Criado há cerca de cinco mil anos no Egito, o Senet é um dos jogos de tabuleiro mais antigos do mundo, uma espécie de antepassado do gamão. No início, ele era só um passatempo popular, mas com o tempo se transformou em um meio para os vivos tentarem se comunicar com os mortos. Uma versão do jogo que pertence ao acervo do Museu Egípcio Rosacruz, nos Estados Unidos, pode dar pistas a respeito de como aconteceu essa transição.
Os tabuleiros mais antigos já encontrados indicavam que, quando surgiu, o jogo era um mero entretenimento. Mas há cerca de 4.300 anos, tumbas egípcias passaram a ser decoradas com imagens de vivos disputando partidas de Senet com os mortos. Textos da época sugerem que nessa época a atividade passou a ter conotações místicas de comunicação com o além-túmulo.
O próprio jogo foi se modificando nos milênios seguintes para se adaptar à função de se comunicar com os mortos. Há cerca de 3.300 anos, algumas casas dos tabuleiros passaram a exibir hieróglifos de pássaro, que simbolizavam a alma. O tabuleiro pertencente ao Museu Egípcio Rosacruz parece ter sido criado em um momento de transição no processo em que a prática adquiria esse caráter místico.
O tabuleiro do museu não contém os hieróglifos que simbolizam a alma, mas apresentam outros caracteres com conotação sobrenatural. Um deles é o hieróglifo que simboliza a água. Segundo os arqueólogos, ele representa o rio ou lago que os espíritos atravessavam em direção ao Duat, o reino dos mortos. "Pode ser uma das primeiras vezes que esse aspecto da jornada pela vida após a morte foi representado no tabuleiro", disse Walter Crist, arqueólogo da Universidade de Maastricht, na Holanda, que publicou um estudo sobre o artefato no The Journal of Egyptian Archaeology. A idade do tabuleiro em questão é uma incógnita, mas Crist acredita que, por suas características únicas, tenha sido feito há 3.500 anos.
Fonte: Science Magazine
Imagens: Wikimedia Commons e Museu Egípcio Rosacruz/Reprodução
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