CHICA DA SILVA
– DE ESCRAVA A RAINHA
"AINDA QUE SEJA PASSAGEIRO COMO UM COMETA, FALANDO
COM OS ASTROS, RASGANDO O CÉU, ILUMINANDO A NOITE, ROMPENDO OS LIMITES DO
ESPAÇO, DESAFIANDO O TEMPO. A NOITE SEMPRE SERÁ UMA FONTE DE INSPIRAÇÃO
INESGOTÁVEL". (Vanessa Candia)
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
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O ANTIGO TIJUCO QUE HOJE É DIAMANTINA .........................................................
BREVE CRONOLOGIA
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CHICA DA SILVA
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MOEDAS DO BRASIL COLÔNIA
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XICA
DA SILVA, O FILME .................... ............................................................................................
CENAS DO FILME XICA DA SILVA
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FICHA TÉCNICA DO FILME XICA
DA SILVA
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CONCLUSÃO .............................................................................................................................
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS........................... .....................................................................................
INTRODUÇÃO
Este trabalho propõe
um estudo sobre a história da vida de Francisca da Silva, mais conhecida como
Chica da Silva, e as riquezas de Minas Gerais no século XVIII. Dando enfoque em
algumas características deste período colonial. Através das informações obtidas
em fontes literárias e cinematográficas, buscando esclarecimentos para
compreensão maior e entendimento sobre o assunto.
O presente estudo foi
pesquisado através da separação de fontes literárias como clássicos
antiguissímos e livros mais atualizados assim como enciclopédias e um filme
para análise. Estes primeiros passos começaram com a coleta de livros e a
separação do material para o tema escolhido. O surgimento do tema fluiu através
de uma curiosidade e uma grande admiração pelo tema.
Consultamos diversas
áreas, como a Biblioteca Pública, a Biblioteca da Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, a Biblioteca da UFRGS, e outras fontes retiramos de nossas casas
e as de amigos. A leitura facilitou nosso compreendimento para a pesquisa, pois
deu um enfoque acentuado e proporcionou-nos conhecimento sobre a época colonial
do nosso país.
O
ANTIGO TIJUCO QUE HOJE É DIAMANTINA.
Um dos momentos
econômicos que o Brasil viveu no período colonial foi o ciclo da mineração. Os
anos de ouro começam com a descoberta das jazidas de ouro e de pedras preciosas
no fim do século XVII. A partir de 1723, nas lavras de cascalho aurífero do
Tijuco, paragem que dependia da guarda - moria da vila do príncipe começaram a
ser notadas, de permeio com o ouro, certas pedrinhas reluzentes e duríssimas.
Até então, os mineradores, que não lhes conheciam outra utilidades,
guardavam-nas como curiosidades ou as empregava como tentos nos jogos de gamão.
Eram diamantes, aqueles pequenos seixos desconhecidos, exatamente por que só se
cuidava então da extração do ouro e não era ainda conhecido o diamante, não se
pode precisar onde teria sido ele descoberto, ou achado pela primeira vez. O
fato é que, já em 1729 os diamantes do Tijuco estão descobertos e explorados. O
governador, Dom Lourenço de Almeida, anula as cartas de datas em terrenos
diamantinos e toma uma série de medidas em favor dos direitos da Coroa, entre
os quais a captação de 5$000 por escravo empregado na mineração.
Porém, logo em 1731 o
rei suspende o regime de captação e estabelece o arrendamento das lavras a
prazo determinado, proibindo sob pena de degredo para a Angola e confiscação de
todos os bens, o trabalho nessas lavras aos que não oferecessem lanços. Como se
pode avaliar o sistema, não haveria de resultar eficaz, por que recrudesceram as
colheitas ilegais e o contrabando das pedras. Novas medidas drásticas são
tomadas pela Administração colonial, havendo uma série de despejos e confiscos
nos terrenos diamantinos. Com as costumeiras ameaças de degredo para Angola, e
se botando fora aos que se acusa especialmente de serem os instrumentos mais
eficazes dos descaminhos dos diamantes, e contra os quais se tomam medidas
descriminativas de porte de armas. A coroa estrutura toda uma administração
burocrática para o controle do negócio dos diamantes. Cria, 1734, a intendência
dos diamantes, no arraial do Tijuco, que tem a seu cargo a gerência das lavras
diamantíferas, com alçada no cível e no crime.
Página
com fotos da mineração.
Depois do ouro veio o diamante. Os rios que cruzam
Minas, continuam sendo explorados.
Como
os limites das lavras não estão devidamente configurados, "para obviar a
incerteza e a confusão dos direitos dos concessionários de lavras auríferas e
determinar a jurisdição das autoridades que se criavam e executar-se o novo
regimento", chega o especialista Martinho de Mendonça de Pina e Proença,
para em nome do rei, proceder a demarcação das terras diamantinas: colocam-se
padrões nas raias delimitadas e eis o distrito Diamantina, verdadeira
extravagância jurídica e administrativa: única na história, assim comentará a
estranha instituição o viajante Volmartius, é essa idéia de isolar uma comarca,
na qual todas as condições civis estavam sujeitas a exploração de um bem da
coroa. Já então governava as Minas Gerais, o conde das galveias (Dom André de
Melo e Castro). No seu consulado ainda não se adota definitivamente o regime de
captação e se passa ao do arrendamento por braças. Mas a solução que a corte de
Lisboa acaba por adotar é a da arrematação dos contratos de contratação que vai
vigorar de 1736 a 1771, a famosa era dos contratadores, os Fernandes de
Oliveira e os Caldeiras Brantes, que somente findará com a administração direta
REAL EXTRAÇÃO, a implacável descrição do livro de capa verde.
De qualquer forma,
constrangidos entre os arrochos fiscais do ouro e dos diamantes, os
mineradores, que, até 1730, procuraram somente o fulvo metal, voltam-se em
grande parte, para a atividade mais nova e mais rendosa dos diamantes.
"Grande n°. de habitantes da vila do príncipe e povoações circum vizinhas
conta Joaquim Felício dos Santos atraídos pela nova mineração, vieram
estabelecer no Tijuco, com suas famílias, e o arraial começou a estenderse
subindo pela vertente em que e.stava situado até a raiz das Gupiaras: assim se
chama a parte mais elevada do flanco oriental do Morro de Santo Antônio".
