O FARAÓ LADRÃO DE TUMBA: A INIGUALÁVEL MÚMIA DE RAMSÉS VI
Por mais que se gabasse de ter construído grandes monumentos em seu nome, a verdade é que a maioria deles foi usurpada de seus antepassados
ISABELA BARREIROS PUBLICADO EM 17/05/2020
Durante quase todo o século 12 a.C., o Egito Antigo sofreu com invasões e conquista de territórios por inimigos. O reinado de Ramsés VI não foi diferente: quando suas tropas perderam suas últimas fortalezas em Canaã, a economia começou a ficar cada vez mais enfraquecida. Construir monumentos, como era comum para a realeza egípcia, se tornou uma exceção.
Ramsés VI foi o quinto faraó da 20º Dinastia do Egito Antigo, fruto da relação do faraó Ramsés III com a rainha Iset Ta-Hemdjert. Seu governo não ficou conhecido por grandes construções, ainda que ele se gabasse de ter "[coberto] toda a terra com grandes monumentos em meu nome [...] construídos em homenagem a meus pais, os deuses".
A verdade é que o faraó começou a usurpar mausoléus que já haviam sido edificados em períodos anteriores. Durante os oito anos que permaneceu no poder no Egito Antigo, muitos desses monumentos foram apenas ampliados e redecorados para ele.
O mais famoso desses casos é o da tumba KV9, localizada no Vale dos Reis. Ela foi construída especialmente para Ramsés V, antecessor de Ramsés VI, para guardar o corpo do faraó após sua morte, que aconteceu em 1145 a.C. No entanto, isso aconteceu algum tempo depois do que era previsto, não logo após seu óbito, o que era mais comum.
O que se sabe é que o quinto Ramsés foi guardado no local apenas no ano 2 de Ramsés VI. Essa foi uma prática muito incomum, já que o normal era que eles fossem mumificados e enterrados precisamente 70 dias do reinado de seu herdeiro.
A partir disso, acredita-se que o túmulo KV9 tenha sido usurpado por Ramsés VI, assim como outras construções. O que se sabe é que ele tomou a tumba destinada ao antigo rei, fazendo apenas algumas alterações para que ela passasse a servi-lo. Assim, quando morreu, ele foi enterrado no local, diferentemente do faraó antecessor, que foi guardado em uma segunda tumba que permanece desconhecida até hoje.
Alguns afirmam que ele pode ainda ter destronado seu antecessor. No entanto, o atraso também pode ser explicado pelas dificuldades enfrentadas pelo sucessor de Ramsés V em seu governo, que ainda tentava expulsar os invasores no território. Ele precisaria colocar o antigo faraó em uma tumba provisória até que fosse possível, com segurança, guarda-lo em sua tumba. É relatado que, no ano 2 de Ramsés VI, a normalidade havia retornado à região.
Descoberta da múmia.
Ainda assim, nenhum dos dois foi encontrado na KV9. Tanto a múmia de Ramsés V quando a de VI foram encontradas pelo egiptólogo francês Victor Loret em 1898 na tumba KV35, localizada no Vale dos Reis, que originalmente pertencia a Amenhotep II.
Outras figuras foram guardadas no local, como os faraós — Tutmés IV e Seti II, por exemplo. Por isso, a tumba ser pode ser considerado uma espécie de esconderijo para múmias do Egito Antigo. Em algum momento no Terceiro Período Intermediário, pessoas transferiram inúmeros corpos mumificados para lá, na tentativa de protege-los de vândalos que, muitas vezes, destruíam múmias e suas sepulturas.
Esse foi exatamente o caso de Ramsés VI. Ele permaneceu intocado na KV9 por pelo menos 20 anos, mas, depois disso, foi vítima de ações de ladrões de túmulo, que degradaram muito a antiga múmia. Isso é muito claro ao observá-la: sua cabeça possui inúmeras fraturas e o resto do corpo a acompanha no mesmo estado.
Pesquisadores conseguiram realizar exames no cadáver mumificado e perceberam que um machado foi responsável por degradar o faraó que morreu com por volta de 40 anos. Acredita-se que eles tinham como intuito roubar as joias presentes dentro da tumba.
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