sábado, 30 de outubro de 1993

Os Muckers.

 Os Muckers.

 

No fim da década de 1860, o Município de São Leopoldo, emancipado em 1846, estava dividido em vários distritos, do qual o 4º tinha sua sede na Capela de Nossa Senhora da Piedade, no lugar hoje chamado Hamburgo Velho e à época Hamburgeberg. Dentro da jurisdição desse distrito estava o Morro Ferrabrás (hoje no Município de Sapiranga). 

O episódio do Morro do Ferrabrás classifica-se como um movimento messiânico e tem como líder do grupo dos Muckers, Jacobina Mentz Maurer. A líder, se dizia a reencarnação de Cristo e queria criar uma Cidade de Deus para seus fiéis. Sua mãe repreendia-a e, Jacobina, quando criança entrava em transe e desmaiava, pois era muito sensível. Libório Mentz era seu avô e fora expulso de sua aldeia na Alemanha por que pregava uma seita pietista. João Maurer era carpinteiro, consta ter prestado serviço militar em Porto Alegre, embora analfabeto, era ladino e insinuante e, à procura de forma menos penosa de ganhar a vida, aprendeu a preparar remédios com ervas nativas colhidas nos arredores e passou a receitá-la aos parentes e vizinhos. Os colonos confiavam nas suas práticas de saúde. Jacobina apenas sabia ler em alemão, ambos nascidos no Rio Grande do Sul, e filhos de imigrantes alemães, João Maurer, tornou-se marido dela em 1866. Jacobina ajudava-o diagnosticando doenças quando entrava em transe.

Rapidamente a Colônia toda de São Leopoldo começou a comentar. Os colonos reuniam-se na casa de Jacobina, até mesmo protestantes participavam das reuniões, ou para tratar de doenças, ou de serviços de carpintaria. Ela cantava, ao ler a Bíblia interpretava-a, surgindo assim um grupo religioso em 1868. O pastor João Brutschin, os apelidou de Muckers, significando falsos religiosos. Já os Spöters eram adversários debochadores.

As fotografias representando, a primeira, Jacobina, e a Segunda, os Maurer, foram publicadas no "Serra-Post Kalender", 1974 / 1975, no trabalho intitulado "Jakobine Maurer, die deutsche "Christussin" in Brasilien, de Carlos H. Hunsche. Estas fotografias foram entregues pelo Museu Histórico Visconde de São Leopoldo, como sendo autênticas. Vemos que os trajes são típicos da cultura alemã, passada de geração para geração. O casal de preto, casava com essa cor, porque naquela época era moda, chique, todos casavam de preto, a moda era baseada nos padrões europeus. "O vestido de casamento preto foi usual até a Segunda década do século XX", segundo a autora de Memórias de um Imigrante Boêmio, na pág 8.

O casamento simboliza uma alteração da situação social onde duas famílias se unem para formar uma terceira. O casamento corresponde à passagem à maturidade, o vestido e o retrato fixam na memória coletiva a lembrança da cerimônia. O rito estabelece tornar público o ato privado. A cor branca do vestido é que mais se destaca, contudo, entre camponeses alemães do sul do Brasil, existem retratos de noivos de preto, na cultura camponesa européia. Para eles, o preto significa fertilidade, o húmus da terra, as cinzas fertilizantes em contra posição a brancura da morte.

Em 19 de maio de 1872, dia de Pentecostes, Jacobina foi ao seu quarto e depois de um estouro, seus fiéis viram que ela tinha sumido, logo depois ouviu-se um outro estouro e ela reaparecera vestida completamente de branco dizendo que visitara o céu. O pastor João Klein ajoelhou-se diante de Jacobina e reconheceu-a como Cristo. Seus fiéis deveriam obedecê-la e vigiar os companheiros. Filipe Sehn assistira à sessão e juntamente com o professor Weiss redigiu um requerimento com 47 assinaturas pedindo a intervenção da polícia, pois queriam repor a ordem da colônia. Os Muckers não fumavam, não bebiam e não iam a bailes, por isto, os colonos desconfiavam dos comportamentos estranhos, que para eles, eram diferentes aos demais colonos, quebrando com a ordem da colônia. A situação agravou-se quando Maurer negou-se a participar das eleições, (que não eram obrigatórias) e os fanáticos, retiraram seus filhos das escolas católicas e protestantes.

Maurer e Jacobina foram presos, levados a São Leopoldo e dali para a Capital. Ela estava em transe, e nem o médico conseguiu despertá-la, somente seus fiéis cantando acordaram-na. Jacobina foi internada e submetida a exame clínico na Santa Casa de Misericórdia. Passado breve tempo, foram libertados com a condição de cessarem as reuniões. Na página seguinte vemos o assentamento de Jacobina na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Uma rasura referente ao internamento e um atestado fornecido pela Instituição para a autora Elma Sant'Ana que fez buscas no arquivo. Como vemos, o exame clínico feito em Jacobina Maurer, mostra que ela não tinha nenhuma doença, ou coisa parecida.

Foram então proibidas as reuniões da seita, mas a polícia considerou apenas briga de vizinhos. Quando voltaram a colônia, os fanáticos construíram uma fortaleza, pois acreditavam estar protegidos pela "Cristo Jacobina". O casal era culpado de tudo que acontecia, o inspetor João Lehn sofreu um atentado a bala e uma escolta prendeu 33 muckers, depois de um tempo foram soltos e começaram a agir com violência.

Na página seguinte, vemos a foto do Inspetor João Lehn, naquela época as fotos tinham o formato arredondado, chamados de medalhas, e geralmente as pessoas olhavam para um dos lados, com uma expressão de seriedade. Na rua dos Andradas, fotógrafos expunham seus medalhões para atrair o público e geralmente eram impressos em fino papel gessado para melhorar a qualidade.

A observação nas fotografias faz nos ver que existia uma pose, ou seja, uma postura artificial, através dela, as diversidades procedentes e níveis econômicos. A auto representação da família ou de um indivíduo apenas, denota a sua hierarquia, dignidade e estabilidade. Conflitos e hostilidades, geralmente não aparecem.

A casa de Martinho Kassel, ex-mucker, foi incendiada, morrendo a mulher e filhos, depois foi a vez da casa de Carlos Brenner, o comerciante perdeu os filhos assassinados. Como pode-se observar, na seguinte página, a foto da lápide do túmulo da família Kassel. A lápide tem o modelo de meados do século XIX, datada de 1874 e está escrita em alemão, língua falada pelos imigrantes alemães daquela época.

Os muckers incendiaram as vendas de Filipe Klein e de Jacó Schmidt. Mataram Clemente Klay e assim continuaram com os atos violentos.

O Cel. Sampaio entrou na mata com seus soldados e somente depois descobriu que seus homens eram apenas recrutas, enquanto que na segunda vez do ataque, Jacobina fugiu para o Morro do Ferrabrás com alguns adeptos e esconderam-se. À noite o coronel levou um tiro na região próxima ao glúteo e na manhã seguinte estava morto por hemorragia.

Na página seguinte, vemos o monumento ao Coronel Genuíno Olympio Sampaio que foi feita em sua homenagem, por ter lutado pela restauração da ordem da colônia, erigido por filhos de colonos voluntários que combateram contra os muckers e está datada de 1874.  Hoje a estátua está abandonada e não há o menor interesse em fazer algo por ela.

Um novo comandante, juntamente com um capitão retomaram os ataques, mas não surtiam resultados, mas como há sempre alguém que "dedure", nos muckers foi Carlos Luppa, que guiou os soldados em troca da diminuição de sua pena.

Na noite de 02 de agosto de 1874, deu-se um tiroteio que acabou com os muckers, Jacobina e 16 fiéis, os despojos de Maurer foram encontrados meses depois, quase irreconhecíveis, não se sabendo se ele praticou suicídio ou se foi assassinado por seus ex-companheiros. Os outros foram presos condenados e processados pela Justiça, durante oito anos penaram, quando soltos continuaram a serem perseguidos pelos colonos que ainda eram amedrontados.

O triste episódio de fanatismo religioso, aliado a intrigas de colonos e autoridades e falta ou deficiência de informações exatas, terminou por provocar uma tragédia social. Os muckers, foram colonos que ocuparam o Ferrabrás, povoado por imigrantes alemães agricultores, sem assistência médica, religiosa e educacional que entraram num processo de decadência social e de empobrecimento. A falta de habilidade policial, instigada por acusações exageradas, terminou por acirrar o ódio entre os colonos que seguiam o casal Maurer, contra a situação de vexame que lhes impunham autoridades e vizinhos. Tropas do exército, sem disporem de um desejável sistema de informações, foram lançadas numa operação sangrenta, fruto da inabilidade das autoridades de São Leopoldo e da Província.

Ambrósio Schupp, padre jesuíta, narra como uma novela e não analisa o contexto histórico, considerando que o surgimento foi falta de instrução e de assistência espiritual.

Petry, diz que o movimento era uma revolta contra a arbitrariedade de órgãos policiais.

Becker, considerou Jacobina como doente mental e o pastor João Klein um fracassado que influía na seita.

Janaina Amado, caracterizou o movimento como luta de classes.

Domingues, usa farta documentação, analisa os fatos que estão dentro do contexto colonial e não histórico.

Depois de analisar tantas fontes, baseio-me nas conclusões conforme o Dr. Prof. Moacyr Flores coloca-as em seu livro. A intolerância religiosa entre os diferentes ramos do cristianismo, com raízes européias, encontrando terreno fértil na colônia, graças a falta de habilidade das autoridades. Católicos, protestantes e muckers não souberam argumentar com reciprocidade, apenas impuseram os princípios com violência, ocasionando a destruição de grupo menor que pretendia alcançar seus objetivos, sem refletir sobre os meios, sacrificando pessoas em nome de uma utopia religiosa.     

      

INFORMAÇÕES ADICIONAIS.

 

O BAIRRO AMARAL RIBEIRO.

 

Localiza-se aos pés do Morro Ferrabrás, hoje a região está completamente abandonada e não há permissão de acesso à área onde moravam os Maurer, ninguém encoraja-se de morar lá e muito menos restaurar o local para turismo ou para a memória histórica do episódio. Nem pensam em construir um espaço para um pequeno museu, pois as coisas que restam estão no Museu de São Leopoldo. A cruz que assinalava o lugar, não existe mais.

 

A CASA DOS MAURER.

 

Não tendo sido preservada veio abaixo e os escombros estão cobertos com tanto mato. Na planta observamos um plano dos arredores mais próximos e o posicionamento de cada coisa. Feito por eles para manter um melhor controle da área e das pessoas e por onde deveriam circular ou como poderiam armar uma armadilha. Atrás da planta, vemos um mapa feito a mão, calculado e demarcando todas as áreas de interesse de controle dos Muckers. Igualmente como o anterior em sua intenção.

SAPIRANGA.

Hoje, Sapiranga é conhecida como a Cidade das Rosas e oferece passeios bem interessantes. Do alto do Morro Ferrabraz tem-se uma vista magnífica do Vale dos Sinos. Nele está localizada uma cidade jovem, ocupando espaços da encosta e do vale: é Sapiranga, também cidade do Vôo Livre. Paisagens variadas atraem turistas: na encosta, ao norte, a paisagem colonial alemã predomina associada à Mata Atlântica, às cascatas, aos túneis verdes e às lindíssimas vistas do Vale dos Sinos e da Grande Porto Alegre. Ao sul, no Banhado dos Sinos, a lembrança da ocupação portuguesa é mantida com fazendas que convivem com uma riquíssima fauna e flora e com o paraquedismo. No centro desse espaço, entre o rio e a encosta, está a cidade de Sapiranga. Suas praças, jardins, parques, ginásios, centro de cultura e museu possuem algo em comum: a rosa. A rainha das flores ilumina e alegra a cidade, como símbolo da vida e da esperança dos sapiranguenses.