O arraial do Santo Antônio do Tijuco começa a viver o seu grande destino, logo
deslocando CERRO DO FRIO," o centro demográfico, político e econômico da
comarca, principalmente depois que se vai acrescentam da chegada de forasteiros
de toda parte, como portugueses, ávidos das riquezas fantásticas que a fama
exagerada das gemas tijuquenses lhes soprara aos ouvidos, a lei mar. Na
verdade, por que as terras ainda estavam virgens dos trabalhos da extração, as
primeiras safras resultaram auspiciosamente fecundas e as frotas levaram
rapidamente para Lisboa, partidos de pedras do mais alto kilate.
E foi assim, que, em pouco mais de trinta anos a
corte portuguesa foi abalada duas vezes por essas notícias prodigiosas,
verdadeiras manchetes da fortuna que foram os ouros e diamantes. Manifestados
nas Minas Gerais. Eram dois pactos formidáveis, que teriam, com certeza, o
condão de abalar os grilhões com que acorrentara o reino, o tratado de Methuem:
talvez as novas riquezas descobertas poderiam minorar a triste situação
econômica a que fora reduzido. O governo de D. João V, volta, então, suas
atenções para a colônia esquecida, mas numa intervenção míope, inábel e
imediatista: "então, e só então - completa o senhor Sérgio Buarque de
Olanda, estudando a política colonialista portuguesa do tempo. É que Portugal
delibera intervir mais energicamente nos negócios de sua possessão ultramarina,
mas para usar de uma energia puramente repressiva, policial e menos dirigida a
edificar alguma coisa de permanente do que a absorver tudo quanto lhe fosse de
imediato proveito". As Minas Gerais torcem o verdadeiro
"ELDORADO" da coroa portuguesa. Por sua vez, as vilas tem os seus
intendentes que são os mesmos ouvi dores quando dispõem de casas de fundição,
cujos servidores são de provimento do governador da capitania: ficais,
tesoureiros, escrivães da receita e despesa, da intendência e conferência, da
entrada do ouro nas forjas, ensaiadores e seus ajudantes abridores nos centros
de mineração. O pessoal de obras destas casas de fundição é sempre um punhado
de negros, as voltas com seus cadinhos, seus fólis com lenha e carvão, com
porções de solimão e água forte, para os ensaios do ouro, a base da prata dos
pesos duros.
Portanto
reside na ação mais decidida dos governadores e em sua manópla militar
correspondente o melhor rendimento da ordem pública, e, pois, da coleta dos
"direitos do rei". Principalmente destes, que são as contribuições de
quintagem ou de captação, e mais, aqui é que acresce o ônus fiscal sobre as
populações os dízimos, os direitos de entrada, os de passagem dos rios, os
donativos e direitos de ofícios, o subsídios voluntários, os subsídios
literários, os da extração diamantina, para não referir os impostos indiretos
cobrados nos. "registros" aduaneiros. Diante deste quadro
impressionante de rendas para a Coroa, a corte de Lisboa em geral, e o rei D
João V em particular, tomam-se de crescente exaltação ufanística, que acaba por
traduzir-se na mais desfigurada versão das possibilidades econômicas da
capitania dourada, ainda ontem o desprezado sertão do Cataguá.
É
verdade que tem havido muito exagero no cômputo em bruto da produção aurífera e
diamantina. Infelizmente os números alusivos aos nossos rendimentos coloniais
não estão facilmente a mão. As contas do tesouro do reino transitavam então
debaixo do mais rigoroso sigilo era vedado dá-las a público, delas fazer
comentários ou tirar interpretações, a não ser genericamente. Só nos livros e
correspondências oficiais é que podemos achá-las. As instruções e memórias
escritas sobre o assunto, no tempo, são muito raras. Como, por exemplo, a
instrução para o governo da capitania de Minas Gerais, escrita em 1780, pelo
desembargador José João Teixeira Coelho, onde tem sua base" as cifras mais
geralmente mais utilizadas pelos historiadores". De uma forma ou de outra,
o que vale prevalecer é o juízo de que os lucros " fabulosos do ciclo do
ouro e dos diamantes, serviram muito mais a economia particular do que as
financias régias. A produção aurífera foi, efetivamente, brutal. Calógeras
avalia a, num século e pouco de extração mineradora, em 51.500 arrobas ou
772.500 kilos, até 1820, assim distribuída, segundo os sistemas de arrecadação
que vigoraram. Por sua vez, Roberto Simonsen a base de dados colhidos por João
Lúcio Azevedo, calcula em perto de 10.000.000 a produção bruta de diamantes, em
toda a era colonial.
A
produção do ouro e das gemas preciosas fomenta o escambo comercial entre as
localidades sertanejas, fazendo surgir os transportes regulares das tropas. O
fastígio desta vida requintada principia nos tempos dos contratadores, dentre
os quais se destaca o famoso paracatuano Filisberto Caldeira Brante, ele
próprio um dos corifeus dessa mentalidade casquilha e extravagante. Assumindo o
contrato dos diamantes nos anos de 1749 e 1753, ele vive como um nabado
oriental: sua baixela era de ouro e de prata e seus bens mesmo avaliados a um
preço mínimo (pois a casa do contrato, sua residência foi estimada em apenas
700$000) montavam a dois mil cruzados da época. Importância que para aquele
tempo, em pleno sertão brasileiro era verdadeiramente extraordinária. Após sua
destituição acharam-se nos cofres da intendências 33.777 kilates de diamantes.
Outro
creso mineiro é o contratador Fernandes de Oliveira Filho, o qual, mais que
pela fabulosa riqueza passa a história como o amante complacente da mulata
tijuquense Francisca da Silva de Oliveira, a notória Chica da Silva, a cujos
caprichos satisfazia imperturbavelmente, por mais absurdos que fossem,
inclusive o do seu teatro particular, dotado de toda a maquinaria necessária
para a representação das peças do tempo, tais como "Os Encantos de
Medéia", "O Anfitrião", "Porfiar Amando",
"Chiquinha, por amor de Deus" e outras. Aliás, não é somente na corte
do Tijuco que se levam as cenas peças de teatro.
