Os Muckers.
No fim da década de 1860, o Município de São
Leopoldo, emancipado em 1846, estava dividido em vários distritos, do qual o 4º
tinha sua sede na Capela de Nossa Senhora da Piedade, no lugar hoje chamado
Hamburgo Velho e à época Hamburgeberg. Dentro da jurisdição desse distrito
estava o Morro Ferrabrás (hoje no Município de Sapiranga).
O episódio do Morro do Ferrabrás classifica-se
como um movimento messiânico e tem como líder do grupo dos Muckers, Jacobina
Mentz Maurer. A líder, se dizia a reencarnação de Cristo e queria criar uma
Cidade de Deus para seus fiéis. Sua mãe repreendia-a e, Jacobina, quando
criança entrava em transe e desmaiava, pois era muito sensível. Libório Mentz
era seu avô e fora expulso de sua aldeia na Alemanha por que pregava uma seita
pietista. João Maurer era carpinteiro, consta ter prestado serviço militar em
Porto Alegre, embora analfabeto, era ladino e insinuante e, à procura de forma
menos penosa de ganhar a vida, aprendeu a preparar remédios com ervas nativas
colhidas nos arredores e passou a receitá-la aos parentes e vizinhos. Os
colonos confiavam nas suas práticas de saúde. Jacobina apenas sabia ler em
alemão, ambos nascidos no Rio Grande do Sul, e filhos de imigrantes alemães,
João Maurer, tornou-se marido dela em 1866. Jacobina ajudava-o diagnosticando
doenças quando entrava em transe.
Rapidamente a Colônia toda de São Leopoldo começou
a comentar. Os colonos reuniam-se na casa de Jacobina, até mesmo protestantes
participavam das reuniões, ou para tratar de doenças, ou de serviços de
carpintaria. Ela cantava, ao ler a Bíblia interpretava-a, surgindo assim um
grupo religioso em 1868. O pastor João Brutschin, os apelidou de Muckers,
significando falsos religiosos. Já os Spöters eram adversários debochadores.
As fotografias representando, a primeira, Jacobina,
e a Segunda, os Maurer, foram publicadas no "Serra-Post Kalender",
1974 / 1975, no trabalho intitulado "Jakobine Maurer, die deutsche
"Christussin" in Brasilien, de Carlos H. Hunsche. Estas fotografias
foram entregues pelo Museu Histórico Visconde de São Leopoldo, como sendo
autênticas. Vemos que os trajes são típicos da cultura alemã, passada de
geração para geração. O casal de preto, casava com essa cor, porque naquela
época era moda, chique, todos casavam de preto, a moda era baseada nos padrões
europeus. "O vestido de casamento preto foi usual até a Segunda década do
século XX", segundo a autora de Memórias de um Imigrante Boêmio, na pág 8.
O casamento simboliza uma alteração da situação
social onde duas famílias se unem para formar uma terceira. O casamento
corresponde à passagem à maturidade, o vestido e o retrato fixam na memória
coletiva a lembrança da cerimônia. O rito estabelece tornar público o ato
privado. A cor branca do vestido é que mais se destaca, contudo, entre
camponeses alemães do sul do Brasil, existem retratos de noivos de preto, na
cultura camponesa européia. Para eles, o preto significa fertilidade, o húmus
da terra, as cinzas fertilizantes em contra posição a brancura da morte.
Em 19 de maio de 1872, dia de Pentecostes,
Jacobina foi ao seu quarto e depois de um estouro, seus fiéis viram que ela
tinha sumido, logo depois ouviu-se um outro estouro e ela reaparecera vestida
completamente de branco dizendo que visitara o céu. O pastor João Klein ajoelhou-se
diante de Jacobina e reconheceu-a como Cristo. Seus fiéis deveriam obedecê-la e
vigiar os companheiros. Filipe Sehn assistira à sessão e juntamente com o
professor Weiss redigiu um requerimento com 47 assinaturas pedindo a
intervenção da polícia, pois queriam repor a ordem da colônia. Os Muckers não
fumavam, não bebiam e não iam a bailes, por isto, os colonos desconfiavam dos
comportamentos estranhos, que para eles, eram diferentes aos demais colonos,
quebrando com a ordem da colônia. A situação agravou-se quando Maurer negou-se
a participar das eleições, (que não eram obrigatórias) e os fanáticos,
retiraram seus filhos das escolas católicas e protestantes.
Maurer e Jacobina foram presos, levados a São
Leopoldo e dali para a Capital. Ela estava em transe, e nem o médico conseguiu
despertá-la, somente seus fiéis cantando acordaram-na. Jacobina foi internada e
submetida a exame clínico na Santa Casa de Misericórdia. Passado breve tempo,
foram libertados com a condição de cessarem as reuniões. Na página seguinte
vemos o assentamento de Jacobina na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
Uma rasura referente ao internamento e um atestado fornecido pela Instituição
para a autora Elma Sant'Ana que fez buscas no arquivo. Como vemos, o exame
clínico feito em Jacobina Maurer, mostra que ela não tinha nenhuma doença, ou
coisa parecida.
Foram então proibidas as reuniões da seita, mas a
polícia considerou apenas briga de vizinhos. Quando voltaram a colônia, os
fanáticos construíram uma fortaleza, pois acreditavam estar protegidos pela
"Cristo Jacobina". O casal era culpado de tudo que acontecia, o
inspetor João Lehn sofreu um atentado a bala e uma escolta prendeu 33 muckers,
depois de um tempo foram soltos e começaram a agir com violência.
Na página seguinte, vemos a foto do Inspetor João Lehn,
naquela época as fotos tinham o formato arredondado, chamados de medalhas, e
geralmente as pessoas olhavam para um dos lados, com uma expressão de
seriedade. Na rua dos Andradas, fotógrafos expunham seus medalhões para atrair
o público e geralmente eram impressos em fino papel gessado para melhorar a
qualidade.
A observação nas fotografias faz nos ver que
existia uma pose, ou seja, uma postura artificial, através dela, as
diversidades procedentes e níveis econômicos. A auto representação da família
ou de um indivíduo apenas, denota a sua hierarquia, dignidade e estabilidade.
Conflitos e hostilidades, geralmente não aparecem.
A casa de Martinho Kassel, ex-mucker, foi
incendiada, morrendo a mulher e filhos, depois foi a vez da casa de Carlos
Brenner, o comerciante perdeu os filhos assassinados. Como pode-se observar, na
seguinte página, a foto da lápide do túmulo da família Kassel. A lápide tem o
modelo de meados do século XIX, datada de 1874 e está escrita em alemão, língua
falada pelos imigrantes alemães daquela época.
Os muckers incendiaram as vendas de Filipe Klein e
de Jacó Schmidt. Mataram Clemente Klay e assim continuaram com os atos
violentos.
O Cel. Sampaio entrou na mata com seus soldados e
somente depois descobriu que seus homens eram apenas recrutas, enquanto que na
segunda vez do ataque, Jacobina fugiu para o Morro do Ferrabrás com alguns
adeptos e esconderam-se. À noite o coronel levou um tiro na região próxima ao
glúteo e na manhã seguinte estava morto por hemorragia.
Na página seguinte, vemos o monumento ao Coronel
Genuíno Olympio Sampaio que foi feita em sua homenagem, por ter lutado pela
restauração da ordem da colônia, erigido por filhos de colonos voluntários que
combateram contra os muckers e está datada de 1874. Hoje a estátua está abandonada e não há o menor
interesse em fazer algo por ela.
Um novo comandante, juntamente com um capitão
retomaram os ataques, mas não surtiam resultados, mas como há sempre alguém que
"dedure", nos muckers foi Carlos Luppa, que guiou os soldados em
troca da diminuição de sua pena.
Na noite de 02 de agosto de 1874, deu-se um
tiroteio que acabou com os muckers, Jacobina e 16 fiéis, os despojos de Maurer
foram encontrados meses depois, quase irreconhecíveis, não se sabendo se ele
praticou suicídio ou se foi assassinado por seus ex-companheiros. Os outros
foram presos condenados e processados pela Justiça, durante oito anos penaram,
quando soltos continuaram a serem perseguidos pelos colonos que ainda eram
amedrontados.
O triste episódio de fanatismo religioso, aliado a
intrigas de colonos e autoridades e falta ou deficiência de informações exatas,
terminou por provocar uma tragédia social. Os muckers, foram colonos que
ocuparam o Ferrabrás, povoado por imigrantes alemães agricultores, sem
assistência médica, religiosa e educacional que entraram num processo de
decadência social e de empobrecimento. A falta de habilidade policial,
instigada por acusações exageradas, terminou por acirrar o ódio entre os
colonos que seguiam o casal Maurer, contra a situação de vexame que lhes
impunham autoridades e vizinhos. Tropas do exército, sem disporem de um
desejável sistema de informações, foram lançadas numa operação sangrenta, fruto
da inabilidade das autoridades de São Leopoldo e da Província.
Ambrósio Schupp, padre jesuíta, narra como uma
novela e não analisa o contexto histórico, considerando que o surgimento foi
falta de instrução e de assistência espiritual.
Petry, diz que o movimento era uma revolta contra
a arbitrariedade de órgãos policiais.
Becker, considerou Jacobina como doente mental e o
pastor João Klein um fracassado que influía na seita.
Janaina Amado, caracterizou o movimento como luta
de classes.
Domingues, usa farta documentação, analisa os
fatos que estão dentro do contexto colonial e não histórico.
Depois de analisar tantas fontes, baseio-me nas
conclusões conforme o Dr. Prof. Moacyr Flores coloca-as em seu livro. A
intolerância religiosa entre os diferentes ramos do cristianismo, com raízes
européias, encontrando terreno fértil na colônia, graças a falta de habilidade
das autoridades. Católicos, protestantes e muckers não souberam argumentar com
reciprocidade, apenas impuseram os princípios com violência, ocasionando a
destruição de grupo menor que pretendia alcançar seus objetivos, sem refletir
sobre os meios, sacrificando pessoas em nome de uma utopia religiosa.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS.
O BAIRRO AMARAL RIBEIRO.
Localiza-se aos pés do Morro Ferrabrás, hoje a
região está completamente abandonada e não há permissão de acesso à área onde
moravam os Maurer, ninguém encoraja-se de morar lá e muito menos restaurar o
local para turismo ou para a memória histórica do episódio. Nem pensam em
construir um espaço para um pequeno museu, pois as coisas que restam estão no
Museu de São Leopoldo. A cruz que assinalava o lugar, não existe mais.
A CASA DOS MAURER.
Não tendo sido preservada veio abaixo e os
escombros estão cobertos com tanto mato. Na planta observamos um plano dos
arredores mais próximos e o posicionamento de cada coisa. Feito por eles para
manter um melhor controle da área e das pessoas e por onde deveriam circular ou
como poderiam armar uma armadilha. Atrás da planta, vemos um mapa feito a mão,
calculado e demarcando todas as áreas de interesse de controle dos Muckers.
Igualmente como o anterior em sua intenção.
SAPIRANGA.
Hoje, Sapiranga é conhecida como a Cidade das
Rosas e oferece passeios bem interessantes. Do alto do Morro Ferrabraz tem-se
uma vista magnífica do Vale dos Sinos. Nele está localizada uma cidade jovem,
ocupando espaços da encosta e do vale: é Sapiranga, também cidade do Vôo Livre.
Paisagens variadas atraem turistas: na encosta, ao norte, a paisagem colonial
alemã predomina associada à Mata Atlântica, às cascatas, aos túneis verdes e às
lindíssimas vistas do Vale dos Sinos e da Grande Porto Alegre. Ao sul, no
Banhado dos Sinos, a lembrança da ocupação portuguesa é mantida com fazendas
que convivem com uma riquíssima fauna e flora e com o paraquedismo. No centro
desse espaço, entre o rio e a encosta, está a cidade de Sapiranga. Suas praças,
jardins, parques, ginásios, centro de cultura e museu possuem algo em comum: a
rosa. A rainha das flores ilumina e alegra a cidade, como símbolo da vida e da
esperança dos sapiranguenses.
O Morro Ferrabraz foi o palco do conflito dos
Mucker e hoje, no local da chacina de Jacobina e seus seguidores, os homens
pássaros pousam com suas asa-deltas e paragliders coloridos. Um dos símbolos de
liberdade do homem, voar livre, parece fazer justiça à memória destes homens e
mulheres que lutaram por uma vida melhor.
GENEALOGIA DA FAMÍLIA MENTZ.
CRISTIANO FISCHER.
RELAÇÃO DOS MUCKERS.
AUTORIDADES.
TABELA DE PROPRIEDADES E RELIGIÕES.
MAPA.
FAX.
EDIÇÃO ALEMÃ.
DOCUMENTAÇÃO DE AMBRÓSIO SCHUPP.
TABELA DE MORTOS E PRESOS.
COLOCAR APÊNDICE.
BIBLIOGRAFIA.
BARBOSA, Fidélis Dalcim. Os
Fanáticos de JacobinaI. Porto Alegre: EST, 1984.
DOMINGUES, Moacyr. A
Nova Face dos Muckers. São Leopoldo: Rotermund, 1977.
FORTINI, Archymedes. O
Passado através da Fotografia. Porto Alegre: Grafipel, 1959.
FLORES, Hilda Agnes
Hubner. Canção
dos imigrantes. Porto Alegre: Escola Superior
de Teologia São Lourenço de Brindes, 1983.
FLORES, Hilda Agnes
Hubner. Memórias
de um Imigrante Boêmio. Porto Alegre: Nova
Dimensão, 1997.
FLORES, Moacyr. História
do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Nova Dimensão, 1997.
GALVÃO, Antônio Mesquita. & ROCHA, Vilma Guerra. Mucker Fanáticos ou Vítimas ? Porto
Alegre: EST, 1996.
KERN, Juan. Arquivo pessoal do doutor.
LEITE, Miriam Moreira. Retratos
de Família. São Paulo: EDUSP, 1993.
PETRY, Leopoldo. O
Episódio do Morro Ferrabraz. São Leopoldo: Rotermund, 1966.
SANT'ANA, Elma. Jacobina
Maurer - Coleção Esses Gaúchos. Porto Alegre: Tchê !, s/data.
SCHUPP, Ambrósio. Os Mucker A Tragédia Histórica do Ferrabrás.
Porto Alegre: Martins Livreiro, 1993.
ÍNDICE
OS MUCKERS...............................................................................................................3
FOTO DO CASAL
MAURER.......................................................................................5
FOTO ATRIBUÍDA A
JACOBINA..............................................................................7
ATESTADO DE
INTERNAMENTO............................................................................9
FOTO DO INSPETOR JOÃO LEHN...........................................................................12
AUTORIDADES DAQUELE
TEMPO.........................................................................13
LÁPIDE DA FAMÍLIA
KASSEL..................................................................................15
ESTÁTUA DO CEL. SAMPAIO..................................................................................17
MAPA FEITO PELOS
MUCKER.................................................................................19
PLANO DO BURGO DOS
MUCKER..........................................................................20
SAPIRANGA.................................................................................................................22
SÃO LEOPOLDO E O FERRABRÁS...........................................................................23
SÃO LEOPOLDO E O FERRABRÁS EM
1940...........................................................24
VISTA DO REDUTO
MUCKER...................................................................................25
O BAIRRO AMARAL E A CASA DOS
MAURER.....................................................26
IDENTIFICAÇÃO E
ROTEIRO....................................................................................27
GENEALOGIA DA FAMÍLIA MENTZ.......................................................................29
CHISTIANO FISCHER..................................................................................................30
RELAÇÃO DOS
MUCKER...........................................................................................31
TABELAS.......................................................................................................................32
MAPA DO LOCAL DO
CONFLITO............................................................................33
FAX................................................................................................................................34
EDIÇÃO
ALEMÃ..........................................................................................................35
ASSINATURAS AO PADRE
SCHUPP........................................................................36
TABELA DE MORTOS E
PRESOS..............................................................................39
APÊNDICE.....................................................................................................................40
BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................44
PRÓLOGO
O presente texto faz um estudo em relação aos
fatos e o movimento ocorrido no Morro do Ferrabrás. Não se pretende a defesa de
Jacobina Mentz Maurer, essa colona de origem alemã, nascida em Hamburgo Velho,
afamada pelo episódio dos Mucker do Ferrabrás. Jacobina ordenou a violência, é
certo. Talvez não fosse uma mãe modelo, nem uma mulher dedicada ao marido, como
seria normal esperar-se no meio em que vivia, mas Jacobina não foi uma mulher
comum para sua época. Hoje, seria, quem sabe uma médium, uma umbandista bem
sucedida, como imagina Antônio Augusto Fagundes, em sua tese: “As santas –
prostitutas”, sobre as devoções populares. O certo é que seus transes
espirituais, nos dias de hoje remetidos ao campo da parapsicologia, foram
interpretados à época como sinais de Deus apontando um novo caminho, o que
desagradou muita gente a sua volta, principalmente as autoridades constituídas,
para quem o poder de Jacobina sobre aqueles rebeldes muckers ameaçava a ordem
social. (Enviara-se soldados bem armados para combater os colonos do Ferrabrás,
que aproximadamente eram 150, entre homens, mulheres e crianças). A dolência
não demorou para instalar o ódio na região de Sapiranga. E o desfecho não
poderia ser outro que as crueldades do dia 2 de agosto de 1874.
"Onde é derramado sangue, e onde as vítimas
são tratadas com injustiça; surgem, e terão que surgir, movimentos que por
muito tempo agitarão o povo. Assim, surgiram com quase todas as religiões:
sangue e injustiça são os promotores de grandes acontecimentos sobre os quais a
historiografia terá que escrever um dia", diz Hunsche.
E assim, o último livro sobre os Mucker ainda não
foi escrito. A problemática não está esgotada. O que foi escrito até agora,
sempre ou quase sempre, excetuando-se Moacyr Domingues, os demais fazem com uma
intenção: são engajados e a historiografia pede a verdade e unicamente a
verdade.
"Ambrósio Schupp escreveu a sua história sobre
os mucker com o fato de dizer aos seus fiéis: é isto que acontece quando a
gente lê a Bíblia!"
Leopoldo Petry foi informado por parte da mãe dele
que os Mucker eram pessoas boas. Apesar de ser católico, ele começou a lutar
pela justiça dos Mucker e ultrapassou um pouco ou bastante o limite histórico,
fazendo deles uma espécie de 'gente boa'. Eles não foram uma 'gente boa', mas
também não foram aquilo que está nos livros em geral. Simplesmente, devem ser
melhor estudados.
"Os Mucker eram trabalhadores. Pertenciam ao
grupo, às famílias mais respeitáveis, mais religiosas, mais abastadas. Portanto
não é verdade o que se tem afirmado de que seria um bando de criminosos, um
movimento comunista ou um movimento religioso. Este grupo esforçou-se por um
cristianismo sem ostentação e tornou-se, assim, a consciência ambulante para os
fariseus, para os justiceiros". Tornando-se a consciência ambulante, eles
viram lá, o que os padres e pastores não viram conclui Hunsche.
Nos tempos mais recentes tem se procurado, com a
versão dos vitoriosos suficientemente conhecida, resgatar o outro lado da
História. É o que se almeja aqui, onde se procura ajudar a entender Jacobina.
Não se comete a imprudência de afirmar que obtivemos uma visão perfeitamente
imparcial. A minha condição de mulher naturalmente pesa na interpretação de uma
outra figura feminina tão controvertida quanto Jacobina. Como deixar de ver na
acusada sua missão de mãe, por exemplo, às voltas com uma maternidade que lhe
significou seis filhos em oito escassos anos? Como deixar deflagrar sinais
inequívocos de corriqueira puberdade, quando a História descobre os primeiros
indícios de seus problemas psicológicos aos doze anos? Como deixar de
comover-se com a mulher que, coagida por ter assumido o seu papel de líder,
separa-se de seus filhos, desconhecendo o rumo por eles tomado? De todo modo
procurou-se aqui não incorrer em erros que tanto têm deformado a visão deste
evento social.
Na tese Conflito social no Brasil - revolta dos
Mucker, Janaína Amado comete dois enganos até certo ponto incompreensíveis.
Cita. por exemplo, Wolfang Hoffmann Hamich como responsável pela afirmação de
que o padre Ambrósio Schupp orientava cs Mucker (pág. 22). Tal citação, na
página indicada da obra O Rio Grande do Sul, simplesmente não existe. Também
despreza ou ignora a tradição da Capital das Rosas, a cidade de Sapiranga, ao
dizer que Leopoldo Petry em seu livro O episódio do Ferrabrás contrapunha às
acusações a Jacobina e seu marido com o argumento de que eles tratavam com
esmero as suas plantações e jardins. No bem da verdade, Petry não procurou
defesa nas roseiras, mas simplesmente retratou um costume conhecido dos
sapiranguenses, amantes dos roseirais.
Carlos H. Hunsche não concorda com o termo
"revolta", usado por alguns pesquisadores e, no caso especifico, o título
dado por Janaina Amado à sua tese de mestrado - Conflito social no Brasil - a
revolta dos Mucker. Hunsche justifica dizendo: "Não houve nenhuma revolta.
Eles apenas se defenderam quando foram atacados. Viviam numa santa simplicidade,
abandonados eclesiasticamente pelas igrejas, os protestantes, e mais ainda
pelos católicos. Os católicos tiveram em 1849, os seus primeiros dois jesuítas quando
começou a contra-reforma, assim recuperaram muito terreno que haviam perdido
diante dos protestantes. Eles tinham a força da igreja católica, que era
religião do Estado. Os casamentos mistos, os quais (havia um sem número) eram
declarados inválidos e com todas as conseqüências. Imaginem que judiação mental
para aquela pobre gente, que havia se casado com base numa orientação antes da
vinda dos jesuítas, e que passam a declara-los inválidos. Reinou a confusão.
"Eram atacados pelo protestantismo, pelo
catolicismo e pela maçonaria, tendo à frente o seu expoente máximo, o livre
pensador Karl von Koseritz. No assunto contra os Mucker, os três lutavam na
mesma direção. Eles declaravam que a superstição era uma queda ao
medievalismo." Ruam Kem não concorda que a luta tenha sido da maçonaria,
mas especificamente de Karl von Koseritz, que era maçon de alto grau e diretor
de um jornal. A perseguição era de ordem pessoal. A maçonaria, como
instituição, não teve interferência, conclui Kem.
O cenário dos acontecimentos é importante. Começa-se
por uma consideração de Leopoldo Petry, em O episódio do Ferrabrás: "Além
do abandono espiritual devemos tomar em consideração o abandono material em que
viviam os primeiros colonos. Os imigrantes aqui chegados em 1824 e nos anos
seguintes, foram transportados com seus haveres para as picadas abertas na mata
virgem, e ali abandonados à sua sorte. Trabalhar para sobreviver ou morrer -
eis a alternativa ante a qual se encontravam. Preferiram trabalhar." O jornalista
Karl Von Koseritz, escreveu em 1874, às vésperas do confronto de dois de
agosto, que quando esteve pela primeira vez no local, sentiu "uma espécie
de confrangimento no coração à visão do Morro do Ferrabrás com "aquela
negra massa montanhosa, coberta de espessas matas". Imagine-se agora os
colonos ali plantados ao pé do intransponível morro, destituídos de apoio e
agarrados à sua histórica religiosidade, como ressalta Leopoldo Petry,
animando-se a garantir que o germânico trouxe para o Brasil, como um patrimônio
sagrado, o espírito religioso, aguçado pela reforma protestante. Viviam em um
lugar chamado, antigamente de fazenda do Padre Eterno.
