Caroline Anning Da BBC News.
Machu Picchu, a famosa cidade inca nos Andes peruanos,
celebrará em julho o centenário de sua "descoberta" pelo mundo
exterior, em um evento imponente, mas há indicativos de que as origens do local
tenham sido menos glamourosas.
Segundo pesquisa publicada no periódico Antiquity, especializado em
arqueologia, a civilização inca pode ter crescido e evoluído graças aos dejetos
das lhamas. Foi a transição da caça e coleta à agricultura, 2,7 mil anos atrás,
que permitiu aos incas se acomodar e prosperar na área de Cuzco onde fica Machu
Picchu, diz o autor do estudo, Alex Chepstow-Lusty.
O pesquisador do Instituto Francês de Estudos dos Andes em
Lima afirma que o desenvolvimento da agricultura e o plantio de milho é um
fator crucial para o crescimento de civilizações. "Cereal faz as
civilizações", diz. Chepstow-Lusty passou anos analisando os depósitos
orgânicos na lama de um pequeno lago chamado Marcaccocha, que fica localizada
entre uma selva e Machu Picchu.
Sua equipe encontrou uma correlação entre as primeiras aparições
de colheitas de milho entre 7.000 a.C., - o que mostra a primeira vez que o
cereal teria sido plantado naquela altitude - e um aumento vertiginoso no
número de parasitas que se alimentam de excrementos animais. Os pesquisadores
concluíram que a transição ampla à agricultura só foi possível com um
ingrediente extra: fertilizantes orgânicos usados em grande escala. Em outras
palavras, muitos dejetos de lhamas.
Legado: As lhamas eram
e ainda são comumente usadas nos Andes peruanos para carregar produtos e prover
carne e lã. O lago Marcaccocha se localiza próximo a uma antiga rota de
comércio, e lhamas que transportavam bens entre a selva e as montanhas
costumavam parar ali para beber água e "fazer suas necessidades".
"Isso proveu fertilizantes, facilmente coletados -
como ocorre hoje - pela população local para as plantações ao redor",
afirma Chepstow-Lusty. À medida que os incas adotaram o milho, - rico em
calorias - em sua alimentação, sua sociedade se desenvolveu na região de Cuzco.
Cerca de 1,8 mil anos desde o início da transição para a
agricultura, uma onda prolongada de clima cálido permitiu que os incas
realmente prosperassem e construíssem grandes assentamentos de pedra, como
Machu Picchu e Ollaytaytambo. Faz muito tempo que a civilização acabou,
destruída por conquistadores espanhóis nos anos 1500. Mas seus descendentes, os
quéchuas, ainda usam os dejetos de lhama como fertilizantes e como combustível
para aquecimento.
"O vale está repleto de indígenas que seguem esse
estilo de vida de 2 mil anos", relata Chepstow-Lusty. Quando os convidados
chegarem a Machu Picchu para celebrar os 100 anos, desde que o explorador Hiram
Bingham mostrou ao mundo a existência do local, talvez eles possam agradecer à
humilde lhama ao vislumbrar as construções. 23 de maio de 2011.
Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/bbc/shtml.
Nenhum comentário:
Postar um comentário