Para suprir o mercado
das minas, novas atividades iriam se desenvolvendo. Com a mineração surge um
mercado interno para o consumo de gêneros alimentícios e artigos manufaturados,
chegavam as minas através de tropeiros, responsáveis pela fundação de
importantes povoados como Sorocaba em São Paulo. O chamado ciclo da mineração
impulsionaria a urbanização na região das minas, ampliando as camadas sociais
intermediárias: advogados, médicos, professores, comerciantes e etc. A essa
diversidade de ocupações e ofícios somava-se o caráter novo de sua composição
social As características específicas da. atividade mineradora favoreceram
inicialmente o enriquecimento e a ascensão de indivíduos de todas as categorias
e procedências. Logo, pequenos comerciantes ou simples artesãos assumiam postos
oficiais de prestígio; mineradores humildes, que nem sequer possuíam escravos,
eram favorecidos pela sorte. Nos primeiros tempos da mineração, qualquer um
podia descobrir uma jazida: os instrumentos de trabalho eram rudimentares e a
distribuição das datas(lotes para mineração) era feita por sorteio. A mineração
clandestina era até maior do que a legal e o contrabando constituía a atividade
preferencial de muitos. Com a corrida do ouro surgiram dezenas de novas
cidades, especialmente no centro - sul.
O
aparato administrativo foi ampliado, mas sua autonomia era bastante limitada
pela ação direta da Coroa e pela subordinação aos órgãos sediados em Portugal,
com isso as elites ficavam mais insatisfeitas. Depois da descoberta do ouro a
fiscalização das atividades era mais puxada e severa. A atividade dos
proprietários de lavras era limitada por uma grande quantidade de regulamentos
e leis pela ação direta das Intendêcias das Minas. ¹
Precisavam de organização administrativa e comunitária
justamente em nome do Estado, pois eram muitos os povoados próximos. A extração
de minério chamou tanto a atenção que começaram a aparecer povoados com muita
rapidez. O contrabando e a sonegação de impostos foi possibilitada enquanto a
Coroa assegurava seus privilégios no Brasil através de uma complexa rede de
restrições. "Muitos acabaram beneficiando-se, mas conflitos e revoltas
destacavam-se também. A partir da segunda metade do século XVIII o rendimento
das minas começou a cair e com isso a arrecadação do quinto também caiu. O
quinto era o imposto instituído pela metrópole portuguesa, correspondente a
quinta parte de todo o ouro, prata e perdas preciosas que fossem extraídas do
solo brasileiro no período colonial. A fiscalização tomou-se, mais severa e
começou a adotar outras medidas como a proibição das manufaturas em toda a colônia, tudo isso para compensar as
perdas com o ouro.
A
crise do antigo sistema começa em fins do século XVIII, este problema afetou
todas as áreas tanto social, como política, econômica, das idéias e etc.
Portugal afetou-se economicamente com a queda no ouro e o declínio do açúcar e
os laços se apertaram ainda mais. A metrópole, conhecia a potencialidade da
área aurífera e tratou de impor seu domínio sobre a atividade mineira.
Imediatamente procurou exercer restrições ao fluxo populacional as minas.
A
imigração descontrolada e o envio maciço de escravos às Gerais, além do
eventual enfraquecimento econômico e militar de outras regiões, poderia
constituir sério obstáculo ao controle régio sobre a riqueza que se
materializava após séculos de espera empunhasse amortecer a corrida as minas,
enquanto se estabelecia uma nova estrutura administrativa na colônia, mais em
positiva e capaz de executar com eficácia seu principal papel, ou seja,
arrecadar os tributos devidos a coroa, em particular os famigerados quintos
sobre o ouro, "a sua sagrada dos metais". A estrutura de dominação
colonial vigente nos dois primeiros séculos de colonização dava lugar a outra,
nos quadros da qual a centralização do poder do Estado e os vínculos coloniais
ampliavam-se.
Sobre
a colônia descem as sufocadoras garras da administração colonial, cortadas nos
conselhos do reino, sem respeito pelas peculiaridades do trópico. O Estado
sobre põe-se, estranho, alheio, distante da sociedade, amputando todos os
membros que resistissem ao seu domínio. Nenhum contato nenhuma onda
vitalizadora flui entre governador e as populações: a ordem se traduz na
obediência passiva ou no silêncio. Após os primeiros anos da lide extrativa e
as apontadas crises de fome, o abastecimento de gêneros gradativamente
normatizou-se, com mercadorias provenientes das mais variadas partes da colônia
e de Portugal. Segundo Antonil:
"tanto que se viu a
abundância do ouro que se tirava e a largueza com que se pagava o que de lá ia,
logo se fizeram estalagens e logo começaram as mercadorias a mandar às minas o
melhor que chegava nos navios do reino e de outras partes, assim de mantimentos
como de regalo e de pomposo para se vestirem, além de mil bugiarias da França,
que lá também foram dar". ²
No
século XVIII, Minas representou o centro
catalisador da colônia; ali consolidara-se uma sociedade com elevado poder de
compra, tanto peja densidade populacional como pela relativa pulverização da
riqueza geral. Daí, diz que Minas dá a primeira nota de integração nacional.
BREVE CRONOLOGIA
1720
- É criada a capitania das Minas Gerais, separada de São Paulo. Portugal eleva
a tributação do ouro para um quinto (20%) do metal extraído e cria as chamadas
Casas de Fundição, proibindo a circulação do ouro em pó ou em pepitas. Explode
a Rebelião de Vila Rica. Felipe dos Santos domina Vila Rica por cerca de 20,
vinte dias. É enforcado e esquartejado.
1750 - A Coroa institui como tributo uma cota fixa anual
de 100 arrobas de ouro.
1762 - É decretada a primeira derrama, pagamento forçado
dos impostos atrasados.
1763 - A capital da colônia é transferida para o Rio de
Janeiro. ³
CHICA DA SILVA
A história de Chica da
Silva se passa no século XVIII, quando, exauridas as possibilidades econômicas
dos ciclos do pau-brasil e da cana-de-açúcar, iniciava-se para a colônia a sua
época mais próspera, mais rica e mais sangrenta: o ciclo da mineração. Até
então, foi no Nordeste, especialmente em Pernambuco e na Bahia, que se haviam
concentrado os investimentos e esforços da Coroa portuguesa. Em decorrência de
seus compromissos de potência colonial e marítima e das circunstâncias da
política européia, a metrópole precisou de maiores recursos e, assim, voltou
seu interesse para a região das minas. Nesse momento, havia apenas relatos
lendários de uma espécie de Eldorado, já conhecido pelos índios da região: um
grande e contínuo veio de ouro e riquezas, que se prolongavam subterraneamente,
cortando a região de Minas Gerais de ponta a ponta, e prolongando-se além dela.
O sistemático trabalho escravo revelou a presença do ouro. Mas isso foi apenas
a primeira: fase do brilhante ciclo econômico" porque logo depois
descobriu-se também a existência de diamantes justamente na região de
Diamantina. A descoberta do ouro e a revelação dos diamantes trouxeram mais
trabalho, mais escravidão e profuso sangue à população, e à metrópole uma
riqueza que logo lhe escapou das mãos e, através de complicadas manobras
políticas, beneficiou a Inglaterra.
Chica da Silva surgiu
no período mais turbulento do ciclo da mineração, no momento em que a Coroa
cobrava impostos e taxas cada vez maiores da colônia. Era uma escrava que viveu
no Arraial do Tijuco (hoje Diamantina), interior de Minas Gerais, na segunda
metade do século XVIII, e mobilizou a cidade de 1750 a 1770. Nessa mesma época,
a Coroa portuguesa instituiu para o distrito diamantino um sistema de contratos
que garantiram o monopólio da extração de pedras preciosas a um capitalista
português escolhido pelo rei.
Enviado por Dom João
V, de Portugal, João Fernandes de Oliveira, o contratador de diamantes, veio,
então, para o Brasil, como dono do quinto contrato de mineração outorgado pela
Coroa, que lhe valia o monopólio da extração de pedras preciosas, com
participação do governo. Cabia a ele também a fiscalização rigorosa,
administração e policiamento das áreas de extração mineira. Na época, era o
cargo mais importante na colônia.
João Fernandes implantou
sistemas modernos e eficazes e acabou descobrindo lavras riquíssimas nos rios e
nas montanhas. Ele fez uma fortuna talvez maior do que a da Coroa, tomando-se
incômodo para Lisboa. O contratador apaixonou-se por uma negra escrava, mucama
das donas e brinquedo sexual dos senhores, tomando-se, ele próprio, o escravo
dessa paixão. Nunca se soube que sedução irreprimível foi aquela que prendeu,
por quase toda a vida, o desembargador João Fernandes de Oliveira aos braços
grosseiros de Chica da Silva. Estupendamente rico, o mais rico de todos os
nababos que Minas teve naqueles últimos decênios, mais rico talvez, que o rei
de Portugal com as Índias, Guiné e tudo, o sexto contratador de diamantes teria
tido a mais bela e mais fulgurante das mulheres do Tijuco. Entre 1761 e 1795, o
Tijuco estava no mais estonteante florescimento. A superstição popular de que o
terremoto de Lisboa se repetiria, fez com que muita gente fidalga de Portugal
se derramasse em procura de Minas. A zona opulenta era a mais fascinadora e, das
zonas dos diamantes, era o Tijuco a culminância da opulência. O suntuoso
arraial tinha uma vida febril e resplandescente. Havia dinheiro que 'hão se
contava, havia luxo de espantar. A vida dos salões tinha tido o toque do bom
gosto de Felisberto Caldeira e era igual à de qualquer dos fmos salões de
Lisboa, e muitas saias, que fulguravam na corte portuguesa, ondulavam pelos
assoalhos lustrosos das salas do arraial mineiro.
O desembargador
teria, se quisesse, a mão da mais alta fidalga de Portugal. A sorte, porém, o
amarrou cegamente, incrivelmente, irremediavelmente, às saias desgraciosas
daquela escrava inculta. Chica da Silva, ao que contam os cronistas, nada tinha
na vida, no corpo e no espírito que pudesse prender um homem.
Era
uma mulata escura, beiços grossos, nariz chato, enorme de carnes de feições
ásperas. Não trazia nenhuma das graças femininas, que são, às vezes, mais
embriagadoras que a beleza. Nem ao menos um desses lampejos de coração e de
bondade, que são sempre os nós indesatáveis que seguram os homens às mulheres
feias. Tudo nela era grosseiro e chato como o nariz. O opulento contratador
conheceu-a alí mesmo no Tijuco, no "eito", descalça, a pingar suor,
de tanga e cabeção de zuarte. Acredita-se que partiu daí a sua paixão. Chica
era escrava do padre José da Silva e Oliveira Rohm, que figurou depois no
número dos inconfidentes mineiros. Foi a pedido do desembargador, ou pelo seu
dinheiro, que o padre a vendeu. Ninguém pode compreender a pertinácia e a
solidez daquela paixão de nababo pela humildade de uma cativa. Nem mesmo a
sedução da virgindade ele encontrou na mulata. Quando a conheceu, já era mãe de
dois filhos. Começou daí o domínio absoluto de Chica sobre o coração do
desembargador e a sua estupenda importância no Tijuco.
João Fernandes de
Oliveira fora o mais feliz dos contratadores de diamantes da quadra pombalina.
Nunca se extraíram tantas gemas como no tempo de seu contrato- Parecia que a
dextra de uma fada oculta o guiava em todas as explorações. Até mesmo nos
lugares por outros abandonados como imprestáveis para a mineração, ele ia
encontrar a fortuna. O prestígio do dinheiro dava-lhe um poder de soberano. Ao
seus pés curvava-se tudo. Nem mesmo o intendente, o tolerante e comodíssimo
Francisco José Pinto de Mendonça, lhe opunha barreira ao domínio. Só diante de
uma criatura o seu orgulho braqueava, a mulata que conhecera suarenta, no
"eito", de tanga e cabeção. Chica da Silva fora a mulher mais
extravagantemente bizarra que houve no Brasil pela época de Pombal. Senhora absoluta
do coração do contratador, dominou o Tijuco com magnificência de uma rainha. A
seus pés viveu o Tijuco inteiro, como um escravo obedecendo ao senhor. Quem
queria um favor de João Femandes tinha que pedir primeiramente a Chica, o
contratador nunca a contrariou num só capricho. Foi a mulher que, no Brasil,
mais ouro teve, naquele tempo, para gastar. E, nadando em dinheiro, coberta de
adulações e diamantes, ninguém mais do que ela, alardeou tanta riqueza, nem
teve. caprichos mais alucinados.
O seu guarda roupas,
sem gosto, como é de prever, foi o mais numeroso, o mais caro que se conheceu.
As jóias que lhe ornavam os braços e o pescoço fariam inveja a qualquer rainha.
Tudo que havia de melhor no Tijuco era para ela. O preconceito da cor, naquela
época, devia ser profundo e terrível. Conseguiu calcar o preconceito, aos pés.
Nas igrejas (e havia, naquele tempo, igrejas onde só gente branca podia entrar)
o lugar de honra era seu. A missa, a que a amante contratador assistia, era
sempre um acontecimento. A mulata dava, com a sua presença, os tons de uma
grandeza real. Só entrava nos templos nas altas solenidades, rutilantemente
vestida, coberta da cabeça aos pés das jóias mais fulgurantes, à guisa de aias,
trajadas de seda, apanhavam-lhe a imensa cauda do vestido espalhafatoso.