Moacyr Domingues descreve as transações realizadas
na Picada do Ferrabrás, em documentação encontrada no Arquivo Histórico do
Estado do Rio Grande do Sul: "A grande fazenda do Padre Eterno foi vendida
‘em partes, a duas sociedades' Blauth &Matte, que loteou a chamada Picada
do Verão (Sommerschneis), com trinta prazos coloniais; e Schrnitt &Krrner
que colonizou a Zona Norte do Ferrabrás (cinqüenta prazos), a Picada da Bica
(dezessete prazos) e a Picada do Ferrabrás. "Esta começava a meio caminho
entre a atual cidade de Campo Bom e a de Sapiranga, e passava além desta;
situada ao sul da Serra do Ferrabrás, continha 62 prazos coloniais, medindo
cada um cem braças (220 metros) de frente por 1500 braças (3300 metros) de
fundos e área superficial de 150 mil braças quadradas ou 72,6 hectares.
"A picada propriamente dita, de uma extremidade à outra,
mediria, se retilínea, 6820 metros, mas certamente uns sete quilômetros devido
às curvas." Acredita-se que a colonização ali começou em 1845. O pai de
Jacobina, André Mentz, adquiriu naquela área, em sociedade com seu irmão Libório
Mentz, 363 hectares, comprando cinco prazos nos anos de 1856 e 1847. João Jorge
Klein, cunhado de Jacobina, comprou um prazo em 1856. João Jorge Maurer, o
marido, possuiu 45,375 hectares, embora constasse após sua morte, no
inventário, "que os únicos bens que ficaram na herança é um pedaço de
terras de matos e capoeiras com 62, 1/2 braças de frente ao sul com 1500 braças
de fundos (...), com algumas ruínas da casa que foi incendiada".
No final da década de 1860, o município de São Leopoldo
(emancipado em 1846) tinha como seu quarto distrito o lugar chamado à época de
Capela de Nossa Senhora da Piedade, ou Hamburgerberg, hoje conhecido como
Hamburgo velho. Em sua jurisdição ficava o Morro do Ferrabrás, que hoje em dia
pertence ao município de Sapiranga, onde os jovens praticam seus vôos.
Na chamada Picada do Ferrabrás moravam o carpinteiro João
Jorge Maurer e sua esposa Jacobina Mentz Maurer. Ela nascida em Hamburgo Velho,
ele na Picada de São José do Hortêncio, ambos de origem alemã. Casaram-se em 26
de abril de 1866 em Hamburgo Velho. Moraram um ano na casa da sogra, no mesmo
distrito. No ano seguinte, mudaram-se para a Picada do Ferrabrás. Segundo
Carlos H. Hunsche, o movimento dos Mucker não é do Ferrabrás. Ali viveram
quando jovens Jacobina e seu marido e umas novas famílias. Alerta Hunsche, ninguém
pesquisou de onde vieram os Mucker, embora exista uma lista destas famílias no
livro de Petry. A maioria dos Mucker procederam da paróquia do velho pastor, Hunsche,
a paróquia de São José do Hortêncio e Linha Nova. Mais tarde, ao comprarem
terras, acabaram saindo destas paróquias.
CN Mucker, Mucker, quer dizer santarrão ou beato, em alemão.
Pode ser, como ensina Carlos H. Hunsche, resmungadores, encrenqueiros,
naturalmente considerando-se a palavra no plural. De qualquer maneira, a
expressão não ficou limitada a estas traduções ao longo dos cem anos que nos
separa dos trágicos episódios de Ferrabrás. Facinoras, imorais, assassinos eram
alguns dos termos mais frequentemente empregados para designar os seguidores
dessa estranha seita nascida na ex-colônia de São Leopoldo, por volta do ano de
1868, quando João Jorge Maurer, o marido de Jacobina, solidificou sua fama de
curandeiro. Houve uma falta de médicos e escolas neste período, que nos
primeiros anos da imigração até 1830 não se constatava. Atribui-se esta falta
como resultado do abandono sofrido pela colonização alemã devido à Revolução
Farroupilha e a interrupção da vinda de outros imigrantes devido a esta
revolução. Nesta lacuna foi fácil para João Jorge Maurer, que havia prestado
serviço militar em Porto Alegre, procurar uma vida mais fácil e trocar as lides
do campo pelo curandeirismo.
Há quem, determinando os períodos cronológicos da história dos
Mucker, como faz Janaína Amado em sua tese de mestrado, divida o processo em
sete fases distintas. A primeira naturalmente é aquela do curandeirismo de João
Jorge Maurer, em 1868. A segunda, delimitada entre 1869 e 1871, começa no
surgimento de Jacobina como o móvel do episódio. A terceira, entre 1871 e o
final de 1872, seria aquela em que a seita passa a admitir novas idéias como o
milenarismo, segundo o qual o fim do mundo estava próximo.
A quarta fase, cujo período vai de 1872 até maio de 1873, já
encontra os Mucker pressionados, perseguidos, abandonando escolas, eleições e
igrejas. Criam um mundo de leis próprias. Os velhos deixam de ser conselheiros,
abrindo caminho para as lideranças mais jovens indicadas por Jacobina. Radicalizam-se
também as posições que conduzirão os Mucker a um desfecho violento na luta
contra a repressão cada vez mais organizada. Jacobina decididamente assume o
papel de Messias, líder único e absoluto da seita. João Jorge Maurer, o famoso
curandeiro passa para um-plano secundário.
A quinta fase, entre maio e dezembro de 1873, mostra os Mucker
começando a se armarem, reconhecendo que a violência era um meio de ação
aceitável para sua luta religiosa. A sexta fase, de dezembro de 1873 a junho de
1874, indica a queda definitiva de João Jorge Maurer e a conseqüente ascensão
do jovem Rodolfo Sehn, aquele que foi descrito como o amante em cujos braços
Jacobina morreu. Nesse período os Mucker rompem os últimos cordões que os
ligavam ao mundo exterior, este horrível mundo que não se limitava aos inimigos
de São Leopoldo: até mesmo o imperador, destinatário de um abaixo assinado pelas
autoridades locais, fez voltar este pedido de consideração para estas mesmas
autoridades. E eis a sétima fase, a última, em que se assumem posições bélicas
de defesa e ataque, culminando com o confronto de dois de agosto, no qual
Jacobina Mentz Maurer sucumbe varada por tiros militares junto com outros
dezesseis seguidores da seita. Foram acusados de subversivos e comunistas,
fanáticos e sanguinários - enfim, odiados e perseguidos, em uma espécie de
cruzada que atinge ainda hoje seus descendentes pouco afeitos a depoimentos
sobre os episódios que marcaram, como uma mancha ingrata, a colonização alemã.
É justo reconhecer que alguns pesquisadores como Carlos H.
Hunsche Moacyr Domingues, Janaína Amado, o repórter Carlos Alberto Kolecza,
Hugo Muxfeldt e o antropólogo Antônio Augusto Fagundes, mais recentemente
partiram para árduas e sinceras tentativas de resgatar a verdadeira história dos
Mucker, durante muito tempo limitada à versão nada imparcial do jesuíta Ambrósio
Schupp, e a do "reabilitador" Leopoldo Petry. É possível, graças ao
trabalho deles, vislumbrar-se com mais clareza o que era a solta e sobretudo o
que conduziu os homens a ela. Pode-se avaliar, por exemplo, o abandono a que
estavam relegados os colonos, jogados ali cinqüenta anos antes dos acontecimentos,
sem médicos nem escolas. Não é outro o motivo da seita ter iniciado despretensiosamente,
a partir do momento em que o marido de Jacobina, João Jorge Maurer, ganha a
fama de curandeiro, que fazia milagres utilizando-se de ervas medicinais.
Chegavam a chamá-lo de Wunderdoktor, ou seja: o Doutor Maravilhoso. É possível
que por esperteza, como querem alguns, João Jorge Maurer tenha observado os
dotes que a esposa possuía para auxiliá-lo na empreitada e a tenha estimulado
decisivamente. E também é provável que desta fase despretensiosa, o casal
passasse a um sistema mais organizado com o surgimento de João Jorge Klein,
cunhado de Jacobina, homem culto, que escreveria as cartas do grupo. Foi
considerado por muitos como o mentor intelectual dos acontecimentos. O
movimento cresceu perigosamente, ameaçando os valores estabelecidos na região,
subvertendo a ordem. Para Carlos H. Hunsohe, os Mucker são uma reação a um
racionalismo, a um espírito morto, a uma tentativa de sair do marasmo deste
racionalismo pelos meios simplórios de uma colônia que começava em pequenos
círculos, dentro de sua própria família. Quase todos eram parentes. Era um movimento
de família.
Os colonos achavam que Jacobina, por ser sonâmbula, sabia
segredos desconhecidos dos demais mortais. Jacobina foi o mito deste movimento.
Dela diziam: é o Cristo feminino, o Messias, a Mártir. É claro que os adversários
a brindarão com outra espécie de nomenclatura, acusando-a de tara,
prostituição, devassidão e o que mais se pode dizer de uma mulher, semi-analfabeta,
que em vez de estar em casa, cuidando dos filhos e cozinhando, resolve assumir
o papel de agente divina na terra. Jacobina incomodava porque também fugia aos
padrões da colona da época. Não estava sozinha nem era a única responsável,
dentro da seita dos Mucker, pelo que acontecera entre os anos de 1868 e 1874.
Vamos formar um triângulo imaginário para melhor entendimento
de seu papel neste episódio. Em uma das pontas está Jacobina. Na outra, seu marido
e companheiro, João Jorge Maurer. O outro vértice seria João Jorge Klein,
considerado o mentor intelectual da seita. João Jorge Maurer tem uma
importância vital, pois foi através dele, do seu trabalho e da fama de
curandeiro milagroso que foram atraídos os primeiros seguidores da seita. Possivelmente
ele tinha o intuito, com a esperteza adquirida no tempo da mulher, com sua
ajudante nas curas, com aqueles misteriosos transes espirituais. Até um certo
momento, a seita parecia despretenciosa e não despertava mais que olhares
atravessados dos católicos, dos comerciantes e das autoridades. Embora João Maurer
tenha sido considerado um boa-vida, na verdade nem ele e nem Jacobina enriqueceram.
"O único sinal que se poderia encarar como de prosperidade econômica do
casal", garante Janaina Amado "foi a construção de uma nova casa, ao
lado da antiga em 1873, mas foi apenas uma casa erigida em sistema de mutirão
pelos adeptos, para abrigar doentes e os membros do grupo em número sempre
crescente".
Quanto a João Klein, cunhado de Jacobina, efetivamente poderia
ter se ocultado atrás da fama que o casal Maurer recebia para instruí-los ao
encontro dos seus desejos. Não se pode esquecer, por exemplo, que Klein era um
pastor frustrado: ele foi proibido de pregar em Sapiranga, em 1859, por ser
mestre escola e não um teólogo habilitado por autoridades competentes da
Alemanha. Na verdade, não tinha formação teológica naquela época. Há quem diga
que Jacobina foi um instrumento nas mãos dos dois homens, como afirma o
psiquiatra Juan Kern, depois de estudar o perfil dos três. Pára ele: João Jorge
Maurer era um boa-vida, um ignorante; João Jorge Klein, um espertalhão;
Jacobina, pode ter sido uma inocente útil. Ou talvez, nem tão inocente assim, mas
útil sem dúvida, se considerarmos o triângulo cujos lados mais pontiagudos determinam
a sua história.
