SENHOR DE SIPÁN, O TUTANCÂMON DO PERU
Um dos homens mais relevantes do antigo Peru, o dignitário moche foi encontrado com ouro, prata, cobre e pedras preciosas da cabeça aos pés
CAIO TORTAMANO E ISABELA BARREIROS PUBLICADO EM 25/03/2020
São poucas as representações que temos atualmente de culturas que se desenvolveram pela América do Sul antes dos incas. Essas culturas pré-incaicas, como são chamadas, estiveram presentes no território milhares de anos antes da famosa civilização. Uma delas, por exemplo é a moche, também conhecida como mochica, que se estabeleceu entre 100 a.C. e 800 d.C, anterior à conquista inca da região.
Acredita-se que a cultura não tenha chegado a construir um estado ou um império único. Ainda assim, tornou-se muito poderosa na região, e um grande dignitário foi responsável por dominar quase todos os vales ao noroeste do Peru entre os séculos 2 e 3. Usando sandálias de prata, portando por volta de vinte quilos de ouro em seu corpo e peitorais com conchas do mar, o Senhor de Sipán se tornou uma das mais representativas figuras da cultura Mochica.
A descoberta de sua tumba foi um dos achados mais importantes da América do Sul. Ele foi a primeira de uma série de múmias Moche encontradas em Huaca Rajada, um sítio arqueológico situado em Sipán, no Peru. Intacto, o mausoléu principal do complexo arqueológico foi revelado por pesquisadores em 1987. No ano de 2007, porém, após inúmeras escavações, catorze tumbas foram descobertas e identificadas no próprio local.
O Senhor de Sipán foi encontrado com diversos itens de ouro, prata, bronze e pedras preciosas, indicando que o homem deveria fazer parte da mais alta escala na sociedade Moche — hipótese que foi comprovada pelos pesquisadores.
Por meio de análises de DNA, também foi possível descobrir características importantes do líder político moche. Ele tinha aproximadamente 1,63m de altura e, quando morreu, estava por volta dos 40 anos. Os cientistas puderam deduzir, também, alguns aspectos físicos da múmia para reconstruir digitalmente a sua face, cor de pele, formato dos lábios, cabelo e olhos.
Ele fez mudanças físicas em sua orelha para que pudesse pendurar grandes protetores auriculares e argolas nasais. Feitos de metal, os artefatos eram colocados tanto em sua orelha quanto em seu nariz, representando sua distinta e alta posição na sociedade da época. O Senhor provavelmente também não usava barba, retirando ainda todos os pelos que surgissem em sua cabeça.
No momento de seu sepultamento, o moche estava usando um colar com ornamentos de ouro e prata. Metade do colar é feito de ouro — representando o Sol — e a outra metade é feita de prata — representando a Lua. Outras seis pessoas dividiam a tumba com o importante mochica: três jovens mulheres, possivelmente esposas que morreram algum tempo antes, dois guerreiros com os pés amputados, que pode ser identificado como uma oferenda e uma criança de aproximadamente 10 anos.
Por toda essa grandeza, o Senhor de Sipán foi comparado com um dos maiores e mais importantes faraós do Egito Antigo. Em entrevista à Folha de S. Paulo, o responsável pela descoberta da tumba, Walter Alva, também arqueólogo e diretor do Museu Tumbas Reales de Sipán, afirmou que “a imprensa o qualificou como o Tutancâmon das Américas”. Com riqueza e prestígio, tanto o Senhor quanto Tutancâmon são figuras que representam fortemente seus períodos históricos.
Quando foi encontrada, a múmia mochica estava coberta da cabeça aos pés com em ouro, prata, cobre e pedras preciosas. Seu crânio estava colocado por cima de uma placa de ouro, outro sinal que representava sua importância na sociedade. Sua enorme tumba e o fato de outras pessoas terem sido enterradas a seus pés também são indicativos da sua influência.
Além dos corpos adicionais, foram encontrados ainda um cachorro e duas lhamas, assim como 451 itens cerimoniais e oferendas. A maior parte dos itens está exposta no Museu das Tumbas Reais de Sipán, que fica na cidade de Lambayeque, ao norte do Peru. Aberto em 2002, foi inaugurado para contemplar os achados históricos da região.
“Sipán, encontrado em 1987, foi um dos descobrimentos arqueológicos mais importantes do século 20 porque foi a primeira vez que se encontrou a tumba intacta de um governante do antigo Peru. O que se encontrou foi um impressionante conjunto de adornos, joias, emblemas, trajes rituais, que esse personagem usou em vida e foram sepultados com ele no momento de sua morte e que permitiram reconstruir o que foi a cultura mochica, uma das mais importantes da América”, concluiu Alva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário