Teresa de Bourbon y Vilabriga,
Duquesa de Sueca, Condessa de Chinchon e Marquesa de Boadilla del Monte, neta
do rei D.Filipe V e da rainha D.Isabel Farnésio. Contraiu segundas núpcias com
D.Josefa Petra Francisco Tudó Cathalan Alemany y Luecia, Condessa de Castillo
Fiel. Foram ambas Condessas de Évora Monte, como cônjuges do detentor da
distinção.
O
segundo titular da dignidade foi D.Carlota Luísa Manuela de Godoy y Bourbon,
filha do primeiro casamento de Manuel de Godoy, que usou ainda os títulos de
Duquesa de Sueca, Condessa de Chinchon e Marquesa de Boadilla del Monte. Casou
com D.Camilo Ruspoli, de origem italiana, que podemos considerar também Conde
de Évora Monte, embora nunca tenha usado o título.
O
terceiro Conde de Évora Monte, D.Adolfo Ruspoli y Godoy, foi também Duque de
Alcudia. Casou com D.Rosália Álvarez de Toledo y Silva, filha dos Duques de
Medina Sidónia. O quarto Conde, D.Carlos Luís Ruspoli y Álvarez de Toledo,
filho dos anteriores, Duque de Alcudia, Duque de Sueca e Conde de Chinchon, casou
com D.Carmen Caro y Caro Alvares de Toledo y Gomurcio, da família dos Marqueses
de La Ramana. Depois de ter enviuvado, casou com D.Josefa Pardo y Manuel de
Villena, Condessa de Via Manuel e Marquesa de Rafal. Concluímos, pois, que os
Condes de Évora Monte foram todos de nacionalidade espanhola.
O
rei de Espanha D.Fernando VII casou com a princesa de Portugal D.Maria Isabel
de Bragança, filha do rei D.João VI e de D.Carlota Joaquina. Foi a grande
impulsionadora e fundadora efectiva do Museu do Prado, que bastantes anos antes
havia sido criado por decreto e a que a sua iniciativa, decisão e
desprendimento deram concretização prática. Os primeiros tempos deste reinado
foram perturbados pelas invasões francesas, três para Portugal e só uma para a
Espanha, de onde nunca chegaram a sair as tropas napoleónicas, até ao final de
luta. Logo de começo, enquanto nós derrotávamos os invasores em Roliça e no
Vimeiro, em Espanha os franceses sofriam as derrotas de Saragoça e Bailén, entre
outras. Viveram-se tempos muito difíceis! O irmão do rei espanhol, o infante
D.Carlos Maria Isidro, casou também com uma filha de D.João VI, D.Maria
Francisca de Bragança. Este foi o pretendente ao trono e fundador de Dinastia
Carlista. Os casamentos realizaram-se em Cádis, ambos na mesma data, 22 de Fevereiro
de 1816, estando as noivas no Rio de Janeiro. Partiram para a Europa a 3 de
Julho seguinte, desembarcando naquele mesmo porto no dia 4 de Setembro.
Outra
princesa de Portugal, D.Maria Teresa de Bragança, casou na cidade do Rio de
Janeiro, onde estava a corte, com seu primo D.Pedro Carlos António, neto do rei
D. Carlos III de Espanha, que tinha sido educado na corte portuguesa, como já
vimos atrás. D.Maria Teresa de Bragança é chamada pelos autores espanhóis pelo
designativo de "Princesa da Beira", que durante algum tempo lhe
competiu, como herdeira presumptiva do trono de Portugal. Casou, depois de
viúva, com seu tio e cunhado D.Carlos Maria Isidro, tendo-se dedicado profundamente
à tarefa da educação dos seus sobrinhos, de quem foi mãe adoptiva. O seu
primeiro marido havia falecido 26 anos antes, o que nos leva a pensar que o seu
segundo casamento deverá ter sido efectuado, em boa parte, por dedicação aos
órfãos.
O
primeiro Conde da Moita, D.José António Miguel Rafael João Pedro Paulo de
Aragón Azlor y Pignatelli de Aragón, era de nacionalidade espanhola, usando
também os títulos de Duque de Villahermosa, Conde-Duque de Luna, Conde del
Real, Conde de Sinarcas, Conde de Villanova, Duque de Palata e Marquês de
Cabrega, em Nápoles. Casou com D.Maria del Carmen Fernández de Córdoba y
Pacheco, filha dos Marqueses de Mancera e Duques de Arión.
O
segundo Conde da Moita, D.Marcelino de Aragón Azlor y Fernández de Córdoba,
filho dos anteriores, Duque de Villahermosa, Conde-Duque de Luna, Conde de
Guara e Barão de Panzano, casou com D.Maria del Patrocínio de Idiáquez y
Correl, filha do Duque de Grana de Ega.
A
terceira Condessa da Moita, D.Maria del Cármen de Aragón Azlor y Idiáquez, teve
os títulos usados por seus pais. Casou com D.José Manuel de Goyoneche y Gamio,
Conde de Guaqui. Também com este título se deu o que já tinha acontecido com o
de Évora Monte, os seus detentores tiveram todos a nacionalidade espanhola.
