Uma descoberta feita em uma caverna da Grécia pode mudar tudo o que se sabia sobre a migração humana para a Europa. Lá foi encontrado um crânio de 210 mil anos, a mais antiga evidência da presença do homo sapiens fora da África. Isso indica que os homens modernos deixaram aquele continente antes do que se imaginava.
No mesmo local, foi encontrado um crânio neandertal cerca de 40 mil anos mais jovem. De acordo com os pesquisadores, a descoberta sugere que essa migração específica do homo sapiens não foi bem sucedida. Isso porque a população a qual esse indivíduo pertencia foi substituída por neandertais, que ocuparam a mesma caverna. Além disso, não há evidências genéticas de que os humanos pioneiros que viveram naquele lugar deixaram descendentes.
Anteriormente, evidências de migrações humanas modernas fora da África também foram descobertas em Israel, onde foi encontrada uma mandíbula que tem entre 194 e 177 mil anos de idade. "Acreditamos que esses primeiros migrantes não contribuíram realmente para os seres humanos modernos que vivem fora da África hoje, mas morreram e provavelmente foram substituídos pelos neandertais", disse Katerina Harvati, paleoantrópologa da Universidade de Tübingen, que liderou o projeto.
Os crânios foram encontrados na caverna grega de Apidima nos anos 1970, mas só recentemente foram analisados com profundidade. A classificação de um deles como sendo de um homo sapiens foi recebida com ceticismo por alguns especialistas. O paleoantropologista espanhol Juan Luis Arsuag disse não estar convencido de que o crânio pertencia a um humano moderno. "O fóssil é muito fragmentado e incompleto para uma afirmação tão forte", afirmou. "Na ciência, alegações extraordinárias exigem provas extraordinárias. Uma caixa craniana parcial, sem a base do crânio e a totalidade do rosto, não é uma evidência extraordinária, na minha opinião", completou.
Fontes: Live Science e The Guardian
Imagem: Katerina Harvati/Eberhard Karls/University of Tübingen/Reprodução
nossa fonte: https://br.historyplay.tv/noticias/evidencia-mais-antiga-de-um-humano-fora-da-africa-e-descoberta-na-grecia
acesso em 11/07/2019.
Abaixo a reportagem por outra fonte e em outra data.
Dois crânios ameaçam mudar a história da nossa espécie.
Um polêmico estudo sugere que os
‘sapiens’ migraram para a Europa muito antes do que se acreditava e foram
substituídos por neandertais.
Um par de crânios encontrado há
décadas em uma caverna no sul da Grécia fez
surgir agora uma tese que obrigaria a jogar no lixo os livros didáticos sobre a evolução humana,
embora muitos especialistas independentes alertem que ainda é cedo para fazer
isso.
Os dois crânios
foram encontrados nos anos 70. Estavam a poucos centímetros um do outro,
incrustados na rocha da gruta de Apidima, em um penhasco salpicado pelas ondas
do Mediterrâneo. Um dos crânios conservava os ossos do rosto e o outro, apenas
a parte de trás da cabeça. Inicialmente, foram atribuídos a neandertais, a
espécie humana prima da nossa que ocupou a Europa durante centenas de milhares
de anos antes de se extinguir misteriosamente há 40.000 anos, exatamente quando
os sapiens chegaram ao
continente.
Agora, uma equipe
de paleoantropólogos voltou a datar os dois crânios e os reconstruiu em três
dimensões para analisar em detalhes sua fisionomia. Os resultados, publicados
nesta quarta-feira na Nature, apontam que o
crânio mais antigo e incompleto tem 210.000 anos e é de um Homo
sapiens, o que o transformaria no membro da nossa espécie mais antigo já
encontrado na Europa.
Essa tese é um
tremendo golpe na versão clássica − que ainda é a mais aceita − sobre a origem
da nossa espécie. Segundo o relato clássico, os sapiens surgiram no
leste da África. Dois dos fósseis mais antigos da nossa espécie datam de
196.000 e 160.000 anos atrás e foram encontrados na Etiópia. A análise de DNA
de populações atuais fixa a origem da espécie em cerca de 200.000 anos atrás.
O
crânio 1 de Apidima com parte de sedimento aderido, supostamente de um ‘Homo
sapiens’ que viveu há 210.000 anos, o mais antigo da Europa. UNIVERSIDAD DE TUBINGA
Em estudos
anteriores, a análise de DNA também mostrou que 100.000 anos depois os sapiens saíram pela
primeira vez de seu berço africano para explorar a Eurásia. Nessa aventura,
encontraram-se com os neandertais e tiveram filhos com eles, mas aquela onda de humanos
sábios não se estabeleceu completamente. Nenhuma das pessoas atuais descende deles, e sim de uma
incursão posterior, há 70.000 anos.