Os seus salões foram
os mais afamados do Tijuco. Ainda lá estão, no velho arraial, os escombros da
célebre chácara da Chica da Silva. Mandou-a erguer o desembargador. Gastou-se
uma fortuna ali dentro. Era um palácio colossal, pretensioso, com aspecto de
castelo, amuradas, torres, capela rica, vasto parque com cascatas e lagos para
passeios e pesca, floresta para a caça, pomar e jardim de plantas exóticas.
Havia até uma sala rigorosamente construída para o teatro. Nesta que Chica dava
as suas festas esplendentes, toda a nobreza do Tijuco comparecia. Havia
banquetes faustosos, quê custavam rios de dinheiro, bailes a rigor, cabeleiras
empoadas, saias balão e decotes à moda da corte lisboeta. Ao cair da noite
iluminavam-se as cascatas e os lagos artificiais. Ela tinha o prazer especial
de obumbar toda aquela gente com a sua opulência. Apareciam nos lagos barcos
dourados, imitando as gôndolas de Veneza que ela trazia os convivas para a
beira das águas, iluminadas, e todo aquele rancho de fidalguinhas pretensiosas
e de fidalguetes pedantes, dava gritinhos de alegria ao vogar nas gôndolas, à
superficie dos lagos faiscantes. Garantiu a alforria de Chica, dando-lhe
direitos e poderes que nem as damas mais importantes da colônia desfrutavam, e
tratava-a como uma rainha, para escândalo da burguesia colonial insultada na
sua dignidade. Ele satisfez todos os caprichos exóticos da ex-escrava e Chica
transformou-se na rainha negra dos diamantes, impondo suas extravagâncias, sua
imaginação extraordinária e sua maravilhosa doidice. Ela chegou a dominar a
política, a moda e a economia da região.
FOTO DA IGREJA
Igreja do Carmo, em Mariana, onde Chica da Silva
assistia às missas. O pelourinho, símbolo do poder nos arraiais, ficava diante
da igreja. 4
No seu teatro mais
tarde, vinham de longe comediantes, principescamente pagos, representar as
peças mais afamadas do tempo: o
Anfitrião, os Encantos de Medéia, Xiquinha por amor de Deus, Porfiar amando. etc.
A vaidade da ex-escrava do padre Rolim foi crescendo à proporção que o Tijuco
se ofuscava com o seu luxo. No arraial, a nobreza feminina usava cabeleira
anelada, caindo em cachos, pelos ombros. O cabelo de Chica da Silva era duro e
imprestável para o penteado da moda. Mandou raspar a cabeça e ostentou
audaciosamente uma cabeleira postiça, ondulada, de fios sedosos, como os dos
cabelos das brancas. Tendo de baixo dos pés a riqueza do maior nababo que se
conhecia, começou a ter caprichos desvairados. Certa vez, Chica, senhora de uma
corte particular de mucamas, músicos e lacaios diversos, não contente com seus
vestidos vindos de Paris, com as jóias que quisesse e com tudo o mais que o
dinheiro e o poder de João Fernandes pudessem comprar, quis conhecer o mar,
navegar, sentir a sensação de estar num navio. Ela, porém, por um desses
dengues de mulher, não queria afastar os pés da terra que a vira escrava
antigamente e dominadora agora. Queria um navio, mas ali, no Tijuco. Isso era
impossível no interior de Minas, sem porto de mar. Mas o Diabo de mulher
queria! Como Diamantina ficava muito longe do mar, e para alcançá-lo seria
necessário uma viagem perigosa e longa demais, o contratador resolveu o
problema: mandou rasgar um grande lago na imensa chácara, e, sobre o lago, uma
deslumbrante galera, equipada com todo o luxo e esplendor. Nessa galera, com
tripulação de oito pessoas e animada por artistas, pelas mucamas e lacaios,
Chica da Silva realizava o seu sonho de viajar. E no Tijuco, ela andou num
navio, como se estivesse no mar! No fundo, tinha incontido desprezo aos portugueses,
e um rancor constante contra brancos. Certamente lhe chegavam aos ouvidos as
zombarias que, à surdina, a sociedade tijuquence, na maioria portuguesa, fazia
do seu luxo, da sua cor, da sua origem e das suas gafes. Aquela anedota que o
Dr. J. Felício dos Santos conta nas Memórias
do Distrito Diamantino, é característica. Um dia, chegaram ao Tijuco vários
rapazes, gente da melhor sociedade de Portugal. Traziam para Chica,
recomendações das figuras mais evidentes da corte. Ela os recebia
benevolamente. Eles explicavam o que queriam. Queriam ganhar dinheiro, queriam
enriquecer na terra em que a riqueza era tão fácil. Chica ouve-os sorrindo.
FOTO DA CASA DA CHI CA DA SILVA
" A casa de Chica da Silva era a maior construção
da zona diamantífera.” 5
Nesse momento vai
passando um escravo. Chama-o e, num gesto senhoril, ordena, indicando os
portugueses. Cabeça, era o nome do escravo, mandou ele cuidar dos marotinhos.
Retira-se do salão, como se nada tivesse dito, e arrastar a cauda do seu longo
vestido de seda. Depois, como uma grande honra, como um favor especialíssimo,
em consideração as cartas que eles tinham trazido, manda-os trabalhar com os
negros, nos serviços da mineração. O fato de ser sempre obedecida pelo amante
fê-la não admitir a desobediência de quem quer que fosse. Aquele que a
contrariasse teria as iras do seu coração vingativo. Ainda se conta, em Minas,
uma das suas vinganças mais extravagantes. Um negro, de que a história não
conservou o nome organizou uma "marujada" no Tijuco. Chica da Silva mandou-lhe
dizer que viesse com a "marujada" à sua chácara. Mas o negro estava
já comprometido com um dos grandes do arraial. Estaria pronto a cantar na
chácara depois de cantar onde estava prometido. Ah ! Não! Chica não podia
admitir semelhante diminuição a sua importância. Primeiro ela ! E, no dia
seguinte, mandou comprar o negro. Pô-lo no seu jardim noite e dia a cantar, a
tocar o pandeiro da "marujada". Foram, dias a fio, aquele bater
sinistro do pandeiro. O escravo era uma envergadura de aço e resistiu. Ela
cansou-se, deu-lhe a liberdade.