***
O
período que acabamos de percorrer é caracterizado pela profunda influência
francesa na vida espanhola, que se explica em primeiro lugar pela origem da
dinastia (D.Filipe V era francês) e em segundo lugar pelos acontecimentos
relevantes que se registaram na França e tiveram repercussão mundial. Devemos,
no entanto, salientar que Portugal e Espanha, apesar de por vezes as relações
serem bastante tensas, puseram em prática estreita política de casamentos, não
só entre os monarcas como entre outros membros da família real. Tendo sofrido
fortemente a influência francesa, Portugal recebeu-a em grande parte através da
Espanha. Deve salientar-se também que foram criados em Portugal, 2 títulos nobiliárquicos
em favor de importantes personagens espanholas. Nota-se, nesta época,
impressionante paralelismo entre o que se fez em Portugal e o que se fez em
Espanha, havendo até bastante semelhança de temperamento entre os respectivos
soberanos, o que nem sempre pode explicar-se pelos laços de parentesco, por
vezes remotos, embora noutros casos tenham sido muito próximos. Não devemos
esquecer a influência do ambiente social nas primeiras décadas do século XIX, pois
só deste modo pode compreender-se muito do que aconteceu.
P
E R Í O D O C O N S T I T U C I O N A L.
D.ISABEL
II (1833-1868).
Era
filha de D.Fernando VII e de D.Maria Cristina de Bourbon. Teve como contendedor
e pretendente ao trono seu tio D.Carlos Maria Isidro de Bragança e Bourbon, que
tinha sido afastado da Espanha pelo monarca, pois a sua presença era um
obstáculo à revogação da "lei sálica", que afastava as mulheres do
trono. Devemos recordar que tinham reinado neste país duas rainhas, D.Isabel I
e D.Joana I. O infante espanhol veio para Portugal onde encontrou a protecção
de seu cunhado D.Miguel. As lutas dinásticas da Espanha devem estudar-se em
conjunto com as de Portugal. Com efeito, encontramos um paralelismo chocante
tanto nos personagens como no desenrolar das lutas, época em que se verificaram
e resultados obtidos.
Quando
morreu seu pai, D.Isabel II era ainda muito pequena, pois nascera em 1830, e
veio a morrer em 1904. Ficou a governar a Espanha, como regente, sua mãe
D.Maria Cristina, na qualidade de rainha-viúva. Defendeu corajosamente os
direitos e interesses da filha, conseguindo afastar o pretendente contrário.
Contou também e sempre com dedicações incondicionais. Mas não conseguiu vencer
as dificuldades levantadas pela política liberal, que muito a fez sofrer. Devido
a sobressaltos revolucionários registados em Madrid, abandonou em segredo a
capital espanhola, pois uma enorme multidão pedira em altos gritos a sua morte,
mesmo em frente do palácio real onde residia. Também mais tarde D.Isabel II
teve de abandonar o território espanhol, partindo para o exílio, tendo
atravessado a fronteira, em Hendaye, no dia 30 de Setembro de 1868. Fundou-se
neste reinado a Cruz Vermelha Espanhola; construiu-se o primeiro barco a vapor
utilizado em Espanha, a que se deu o nome de "El Delfin";
inaugurou-se a primeira via férrea, de Barcelona a Mataró; começou a lançar-se
a linha para a ligação ferroviária de Madrid com Lisboa.
GOVERNO
PROVISÓRIO (1868-1871).
Depois
da saída da rainha D.Isabel II, foi nomeado regente do reino o general
Francisco Serrano. Após terem sido estudadas várias hipóteses, resolveu-se
fazer uma votação na Assembleia Constituinte, para escolha do regime e eleição
do Chefe do Estado. Subiu então ao trono de Espanha o Duque de Aosta, D.Amadeu
de Sabóia. Esteve também em causa o nome do rei português, D.Fernando II, viúvo
de D.Maria II, que pôs como condição imprescindível para a aceitação da coroa
que os dois reinos jamais se uniriam. Os políticos portugueses não viam com
agrado que D.Fernando II aceitasse a coroa espanhola, pois era quase certo que
uma dinastia estabelecida daquele modo e tão precipitadamente não poderia
subsistir.
D.AMADEU
I (1871-1873).
Foi
eleito rei da Espanha no dia 16 de Novembro de 1870. Era filho segundo do rei
Vítor Manuel, o "unificador da Itália", usurpador dos Estados
Pontifícios; a nossa rainha D.Maria Pia, mulher de D.Luís I, era irmã deste
monarca espanhol. Entrou em Madrid no dia 2 de Janeiro de 1871. Na véspera, o
primeiro ministro, o general João Prim y Prata, tinha sido assassinado. Abdicou
em 11 de Fevereiro de 1873, reconhecendo ser impossível governar com dignidade.
O famoso educador P.André Manjón comenta assim o governo de D.Amadeu: "O
saboiano nada fez, apenas teve de sofrer desgostos e desenganos".
PRIMEIRA
REPÚBLICA (1873-1874).
Teve
quatro presidentes efectivos e um provisório. Foram os seguintes:
1)
ESTANISLAU FIGUERAS Y MORAGAS foi empossado em Fevereiro de 1873 e abdicou em
Junho desse mesmo ano. Proclamou-se neste período o Estado Catalão,
independente de Madrid, embora federado à República Espanhola.
2)
FRANCISCO PI Y MARGAL tomou conta do poder depois da renúncia de Figueras. O
seu mandato durou pouco mais de um mês. A demissão foi devida em parte a um
violento discurso anticatólico do deputado Suñer y Capdevila e à resposta que
lhe deu o cónego Manterola. Múrcia transformou-se numa República, independente
mas federalizada.
3)
NICOLAU SALMERON Y ALONSO foi eleito no dia 18 de Julho de 1873 e apresentou o
seu pedido de demissão em 5 de Setembro seguinte. As províncias de Valência,
Sevilha, Salamanca, Toledo e Granada declararam-se independentes.
4)
EMILIO CASTELAR Y RIPOLL iniciou o seu mandato em 6 de Setembro. Foi irradicado
devido à intervenção de Manuel Pavia y Albuquerque, em 3 de Janeiro de 1874.
