MARGARETH MURRAY: EGIPTÓLOGA, BRUXA E FEMINISTA
Nascida na Índia Britânica, Margareth se tornou um ícone no universo acadêmico de inícios do século 20.
JOSEANE PEREIRA PUBLICADO EM 20/05/2019
Com uma trajetória que mescla acusações de feitiçaria, estudos sobre a existência de fadas e escavações em sítios do Egito Antigo, Margaret Murray é uma das figuras mais icônicas do século 20, deixando em seu legado importantes contribuições para a introdução das mulheres no mundo da ciência.
Estudando a antiguidade.
Nascida em 13 de julho de 1863 em Calcutá, na Índia Britânica, Margareth trabalhou como enfermeira antes de partir para estudos em História e Arqueologia. Proveniente de uma família de classe média alta, ela se mudou para Londres em 1894 e logo se tornou amiga do grande egiptólogo William Flinders Petrie. Margareth fez parte de um grupo de estudos liderado por Petrie, que a encorajou a publicar seus primeiros trabalhos acadêmicos e a apontou como professora assistente em 1898.
Sua fama no meio acadêmico levou-a a se juntar a escavações em Abydos, no Egito, e em Saqqara, necrópole do Antigo Império Egípcio, perto do atual Cairo. Percebendo a febre que a egiptologia tinha entre os britânicos, Margareth escreveu muitos livros sobre o assunto, todos destinados ao público leigo.
Em 1908, a pesquisadora removeu as ataduras da múmia de Khnum-nakht, encontrada na famosa Tumba dos Dois Irmãos, ficando marcada na história como a primeira mulher a realizar esse tipo de trabalho.
Entre bruxas e fadas.
Em 1921, após ser rejeitada em uma escavação no Egito, Margareth foca seus estudos na hipótese do culto bruxo. Seu livro O Culto à Bruxaria na Europa Ocidental teve grande influência no emergente movimento religioso da Wicca. Nas palavras da própria autora: “Quando de repente percebi que o chamado Diabo era simplesmente um homem disfarçado, fiquei assustada, quase apavorada, pela forma como os fatos se encaixavam e mostravam que as bruxas eram membros de uma antiga forma de religião, e que os registros existentes tinham sido feitos por perseguidores de seu culto”.
Enquanto isso, o meio acadêmico passou a questionar sua posição como pesquisadora, afirmando que seus estudos não seriam fontes confiáveis e que a interpretação de Murray sobre a História não era demonstrável de acordo com as normas estritas do historiador.
Outras teorias de Margareth eram de que os elfos seriam uma subcultura humana que habitava locais das Ilhas Britânicas, e que as fadas eram os sobreviventes de uma cultura neolítica de pastores. Segundo o escritor J.B. Hare, “Quanto à levitação, Murray apontou que as bruxas usavam pomadas de ervas que continham alucinógenos antes de voar, produzindo efeitos extáticos. Além disso, a descrição das cerimônias de bruxas incluía danças prolongadas. Agora se sabe que os xamãs usam técnicas semelhantes que causam estados alterados de consciência, entre os quais a sensação de voar. Este aspecto da hipótese de Murray foi corroborado por outros estudiosos”.
Feminismo.
A trajetória de Margareth também é marcada pela atuação no movimento feminista emergente à época. Juntando-se à União Social e Política das Mulheres, organização que lutou pelo sufrágio feminino no Reino Unido entre 1903 e 1917, a escritora devotou grande parte do seu tempo em melhorar as condições de trabalho das mulheres na universidade. Seu ativismo correspondeu a uma época de despertar mundial de líderes intelectuais femininas, que não permitiam mais que suas conquistas e ambições fossem marginalizadas.
Margaret Murray faleceu em 13 de novembro de 1963, aos exatos cem anos, deixando a uns o legado de alguém que despertou religiões antigas e a outros, o preenchimento de lacunas no conhecimento científico e o exemplo de uma mulher que rompeu as barreiras de gênero de sua época.
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