O Morro Ferrabraz foi o palco do conflito dos Mucker e hoje, no local da chacina de Jacobina e seus seguidores, os homens pássaros pousam com suas asa-deltas e paragliders coloridos. Um dos símbolos de liberdade do homem, voar livre, parece fazer justiça à memória destes homens e mulheres que lutaram por uma vida melhor.  

 

GENEALOGIA DA FAMÍLIA MENTZ.

CRISTIANO FISCHER.

RELAÇÃO DOS MUCKERS.

AUTORIDADES.

TABELA DE PROPRIEDADES E RELIGIÕES.

MAPA.

FAX.

EDIÇÃO ALEMÃ.

DOCUMENTAÇÃO DE AMBRÓSIO SCHUPP.

TABELA DE MORTOS E PRESOS.

COLOCAR APÊNDICE.

 

BIBLIOGRAFIA.

 

BARBOSA, Fidélis Dalcim. Os Fanáticos de JacobinaI. Porto Alegre: EST, 1984.

DOMINGUES, Moacyr. A Nova Face dos Muckers. São Leopoldo: Rotermund, 1977.

FORTINI, Archymedes. O Passado através da Fotografia. Porto Alegre: Grafipel, 1959.

FLORES, Hilda Agnes Hubner. Canção dos imigrantes. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, 1983. 

FLORES, Hilda Agnes Hubner. Memórias de um Imigrante Boêmio. Porto Alegre: Nova Dimensão, 1997.

FLORES, Moacyr. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Nova Dimensão, 1997.

GALVÃO, Antônio Mesquita. & ROCHA, Vilma Guerra. Mucker Fanáticos ou Vítimas ? Porto Alegre: EST, 1996.

KERN, Juan. Arquivo pessoal do doutor.

LEITE, Miriam Moreira. Retratos de Família. São Paulo: EDUSP, 1993.

PETRY, Leopoldo. O Episódio do Morro Ferrabraz. São Leopoldo: Rotermund, 1966.

SANT'ANA, Elma. Jacobina Maurer - Coleção Esses Gaúchos. Porto Alegre: Tchê !, s/data.

SCHUPP,  Ambrósio. Os Mucker A Tragédia Histórica do Ferrabrás. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1993.

ÍNDICE

OS MUCKERS...............................................................................................................3

FOTO DO CASAL MAURER.......................................................................................5

FOTO ATRIBUÍDA A JACOBINA..............................................................................7

ATESTADO DE INTERNAMENTO............................................................................9

FOTO DO INSPETOR JOÃO LEHN...........................................................................12

AUTORIDADES DAQUELE TEMPO.........................................................................13

LÁPIDE DA FAMÍLIA KASSEL..................................................................................15

ESTÁTUA DO CEL. SAMPAIO..................................................................................17

MAPA FEITO PELOS MUCKER.................................................................................19

PLANO DO BURGO DOS MUCKER..........................................................................20

SAPIRANGA.................................................................................................................22

SÃO LEOPOLDO E O FERRABRÁS...........................................................................23

SÃO LEOPOLDO E O FERRABRÁS EM 1940...........................................................24

VISTA DO REDUTO MUCKER...................................................................................25

O BAIRRO AMARAL E A CASA DOS MAURER.....................................................26

IDENTIFICAÇÃO E ROTEIRO....................................................................................27

GENEALOGIA DA FAMÍLIA MENTZ.......................................................................29

CHISTIANO FISCHER..................................................................................................30

RELAÇÃO DOS MUCKER...........................................................................................31

TABELAS.......................................................................................................................32