5)
FRANCISCO SERRANO Y DOMINGUEZ esteve provisoriamente à frente dos destinos da
Espanha. Foi um grande chefe político liberal, que jugulou a insurreição de
Cartagena e libertou Bilbau da pressão das tropas carlistas. Tomou conta do
poder depois da queda de Castelar. O tempo que separa a queda de D.Isabel II da
restauração da monarquia pela ascensão de D.Afonso XII ao trono espanhol, foi
de profunda agitação política, social e até militar; quase todo esse período
foi preenchido pelas actividades da segunda guerra carlista; a primeira corresponde,
praticamente, à regência de D.Maria Cristina.
D.AFONSO
XII (1875-1885).
Era
filho de D.Isabel II. Foi proclamado rei em Sagunto, pelo exército, por
iniciativa do general Martinez de Campos, num dos muitos pronunciamentos de que
é fértil a História de Espanha. Julgou-se que, com a sua aclamação, acabariam
as lutas partidárias, e esperava-se até que os carlistas se submetessem, mas
nada disso aconteceu. Entrou em Espanha, na cidade de Barcelona, no dia 9 de
Janeiro de 1875. D.Afonso XII casou, pela primeira vez, com sua prima D.Maria
das Mercês, a quem dedicou amor ardente e apaixonado, que os romancistas, dramaturgos
e cineastas puderam aproveitar. Contraiu segundo casamento com a conhecida
D.Maria Cristina de Habsburgo, regente da Espanha na menoridade de seu filho e
sucessor, D.Afonso XIII, a qual se desempenhou do encargo com muita dignidade, grande
competência e rara dedicação. Na Conferência de Berlim, a Espanha
desinteressou-se de defender os direitos que podia sustentar sobre certas zonas
da África. Ficou apenas com diminutos territórios deste continente, então
disputado por diversas potências cujos direitos e aspirações eram de recente
data.
D.Afonso
XII tinha temperamento muito popular e feitio afável, grandes dotes de simpatia
e dedicação pelo seu povo. No entanto, as condições sociais e políticas que o
envolveram não lhe foram favoráveis. Apesar de ser muito querido do seu povo,
havia quem lhe votasse ódio mortal, tendo sido alvo de dois atentados, um na
Calle Mayor e outro na basílica de Atocha, em Madrid, sem consequências
trágicas. O rei de Espanha D.Afonso XII encontrou-se em Elvas com o nosso rei D.Luís
I, por ocasião da inauguração da linha férrea que ligava Madrid com Lisboa.
Repetiu a visita na altura da inauguração da linha directa, Madrid-Lisboa, por
Marvão (em Portugal) e Valência de Alcântara (em Espanha). Mais tarde, visitou
ainda oficialmente a cidade de Lisboa; e o nosso rei D.Luís I e sua esposa
D.Maria Pia de Sabóia visitaram também a cidade de Madrid, retribuindo assim a gentileza
dos monarcas espanhóis. As relações entre os dois países eram então muito
cordiais. O rei D.Afonso XII foi atacado pela tuberculose e faleceu vitimado
por esta doença, no palácio do Pardo, em 25 de Novembro de 1885. Alguns meses
depois nascia o sucessor do trono, D.Afonso XIII.
D.AFONSO
XIII (l886-l93l).
Herdou
o trono ainda antes do seu nascimento, pois é filho póstumo de D.Afonso XII,
como acabámos de registar. Governou o país durante a menoridade a sua mãe,
D.Maria Cristina de Habsburgo. No dia do seu casamento com a rainha D.Vitória
Eugénia de Battemberg, no decurso do ano civil de 1906, apesar da proibição de
deitar flores sobre o cortejo, foram lançados alguns ramos sobre a carruagem
régia, onde estavam escondidas criminosas bombas, que explodiram causando numerosas
vítimas mortais. O rei D.Afonso XIII visitou Portugal em 1903. O rei D.Carlos I
tinha feito já uma visita à Espanha, em 1902; repetiu-a, acompanhado de sua esposa,
a rainha D.Amélia, em 1906. Foram recebidos com fidalguia e distinção, com
carinho e galhardia excepcionais. D.Afonso XIII deu acolhimento aos monárquicos
portugueses, depois de implantada a República em Portugal, no dia 5 de Outubro
de 1910. Prepararam-se em Espanha algumas incursões militares que pretendiam restaurar
o antigo regime. A mais famosa de todas ocorreu em Junho de 1912, e era
chefiada pelo célebre oficial monárquico Henrique Mitchel de Paiva Couceiro. A
Espanha perdeu as últimas terras que possuía na América, Cuba, e na Oceania, as
Filipinas. Registaram-se neste reinado diversos acontecimentos funestos, entre
os quais se conta a famosa "semana trágica" de Barcelona, iniciada em
26 de Julho de 1909. Basta o nome para nos apercebermos do que significou para
muitas pessoas! A actividade subversiva era enorme. Destacaremos os
acontecimentos lamentáveis de 1917, que fizeram com que ficasse a ser conhecido
pelo nome de "ano turvo".
O
exército espanhol sofreu derrotas em diversos lugares, sobretudo em Marrocos.
Durante a primeira Grande Guerra (assim como na segunda), o país manteve-se
neutral. No dia 13 de Setembro de 1923, o general Primo de Rivera realizou o golpe
de estado que lhe entregou o poder, iniciando-se o período de governo conhecido
como "ditadura" do seu nome. Caiu no dia 29 de Janeiro de 1930.
Entrou-se então num tempo que os espanhóis designam, ironicamente, por
"ditabranda". Em 12 de Abril de 1931, realizaram-se eleições
municipais que, aparentemente, nada tinham a ver com o regime político. No
entanto, os acontecimentos precipitaram-se e o rei viu-se na necessidade de se exilar,
atitude que pode ser discutida! No dia 14 seguinte era proclamada a Segunda República.