Leopoldo Petry nos relata um fato ligado à crendice popular,
serviu para atrair maior número de pessoas às reuniões na casa de "Por
ocasião do início da seita dos Mucker, apareceu na zona rural do Estado um
opúsculo sobre sonambulismo e do qual se afirmava: tudo o que contém este livro
é pura e santa verdade'. Aconteceu, por infelicidade, ter certo médico
classificado como sonambulismo o estado de Jacobina e todos aqueles que tinham
lido o mencionado livro, sentiam o desejo de ver uma legítima sonâmbula que, em
sua opinião, seria uma vidente e, como tal, sabedora de segredos desconhecidos
aos demais mortais. Não admira, pois, que esta gente ingênua vivia convencida
de que a vidente, sabendo mais do que eles, e talvez inspirada por um poder
sobrenatural se encontrava em condições de prestar-lhes explicações exatas
sobre passagens obscuras da Bíblia." Foi esta a origem das reuniões na casa
de Jacobina, alerta Petry, e que, uma vez conhecidas atraíam cada vez mais, um maior
número de curiosos. "Nesta altura dos acontecimentos, Maurer concebeu a
idéia, sem dúvida esperta, de aproveitar o estado de Jacobina para fins
comerciais e deles auferir lucros. Sem capacidade intelectual suficiente para
proceder com a necessária cautela, não demorou muito que se encontrasse em
situação crítica. Não via possibilidade para recuar, porquanto o movimento já
tornara proporções por demais expressivas. Obrigado a deixar livre curso à
marcha dos acontecimentos, estes o levaram, junto com seus asseclas, à ruína".
Finalizando, Petry coloca a ignorância e a crendice como causas dos graves
erros ocorridos no Ferrabrás. Se o marido João Jorge Maurer utilizou-a, o
cunhado João Jorge Klein foi importante na formação de Jacobina. Pensamento
semelhante, que conduz Jacobina a um papel secundário nas primeiras etapas do
movimento, atravessam a mente do psiquiatra Juan Kem, que viajou muito pelas
colônias do Ferrabrás, pesquisando a história da líder dos Mucker. Kem aplica o
método psiquiátrico à pesquisa histórica. E nesse "triângulo" faz a
seguinte observação: "Ela foi apenas um elemento manejado pelo boa-vida
Maurer e pelo perigoso Klein, que era o verdadeiro diretor de Jacobina".
Carlos H. Hunsche, pesquisador e historiador, assim se refere a Jacobina:
"Ela não quis ser o Cristo como os outros disseram. Embora sendo uma
colona simplória, foi suficientemente inteligente. Ela não iria se declarar
Cristo, estando dentro de seu coração a grande veneração de Cristo. Isto, foi
dito pelos outros. 'Você é como Jesus!'Quem incutiu isto foi Klein, que
lamentavelmente, não foi grande o suficiente para vislumbrar que com o
sofrimento dela, a heróica morte dela e muitos outros aspectos, poderiam ter
feito dela uma criadora de uma nova religião. Faltou o santo, como no caso de
Jesus e seu apóstolo Paulo."
Concluindo, Hunsche acredita que Jacobina queria apenas ajudar,
mas era uma ingênua e estava lamentavelmente unida a um espertalhão. Ela quis o
bem, mas não estava preparada, não tinha o espírito devidamente lúcido. João Jorge
Mame, "Homem ainda moço, cheio de rosto, simpático, barba inteira e
cerrada, cor de castanha. Nas linhas do rosto não se lhe descobre nenhum traço
sequer que revele uma inteligência acima do comum, ou uma energia não vulgar;
pelo contrário, tudo nele está a denunciar um temperamento pacífico e uma certa
simplicidade bonachona. Escola não a freqüentou João Jorge: não sabe ler nem
escrever. " Agraciado com esta descrição pelo padre Ambrósio Schupp, João
Jorge Maurer realmente parecia o homem ideal receitado pelo doutor João Daniel
Hillebrand como remédio para acabar com os ataques da menina Jacobina.
"Tinha boa índole, era insinuante, de trato amável e um tanto refinado,
cuidava da aparência e por isso não admira que Jacobina tenha se enamorado
dele", observa Moacyr Domingues. Nascido a 28 de fevereiro de 1841, no lar
evangélico dos alemães João Carlos Maurer e Maria Bárbara Voltz, o mais velho
dos quatro filhos deste casal serviria à Guarda Nacional, em Porto Alegre, no
início da guerra do Paraguai e ainda aprenderia o ofício de marceneiro.
Julga-se que na colônia, de pouco lhe valia tal conhecimento. Pois, como diz
Petry, parecia um luxo dispensável aos colonos da região recorrerem a um
carpinteiro para mobiliarem suas casas.
Foi, porém, exatamente em uma carpintaria que Jacobina e João Jorge
encontraram-se em São Leopoldo. Era a carpintaria de Pedro Mentz, irmão da
mulher com quem João Jorge teve seus seis filhos: Jacob, Henrique, Francisco
Carlos, Matilde, Aurélio e Leidard que tinha poucos meses no último combate os
Mucker, em dois de agosto de 1874. No primeiro dos oito anos de vida conjugal,
o casal morou com a mãe de Jacobina, dividindo a habitação ainda com Carolina,
a filha mais nova da senhora Mentz. Um ano depois, provavelmente devido a desentendimentos
com Carolina, os dois foram morar em Ferrabrás. Era o segundo semestre de 1867
e o casal já tinha um filho, Jacob. No ano seguir, de acordo com os registros
mais insistentes, João Jorge começou a angariar a fama de curandeiro que
marcaria sua vida. Tinha, então, 28 anos. O que teria levado este
colono-carpinteiro a dedicar-se a cura dos doentes que provocava romarias em sua
casa em busca de milagres?
Contam as versões mais lendárias, devidamente registradas com
desconfiança pelo padre Schupp, que tudo teria começado em um encontro
protagonizado por João Jorge e um curandeiro de nome Buchhom, responsável pelo
estimulo a uma até então desconhecida vocação para a Medicina. Estava João
Jorge na roça quando ouviu uma voz: "Que estás tu aí a mourejar? lança
fora esse machado e trata de seguir a tua vocação: tu nasceste para
médico!" Era um aviso dos céus, disso João Jorge não duvidava. Assim,
imediatamente abandonou o machado e virou médico, conforme conta Schupp.
Padre Schupp conta, entretanto, que mal João Jorge retirou-se
da sua lavoura "quando detrás de um arbusto vizinho, se esgueirava,
sorrateiramente, um individuo de estatura alta, retirando-se com ar satisfeito
e triunfante". segundo Klein, cunhado de João Jorge, foi precisamente do
contato com o curandeiro que Maurer "amadureceu a resolução de tornar-se
médico". Não foi, como se sabe agora, um médico comum. Tratava qualquer
tipo de doença, mas pouco variava o método de cura, fundamentado basicamente no
emprego de ervas medicinais, emplastos e ungüentos. É certo que virou um
verdadeiro ídolo nas colônias próximas e distantes, supridas, enfim, da falta
dos escassos médicos que vinham de longe e cobravam caro quando apareciam. Não
foi à toa que logo João Jorge conquistou a fama outorgada pelo título que exibiu
a partir de então: era o Wunderdoctor. O Doutor Maravilhoso. João Jorge Klein, costumava
vestir-se de preto. Era alto e robusto. "De fronte espaçosa, cabelos
negros, sobrancelhas hirsutas que sombreavam dois olhos penetrantes" -
como descreveu padre Schupp. Nunca se naturalizou brasileiro. Se casou com
Catarina, uma das irmãs de Jacobina. Com isso, conquistou uma posição
privilegiada nos episódios de Ferrabrás dentro da família da mulher, na qual,
segundo Moacyr Domingues, ocupou de inicio o posto de atento observador.
"Mais tarde, deixou-se envolver pela seita e compartilhar de suas
vicissitudes", acrescenta Domingues. Para muitos, o culto filho de Maria
Ana e João Klein, nascido a quatorze de maio de 1820, na Alemanha, foi o
"mentor intelectual" do movimento. Na verdade, possuía uma cultura
acima da média dos moradores da colónia. Com curso no Seminário de Professores
Públicos que licenciava para o magistério, João Jorge Klein ainda colaborava em
dois jornais – o Deutsche Zeitung de Porto Alegre e o Der Bote de São Leopoldo,
nos quais publicou artigos sobre agronomia considerados valiosos até mesmo por
Koseritz. Trabalhou como pastor na Picada Café e na Picada 48, até o ano de
1865. Neste período viu que possuía qualidades de bom pregador. Não era amado,
porém. como conta Koseritz "não só intrigava os membros de sua comunidade
uns com os outros como também adquiria grande número de inimizades pelos seus
escritos que, a par de idéias gerais, continham sempre insinuações de ordem
pessoal, odiosíssimas e verdadeiramente venenosas". Por isso, logo foi substituído
pelo pastor João Stanger. Voltou-se então para a agricultura, cumprindo
atividades que provavelmente não correspondiam às suas aspirações de professor.
Como observou o coronel Moacyr Domingues: "um homem de sua formação, de
certo aspirava a posições de lideranças para as quais se sentia qualificado;
caso se houvesse naturalizado brasileiro, teria tido acesso a cargos políticos
e administrativos, mas ele nunca se interessou em conviver com o elemento luso-brasileiro
e jamais se identificou com a nova pátria". Klein faleceu em Canoas, a
seis de outubro de 1915, com 95 anos de idade. Moacyr Domingues, em sua
pesquisa, chega à conclusão de que Klein, "O Misterioso", não passou,
em todo o episódio, de ingênuo paladino duma causa perdida. Para Janaina Amado,
Klein "não morreu pelo que acreditava nem combateu o que discordava. E
ainda passou vários anos na cadeia". "Ela é uma bruxa, uma feiticeira!
Ela é uma prostituta, uma sedutora de homens, uma mulher desregrada, uma
embusteira religiosa." Jacobina foi acusada praticamente de todos os
vícios de uma mulher ruim, ao longo desses anos que separam os episódios dos
Mucker dos dias atuais. Não faltaram acusações ao nível de sua sexualidade, de
sua fidelidade conjugal e mesmo a sua capacidade materna. Com um pouco de
atenção e cuidado é possível ir se destruindo todas as versões fantasiosas que
a mitificaram tanto. Por exemplo: consta o livro quatro, página oito, com
número de ordem 262 na Matricula Geral de Enfermos da Santa asa de Misericórdia
de Porto Alegre, que não foi constatada nenhuma enfermidade na paciente Jacobina
Maurer, ali internada no período de 24 de maio a treze de junho de 1873. Tinha-se
até pouco tempo uma outra versão sobre a saúde de Jacobina. Baseava-se
principalmente no depoimento de seu cunhado João Jorge Klein: ". . . em
sua meninice era uma criança doentia, muito disposta a chorar. Aprendia pouco e
com dificuldades e sofria de insónia. Agitada durante as noites com sonhos,
sofria de convulsões que faziam acreditar em manifestações epilépticas. As
esperanças de melhoras nesse estado de saúde com o decorrer do tempo não se
realizaram. A moléstia aumentou e Jacobina jazia muitas vezes sem sentidos,
abaixo de convulsões, pronunciando palavras sem nexo. Consultando o médico João
Daniel Hillebrnad, este aconselhou procurar o quanto antes um casamento para a
mocinha." Hillebrand, no entanto, não limitava-se à receita do matrimônio.
Sobre Jacobina, escreveu Klein em seu depoimento, "e de muitos parentes pelo
lado materno, denotava, desde a mais tenra infância, disposição para o
cretinismo e idiotia. Essas duas anormalidades manifestavam-se em tantos graus
e variações com os indivíduos que dela são atacados. A predisposição para as
mesmas é inata. A caixa craniana de Jacobina e de grande número de parentes
seus era relativamente de pequenas dimensões e as fontanelas se fechavam
prematuramente na mais tenra idade. "Dizia mais: O crânio demasiadamente
reduzido em suas dimensões comprime a massa encefálica sempre irritada e em
agitação, causando certas moléstias parecidas com convulsões, epilepsia e
moléstias nervosas que despertam no paciente desejo de suicídio. Internada por
vinte dias na Santa Casa de Porto Alegre, nenhum desses males foi sequer
vislumbrado, conforme documento fornecido por aquela instituição, em treze de
setembro de 1984. Posteriormente, registrei flagrante rasura no internamento de
Jacobina Maurer na Santa Casa. Antes estava escrito "não consta",
sendo a palavra "não" evidentemente apagada. Creditamos agora o que
tem a dizer em 1984 - 3 anos desde a morte de Jacobina - o psiquiatra Juan Kem,
88 anos de idade, dos quais 64 em viagens pelo Rio Grande do Sul. "Nascida
muito menor que os outros irmãos, apresentava desde cedo o que chamamos de 'ausências'
(indivíduos desligados). O médico daquela época, doutor Hillebrand, clínico
geral, receitou-lhe a terapêutica do 'himineu'. A himineu-terapia é a
terapêutica das histéricas. Sugeriu-lhe que casasse. A família procurou então
um empregado. E encontrou um que trabalhava na oficina do irmão de Jacobina.
Era João Jorge Maurer, um tipo ignorante, mas muito esperto, que aceitou o
matrimónio. No entanto era um homem diferente dos outros do lugar, pois tinha
vindo a Porto Alegre fazer o serviço militar e tinha facilidade de
relacionamento. Junto com Jorge Klein, foram os responsáveis pelos atos de
Jacobina. "Ela via suas crises de ausência se intensificarem e como toda
neurótica tinha grande capacidade de dissimulação. Assim os ataques ora eram
legítimos ora eram dissimulados. O marido ganhava dinheiro com isso. O velho
doutor Hillebrand foi novamente chamado para verificar o estranho caso de
Jacobina, que nem um fértil casamento dava jeito. Segue o doutor Kern:
"Usavam um tratamento quando ela desmaiava, que consistia em toques no seu
clitóris, excitando-a ao ponto de atingir o orgasmo para voltar a si.
"Naquela época, consultando-se a literatura francesa, Jacobina possuiria
um quadro clínico de histero-epilepsia. Hoje se diria que foi um caso de
disritmia cerebral de grau médio, porque, hoje temos a encefalografia. Os
sintomas são de mera disritmia." O psiquiatra, quando se refere a
Jacobina, costuma dizer que como todo neurótico ela não passou de um
instrumento. Se orienta pela teoria do médico francês Charcot que afirma: os
nervosos se procuram e os nervosos se encontravam. Em todos estes
acontecimentos, ela não foi a mais importante, mas foi a figura que tornou
possível o episódio conhecido como Muckers -'afirma doutor Kern. Mais recentemente,
Carlos Hunsche traça um novo perfil da Profetiza do Ferrabrás, que deixa de
lado a epilepsia, a catalepsia e o histerismo como causas dos transes que ela
sofria. Nele, Jacobina aparece como uma mulher com percepções extrasensoriais,
enquadradas hoje dentro do campo da parapsicologia, em que faculdades
aparentemente sobrenaturais são explicadas como fenômenos da mente humana. Os
poderes para os adeptos eram provavelmente iguais aos de Zé Arigó, o famoso
médium de Congonhas do Campo (Minas Gerais).
De início Jacobina usava seus dons para-normais para curar,
junto com o marido. Envolta pela própria fama de santidade, não resistiu à
tentação do misticismo. Seu erro foi interpretar a Bíblia, abuso imperdoável
aos inflexíveis pastores e padres. Enquanto a cura era do corpo, a acusação foi
apenas de charlatanismo, e, quando passou a ser da alma também, de sacrilégio.
O fanatismo de parte a parte, exigiu violência e, por fim, o martírio dos
hereges. Nesta mesma direção, Antônio Augusto Fagundes, em sua tese de mestrado
sobre as santas prostitutas (devoções populares), analisa o episódio Mucker
dando um enfoque especial a Jacobina, que no seu parecer, "nos dias
atuais, seria possivelmente uma bem sucedida mãe de santo na umbanda ou no
batuque. Na época, porém, fruto de um contexto social desfavorável sem
condições de cooptar ou absorver o fenômeno que se obrigava a gerar sua
estratégia de sobrevivência, Jacobina foi tomada por profetiza e encarnou todas
as qualidades idealizadas pelo grupo. Como sabia ler, ainda que precariamente e
em alemão, passou a interpretar a Bíblia, dizendo o que o grupo queria ou precisava
ouvir". Jacobina foi vítima de incontrolável processo de deterioração da psiquê.
Ao resgatar seus primeiros passos, costumam-se localizar "estranhos
ataques" quando a menina tinha doze anos de idade, esquecendo se era intencionalmente
ou não, - que é justamente nesta fase da vida feminina que começam a surgir os
fenómenos próprios da puberdade, como a menstruação. Na escola, Jacobina
"passava por aluna de difícil percepção aprendendo precariamente a ler e a
escrever, à custa de sérios sacrifícios", contou Carolina, sua irmã.
Necessário também se torna analisar a influência de sua mãe,
Maria Elizabeth Mentz, uma viúva considerada excessivamente religiosa, cheia de
princípios rígidos, que ensinava as filhas a rezar enquanto trabalhavam na
roça. Mas quem era esta mulher que o padre Ambrósio Schupp descreveu como
"uma mulherona forte"? Maria Elizabeth Müller Mentz, tinha 42 anos
quando nasceu Jacobina, a sétima na ordem de nascimento de seus oito filhos.
Quando Jacobina fez nove anos, Maria Elizabeth ficou viúva. Fazia um ano que
tinha casado com o homem com quem tivera seus filhos. O marido tinha 61 anos, Maria
Elizabeth tinha 50. Nascida em quinze de setembro de 1800 na Alemanha, ela
chegou ao Rio de Janeiro em 1825, acompanhando o pai viúvo e cinco irmãos.
Enquanto uma das irmãs, Maria Margarida Müller, fugia da família, Maria Elizabeth
rumou para São Leopoldo, onde chegou em março do ano seguinte. Neste mesmo ano
passou a viver com seu futuro marido, André Mentz, uma ligação que certamente
escandalizava os rígidos padrões morais da família, provocando conflitos. Maria
Elizabeth educou seus filhos dentro desses mesmos rígidos padrões. Jacobina,
por exemplo, só se livrou do domínio materno quando casou e saiu de casa.
Enquanto viveu com a mãe, conheceu uma mulher analfabeta, dominadora, de mau
gênio, que se irritava com facilidade, chegando a ter inúmeros acessos de
cólera, como registram vários pesquisadores. Sabe-se, a julgar pelos
depoimentos mais credenciados, como de Moacyr Domingues, em sua A nova fase dos
Muckers que era "uma mulher”, aferrada um tanto irracionalmente com
convicções religiosas". Sua honestidade pode ser avaliada em um episódio
narrado no livro de Leopoldo Petry, segundo um relato atribuído à filha
Carolina, a irmã menor de Jacobina.
Durante a Revolução Farroupilha, a família Mentz fugia dos
rebeldes "que tudo lhes haviam tomado e refugiou-se no mato; o pai certamente
estava ausente, pois a mãe e os filhos foram encontrados por um irmão dela (de
Maria Elizabeth), saído, à procura num matagal contínuo a uma roça, um comum
casebre distruído pelo fogo". Como se imagina que estivesse essa colona
com seus filhos chorando de fome? "Ao pé do montão de escombros e cinzas
jazia uma marmita contendo um punhado de feijão chamuscado. Porém, apesar da
fome que torturava a ela e aos filhos chorosos, a mãe recusava-se, e apesar da
insistência do irmão e dos pequenos, a utilizar-se do achado, alegando que os
objetos não lhes pertenciam". Sua religiosidade pode igualmente ser
observada em outra narrativa de Carolina, ao contar que, muito pequena ainda,
mal sabendo "balbuciar alguma palavra" foi levada pela mãe para a
roça para, "sentada sobre um toro de árvore", aprender a rezar.
Quando começaram a repetir-se as "revelações" de Jacobina, a mãe agiu
com rigor em um episódio registrado no livro de Petry, sobre uma discussão
entre Klein e o seu cunhado Jacob Mentz. Jacob acreditava na veracidade das
revelações. Klein não se convencia. Jacob insistiu tanto que acabou irritando o
calmo interlocutor. Maria Elizabeth interveio com decisão. "A velha
senhora Mentz que entrementes se aproximava sobremodo irritada, interrompeu-o
xingando em voz alta e dizendo não consentir discussões acaloradas e brigas em
sua casa, e quem não quisesse sujeitar-se, procurasse olhar a porta pelo lado
de fora." A senhora Mentz patrocinou um outro acontecimento insólito, que
o padre Ambrósio Shupp considerou "ridículo num sentido, mas trágico e
sombrio noutro". Um oficial de Justiça foi à sua casa buscar duas órfãs
que estavam em poder de seu filho Jacob. Maria Elizabeth ficou tão enfurecida
que desferiu uma dentada no ombro do acompanhante do oficial. Por esta época a
senhora Mentz estava com 73 anos de idade.
Segundo Moacyr Domingues, Jacobina, para fugir do
autoritarismo materno, "passou desde criança a usar de pequenos
estratagemas, como meio de defesa e para receber algum mimo e atenção. (. . .)
Se antes uma simples cena de choro era bastante para livrá-la momentaneamente
da sufocante autoridade materna, já agora era preciso algo mais impressionante,
como, por exemplo, um pretenso desmaio, um fingido alheamento a tudo quanto a
rodeava. . ." E conclui: "Jacobina foi vítima de incontrolável
processo de deterioração da psiquê, iniciado desde a mais tenra infância,
devido a alguns fatores congênitos, mas desencadeados por uma educação
exageradamente rigorosa. Por necessidade, aprendeu - sem ter disso consciência
- a auto-hipnotizar-se ou auto-sugestionar-se : foi o coroamento de constante
exercício de auto-domínio." Os "ataques" de Jacobina foram
interpretados desta maneira por Moacyr Domingues. Moacyr Domingues questiona
ainda a possibilidade de Jacobina ter-se tornado "uma criatura
inconscientemente revoltada contra o mundo em geral, e também carente de amor e
compreensão", devido a estes relacionamentos familiares. Se estes
sentimentos foram ausentes na infância e na adolescência, "será que a admiração
e respeito que mais tarde procurou infundir em seus adeptos, não foi a forma
que julgou ter encontrado? Não terá sido o fanatismo religioso a forma de
expressão desses anseios a custo refreados, mas afinal libertados quando ela
escapou ao jugo materno? " Doutor Hillebrand, embora conhecesse muito bem
Jacobina, nunca diagnosticou sua paciente, mas era "convicto de sua boa-fé
". Miguel Noe, marido de sua filha Aurélia, relata que "quando Jorge Maurer
e Jacobina Mentz, pessoas jovens e robustas, estavam casados, ela, logo depois
de ter tido sua primeira criança, aos dois anos de casada, adoeceu de repente,
ficando muda e alheia a tudo. Por pouco tempo, porém, conseguiram fazê-la
voltar a si chamando por ela e trabalhando nela. Com o tempo estes ataques se
repetiram. Ela sempre voltava a si, às vezes demorava mais, outras não. Após um
ataque, quando recuperava a lucidez, ela sentia o corpo pesado e ficava muito
pensativa (. . .). Certo dia perdeu totalmente os sentidos, a força e a
capacidade de pensar, seu espírito estava ausente, até que o mesmo se
reincorporasse nela. As primeiras palavras pronunciadas depois de um desses
ataques davam a impressão aos presentes de um comportamento fantástico, mas por
outro lado, ela já anunciava o dia e a hora em que falaria novamente, o que se
realizava (. . .). No momento em que o espírito dela se ausentava, seu corpo
perdia a sensibilidade e o raciocínio até que voltasse. Desta maneira era
participado ao espírito dela tudo quanto ela falava. Acontece que ela dizia as
coisas inconscientemente ao ponto de terem de repetir-lhe quando voltava a si.
