domingo, 18 de janeiro de 1998

Pirata entra para história oficial de Ilhabela.

 



São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 1998.


Passagem de corsário inglês pela ilha em 1586 deve passar a integrar registros históricos; busca a tesouro continua

Pirata entra para história oficial de Ilhabela

SAMY CHARANEK
das Regionais

O ano de 1586 vai entrar como um novo capítulo na história oficial de Ilhabela, no litoral norte do Estado de São Paulo.
Na ocasião, um pirata inglês, apelidado de "Corsário Elegante" pela aristocracia européia, desembarcava pela primeira vez na ilha pertencente à Coroa Portuguesa.
Thomas Cavendish, ex-estudante de Cambridge (Inglaterra), parou em Ilhabela para pegar provisões e, semanas depois, saqueou e incendiou as cidades de Paita e Puna, no Peru.
O pirata inglês voltou a usar Ilhabela como base cinco anos depois, antes de atacar a Vila de Santos.
No Natal de 1591, Cavendish atacou o local e dominou a vila até 3 de fevereiro do ano seguinte.
A passagem de Cavendish pela ilha foi tão fulminante quanto o seu ataque a Santos.
Cavendish, que morreu em 1592, aos 37 anos, quando tentava retornar a Inglaterra, abandonou em Ilhabela 20 homens doentes.
Ao que se sabe, pelo menos um sobreviveu e foi capturado pelos portugueses.
O sobrevivente Anthony Knivet descreveu o episódio vivido com Cavendish e foi prisioneiro de Martim de Sá.
O diário de Knivet termina bruscamente em agosto de 1603 e é um dos principais documentos sobre a presença do corsários em Ilhabela.
Novo curso
Às vésperas dos 500 anos do descobrimento do Brasil, a prefeitura pretende incluir influências de outros povos, que não os portugueses, em sua história oficial.
Na próxima semana, a prefeitura vai assinar um convênio com a Fundamar (Fundação Museu de História, Pesquisa e Arqueologia do Mar) para ser iniciada uma busca por sítios arqueológicos no município.
O objetivo, segundo a prefeita Nilce Signorini (PDT), 54, é montar um processo com todos os documentos e materiais históricos catalogados para pedir à Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) o tombamento de Ilhabela como patrimônio da humanidade.
Segundo a prefeita, os documentos oficiais sobre Ilhabela existentes na cidade são datados a partir de 1878. "Muita coisa foi levada e a gente pretende recuperar", disse.

Tesouro escondido
As proezas do pirata Thomas Cavendish ainda influenciam a vida da cidade. O pirata, terceiro homem a circunavegar o mundo, teria deixado um tesouro no local.
"Existe um grande enigma sobre a existência do tesouro, pois ninguém sabe dizer o que foi escondido na ilha", disse o advogado Osmar Soalheiro, 68.
O advogado busca há 36 anos um suposto tesouro no Saco do Sombrio, na costa leste de Ilhabela.
O Serviço de Documentação Geral da Marinha, no primeiro volume da "História Naval Brasileira", reconhece as passagens de Cavendish por Ilhabela, mas não faz menção ao tesouro.
Segundo o diretor do Patrimônio Histórico e Cultural da Marinha, Max Justo Guedes, 70, existem poucos documentos relativos ao período no Brasil.
"Como os ingleses não tinham o interesse de se fixar no litoral sul do país, muitos documentos estão no exterior", disse.

fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff180119.htm

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