SEGUNDA
REPÚBLICA (1931-1936 OU 1931-1939).
Foi
fértil em acontecimentos a história da Segunda República. As duas datas que
apontamos referem-se ao início e término da Guerra Civil da Espanha, que lhe
pôs fim. Desde 18 de Julho de 1936 até 31 de Março de 1939, sobrepõem-se, com
efeito, neste país, dois governos que reivindicavam para si o carácter de
representantes autênticos do povo espanhol, o "Movimento", chefiado
por Francisco Franco, e a "Frente Popular", encabeçada por Manuel
Azaña. A menos de um mês da proclamação da República, em 11 de Maio de 1931, registou-se
em Madrid e noutras cidades espanholas a famosa "queima dos
conventos", em que foram destruídos ou danificados cerca de 8 dezenas de
edifícios religiosos. No dia 31 de Dezembro do mesmo ano, deram-se os
assassinatos de Castilblanco, perto de Badajoz, e em Janeiro de 1933 os de
Casas Viejas, na Andaluzia meridional; no dia 8 de Julho de 1932, Villa Fradique,
na zona de Toledo, proclamava o "regime comunista" local. No mês de
Outubro de 1934, houve a sublevação das Astúrias, reprimida pelo poder público,
segundo uns com excessiva benevolência e segundo outros com extrema desumanidade.
Fosse como fosse, o certo é que deixou atrás de si enorme sede de vingança!
Cometeram-se excessos lamentáveis e houve represálias sangrentas. O general
Sanjurjo tentou arrancar a Espanha ao domínio da rua e dos partidos políticos,
manobrados por agitadores profissionais e anarquistas. Não conseguiu realizar o
seu intento, pois fracassou o golpe de força que preparava. Tinha sido planeado
para o dia 10 de Agosto de 1932. Foi preso, julgado por um tribunal marcial e
condenado à morte; a pena veio depois a ser comutada em prisão perpétua; mais tarde,
permitiram-lhe que se exilasse, fixando então a sua residência em Portugal, no
Estoril, onde veio a morrer, quando se preparava para regressar à Espanha, a
fim de tomar o comando da sublevação militar de 1936, que deu o poder a
Francisco Franco. Terminou os seus dias por se ter despenhado o avião em que
devia viajar, no momento da decolagem. O assassinato de José Calvo Sotelo,
deputado católico e monárquico (que tinha também sofrido o exílio em Portugal),
na noite de 12/13 de Julho de 1936, iria precipitar os acontecimentos e lançar
a Espanha nos horrores da guerra.
***
Quando
morreu o rei da Espanha D.Fernando VII, seu irmão D.Carlos Maria Isidro dirigiu
ao povo espanhol uma mensagem, assinada em Abrantes, onde se encontrava. Os
seus primeiros decretos foram emitidos em Santarém. Portugal cortou relações
diplomáticas com Madrid, devido a D.Miguel ter reconhecido D.Carlos como
soberano. Este fortificou-se em Marvão, mas os liberais portugueses refugiados
em Espanha atacaram esta vila e tomaram-lhe grande quantidade de armas e munições.
A proeza foi realizada por um grupo que se designava Legião Patriótica do
Alentejo. A permanência de D.Carlos em Portugal, e a localização do comando das
actividades bélicas na cidade correspondente, deu origem a um curioso dito
popular que indica imobilidade, apatia, nulidade de resultados, e que é: "Tudo
como dantes, quartel-general em Abrantes".
Quando
as tropas de D.Pedro IV saíram do Porto, depois do prolongado cerco que ali
sofreram, o pretendente ao trono espanhol foi para Viseu e daqui seguiu para a
Guarda. Até então tivera a sua corte em Vila Real. Entrou depois em Espanha,
confiado no auxílio de algumas tropas e no bom acolhimento do seu povo;
regressou logo a seguir ao nosso País, entrando pela fronteira da Guarda e
chegando a esta cidade em 14 de Abril de 1834. Saiu definitivamente de Portugal
em 1 de Junho desse ano, depois de ter sido assinada a Convenção de Évora
Monte, que fixou no trono a nossa rainha D.Maria II. Embarcou no navio
"Donegal", no Montijo, então designado Aldeia Galega, e rumou para a
Grã-Bretanha.
A
rainha D.Isabel II de Espanha casou com D.Francisco de Assis de Bourbon y
Bourbon, filho do Duque de Cádis, o infante D.Francisco de Paula, irmão do rei
D.Fernando VII. Note-se que D.Isabel II era prima coirmã de seu marido, pois
eram ambos netos de D.Carlos IV. Uma sobrinha do rei-cônjuge, D.Maria Isabel
Cristina de Bourbon, filha da infanta D.Isabel Fernanda, casou com um
capitalista português, Bartolomeu da Costa de Macedo Giraldes Barba de Meneses,
Visconde de Trancoso. Este titular é o autor do livro "Apontamentos para a
História da Dominação Castelhana em Portugal". Possuía grandes propriedades
em Espanha, tendo perdido a maior parte dos seus bens por diversas causas. O
primogénito deste matrimónio, D.Afonso Giraldes y Gurowski, casou com D.Amália
de la Helguera y Gonzalez Garcia Marchante, filha de família fidalga espanhola.