" Estaria Jacobina ainda se auto-hipnotizando? Ou deixara emergir seus dons
extra-sensoriais? Daquele momento para frente, (um período de oito anos que
passou ao lado do marido João Jorge) Jacobina executou com desvelo seu papel de
procriar: teve seis filhos, sujeitando-se à média da época. Vale, neste
momento, reler as palavras de Moacyr Domingues: "A maternidade pode
constituir-se em sucedâneo para certas frustrações desde que a mãe seja capaz
de renunciar completamente às suas próprias aspirações, sublimando-as em favor
da prole. Se Jacobina nunca conseguira encontrar solução satisfatória para seus
problemas pessoais, encararia a maternidade como uma felicidade do céu, ou como
um fardo a mais a carregar? " O fato é que, por escapismo, insatisfação ou
por falta de domínio sobre as estranhas forças que atormentavam sua mente,
Jacobina foi encarnando a figura mística, mágica e divina que os colonos do
Ferrabrás, acostumados a freqüentar a casa para consultar João Jorge, tanto
precisavam. Moacyr Domigues não acredita que seu marido tenha, em algum
momento, "percebido o drama que se passava no íntimo da mulher. Ele ara um
indivíduo que se preocupava com exterioridade, gostava do dinheiro e precisava
ganhá-lo. Sua inteligência era medíocre, enquanto a de Jacobina, indiscutívelmente,
era agudíssima."
Jacobina e João Jorge Maurer tiveram, como dissemos
anteriormente, seis filhos: Jacó Maurer, nascido a 19 de maio de 1867. Henrique
Maurer, nascido em 12 de agosto de 1868. Francisco Carlos Maurer, nascido em 11
de agosto de 1869. Matilde Maurer, nascida a 25 de dezembro de 1870. Aurélia
Maurer, nascida em 9 de abril de 1872 e Leidard, nascida pelo mês de maio de
1874.
Ferrabrás, 24 de fevereiro de 1873. Hoje, mais uma vez
trato-te de querido irmão. Deixaste-me como se eu fosse uma libertina. Agora
pergunto eu: qual de nós dois é libertino, eu ou tu? Mas eu o suporto. O
Senhor, porém, fiz: Ai dos escribas que fazem as leis injustas e proferem
sentenças iníquas, para torcerem a causa dos pobres e oprimirem o direito dos
infelizes, julgando que as viúvas devem ser a sua presa e os órfãos as suas
vítimas. E que pretendeis fazer no dia da tribulação e do infortúnio, que já
vem vindo? A quem ireis pedir socorro? Vós, porém, sabeis que ele é justo; pois
como um filho serve ao pai, serviu ele a mim no Evangelho. E não tenho outro que
de tão boa vontade me obedeça, nem que tão de coração vale por mim. Aflige-me,
porém, caro irmão, que tenhas um coração tão duro que recuses reconhecer a
herança celeste. Com o pai celeste eu peço: Volta e deixa o tumulto do mundo,
pois feriste-me no coração, que sangra gota a gota. E que dirá nossa boa mãe,
quando souber? Dirá então: como me dói o coração! Mas ainda podes remediá-lo.
Lembra-te da lei que juraste; e se te lembrares dela, não a podes deixar, pois
quem a despreza, não despreza a Deus, que soprou o seu espírito em vós. Do amor
fraternal, não é preciso que eu vos fale, porquanto foste ensinado pelo próprio
Deus a amar-vos uns aos outros. Querido irmão! Onde a tua caridade? A tua
caridade desvaneceu-se. Onde a tua fé? Onde as tuas obras? Tens a fé e as
obras, mas não para o pai celeste. Por isso, ficam cansadas as mãos e covardes
todos os corações dos homens. O susto, o medo, a dor assalta-los-ão e as suas
faces tornar-se-ão abrasadas."
Esta carta de Jacobina, escrita pelo seu cunhado Klein, foi
enviada para seu irmão Francisco (Franz) com a intenção de que ele se aproximasse
dela. Era o único irmão que não pertencia à "seita". De uma maneira
sutil, apela para o amor filial e fraternal de Franz. Cegos, aleijados e outros
doentes se curavam com o Doutor Maravilhoso, o marido de Jacobina.
Doente, médium, santa, feiticeira, o fato é que a partir de
1873 os Muckers, por ela liderados são ferozmente perseguidos. O ódio explode na
colônia. Jacobina é presa, junto com o marido, em 1873. João Jorge Maurer depõe
em 20 de maio. Em suas declarações, diz que sua mulher "não intervém nas
curas que ele fazia", e as reuniões em sua casa eram "com o fim
somente de explicar as sagradas escrituras ou o verdadeiro espírito
delas", e as explicações eram ministradas por sua mulher, por inspiração
divina. Disse também que Jacobina, "antes de ser inspirada", não
sabia ler nem escrever, mas "depois disso soube ler em letra impressa e
não em manuscrito". Quando lhe perguntam se "sua mulher sofre de
ataques nervosos ou epilépticos", respondeu que "não sofre desse
ataque, mas que estava muito cansada de seus trabalhos espirituais".
Acrescenta também que seu último filho tem treze meses. Enquanto Maurer, após
seu depoimento, fora enviado para Porto Alegre no dia 21, Jacobina permanecia
no Ferrabrás. O doutor Sampaio, chefe da polícia ordenou que "de qualquer
maneira" ela deveria ser conduzida a São Leopoldo no dia 22, o que de fato
aconteceu. "As circunstâncias sob as quais Jacobina foi conduzida a São
Leopoldo", observa Domingues, "estão relatadas num abaixo-assinado
dirigido em fins de 1873, pelos membros da seita, ao imperador Pedro II; a
certa altura, está escrito: (. . .) 'que, no dia 22 do mesmo mês (de maio), dia
da Ascensão do Senhor, fora presa a mulher de Maurer, se achando ela doente de
um mal que o costumava dar, ficando sem sentidos, sendo levada – por uma escolta
de oito praças - em uma carreta, sendo que, na viagem que durou nove horas, foi
ela insultada, continuando doente até aquela cidade, onde a depositaram na casa
da Câmara, exposta ao público, tendo sido examinada por médicos, a fim de ver
se era fingida a moléstia, com aplicações de agulhas e pontas de canivetes por
todo o corpo e mais aplicações médicas pala ela tornar a si, o que conseguiram
só depois de cinco horas.
"Numa carta dirigida a seu primo Lúcio Schreiner, a
dezenove de maio do ano seguinte, onde lhe verbera o procedimento até então
seguido, disse Jacobina - pela mão de Klein, como veremos - o seguinte: '. . .
Ignoro se V.M. ainda tem algum respeito pela escritura sagrada; contra a qual
tanto tem pecado, mas espero que V.M. ainda acredite que eu também sou de carne
e osso e que me foi tão doloroso (como ao inocente. Abel quando Caim o matou)
quando V.M., no ano passado, me fez levar à força, expondo-me ao escárnio e a
um tratamento das massas. As sevícias que no ano passado no edifício da Câmara
Municipal, me fez uma multidão de pessoas grosseiras e selvagens, ainda muito
depois me ......... e o sangue humano que V.M. fez verter do meu corpo também
brada da terra para o céu, pedindo vingança. (. . .) Mando agora procurar a meu
marido cheia de tristeza. Diga-me, ao menos uma vez com franqueza, se V. e seus
cúmplices não o agarraram também, como o pobre Guilherme Gaelzer e Cristiano
Jtichter. 'De mim, V, só tirou sangue. Não me dirá V, se meu marido não foi
devorado com carne e sangue, pele e ossos, cabelos e unhas?' "Os fatos,
tão dramaticamente contados", conclui Domingues, "parecem uma
violência revoltante e desnecessária".
No dia 23 de maio (sexta-feira), Jacobina responde a um
interrogatório do chefe de polícia, tendo como intérprete juramentado, Luiz
Kraemer Walter, pois não falava o português. Este interrogatório está contido
em “A nova face dos Muckers” e é narrado da seguinte maneira: "Dedarou ser
natural da Capela da Piedade (hoje Harnburgo Velho), com 31 anos de idade,
filha de André Mentz e sua mulher Maria Mentz; casada com João Jorge Maurer,
morava no lugar chamado Ferrabrás, ocupava-se do 'serviço doméstico de sua
casa'e 'não sabia escrever, lendo apenas as letras impressas'. "Disse que
nas reuniões que se realizavam em sua casa, o assunto de que se ocupam é a
explicação da Bíblia, para o que ela se julga inspirada de cima; que não sabe
como lhe veio essa inspiração, mas que entre ela e a divindade não há pessoa
humana que lhe serve de intermediário. "Afirmou que 'professava, como ainda
professa, a religião evangélica', mas que 'tem proibido a seus associados a
frequência de suas igrejas, porque nelas se não explica o evangelho em seu
verdadeiro sentido' e confessou que 'não presta obediência aos seus pastores'.
"Confirmou que 'proibia a freqüência das escolas' pelos filhos de seus
associados, 'pois que o ensino devia ser reformado sobre as bases da nova
doutrina'." Não se julgava habilitada para curar cegos, aleijados e outros
doentes iguais; as pessoas dessa condição que a acompanhavam "estavam se
curando com seu marido", este "não tem habilitações científicas",
mas "julgava-se com o dom de fazer estes curativos por inspiração
divina". Perguntada se "cumpre todos os deveres conjugais e se ajuda
o seu marido nos seus trabalhos", respondeu que "cumpre todos os seus
deveres de mãe de família e se emprega nas explicações da Bíblia, mas que
"não intervém nos curativos que seu marido faz". Perguntada se Maurer
"recebia pagamento pelas curas que fazia", respondeu que "a
maior quantia que ele recebeu, há dois anos, parece-lhe que foi de sessenta mil
réis; e que outros curativos tem recebido um a dois mil réis por cada uma poção
que ministra". A entrada na sua associação "era de livre
vontade" e os adeptos não prestavam juramento prévio; as reuniões
"são feitas de dia", mas "quanto à sua designação nada sabe por
ser feita por seu marido, devido ao estado insensível em que ela se acha nessas
ocasiões"; tampouco podia por essa razão dizer o número de pessoas que
compareciam. Perguntada se era verdade que em certa reunião aparecera vestida
de branco e com uma grinalda de flores na cabeça, respondeu que "não sabe,
mas que se lhe diz que ela assim apareceu". Quanto à anunciada reunião
geral no dia do Espírito Santo – que cairia a primeiro de junho, domingo -
disse que "é verdade que tinha ou tem de haver essa reunião, mas que não
sabia qual o fato ou aparição que tinha de haver". Perguntada sobre se era
verdade que "o seu irmão Francisco lhe entregara um manuscrito sobre a
marcha futura da sua seita e se pode apresentá-lo", respondeu que "é
verdade, mas que entregou esse papel a outra pessoa, cujo nome não pode
declarar". Como que aproveitando uma deixa, perguntou-lhe imediatamente a
seguir o chefe de polícia "se conhece a João Jorge Klein e se ele ultimamente
tem ido à sua casa", redargüindo ela que o conhecia, que é seu cunhado, "mas
que não sabe se ele ultimamente tem freqüentado a sua casa. Pergunta-lhe então
incisivamente o doutor Sampaio: "como assim responde, quando outras
pessoas dizem que em um dos dias de reuniões em que ela apareceu vestida de
branco, ele se ajoelhou a seus pés e lhe havia pedido perdão?" E ela
respondeu "que nada sabe, pela razão já dita de não estar em seu
sentido". Ai se encerra o interrogatório, durante o qual já declarara que
"aos doze anos de idade teve uma grave enfermidade que muito a prostrou e
depois disto só de seis anos para cà é que principiou a sofrer de seus de liquios
usuais".