Esta foi a que triunfou e povoou todo o
planeta, enquanto os neandertais desapareceram para sempre.
Há dois anos, uma
equipe de paleoantropólogos desfechou um duro golpe nesse relato clássico ao
apresentar os mais antigos fósseis conhecidos do Homo
sapiens, de 315.000 anos atrás. Foram encontrados no Marrocos, muito longe do
suposto berço da nossa espécie. Aquela descoberta revolucionária abriu caminho
para o que propõe agora o novo estudo dos restos gregos, cujos autores oferecem
um assombroso relato de um capítulo até agora desconhecido de nossa história
como espécie.
Nesse relato há
outra peça-chave: o segundo crânio encontrado em Apidima, aquele que tem rosto.
Segundo a nova análise, ele data de 170.000 anos atrás e pertence a um
neandertal. Isso significa que houve um grupo de sapiens que saiu da
África muito antes do que sabíamos, chegou até o sul da Europa e se instalou
por lá, embora tenha finalmente perdido a batalha, porque foi substituído por
neandertais.
"Que dois crânios achados a poucos
centímetros um do outro sejam de duas espécies diferentes separadas por mais de
40.000 anos é coisa de romance de ficção", espeta Arsuaga
As provas que sustentam essa
versão são uma datação dos isótopos de urânio e tório acumulados nos fósseis e
uma análise morfológica dos dois crânios. O mais antigo e incompleto, o número
1, foi comparado a dezenas de restos de Homo sapiens e
neandertais de diferentes épocas. Segundo os autores, apresenta características
típicas da nossa espécie, como a ausência do coque occipital, uma protuberância
que os neandertais tinham na nuca.
“Se nossas análises estiverem
corretas, os Homo sapiens entraram na Europa mais de 150.000 anos antes do que
pensávamos, o que levanta muitas possibilidades sobre a origem da nossa espécie
e sobre o que acontecem com eles”, assinala Chris Stringer, pesquisador do
Museu de História Natural de Londres e coautor do estudo. Ele reconhece que
quando enviaram seu estudo para a Nature, uma
das revistas científicas de maior prestígio, “os revisores se mostraram muito
céticos de que um fóssil de humano moderno tivesse sido encontrado ao lado de
um fóssil de neandertal”. Os responsáveis pela publicação os obrigaram a fazer
mais análises comparativas e datações de urânio, que finalmente os convenceram.
Esse estudo, juntamente com outras
evidências anteriores, “demonstra que em mais de uma ocasião os humanos modernos se aventuraram para o norte e o
oeste do planeta, da África até o Oriente Médio e a Europa”, escreve o
paleoantropólogo Eric Delson, do Museu Nacional de História Natural dos EUA, em
uma análise sobre o estudo da equipe de Stringer publicado pela Nature. O trabalho revela as “migrações faltadas” do Homo sapiens, afirma Delson.
“Faltam evidências”
No entanto, nenhum dos
especialistas consultados pelo EL PAÍS aceita as conclusões do estudo.
“Trata-se de uma afirmação extraordinária, mas faltam evidências para
sustentá-la”, opina Juan Luis Arsuaga, codiretor da Fundação Atapuerca. Em 2017,
esse paleoantropólogo participou da datação de isótopos de urânio do crânio 2,
o mais completo, que mostrou uma antiguidade de pelo menos 160.000 anos. O
pesquisador diz que a morfologia do crânio 1 é totalmente compatível, na
verdade, com a de um neandertal primitivo que ainda não tinha desenvolvido suas
características típicas na parte posterior do crânio. “Que dois crânios
encontrados a poucos centímetros um do outro sejam de duas espécies diferentes
separadas por mais de 40.000 anos é coisa de romance de ficção. Não acredito
nos novos dados e vamos contestar esse estudo”, alfineta o paleoantropólogo.
Warren Sharp, do Centro de
Geocronologia de Berkeley (EUA), assinala que a datação do crânio 1 “não se
sustenta”. “As diferentes datações individuais obtidas para esse fóssil
divergem de 335.000 anos atrás a 142.000 anos atrás, o que sugere que o fóssil
perdeu parte do urânio que tinha originalmente. Isto implica que a idade
atribuída a ele é muito antiga”, explica.
Amélie Vialet, pesquisadora do
Museu Nacional de História Natural da França, opina que “a explicação mais
plausível é que os dois crânios tenham ficado presos aos sedimentos da caverna
na mesma época e que ambos sejam neandertais”.
Nossa fonte da reportagem acima: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/07/10/ciencia
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