MEGERA DE QUELUZ: OS DIAS FINAIS SOLITÁRIOS DE CARLOTA JOAQUINA
Isolada de tudo e todos, a rainha portuguesa tentou derrubar o marido e assumir o poder até os últimos dias
ANDRÉ NOGUEIRA PUBLICADO EM 13/05/2020
Carlota Joaquina foi uma das mais tempestuosas e independentes mulheres da corte portuguesa, articulando contra o marido, que não amava, para assumir o trono e mandar despoticamente. De personalidade forte e nada submissa, a rainha espanhola conspirou contra o rei português até o final da vida.
Quando Dom João VI retornou a Portugal para assumir, o Bragança se colocou como uma alternativa moderada e aceitou jurar uma constituição que reduzia seus poderes. O novo regime foi muito insatisfatório à nobreza tradicionalista e às entidades religiosas conservadoras. Diante dessa oposição, Carlota Joaquina se uniu aos antipáticos à modernização política.
Então, ela comandou um projeto de derrubada de Dom João e abolição da Constituição, num movimento que ficou conhecido como Conspiração da Rua Formosa. A tentativa de obrigar o rei a abdicar foi em vão: João tinha boa base política, e Carlota foi taxada de ameaça à monarquia.
A corte, então, optou por prendê-la e mandá-la para uma vila no sul de Portugal, para que fosse mantida no Palácio de Ramalhão. Recusando-se a jurar a carta magna, a rainha ficou feliz com a decisão: isolada, poderia manter suas articulações de derrubada do governo.
Então, Carlota passou a ter reuniões com o filho, Dom Miguel, o favorito. Com ele, criou um novo plano de derrubada da constituição e destruição do legado da Revolução do Porto.
Sem harmonia
Também articulou a Vilafrancada, movimento derrotado de maio de 1823. Porém, João, que se manteve no trono, suspendeu a constituição diante do cenário caótico. Assim, decidiu partir para o sul com a finalidade de buscar a esposa.
Um período de harmonia com o marido ocorreu, mas logo Carlota optou por mudar-se do Palácio da Bemposta, em Lisboa, para Queluz, onde voltaria a articular a queda do esposo. Lá, comandou o Partido Absolutista. Tentou novamente derrubar João e o desenvolvimento de uma constituição, no evento da Abrilada (1824).
Carlota foi novamente expulsa da corte e Miguel foi levado ao exílio, após perder o posto de general. Não obstante, a rainha manteve-se conectada a nomes conservadores, continuando politicamente ativa.
Conversou com grupos diversos novas tentativas de golpe contra Dom João VI, pretendendo assumir o governo. Ao mesmo tempo, Dom João, que temia ser assassinado, apontou um regente para assumir diante de uma possível tragédia.
Isso impedia que Carlota reivindicasse o trono, o que chegou a acontecer (sem grande apoio) em 1826, quando o Rei de Portugal morreu. Dois anos depois, as pressões dinásticas levaram à ascensão de Dom Miguel I, que atiçou o retorno de Dom Pedro do Brasil, iniciando a Guerra Civil Portuguesa.
Isolada e deprimida
Já no fim de sua vida, Dona Carlota não recebeu nenhum cargo no novo governo do filho. Isolada e cada vez mais sem aliados, ela se manteve presa no Palácio de Queluz até o fim da vida, amargurada e deprimida. Cada vez mais, Carlota da Espanha era esquecida pelas cortes e pelo povo, o que a entristecia cada vez mais.
Num entorno de infelicidade e raiva, Carlota passou seus dias finais orando, chorando, andando pelo palácio e lembrando-se dos tão amados Dom Miguel e Dona Maria (sua sogra), de quem sentia profunda saudade. Desesperançada e ignorada até pelo filho predileto, ela acabou desistindo de um futuro político.
Saudosa de seu passado glorioso na corte espanhola, onde era tida como inteligente e de futuro próspero, Carlota Joaquina de Bourbon morreu em 7 de janeiro de 1830, por motivos ainda controversos.
Como induzia a tradição, foi velada e sepultada no Panteão Real da Dinastia de Bragança, no interior do Mosteiro de São Vicente de Fora, na capital portuguesa. Ao contrário do que seria dedutível, dada a longa história de atritos e rancores entre os cônjuges, ela foi enterrada ao lado do marido, onde jaz até hoje.
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