Segundo Moacyr Domingues, este depoimento de Jacobina
"revela uma grande sagacidade: a mulher não era apenas extraordinariamente
inteligente, como devia estar muito bem instruída. Pode-se ter a certeza de que
nenhuma pergunta a surpreendeu: tudo quanto disse foi porque quis dizer, não
porque houvesse sido apanhada desprevenida."
Jacobina é internada na Santa Casa em Porto Alegre a 24 de maio
daquele mesmo ano. O marido já se encontra no quartel da polícia. "Nesse
mesmo dia o chefe da polícia ordenava uma busca na casa de Maurer, bem como nos
seus arredores e lugares suspeitos e especialmente em uma caverna quase
desconhecida que se acha na serra, a fim de procurar armamento e munições de
guerra." No dia 28, o chefe da policia regressou a Porto Alegre, dando por
encerrada a sua missão; a trinta, uma sexta-feira, dirigiu ao provedor da Santa
Casa o seguinte ofício: "Rogo a V. Sa. Se digne, pelos facultativos desse
Pio Estabelecimento, mandar examinar a alemã Jacobina Maurer, que ai se acha
recolhida a meu pedido, a de verificar qual a causa dos ataques que sofre, que
a fazem perder os sentidos e conservar-se horas seguidas em completa
imobilidade." "A treze de junho, o doutor Sampaio dirigiu ao provedor
da Santa Casa este lacônico ofício: 'Rogo a V. Sa. se digne mandar alta à alemã
Jacobina Maurer, que foi ai recofilida para ser observada'. Quanto à
enfermidade de Jacobina, conforme documento fornecido por aquela instituição,
nada foi constatado no período em que esteve internada.
João Jorge Maurer assina um "termo de bem-viver",
comprometendo-se a não pertubar a tranqüilidade pública. Tanto Jacobina como
João Jorge Maurer voltam para Ferrabrás, como heróis. "O fanatismo não diminuira
e os adeptos continuavam tão aferrados quanto antes à fé nos poderes milagrosos
do casal". Ninguém tentou um gesto de paz. Ninguém perguntou aos Muckers o
que pretendiam ou de que se queixavam. João Jorge Maurer vai ao Rio de Janeiro
onde quer tentar provar que os Mucker não merecem a fama que têm.
"Aparentemente ignorando a viagem de Maurer ao Rio de Janeiro", diz o
padre Schupp que o motivo de seu recente afastamento fora outro: Jacobina
decidira substituí-lo por Rodolfo Sehn e desejava evitar que o marido
"ficasse sendo testemunha constante de sua infidelidade". "Por
isso foi mandado viajar" levando também, assim dizem, "a incumbência
de sondar os ânimos nos pontos mais afastados da colônia, e de prepara-los para
o reino do novo Cristo".
Sucedem-se os seguintes incidentes: um comerciante, Jacó
Kramer, é encontrado morto e um colono, João Pedro Hirt, enforca-se depois de
ser visitado pelo marido de Jacobina. Não há provas, mas a culpa é atribuída
aos santarrões. Estamos no mês de outubro.
A 22 de novembro de 1873, o inspetor de quarteirões João Lehn
sofre um atentado a bala. Suspeitos: os Muckers Jacó e Rodolfo Sehn.
A 30 de abril de 1874, dois mascarados matam Jorge Flaubert.
Suspeito: o Mucker Robinson.
Moacyr Domingues questiona: "Até que ponto as suspeitas
levantadas contra os Mucker pelas desgraças acontecidas em diversos pontos da
colônia tinham fundamento? Impossível, certamente, apurar. Todavia, tudo contribuía
para acirrar os ânimos, de parte a parte, segundo Nüe, os déricos evangélicos e
católicos continuavam a instigar o povo contra eles; e afirma que muita maldade
era praticada na colônia e injustamente imputada aos Muckers."
Comenta-se que Jacobina protege Rodolfo Sehn, elegendo-o como
receptáculo de suas mensagens em lugar do marido. Sena é jovem, decidido e fiel
à causa, como se verá na hora de sua morte. Vamos encontrar nos Apontamentos de
Nòe, a justificativa deste acontecimento, narrada da seguinte maneira:
"Rodolfo Sehn ocupou o lugar de ouvinte, por sua capacidade de pensar
intensamente: para poder transmitir as declarações de Jacobina durante a
ausência de seu espírito precisava-se de uma mente clara para captar tudo o que
ouvia dela. Com isto Jacobina era fortemente atacada e sobre ela recaia a
suspeita de que teria se separado do marido e estivesse a viver com Rodolfo
Sehn, que ela separava casais e unia outros e cada adepto podia trocar sua
mulher à vontade e que ela era uma mulher sensual. "
Analisando estas acusações, Janaina Amado, em sua tese de
mestrado, faz as seguintes observações: a) todos os Muckers sempre negaram o
fato. Se realmente promovessem orgias, considerariam a prática natural e defensável,
como fizeram em relação a todas as outras atitudes que tomaram; b) nenhum casal
Mucker se separou durante o movimento, todos continuaram a viver com seus
respectivos maridos e mulheres. Se Jacobina ordenou a alguns "a não
continuarem a viver com suas mulheres", a ordem não foi cumprida; estranhamente,
porque já foi comentado que a palavra de Jacobina era lei, na época, para os
Muckers. Na realidade, Jacobina pregava o seguinte: se o marido quisesse ser um
Mucker e a mulher se negasse, ele deveria aderir de qualquer forma. E este caso
de divergência entre casais só ocorreu uma vez, com Maria e Martinho Kassel.
Ela estava indecisa entre a religião oficial e o grupo de Jacobina, enquanto
ele queria ser Mucker, mas os dois acabaram abandonando o grupo e tendo o
destino que se conhece. c) O fato de Jacobina ter se afastado, e, até mesmo se
separado do marido, não constituía delito para os protestantes, que admitiam o
divórcio; d) As "orgias sexuais" não condizem com as outras atitudes
do grupo, as quais refletem uma moral muito rígida: não fumar, não beber, não
jogar, não freqüentar ambientes sociais. "Ainda menos plausível",
argumenta Janaína, parece a acusação de que Jacobina e Rodolfo Sehn era amantes,
porque: a) segundo se dizia, Jacobina teria se unido a Rodolfo no início de
1874. Nesta época, entretanto, ela estava grávida: seu último filho nasceu em
fins de maio de 1874, como se verá. Teria Jacobina se tornado amante de Rodolfo
posteriormente, nos meses de junho e julho? Dificilmente, pois nesta época os
Muckers estavam todos apinhados no Ferrabrás, combatendo contra as forças
legais. E a dois de agosto de 1874, Rodolfo e Jacobina foram mortos; b) a
mulher de Rodolfo, Guilhermina Sehn, tida geralmente como vítima da situação,
revoltada contra Jacobina e o marido, declarou textualmente que "não era
verdade o que o povo dizia, a saber, que seu marido Rodolfo Sehn e Jacobina
Maurer era amantes, porque nunca houve nada entre eles deste tipo de coisa; que
era verdade sim que tanto ela responde, quanto
seu marido Rodolfo freqüentavam a casa de Maurer, e que Rodolfo era muito
chegado a Jacobina porque acreditava no que Jacobina pregava. E que ela
respondente agia da mesma forma, mas nunca se haviam tratado entre seu marido e
Jacobina Maurer assuntos de amor, porque tais assuntos eram mundanos e não
cabiam na ordem das coisas. O, marido a respeitava, e se as coisas se tivessem
passado como diziam o povo, ela não teria continuado a ir às reuniões na casa
de Maurer, porque ela se respeitava e aos filhos, e também respeitava Jacobina Maurer."
Para Janaina Amado, a "alegada imoralidade dos Muckers parece ter sido
muito mais um elemento forjado pelos opositores do grupo que um fato verídico.
Nòe, em seu depoimento, afirma que a idéia partiu do clero,
que se encarregou de difundi-la entre os colonos, como mais um motivo para
afastá-los do Ferrabrás. É bem possível que as coisas tenham ocorrido realmente
desta forma. Padres e pastores já tinham identificado Jacobina como 'demoníaca',
'bruxa' e 'embusteira'. Apontá-la como 'prostituta' apenas carregava mais o
quadro. Em maio nasce Leidart Mentz Maurer.
A quinze de junho acontece a chacina da família de Martinho
Kassel, um ex-Mucker arrependido. Ex-seguidor da seita, Martinho convencera a
mulher a deixar os Muckers, supostamente porque Jacobina incentivava a troca de
casais, a separação de casais. Martinho transformou-se em um ativo propagandista
anti-Mucker, recorrendo à polícia com suspeitas de represália. Efetivamente, na
manhã do dia dezesseis, o chefe de polícia recebeu uma comunicação dos vizinhos
dos Kassel, dando conta que após ouvirem nove ou dez tiros para os lados da
casa descobriram que ela tinha sido incendiada com a mulher de Martinho e cinco
filhos do casal dentro. Martinho escapara porque tinha ido a São Leopoldo
denunciar suas suspeitas da morte próxima. No túmulo dos Kassel ainda hoje
repousa uma lápide que marca a tragédia na inscrição: "Aqui jaz a família
Kassel, morta e queimada pelo bando dos Muckers, no dia 15 de junho de 1874.
Paz para suas cinzas."
A partir deste acontecimento, "os jornais passaram a se
ocupar com grande alarde dos adeptos de Jacobina, exercendo papel importante na
formação da opinião pública provincial quanto aos Mucker", observa Janaina
Amado.
No dia dezesseis, por ordem do presidente da Província
Carvalho de Moraes, dos enviados homens para a região, foi solicitada a prisão
preventiva de Carlos Einsfeld e Jorge Robinson, relacionando-os com a chacina da
família Kassel.
No dia 23 de junho é pedida a prisão preventiva de João Jorge
Alaurer, Jacobina Maurer e João Jorge Klein, "por haverem veementes
indícios de serem os mandantes da chacina". No dia 24, Klein 1 preso e
enviado para Porto Alegre. A violência explode na colônia. No dia 25 de junho,
crimes são praticados em Campo Bom e Sapiranga. No dia 26, em revide, são incendiadas
casas na Picada do Hortêncio e Unha Nova. Mais forças chegam da capital depois
de 25 de junho, após estes incêndios e crimes.