O
Barão e Visconde de Almeidinha, João Carlos do Amaral Osório de Sousa Pizarro,
casou também, em segundas núpcias, com D.Vitória Catalá de Ascensio y Domenech,
filha de um pundonoroso militar espanhol. O Visconde de Reguengo e Conde de
Avilez, Jorge de Avilez Jusarte de Sousa Tavares, casou em segundas núpcias com
a espanhola D.Josefa González Pérez de Mendónza. O Conde do Carvalhal, Leandro
da Câmara do Carvalhal Esmeraldo Atouguia Sá Machado, consorciou-se com
D.Matilde de Montufar Infante, filha dos Marqueses de Selva Alegre, de
nacionalidade espanhola, de família muito conhecida. O único Barão de Ezpeleta
foi o súbdito espanhol Francisco Xavier de Ezpeleta Irisarri Larrain y Alzueta,
que exerceu as funções de cônsul de Portugal em Bordéus. Este título foi-lhe
concedido pelo rei D.Fernando II, regente do reino de Portugal na menoridade de
D.Pedro V.
O
Barão e Visconde de Nossa Senhora da Luz, Joaquim António Velez Barreiros,
casou em Espanha com D.Rosa Montufar Infante, filha dos Marqueses de Selva
Alegre. Esta senhora ficou historicamente conhecida pela sua formosura e pela
ardente paixão que soube despertar no nosso escritor romântico, Almeida
Garrett. Em regra, é designada abreviadamente por Viscondessa da Luz. O
Visconde de Orta foi o espanhol José de Orta, que casou com uma senhora desta
nacionalidade, D.Manuela Toranjo. Do matrimónio nasceu o sucessor do título,
Barnabé de Orta, e quatro filhas, três das quais casaram com titulares
nobiliárquicos portugueses: D.Maria Francisca foi Condessa de Valbom; D.Antónia
Maria foi Condessa de Magalhães; e D.Maria da Encarnação foi Viscondessa do Rio
Sado. O título de Visconde da Orta ficou a dever-se à magnanimidade de D.Fernando
II, regente do reino durante a menoridade de D.Pedro V. O Conde de Azarujinha,
Jaime Augusto de Albuquerque de Lemos Dias de Freitas, casou com a espanhola
D.Maria Aurora Lasso de la Vega y Jimenez, neta dos Marqueses de Bejarano.
O
título espanhol de Conde de Lumbrales foi atribuído a um português, Ricardo
Pinto da Costa, que casou com uma rica proprietária da povoação daquele nome,
tendo-lhe sido concedido o galardão nobiliárquico pelos altos serviços prestados
à população da zona salmantina. Assinou o diploma a regente de Espanha, D.Maria
Cristina de Habsburgo. O segundo Conde de Lumbrales foi o cidadão português
João Vítor Pinto da Costa Bartol, nascido em Espanha, na localidade que dá nome
ao título. Um dos seus filhos veio a ser o famoso político português Professor
Doutor João Pinto da Costa Leite (Lumbrales), ministro das Finanças, das Obras
Públicas, do Interior e da Presidência, no tempo de Oliveira Salazar.
O
terceiro Conde de Lumbrales é Ricardo Pinto da Costa Leite, filho dos segundos
Condes. Prestou serviço como engenheiro civil na Direcção-Geral dos Serviços
Hidráulicos, em Lisboa. Ao contrário do que aconteceu com os Condes de Évora
Monte, que foram todos espanhóis, os Condes de Lumbrales tiveram todos a
nacionalidade portuguesa. O Conde de Mendia, em Portugal, e Marquês de Mendia,
em Espanha, foi D.Eugénio de Mendia y Cunha Matos. Nasceu no Brasil e morreu em
Lisboa. Era neto, por sua mãe, D.Maria Eugénia da Cunha Matos, do ilustre
militar e historiógrafo luso-brasileiro, marechal Raimundo José da Cunha Matos,
e de sua mulher D.Maria Venância de Fontes Pereira de Melo, prima de seu
marido. A esposa do marechal Cunha Matos era irmã do grande estadista português
dos mesmos apelidos. O nome desta família está ligado a outros de destaque,
tanto em Portugal como no Brasil.
O
segundo Conde de Mendia, Eduardo Pereira Caldas de Mendia, era sobrinho do
antecedente e tinha o direito a usar o título espanhol, assim como o terceiro
Conde, Eugénio de Sousa Coutinho de Mendia, o qual casou com D.Maria Mafalda
Brandão de Melo Magalhães Guedes de Queirós, filha dos Condes de Cabral. Também
desta vez o ilustre título espanhol se fixou numa família portuguesa. O único
Visconde e Conde de Cunha Matos, Raimundo de Mendia e Cunha Matos, natural do
Brasil e falecido em Lisboa, era irmão do primeiro Conde de Mendia, filho como
ele de José Mateo de Mendia e Elorza, oriundo de Oñate, na 0Espanha, e neto do
marechal luso-brasileiro Raimundo José da Cunha Matos.
Um
dos filhos dos Barões de Ornelas, Fernando Henrique Vasco José de Ornelas,
casou em Espanha com D.Maria do Rosário Silva y Agrela, Marquesa de Vilanant. O
quarto Marquês do Faial, António Maria da Assunção Sousa e Holstein-Beck, que
usou também o título de Conde de Calhariz, tomou parte activa na Guerra Civil
da Espanha, combatendo ao lado das tropas nacionalistas. O quarto Conde e
terceiro Marquês de Penafiel, João António Mártens da Mata Sousa Coutinho,
alistou-se também nas forças nacionalistas. Os comandos espanhóis distinguiram-no
com referências muito elogiosas e honrosos louvores pela sua coragem e dotes de
chefia. Veio a morrer na batalha do Ebro, e o Governo Português condecorou-o a
título póstumo, concedendo-lhe a medalha de prata de valor militar, e promovendo-o
ao posto de alferes.
