SEM PODER OU GLAMOUR: O PALÁCIO DE VERSALHES DE MARIA ANTONIETA
Apesar de toda magnitude que o lugar aparentava, o mau cheiro e a falta de higiene dominavam a região
FABIO PREVIDELLI PUBLICADO EM 27/03/2020
O declínio de Versalhes aconteceu durante os últimos anos dos Bourbons no poder, quando Luís XVI e sua esposa austríaca Maria Antonieta ainda não tinham sido levados ao cadafalso, muito em virtude da fraqueza da monarquia, que já não mais gozava de prestigio, autoridade e dinheiro.
Apesar de muitos remeterem Versalhes como o maior e um dos mais luxuosos palácios da Europa, a escritora Carolly Erickson apresenta uma nova visão sobre o local em seu livro To the Scaffold: The Life of Marie Antoinette (Para o Cadafalso: A Vida de Maria Antonieta). Em uma das passagens, Carolly descreve Versalhes como “uma grande fossa, cheirando a sujeira e contaminada com o lixo”.
“O odor se impregnava nas roupas, perucas e até nas roupas intimas. O pior de tudo é que mendigos, criados e visitantes aristocráticos usavam escadas, vielas ou quaisquer outros lugares fora do caminho para se aliviarem”.
“A visão de Versalhes — e os ingleses também concordavam — era magnífica, com estradas largas sombreadas por árvores imponentes. Mas a miséria lá dentro era indizível”, relata a escritora.
Essa visão de uma Versalhes magnífica mas completamente malcheirosa, descrita por Erickson, corrobora com o a biografia de Maria Antonieta escrita por André Castelot (Queen of France: A Biography of Marie Antoinette). O escrito ainda revela que os pátios de Versalhes eram extremamente sujos, tudo tinha cheiro de urina e material fecal. Os parques, jardins e castelos faziam qualquer um vomitar com o mau cheiro.
No livro, André relata um insólito episódio que aconteceu com Maria Antonieta. “Uma tarde, pouco tempo antes de se tornar rainha, Antonieta e sua cunhada, a condessa de Provença, foram visitar Vitória (quarta filha de Luís XV). Ao sair dos aposentos de Vitória, as duas mulheres pararam em um pátio para observar o relógio de sol. Quando, do segundo andar, alguém jogou um balde de esgoto no pátio e as duas princesas saíram encharcadas”.
Parte do problema era que o palácio e os jardins eram ainda mais abertos ao público do que hoje: “Virtualmente qualquer um poderia entrar no palácio. Não havia nenhum esforço para manter as pessoas afastadas, somente as que tiveram varíola recentemente, mas todos os demais eram permitidos”, escreve Erickson.
O problema de sujeira geral do local fez com que o Hameau de la Reine, que foi feito para Maria Antonieta perto do Petit Trianon, ganhasse uma atenção extra. Apesar do retiro particular da rainha ser popular, parecia uma extravagância perversa da parte da monarca criar uma vila para sua própria diversão, enquanto, em muitas partes da França, camponeses passavam por extremas necessidades.
Na sua aldeia dos sonhos, havia oito pequenas cabanas com telhado de palha e paredes de gesso desenhadas com rachaduras para parecerem desgastadas. Perto, havia celeiros, um pátio de aves e um moinho.
Um fazendeiro chamado Valy foi trazido para morar na fazenda e cuidar do gado. As vacas eram colocadas em um pequeno campo e ordenhadas em banheiras de porcelana. Elas ainda receberam os carinhosos nomes de Brunette e Blanchette. Além delas, o lugar ainda abrigava cabras, cordeiros brancos, coelhos e galinhas.
Aos olhos de Maria Antonieta, o lugar representava uma visão quase infantil de um mundo mais simples e feliz. Entretanto, os críticos da rainha não viram nada disso, muito pelo contrário. Para eles, a vila era mais um local que abrigava itens de uma lista frívola. Eles chamavam o lugar de Pequena Viena e zombavam de Antonieta por se entregar aos seus prazeres rurais.
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