Nunca se soube que
diabo de atração o contratador encontrou na figura da cabrocha. Nem graça de
mulher, nem sutilezas de espírito, nem doçuras do coração, mas filhos isso ela
lhos deu muitos. Uma récua, nada menos de treze: João, Antônio, José, Joaquim,
Francisca, Rita, Ana, Helena, Luiza, Maria, Quitéria, Mariana e Antônia. Além
dos dois que trouxe quando iniciou a mancebia, e que eram filhos do Dr. Manuel
Pires Sardinha. Um deles é o célebre Dr. Simão Pires Sardinha, com o qual o
desembargador gastou fortunas colossais para educá-lo, fazendo-o correr a
Europa com ampla autorização de gastar. Chica da Silva foi a mulher mais
opulenta e mais feliz do seu tempo.
A posição de João
Fernandes obrigava a sociedade local a receber a senhora Francisca da Silva com
reverências devidas a excelências. E a exibição de deboche da ex-escrava foi
gradativamente acirrando contra o contratador os ânimos invejosos dos
funcionários e fidalgos da terra, e os ecos dessas vozes indignadas acabaram
por levantar contra ele a suspeita e o rancor da Coroa.
Quando o desembargador, em 1775, instituiu o
morgado de Grijó, o primeiro nome que apareceu na ordem das sucessões foi o de
seu filho João, o seu primogênito com Chica. Depois de 12 anos vivendo juntos,
o contratador terminou em desgraça, despojado de seus bens e preso. Chica,
voltando às origens, muda de cidade, morreu afogada em ouro, dando fidalgos a
Portugal, mas permaneceu para a eternidade na memória do povo. Mas, já na
primeira metade do século XIX, a história não dá mais notícias da vasta
descendência da amante de João Femandes. A decadência arrasou tudo. Só há
notícia, um tanto recente, de Maria Vicência, neta da dominadora do Tíjuco.
Maria Vivência, essa acabou esmolando, de alpercatas e bordão, pelos caminhos
de Macaúbas. O marido esbanjou tudo que ela possuía e arirou-a depois à miséria
no mundo.
HISTÓRIA
DAS MOEDAS DO BRASIL.
BRASIL
COLÔNIA.
A história monetária do Brasil se inicia logo após o
descobrimento, com as primeiras manifestações comerciais realizadas entre
europeus e nativos. Tais atividades constituíam-se na troca de produtos
naturais - pau-brasil, principalmente por miçangas, anzóis, facas e outros
objetos. A colonização da terra alterou este quadro: gradativamente, foi-se
estabelecendo o numerário português corrente na Metrópole. O domínio espanhol
sobre Portugal entre 1580 e 1640, bem como a proximidade de suas colônias na
América, incentivou a introdução das moedas de prata hispano-americanas no
Brasil A partir de 1642, tanto as moedas espanholas quanto as portuguesas
receberiam o carimbo denominado "coroado", que tinha por finalidade
aumentar seus valores e limitar sua circulação à nossa terra.
O início da
escravidão trouxe um novo elemento para o meio circulante: o cauri, pequeno
molusco que corria na África como moeda, foi utilizado na compra de escravos no
continente africano e entre os negros estabelecidos na Bahia. Encontramos ainda
como meio de aquisição o açúcar, o sal, o fumo e outros produtos da terra. Durante
a ocupação holandesa no Recife, os invasores cunharam moedas de emergência para
pagamento das tropas. Foram as primeiras a apresentar o nome BRASIL na legenda:
florins de ouro, em 1645 e 1646, e soldos de prata em 1654.
FOTO DAS MOEDAS
Dinheiro no Brasil - Museu do Banco do Brasil
Fato da maior
importância ocorreu em 1694, no reinado de D. Pedro II de Portugal. Naquele
ano, foi criada em Salvador a primeira Casa da Moeda do Brasil. Ela seria
transferida mais tarde para o Rio de Janeiro e, posteriormente, para
Pernambuco. Ali funcionaria até 1702, retornando então, definitivamente, para o
Rio de Janeiro. Devido à constante falta de troco, o governo determinou que
circulassem, também aqui, as moedas de cobre lavradas na Casa da Moeda do Porto
e destinadas a Angola. A aclamação de D. João V, em 1706, coincidiu com o
apogeu do Ciclo do ouro. É dessa época a criação da Casa da Moeda de Vila Rica,
na Capitania das Minas Gerais, que funcionou simultaneamente com as do Rio de
Janeiro e da Bahia. Delas saíram algumas das mais. belas peças de ouro, como as
séries de "escudos" e os célebres "dobrões" de. Minas
Gerais. Embora destinadas à metrópole, circularam também entre nós.
A criação do sistema monetário provincial para o Brasil,
em 1695, não repercutiu no Estado do Maranhão. Ali, o meio circulante era
constituído pelo- algodão em fio e tecido. (Dinheiro do Brasil - Museu do Banco
do Brasil).
FOTO DAS MOEDAS DE OURO
Finalmente,
em 1748, atendendo aos reclamos da falta de numerário, foi decretado que se cunhassem,
em Lisboa, moedas de ouro, prata e cobre para aquela região. A fim de atender à
população das Minas Gerais, que se mostrava insatisfeita com a absorção de todo
o seu ouro pela Metrópole, foram batidas em Lisboa, para que corressem naquela
Capitania, moedas de cobre de XL e XX réis com a legenda AES USIBUS APTIUS
AURO ( "O cobre para os usos é mais conveniente que o ouro" ).
Proibido o emprego do ouro em pó ou em pepitas corno moeda, foram criadas, no
século XVIII, as Casas de Fundição de Vila Rica, Sabará, Serro Frio, Rio das
Mortes, São Paulo e Cuiabá. Nesses estabelecimentos, deduzido o quinto. imposto
de 20% cobrado pela Coroa - o metal era fundido em barras. Estas, acompanhadas
de guias comprovadoras da legítima posse, eram posteriormente restituídas ao
seu portador.
Durante o reinado de D. José I, de 1750 a 1777,
apareceram as moedas de prata nos valores de 600, 300, 150 e 75 réis. Eram
conhecidas como da "Série J", por trazerem em destaque a inicial do
monarca. Cunhadas na Bahia e no Rio de Janeiro e destinadas ao resgate do ouro
em pó, tiveram circulação restrita às comarcas mineiras. A moedagem de ouro no
reinado de D. Maria I compreendeu duas fases: uma, de 1777 a 1786, em que a
soberana aparece acompanhada de seu esposo, D. Pedro II, outra, de 1786 a 1805,
após o falecimento do Rei, quando passou a ser retratada sozinha, com véu de
viúva e, mais tarde, com toucado e jóias. As moedas de cobre que aqui
circularam nessa época foram fabricadas pela Casa da Moeda de Lisboa. Em 1799,
por economia de metal, o governo ordenou a redução de tais moedas à metade do
seu peso. Tomando-se precário o estado de saúde da Rainha, seu filho, o
Príncipe D. João, assumiu o governo em 1799, na qualidade de Príncipe Regente.
As emissões com esse título, no entanto, começaram somente em 1802. A mudança
da corte portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808 acarretou grandes gastos.
Isso levou-a a tornar medidas visando ao aumento das rendas e ao equilíbrio das
finanças. Autorizou por exemplo a aplicação de contramarca nos pesos hispano
americanos de 8 reales, aumentando o seu valor de 750 para 960 réis.
FOTO DE
MOEDAS DE OURO
( Dinheiro do Brasil – Museu
do Banco do Brasil)
A
partir de 1810, como surgissem muitas falsificações de tais carimbos, aquelas
moedas passaram a ser aproveitadas na recunhagem da nova moeda de prata de 960
réis, o chamado "patacão". Ainda em 1810, as moedas de prata da
"Série J" passaram a receber um carimbo de "escudete" que
lhes aumentava o valor, permitindo que circulassem por toda a colônia. Tal
carimbo foi também aplicado nas antigas moedas de cobre, a fim de duplicar lhes
o valor. O ano de 1811 marca o surgimento de um novo valor em cobre: o de LXXX
réis. O valor máximo até então atingido por moedas desse metal tinha sido o de
quarenta réis. A passagem do Brasil à condição de "Reino Unido a Portugal
e Algarves", ocorrida em 1815, foi comemorada no ano seguinte, quando
foram batidas em ouro, prata e cobre, as moedas da chamada "Série
Especial". Entretanto, só a partir de 1818,com a aclamação e coroação de
D. João VI (1818/1822), surgiram moedas com o título e as armas do Reino Unido.
Nessa época, com circulação restrita a Minas Gerais, foram cunhadas, no Rio de
Janeiro e Vila Rica, moedas de cobre de 75 e 37 1/2 réis para resgate dos
bilhetes de permuta do ouro em pó. A moeda de 37 1/2 réis ficou conhecida como
"vintém de ouro" por corresponder a 0,112 gramas daquele metal.
XICA DA
SILVA, O FILME
O
filme conta a história de Xica da Silva (interpretada por Zezé Motta) e
acontece no século XVIII, em pleno ciclo da mineração. Xica era uma negra
escrava, mucama das donas e brinquedo sexual dos senhores. Ela viveu no Arraial
do Tijuco, Hoje conhecida como Diamantina. João Fernandes de Oliveira
(interpretado por Walmor Chagas), o contador enviado por D. João I, por ela se
apaixonou perdidamente e por conta desse amor foram cometidas as mais incríveis
loucuras. Essas loucuras é que movimentam o filme. Dirigido por Cacá Diegues e
tem a participação de um grandioso elenco. Lançado em 1975, ano em que o governo
militar resolveu apoiar mais decisivamente o cinema brasileiro. Na época o
diretor gostava que chamassem o seu trabalho de "o filme da abertura
política", os críticos e jornalistas em geral não perdoaram a aproximação
do diretor com o governo, nem as liberdades que ele tomou com a história do
Brasil e com a raça negra, para tomar seu filme mais popular. De fato Chica da
Silva atingiu em cheio o gosto do público e totalizou cerca de 3 milhões de
espectadores, Cacá Diegues defendia-se das reclamações de carnavalização e de
folclorização da nossa história, criando a expressão "patrulhas
ideológicas" das quais ele seria a vítima principal. Felizmente esse tempo
já passou e agora é possível formar uma visão mais objetiva do filme e de seus
resultados culturais. Este filme colaborou para ampliar o interesse nacional
pela arte e a cultura que nós herdamos dos africanos.
CENAS DO
FILME: XICA DA SILVA
FOTO DE UMA CENA
Walmor Chagas como o
contratador João Fernandes de Oliveira. Todo poderoso, dominava o monopólio de
extração de riquezas, mal podia prever que se tornaria escravo de Xica. 6
FOTO DE CENA
O conde (josé Wilker) e Xica
(zezé Motta). Criativa, mudou tudo ao seu redor, formando uma mini corte, com
um brilho faustoso, ainda que provinciano. 7
FOTO DE CENA
Nenhum desejo de Xica deixou
de ser feito jamais. Para servi-la havia uma multidão de mucamas e lacaios que
a banhavam, vestiam e empoavam. Aqui a imagem mostra ao fundo o navio que o
contratador mandou fazer para ela. 8
FICHA TÉCNICA DO FILME XICA DA SILVA:
Direção: Carlos Diegues
Produção: Jarbas Barbosa
Roteiro: Carlos Diegues e
João Felício dos Santos, baseados num romance.
Diálogos: Carlos Diegues
Fotografia: José _edeiros
Música: Jorge Bem e Roberto Menescal
Instrumentos: Helvio Milito
(percussão), Femando Lébeis (cantos populares). Montagem: Mair Tavares
Assistente de direção: Paulo
Sérgio de Almeida.
Cenografia e Figurinos: Luiz
Carlos Ripper.
Produtores executivos: José
Oliosi e Aírton Correa.
Maquilagem e cabelos: Carlos
Prieto
Produtor Associado:
Embrafilme.
Elenco: Zezé _otta (Xica da
Silva), Walmor Chagas (João Femandes de Oliveira), José Wilker (Conde), Stephan
Nercessian (José), Elke Maravilha (Hortência), Altair Lima (Intendente), Rodolfo
Arena (Sargento Mor), Marcos Vinícius (Teodoro), João Felício dos Santos
(Padre), Rodolfo Arena (Comandante), Dora Kocy (Zefina).
Brasil, 1976 - 117 minutos -
Cor.
Prêmios: Melhor Filme, Direção
e Atriz no IX Festival de Brasília, 1976.
Melhor Diretor e Melhor
Atriz pelo Prêmio Air France, 1976.
CONCLUSÃO
DE ESCRAVA A RAINHA.
Em
1763, começa a vigorar o contrato de extração de diamantes, ano em que a
capital do Estado do Brasil foi transferida para o Rio de janeiro. O contrato
arrematado pelo desembargador João Fernandes de Oliveira, filho do velho
contratador de mesmo nome. Último a beneficiar-se deste sistema, suprimido com
a criação da Real Extração em 1771, período em que é lembrado por dois motivos,
o primeiro com o auge da extração de diamantes e o segundo, em que o Tijuco foi
o cenário da extravagante glória de Chica da Silva. Tratada durante muito tempo
como um capítulo a parte da História do Brasil, muitos só conhecem seu nome.
Outros sabem pouco sobre ela e outros muitos nada sabem e nunca ouviram falar.
O poder de um contratante e a importância das riquezas brasileiras para a Coroa
e seu peso na formação de estruturas sociais é refletido na história da vida de
Chica. Seiscentos escravos acima do permitido por lei era um número bem
superior que João Fernandes mobilizava. Junto com Chica da Silva e extremamente
poderosos, conforme determinações legais da época, não tinham preocupações
referentes a terras alheias e chegaram a permitir que a venda dos diamantes
fosse feita as claras. Mas quem realmente mandava nele, por certo, não era a
Coroa, e sim, a mulata, Chica. Não era bonita, conforme pesquisas, mas tinha
inegável poder de seduzir todos os homens. Alta, com a cabeça raspada, corpulenta,
usava uma peruca de cachos. Surgiu como escrava de José da Silva e Oliveira,
pai do padre Rolim, um dos inconfidentes. Declarada e assumida amante de Rafael
Pires Pardinho, na época, primeiro intendente do Distrito Diamantino, com este
teve dois filhos. Um deles, Simão Pires Pardinho, estudou em universidades
européias e conseguiu ocupar importantes cargos na Corte. Já com João Fernandes
de Oliveira, Chica da Silva teve treze filhos, legitimados e um dos quais,
herdeiro do mesmo nome do pai, tomou-se muito rico. A rigidez das práticas da
administração, durante a atuação de João Fernandes, foi temperada pelo
clientelismo que se fez em tomo da ex-escrava. Sua vontade abria portas mas não
era gratuita, pois todos os desejos dela, ele realizava. Cita-se como por
exemplo o navio que construiu para ela, que queria ver o mar, abrindo uma
brecha em sua chácara para fazer um lago para Chica navegar.
O
lugar onde viviam era como um pequeno reino com direito a castelo e tudo,
ornamentado com árvores européias e um teatro que era o único do Tijuco.
Respeitada também pela igreja, que no início fechava as portas para ela,
possuía até mesmo lugares reservados para si, seus filhos e mucamas. João
Fernandes mandou erguer a igreja da Ordem Terceira do Carmo somente para ela,
diante da casa em que viviam. Acabou tendo de romper por causa da discórdia
causada pela irmandade, mas não desistiu da idéia, assumindo todos os gastos da
construção. Uma série de inimigos o contratador ganhou, não sem razão. Muita
ostentação e diversas infrações dos regulamentos. Com isso acabou chegando
denúncias aos ouvidos do rei de Portugal, que mandou ao Brasil D. José Luíz de
Meneses, conde de Valadares e governador da capitania de Minas. Obrigado a
visitar o desembargador, hospedou-se na casa de Chica, que suspeitou de suas
intenções. Para acalmá-lo, servia-lhe em cada refeição uma terrina cheia de
lâminas de ouro. Mas nada pode desviar o governador do que viera fazer. O
desembargador teve que voltar ao reino e nunca mais teria permissão para
voltar, embora houvesse pago toda a multa à Coroa.
É
muito chato fazer uma crítica a pessoas que trabalham bem, mas para os
historiadores é muito mais importante ter segurança com fatos históricos
citados ou utilizados em pesquisas para filmes, documentários, livros ou
qualquer outro trabalho que envolva a história da humanidade e de seus
acontecimentos, que firmar-se em um filme. Em "Xica da Silva" de Cacá
Diegues, por exemplo, é citado como rei de Portugal D. João I, mas na verdade,
naquela época quem realmente reinava era D. João V, rei de Portugal de 1706 até
1750. Nasceu em 1689 e morreu em 1750. Vivo, inteligente, apaixonado pela
grandeza, o fausto e as mulheres. Generoso e muito religioso, construiu o
convento de Mafra, uma das maiores obras arquitetônicas da Europa. Teve esmerada
educação, destacando-se nas línguas e nas ciências. Em seu reinado, foram
abertos os primeiros caminhos do Rio Grande do Sul. Em 1737, enviou Silva Paes
para fundar Rio Grande, dando início à ocupação do Rio Grande do Sul. No ano de
1750, pelo Tratado de Madrid, as Missões dos Sete Povos foram incorporadas ao
Rio Grande do Sul. Também foi o iniciador da colonização com casais açorianos.
Em troca das missões cedeu a Colônia do Sacramento à Espanha.
Voltando
aos filhos de Chica da Silva, parece que no filme não daria para confiar, nem
sequer os mencionam. Porque filhos, isso ela lhos deu muitos. Uma récua, nada
menos de treze: João, Antônio, José, Joaquim, Francisca, Rita, Ana, Helena,
Luiza, Maria, Quitéria, Mariana e Antônia, além dos dois que trouxe quando
iniciou a mancebia, e que eram filhos do Dr. Manuel Pires Sardinha. Um deles é
o célebre Dr. Simão Pires Sardinha, com o qual o desembargador gastou fortunas
colossais para educá-lo, fazendo-o correr a Europa com ampla autorização de
gastar. A parte final do filme nada tem a ver ao que acontece com Chica da
Silva. Seu sofrimento pela perda de João Fernandes foi natural e normal, mas e
o que foi feito dela – depois ? Chica morreu afogada em ouro, dando fidalgos a
Portugal, permanecendo para a eternidade na memória do povo. Além destes, o
filme apresenta outros erros históricos e defeitos gravíssimos de pesquisa.
Historicamente não pode ser utilizado como fonte, mas pode ser comparado com
fontes verdadeiras proporcionando um ótimo exercício crítico.
¹
Intendências de Minas era o órgão responsável pela administração municipal nas
áreas de mineração. BELLOMO, Harry Rodrigues, 1998, pág. 20.
² LUNA,
Francisco Vidal, 1981, pág. 15.
³ BELLOMO, Harry Rodrigues, 1998, pág. 7.
4 Brasil 500
anos, 2000, pág. 229.
5 Idem, nota 4.
6 ISTO É,
Cinema Brasileiro, s/data, pág. 8.
7 ISTO É,
Cinema Brasileiro, s/data, pág. 9
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