D.Pedro
de Alcântara Gastão, bisneto do imperador do Brasil, D.Pedro II, casou com
D.Maria de la Esperanza de Bourbon-Sicílias, filha do príncipe D.Carlos de
Bourbon-Sicílias, infante de Espanha. D.Teresa Maria Teodora, irmã do
antecedente, casou com o espanhol Ernesto Martorell y Calderó, nascido em
Portugal, onde o casamento se realizou.
***
O
último período da História de Espanha, na vigência das respectivas monarquias,
não teve repetidas uniões matrimoniais entre os seus monarcas e outros membros
da família real, portuguesa e espanhola; apenas as dinastias proscritas fizeram
casamentos entre si, e pouco frequentes, mas que podem considerar-se como
prolongamento e continuação da antiga tradição. No entanto, encontramos maior
número de titulares que procuraram consortes no outro país, embora não sejam da
alta nobreza, por certo devido às facilidades de comunicações que a segunda
metade do século XIX nos proporcionou. Continuamos a verificar, sem qualquer
dificuldade, o paralelismo que os 2 países mantiveram ao longo deste período.
Correspondem, de perto, às guerras liberais que ambos tiveram, às revoluções
que sofreram, à mudança de regime político que em ambos se registou, e também
ao aparecimento de chefes em que talvez poucos atentassem, Franco e Salazar,
muito diferentes e muito parecidos entre si, com algo de carismático.
Conseguiram,
tanto um como o outro, pôr fim à instabilidade política e a administrações
ruinosas, talvez ainda mais notórias na Espanha do que em Portugal, apesar da
boa vontade, da dedicação e até da competência e honradez de muitos
governantes. Francisco Franco Bahamonde e António de Oliveira Salazar, ao princípio,
mostraram-se pouco interessados pelo exercício do poder; todavia, uma vez
estabelecidos nas cadeiras governamentais, mantiveram-se ali até ao fim da
vida. Numa coisa diferem profundamente as crónicas dos 2 povos peninsulares,
nas últimas décadas: Portugal não sofreu os horrores de uma guerra civil
sangrenta e desgastante em vidas e em valores, que só teve fim após muito
sofrimento. No entanto, cerca de um quarto de século mais tarde, foi levado a
sustentar prolongada guerra colonial, em Moçambique, Angola e Guiné, à custa de
sacrifícios incalculáveis. Concluiremos que, no fundo, também nisto apresentamos
semelhanças!
D
I N A S T I A C A R L I S T A.
D.CARLOS
V (1833-1845).
Era
filho de D.Carlos IV. Não quis renunciar aos seus direitos à coroa, como
Napoleão exigia, e por isso esteve cativo durante alguns anos, primeiro no
castelo de Marrac e depois no de Valençay. Estava em Portugal, como já vimos,
quando seu irmão D.Fernando VII morreu. Saiu de Portugal depois de ter sido assinada a Convenção de
Évora Monte, embarcando no Montijo, no vapor que o levou à Grã-Bretanha. Casou
com D.Maria Francisca de Assis e Bragança, filha de D.João VI e de D.Carlota
Joaquina, portanto, sua sobrinha. Tendo-lhe falecido a primeira esposa, casou
algum tempo depois com sua cunhada D.Maria Teresa de Bragança, que havia vinte
e seis anos era já viúva. Foi como segunda mãe dos seus sobrinhos órfãos,
dedicando-se-lhes inteiramente. Esta senhora havia sustentado uma importante
questão judicial com o que veio a ser seu segundo marido, em defesa dos
direitos de seu filho D.Sebastião Gabriel Carlos. D.Carlos V abdicou em 1845,
transitando todos os seus direitos e pretensões ao trono para seu filho
D.Carlos VI. Morreu dez anos depois.
D.CARLOS
VI (1845-1861).
Era
filho de D.Carlos V e de D.Maria Francisca de Assis e Bragança, sua primeira
esposa. Casou com D.Maria Carolina de Nápoles, irmã da rainha D. Maria
Cristina, de Espanha. Ainda se pensou na pacificação da família espanhola,
unindo em casamento as duas casas reais, mas o projecto nunca pôde ter realização.
Morreu no dia 13 de Janeiro de 1861, vitimado por uma epidemia de febre
tifóide. No dia seguinte falecia também sua mulher, e no dia 1 de Janeiro tinha
morrido já o seu irmão D.Fernando, todos eles atacados pelo mesmo mal.
D.JOÄO
III (1861-1868).
Ao
tratar da dinastia carlista, Galindo Herrero afirma que se discute se este
personagem deve ou não ser incluído nela. Como aquele autor lhe traçou a
biografia, seguimos o seu exemplo. Era filho segundo de D.Carlos V e de D.Maria
Francisca de Assis e Bragança, portanto irmão do seu antecessor, que faleceu
sem descendência. Por morte do pretendente carlista à coroa de Espanha, passou
a ser o legítimo representante da causa. Porém, os partidários do
tradicionalismo espanhol não confiavam nele. A própria D.Maria Teresa de
Bragança, sua mãe adoptiva e sua tia, reconhecia não merecer a confiança dos
seus partidários e, consequentemente, fez publicar então a famosa "Carta
aos Espanhóis", na qual defendia a hipótese de a sucessão passar
directamente para D.Carlos VII. Este documento é considerado um modelo de
clareza política e a exposição perfeita da doutrina tradicionalista. D.João III
levou sempre vida desregrada. O seu estranho temperamento fez com que tivesse
desavenças permanentes com sua esposa, a arquiduquesa D.Maria Beatriz de Este,
de quem veio a separar-se, tendo os filhos sido confiados aos cuidados
maternos. Chegou a pedir um lugar na corte de D.Isabel II, não sendo atendido.
Vendo que todos estavam contra ele, abdicou em 1868. Faleceu 19 anos mais
tarde.
