PASSO A PASSO: COMO FAZER UMA MÚMIA EGÍPCIA?
Elaborada prática funerária durou mais de 3 mil anos, cadáveres foram dissecados, desidratados e enfaixados
MARIA CAROLINA CRISTIANINI PUBLICADO EM 24/02/2020

A expressão a terra há de comer não faria sentido para as pessoas com dinheiro no Egito antigo. Lá, acreditava-se no ka, uma força que continuava após a morte – desde que o corpo fosse bem conservado. Para isso, usava-se uma técnica inspirada no deserto. Após observar que a areia quente e o ar seco preservavam os mortos, os egípcios criaram um método de dissecação e mumificação acompanhado de um ritual religioso.
As primeiras múmias conhecidas são de 3000 a.C. Privilégio dos monarcas, 800 anos depois é que o processo se estendeu a qualquer um que pudesse pagar. E nem só humanos eram mumificados. Em janeiro, cães foram encontrados em El Faiyum, um oásis a 80 quilômetros do Cairo. “Era uma forma de homenagear animais de estimação”, explica o historiador Julio Gralha, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
As últimas múmias são do século 4 d.C.. A influência romana e o avanço do cristianismo podem ter encerrado a prática.
1. Limpeza geral.
O corpo era levado para tendas ao ar livre, em um lugar chamado Ibu (local de purificação), na margem oeste do rio Nilo, onde ficavam os cemitérios. Ali, era entregue a sacerdotes. Em uma mesa inclinada para coletar fluidos, era lavado com vinho de palma e água do rio.
2. Adeus, vísceras.
O sacerdote Ut removia os órgãos por um corte do lado esquerdo do abdômen. Só sobrava o coração. Pulmões, intestinos, estômago e fígado iam para recipientes especiais. O resto era jogado no rio Nilo — incluindo o cérebro, que era retirado pelas narinas.

3. Guardiões.
Os órgãos mais importantes eram armazenados em vasos. Eles representavam os quatro filhos de Hórus, deus dos céus: Duamutef (cachorro) cuidava do estômago; Qebehsenuf (falcão), dos intestinos; Hapi (babuíno), dos pulmões; e Amset (humano), do fígado.
4. Sal até as entranhas.
Com o cadáver livre das vísceras, começava o processo de desidratação, feito com natrão, um tipo de sal mineral muito comum na região. O corpo era preenchido e envolvido com esse sal e permanecia assim por 40 dias.
5. Recheio seco.
Após a desidratação, havia nova lavagem com água do Nilo e aplicação de substâncias aromáticas e óleos para aumentar a elasticidade da pele. Para não ficar deformado, o corpo era recheado com serragem e plantas secas. Só então recebia até 20 camadas de tiras de linho engomado.

6. Da cabeça aos pés.
A sequência para enrolar o linho começava pela cabeça, continuava pelas mãos (a direita primeiro) e depois pelos pés (na mesma ordem). O sacerdote Hery-Seshta usa uma máscara de Anúbis, deus dos mortos. As bandagens recebiam resina líquida que as mantinha unidas. Enfaixada e protegida, a múmia era devolvida à família e sepultada.
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