"Procuremos, agora, verificar de que lado partiu a
primeira violência, se dos Muckers, se de seus adversários", questiona
Domingues. Carlos Alberto Kolecza, numa série de reportagens sobre o assunto,
escreve: "Ninguém tentou um gesto de paz. Nunca alguém foi a Ferrabrás
perguntar aos Muckers, o que eles pretendiam ou de que se queixavam. Os padres
e pastores cavalgavam por perto, na tentativa de salvar ovelhas desgarradas e
não passou pela cabeça de algum chamar Jacobina ou João Jorge para uma
conversa. Ás autoridades policiais mantinham a seita sob severa vigilância. Os
Muckers sabiam que quase diariamente estavam sendo espionados por Lehn. Se as
lideranças jamais se preocuparam em dialogar com os Muckers, não seriam os
colonos que tornariam a iniciativa " Os colonos formam exército de
paisanos, cercam as casas dos Muckers, prendem mulheres e crianças. Jacobina
foge para o mato, com a família e seus seguidores mais fiéis. Jacobina não
morreu nos braços de Rodolfo Sehn, golpeada por baionetas. A história, contada
muitas vezes até hoje, outorgou-lhe este fim de esboço imoral, mas que
certamente seria mais romântico e agradável que o verdadeiro destino de
Jacobina. E mesmo o exame dos relatórios policias narrando o estado em que se
encontravam os cadáveres não indicam tal abraço. É possível que, desesperados
pelo eminente banho de sangue em que mergulhariam inevitavelmente, todos tenham
se aproximado na inútil tentativa de proteção mútua. O certo é que naquele dia
dois de agosto de 1874, haviam dezessete pessoas entrincheiradas nas cabanas
que serviriam de último refúgio para os Muckers. Para ali tinham ido os
sobreviventes do ataque anterior, no dia dezenove de julho, sem a presença de
João Jorge Maurer, marido de Jacobina, nem de João Jorge Klein. Desapontamentos
de Miguel Nòe: "Pouco antes do último combate no mato junto à cabana,
algumas pessoas que não haviam tombado em combate viram quando Maurer se
despediu de sua mulher. Ela ainda lhe deu comida para levar em sua viagem e
disse: 'Nesta cabana, eu tomo a minha criança, e minha criança, esta eu levo
comigo. Não devo permitir que ela vá pelo mundo acompanhada por zombarias e
vexames' "Estas foram as últimas palavras que ela disse a ele. Seus olhos
o acompanharam quando ele desapareceu no mato e pede que lhe escrevam uma carta
na qual ela designa onde deveriam ficar as outras cinco crianças e quem deveria
ficar com elas. Provavelmente, nenhuma delas chegou ao endereço certo e onde
foram os Maurer, também não se sabe até hoje. Um homem disse que lhes havia
falado perto da fronteira de Uruguaiana. O falecido velho Schrnid, que estava
trabalhando na medição de uma estrada, deu pouso a eles em seu acampamento e
Maurer lhe teria falado longamente. Porém, onde eles queriam ir, ele não teria
dito." No dia dezenove morreram cerca de trinta pessoas, inúmeros foram
feridos e outros 52 foram feitas prisioneiras, conforme notícia de São Leopoldo
de 22/7/1874.
"Ontem, às 7h30 da noite, chegou aqui a lancha a vapor que
rebocava um lanchão com as famílias dos Mucker, a maior parte feridos dos que
sobreviveram ao assalto e ruína do covil de Maurer e Jacobina, cujos nomes deu
o Bote de hoje. "Após a chegada dessas famílias a Sãso Leopoldo, começaram
a circular insistentes boatos de que os Mucker tentariam um ataque à cidade
para resgatá-las; essa, a razão para serem removidas para Porto Alegre, onde
chegaram à meia noite de 28, uma terça-feira."
Na relação, estão recolhidos à cadeia de Porto Alegre os
filhos de Jacobina e João Jorge Maurer: Jacó, com sete anos feitos, entregue a
Francisco Xavier Frederico, morador à rua General Silva Tavares; Henrique, com
seis anos, entregue a Nicolau Birkenfeld Filho, morador na mesma rua; Francisco
Orlos, com cinco anos, entregue a Germano Traub, à rua Santa Clara, 18;
Matilde, com pouco menos de quatro anos, entregue ao mesmo; Aurélia, com dois
anos e três meses, cujo destino não é citado. Também morreria, vítima deste
confronto, o coronel Genuíno, que comandava as poderosas forças militares
inimigas dos Muckers. Não se sabe com certeza, entretanto, se efetivamente o
coronel foi alvo dos disparos dos adversários ou de tiros de armas de seus
próprios soldados, como alude Moacyr Domingues, insinuando até que
"Genuino teria sido morto por um dos seus soldados devido a um caso de
vingança". Há outra versão. Nela seu matador seria mesmo um Mucker que
emboscou-se na beira do mato do Ferrabrás quando, após capturar mulheres da
seita, Genuíno promovia uma espécie de bacanal com suas cativas. Domingues não
dá muito crédito à versão, mas publica-a talvez para mostrar que, mesmo com
todos os boatos atingindo o comandante em chefe das forças armadas do Ferrabrás,
permaneceu sendo intitulado de "bravo coronel", enquanto aos Muckers,
o tratamento sempre foi visceralmente diferente. Com Genuino morto, assumiu o
comando repressor o capitão Dantas, do 12º Batalhão de Infantaria. São suas
forças, soldados e mais um grupo de vociferantes colonos, que vão se dirigir
para o massacre junto às cabanas dos Muckers.
Do lado de dentro: João Sehn, Martinho Sehn, Jacó Sehn, Carlos
Sehn, Conrado Nòe, João Nòe, Henrique Nòe, Valentin Vasun, Cristiano Karts,
Carlos Maurer, Catarina Arend, Nicolau Barth, Nicolau Schnell, Jacó Maurer e
mais a empregada de Jacobina, Ana Maria Hofstàtter, além, é claro, de Rodolfo
Sehn e a própria Jacobina. A batalha durou dez minutos. Um único soldado tombou
sob os disparos dos Muckers, que ainda feriram dois oficiais, doze soldados e
três apaisanos. Todos os dezessete membros do grupo de Jacobina sucumbiram.
Foram mortos com tiros endereçados ao peito João Sehn, Jacó Sehn, Conradu Nòe,
João Nòe, Ana Maria Hofstàtter e Henrique Nòe, que também foi degolado conforme
os exames de corpo de delito executado às nove horas da manhã daquele dia, pelo
próprio chefe de polícia, servindo como escrivão André Ries e como peritos o
major João Schrnitt, presidente da Câmara Municipal de São Leopoldo e do
capitão Lúcio Schreiner, por irônica coincidência primo de Jacobina, que teve
que testemunhar isso: Nicolau Schnell levou dois tiros, um na barriga e outro
no esterno. Catarina Arend foi morta com "um ferimento a bala na região
epigástrica". Martinho Sehn teve "um ferimento de bala na cabeça,
entranhando no crânio, ofendendo o cérebro". Cristiano Karst levou um tiro
na região umbilical e teve "um ferimento de arma branca". Carlos Sehn
também levou um tiro e ainda apresentava "diversos ferimentos na barriga
feitos com instrumento cortante e perfurante". Valentin Vasun levou dois
tiros e também sofreu mais "um ferimento feito com arma branca na
cabeça". Nicolau Barth não levou tiros: morreu de ferimentos de arma
branca no crânio. Carlos Maurer não levou tiro: foi degolado. Jacó Maurer teve
ferimento na altura do peito "com instrumento cortante e perfurante que
trespassou o corpo de um a outro lado". ,' . E Rodolfo e Jacobina?
Rodolfo, de acordo com o corpo de delito, sequer foi tocado por arma branca.
Morreu abatido por quatro disparos: "dois na região abdominal e dois na
região toráxica". Jacobina levou um tiro "na região frontal com
abertura de saída no ocipital" e ainda foi ferida "com arma branca na
região molar e labial". Teve morte instantânea. Rodolfo foi o último homem
a morrer. Quando Jacobina foi atingida, Rodolfo Sehn deve ter corrido a
ampará-la. Foi então abatido. Depois, como acredita Moacyr Domingues, um colono
enfurecido deve ter desferido um golpe de facão em seu rosto quando ela já
tombara ao solo. Ainda haviam duas mulheres vivas: Ana Maria e Catarina Arend,
que como conta a história, preferiram morrer à entregar-se vivas para os seus
captores com suas promessas de garantia de vida. Com esse massacre,
aparentemente varriam-se os MucKers da face da terra naquela manhã de agosto Ferrabrás.
Feiticeira? Charlatã? Doente? Curandeira? A
encarnação feminina de Cristo? Jacobina Mentz Maurer foi chamada de tudo. Não
custava também ser chamada de prostituta, o que os padres fizeram, em mais uma
tentativa de difamá-la. Jacobina foi o centro do episódio conhecido como os
Mucker, acontecido no Morro do Ferrabrás, em Sapiranga, no Rio Grande do Sul. O
final, em 1874, foi trágico com algumas dezenas de mortos. Cem colonos alemães,
isolados, acreditando no fim do mundo, foram atacados pelo Exército e por
outros colonos incentivados pela igreja e pela imprensa. Reagiram com
violência.
BIBLIOGRAFIA
FLORES, Hilda Agnes Hubner. Canção dos imigrantes.
Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, 1983.
SANT'ANA, Elma. Jacobina Maurer - Coleção Esses
Gaúchos. Porto Alegre, Tchê!, s/data.
EMENTA
Caracterização dos povos autóctones rio-grandenses e análise da evolução histórica do Rio Grande do Sul durante o período colonial, imperial e republicano, com destaque aos aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
1. Povos autóctones: primeiros habitantes do RS.
2. Território: aspecto físico e geral; integração do território.
3. Ocupação do interior: primeiras explorações, primeiro estabelecimento oficial; os jesuítas.
4. O povo rio-grandense: o indígena, o elemento negro e branco; imigração no século XIX.
5. Economia rio-grandense: agricultura, pecuária e indústria.
6. Vias de comunicação: rodovias, navegação interna e ferrovias.
7. Lutas externas: guerras das Missões Orientais; ocupação dos Sete Povos das Missões; campanha de 1801; conquista das Missões Orientais; invasões do Rio Grande do Sul.
8. Lutas internas: Revolução Farroupilha; os Muckers; Revolução Federalista.
9. A propaganda republicana: plebiscito samborgense; questão militar.
10. A sociedade rio-grandense: as estâncias; o espírito militar; carreiras, lendas e crendices; os centros urbanos.
11. O RS republicano: a Revolução de 1923; a Revolução de 1930; o Estado Novo; a década de 50; o golpe militar de 1964 e a reabertura política no RS.
12. Desenvolvimento cultural, político e econômico do Rio Grande do Sul contemporâneo: aspectos culturais, políticos e econômicos. Capital e trabalho.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA.
ALVES, Francisco das Neves; TORRES, Luis Henrique (Orgs.). Temas de história do Rio Grande do Sul. Rio Grande: Editora da Universidade da FURG, 1994.
DOCCA, Emílio Fernandes de Souza. História do Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1954.
FLORES, Moacyr. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Nova Dimensão, 1996.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR.
ALVES, Francisco das Neves; TORRES, Luiz Henrique. Revolução Farroupilha. Rio Grande: Editora da Universidade da FURG, 1994.
ASSIS BRASIL, Joaquim Francisco. História da República Rio-Grandense. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983.
BAKOS, Margaret Marchiori. RS: escravismo & abolição. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982.
BANDEIRA, Pedro; MERTZ, Marli (Coord.). Manual bibliográfico de história econômica do Rio Grande do Sul e temas afins. Porto Alegre: Fundação de Economia e Estatística, 1986.
BARBOSA, Fidélis Dalcin. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Estampa, 1983.
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Por Vanessa Candia.
Professora, Historiadora.
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