A
infanta de Portugal, D.Maria Teresa de Bragança, de quem acabámos de falar, e a
quem os autores espanhóis dão habitualmente a designação de "Princesa da
Beira", por ter usado este título como herdeira presumptiva do trono
português, sofreu ainda o desgosto de saber que o seu filho D.Sebastião Gabriel
Carlos jurou obediência à rainha D.Isabel II. Estava ligado por laços
matrimoniais à família reinante, visto que sua esposa, D.Maria Amélia, era irmã
da regente D.Maria Cristina. Casou ainda, mas em segundas núpcias, com D.Maria
Cristina Isabel, da família real espanhola. Só do segundo casamento houve descendência,
que se continuou nas famílias dos Duques de Marchena, Duques de Durcal, Duques
de Ansola e outras.
D.CARLOS
VII (1868-1909).
Era
filho de D.João III e de D.Maria Beatriz de Este. Foi educado por sua mãe,
judicialmente separada do marido, por causa da vida desregrada que sempre
levou. Recebeu o documento da abdicação das próprias mãos de seu pai, na cidade
de Paris, em 3 de Outubro de 1868. A rainha D. Isabel começara o seu exílio
três dias antes. Depois que D.Amadeu I ocupou o trono, os carlistas
intensificaram a luta pela conquista do poder, mas os resultados foram, na sua generalidade,
desfavoráveis aos "requetés". Abandonou a Espanha em Fevereiro de
1876 e fixou a sua residência em Paris, de onde foi expulso sob a acusação de
se dedicar a atividades políticas incompatíveis com a sua situação. Acredita-se
que fossem outras as verdadeiras razões, e que a sua presença não fosse
apreciada pelas autoridades francesas, de tendências liberais. Viveu durante
algum tempo em Londres e transferiu-se depois para Veneza, onde a sua mãe pôs
um sumptuoso palácio à sua disposição. O Patriarca de Veneza, o futuro Papa
S.Pio X, distinguia-o com a sua estima, assim como o grande Pontífice Pio IX,
de cujas mãos recebeu o Crisma, e igualmente o seu irmão, o futuro D.Afonso
Carlos I.
D.JAIME
III (1909-1931).
O
número de ordem atribuído a este pretendente ao trono espanhol vem-lhe dos reis
de Aragão e Catalunha, unidos. Era filho de D.Carlos VII. Estudou em Viena de
Áustria, na Academia Militar, mas não usava o respectivo uniforme por ser o
pretendente à coroa de Espanha. A rainha-viúva, D.Maria Cristina, era sobrinha
do imperador. Foi ajudado, pecuniariamente, por D.Maria das Neves de Bragança,
sua tia, filha de D.Miguel I, de quem falaremos mais adiante. O rei D.Afonso
XIII, então no exílio, manteve relações amistosas com este seu primo, à
semelhança do que tinha acontecido com a rainha D.Isabel e D.Carlos VII. Diz-se
que se apaixonou pela princesa D.Matilde da Baviera, mas que o pai dela se opôs
ao casamento, pelo que nunca mais pensou a sério em casar. Morreu solteiro, em
2 de Outubro de 1931.
D.AFONSO
CARLOS I (1931-1936).
Ignoramos
a razão por que se dá a este pretendente carlista a designação indicada; só se
for para evitar confusão com os reis que governaram de facto, D.Afonso XII e
D.Afonso XIII. Era filho de D.João III. Alistou-se como simples soldado nos
exércitos dos Estados Pontifícios, o que deu grande satisfação a sua tia-avó, D.Maria
Teresa de Bragança. Casou com D.Maria das Neves de Bragança, filha de D.Miguel
I de Portugal, em 1871. No ano anterior havia tomado parte nos combates travados
contra as tropas do rei Vítor Manuel, no assalto à Porta Pia, por ocasião da
tomada de Roma. Durante a primeira Grande Guerra, dedicou-se a auxiliar os
feridos e doentes, nos hospitais, amparando as obras de assistência, na medida das
suas possibilidades económicas. Recebeu os direitos e pretensões ao trono
espanhol por morte de seu sobrinho D.Jaime III. Contava então mais de 80 anos
de idade. O seu curto "reinado" corresponde ao período da Segunda República.
As ideias tradicionalistas, em resultado de intensa actividade política, expandiram-se
bastante; os seus partidários, vulgarmente designados "requetés",
exerceram papel preponderante no levantamento militar de Julho de 1936. D.Afonso
Carlos I fixou a sua residência em São João de Luz, na França, próximo da
fronteira com a Espanha. Morreu pouco depois de começar a guerra civil, no dia
28 de Setembro daquele ano, em Viena de Áustria, vítima de um desastre de
viação, tendo sido atropelado por um camião, quando atravessava uma rua. Nesse
mesmo dia saíam do alcácer de Toledo os seus famosos e heroicos defensores. E
no dia a seguir ao do seu funeral, um grupo de generais, em reunião efectuada
em Salamanca, resolveu entregar os destinos da Espanha ao seu colega Francisco
Franco, que passou a partir de então a ser designado por Generalíssimo dos
Exércitos e Caudilho de Espanha.
PRINCIPAIS
CASAMENTOS DE MEMBROS DA FAMÍLIA REAL PORTUGUESA COM OUTROS MEMBROS DAS MONARQUIAS
PENINSULARES. (o cônjuge português está indicado em primeiro lugar).
D.Sancho
I, rei de Portugal + D.Dulce de Aragão, filha de D.Raimundo.
D.Teresa,
filha de D.Dancho I + D.Afonso IX, rei de Leão.
D.Afonso
II, rei de Portugal + D.Urraca de Castela, filha de D.Afonso VIII.
D.Mafalda,
filha de D.Sancho I + D.Henrique I, rei de Castela.
D.Pedro,
filho de D.Sancho I + D.Aurêmbia, Condessa de Urgel.
D.Sancho
II, rei de Portugal + D.Mécia Lopes de Haro, neta de D.Afonso IX.
D.João
Afonso, Conde de Barcelos + D.Teresa Sanchez, filha de D.Sancho III.
D.Fernando,
Infante de Serpa, filho de D.Afonso II + D.Sancha Fernandez de Lara.
D.Afonso
III, rei de Portugal + D.Beatriz de Castela, filha de D.Afonso X.
D.Dinis,
rei de Portugal + D.Isabel de Aragão, a Rainha Santa.
D.Afonso,
filho de D.Afonso III + D.Violante, neta de D.Afonso X.
D.Afonso
IV, rei de Portugal + D.Beatriz de Castela, filha de D.Sancho IV.
D.Constança
de Portugal, filha de D.Dinis + D.Fernando IV, rei de Castela.
D.Pedro
I, rei de Portugal + D.Branca de Castela, neta de D.Sancho IV.
D.Pedro
I, rei de Portugal + D.Constança, bisneta de D.Fernando III.
D.Pedro
I, rei de Portugal + D.Inês de Castro, bisneta de D.Sancho IV.
D.Maria
de Portugal, filha de D.Afonso IV + D.Afonso XI, rei de Castela.
D.Leonor
de Portugal, filha de D.Afonso IV + D.Pedro IV, rei de Castela.
D.Maria
de Portugal, filha
de D.Fernando, irmão de D.Pedro
IV de D.Pedro I Aragão.
D.Beatriz
de Portugal, filha de D.Sancho, irmão de
D.Henrique II de D.Pedro I Aragão.
D.João
de Portugal, filho de D.Pedro I + D.Constança, filha de D.Henrique II.
D.Beatriz,
filha de D.Fernando I + D.João I, rei de Castela.
D.Isabel
de Portugal, filha de D.Afonso de Castela, filho de D.Fernando I + D.Henrique
II.
D.Isabel,
neta de D.João I + D.João II, rei de Castela.
D.Afonso,
filho de D.João I + D.Constança de Castela, neta de D.Henrique II.
D.Duarte,
rei de Portugal + D.Leonor de Aragão, filha de D.Fernando I.
D.Joana
de Portugal, filha de D.Duarte + D.Henrique IV, rei de Castela.
D.Afonso,
filho de D.João II + D.Isabel de Aragão e Castela, filha dos Reis Católicos.
D.Manuel
I, rei de Portugal + D.Isabel de Aragão e Castela, filha dos Reis Católicos.
D.Manuel
I, rei de Portugal + D.Maria de Aragão e Castela, filha dos Reis Católicos.
D.Manuel
I, rei de Portugal + D.Leonor de Castela, filha de D.Joana I.
D.João
III, rei de Portugal + D.Catarina de Castela, filha de D.Joana I.
D.Isabel
de Portugal, filha de D.Manuel I + D.Carlos I, o Imperador Carlos V.
D.Maria,
filha de D.João III + D.Filipe II, rei de Espanha e Portugal.
D.João,
filho de D.João III, pai de D.Joana de Castela, filha de D.Sebastião.
D.Carlos
I, mãe de D.Sebastião.
D.Teodósio,
pai de D.João IV + D.Ana Velasco, filha do Duque de Frias e Conde de Haro.
D.João
IV, rei de Portugal + D.Luísa de Gusmão, filha do Duque de Medina Sidónia.
D.José
I, rei de Portugal + D.Mariana Vitória, filha de D.Filipe V.
D.Maria
Bárbara de Bragança, filha de D.João V + D.Fernando IV, rei de Espanha.
D.João
VI, rei de Portugal + D.Carlota Joaquina, filha de D.Carlos IV.
D.Mariana
Vitória Josefa, filha de D.Gabriel António Francisco, filho D.Maria
I de D.Carlos III.
D.Maria
Teresa Francisca, filha de D.Pedro Carlos António, filho dos D.João
VI antecedentes D.Maria Isabel de Bragança, filha de D.João VI + D.Fernando
VII, rei de Espanha.
D.Maria
Francisca de Bragança, filha D.Carlos V, fundador da Dinastia de D.João VI Carlista.
D.Maria
Teresa Francisca, já referida + D.Carlos V, também já referido D.Pedro II,
Imperador do Brasil, D.Teresa Cristina, neta de
D.Carlos, neto de D.João VI, IV.
D.Bartolomeu
da Costa e Meneses, D.Maria Isabel Cristina, bisneta de Visconde de Trancoso. D.Carlos
IV.
D.Sebastião
Gabriel Carlos, neto de D.Maria Cristina Isabel, bisneta D.João VI, (neta?)
de D.Carlos IV.
D.Maria
das Neves de Bragança, filha D.Afonso Carlos I, da Dinastia de D.Miguel I Carlista.
D.Maria
Antónia de Bragança, filha D.Roberto de Bourbon, filho de D.Miguel
I, D.Carlos de Parma.
Fonte:
O final do texto contém os casamentos e linhagens que encontramos algumas
lacunas e dificuldades em função da ortografia faltante. O autor é português e
não temos nenhuma referência bibliográfica, pois a doação deste texto, veio por
e-mail sem reconhecimento do remetente. Como o conteúdo é muito significativo.
Arrumamos o que foi possível e publicamos em nosso blog para conhecimento e
pesquisa. Caso tenha algo a acrescentar pode ser enviado um email para o nosso
endereço que consta na página inicial.
Atenciosamente, Prof. Vanessa.
História da Península Ibérica.
História da Espanha.
História de Portugal.
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