MAPA DO LOCAL DO CONFLITO............................................................................33

FAX................................................................................................................................34

EDIÇÃO ALEMÃ..........................................................................................................35

ASSINATURAS AO PADRE SCHUPP........................................................................36

TABELA DE MORTOS E PRESOS..............................................................................39

APÊNDICE.....................................................................................................................40

BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................44

 

PRÓLOGO

 

O presente texto faz um estudo em relação aos fatos e o movimento ocorrido no Morro do Ferrabrás. Não se pretende a defesa de Jacobina Mentz Maurer, essa colona de origem alemã, nascida em Hamburgo Velho, afamada pelo episódio dos Mucker do Ferrabrás. Jacobina ordenou a violência, é certo. Talvez não fosse uma mãe modelo, nem uma mulher dedicada ao marido, como seria normal esperar-se no meio em que vivia, mas Jacobina não foi uma mulher comum para sua época. Hoje, seria, quem sabe uma médium, uma umbandista bem sucedida, como imagina Antônio Augusto Fagundes, em sua tese: “As santas – prostitutas”, sobre as devoções populares. O certo é que seus transes espirituais, nos dias de hoje remetidos ao campo da parapsicologia, foram interpretados à época como sinais de Deus apontando um novo caminho, o que desagradou muita gente a sua volta, principalmente as autoridades constituídas, para quem o poder de Jacobina sobre aqueles rebeldes muckers ameaçava a ordem social. (Enviara-se soldados bem armados para combater os colonos do Ferrabrás, que aproximadamente eram 150, entre homens, mulheres e crianças). A dolência não demorou para instalar o ódio na região de Sapiranga. E o desfecho não poderia ser outro que as crueldades do dia 2 de agosto de 1874.

 

"Onde é derramado sangue, e onde as vítimas são tratadas com injustiça; surgem, e terão que surgir, movimentos que por muito tempo agitarão o povo. Assim, surgiram com quase todas as religiões: sangue e injustiça são os promotores de grandes acontecimentos sobre os quais a historiografia terá que escrever um dia", diz Hunsche.

 

E assim, o último livro sobre os Mucker ainda não foi escrito. A problemática não está esgotada. O que foi escrito até agora, sempre ou quase sempre, excetuando-se Moacyr Domingues, os demais fazem com uma intenção: são engajados e a historiografia pede a verdade e unicamente a verdade.

 

"Ambrósio Schupp escreveu a sua história sobre os mucker com o fato de dizer aos seus fiéis: é isto que acontece quando a gente lê a Bíblia!"

 

Leopoldo Petry foi informado por parte da mãe dele que os Mucker eram pessoas boas. Apesar de ser católico, ele começou a lutar pela justiça dos Mucker e ultrapassou um pouco ou bastante o limite histórico, fazendo deles uma espécie de 'gente boa'. Eles não foram uma 'gente boa', mas também não foram aquilo que está nos livros em geral. Simplesmente, devem ser melhor estudados.

 

"Os Mucker eram trabalhadores. Pertenciam ao grupo, às famílias mais respeitáveis, mais religiosas, mais abastadas. Portanto não é verdade o que se tem afirmado de que seria um bando de criminosos, um movimento comunista ou um movimento religioso. Este grupo esforçou-se por um cristianismo sem ostentação e tornou-se, assim, a consciência ambulante para os fariseus, para os justiceiros". Tornando-se a consciência ambulante, eles viram lá, o que os padres e pastores não viram conclui Hunsche.

 

Nos tempos mais recentes tem se procurado, com a versão dos vitoriosos suficientemente conhecida, resgatar o outro lado da História. É o que se almeja aqui, onde se procura ajudar a entender Jacobina. Não se comete a imprudência de afirmar que obtivemos uma visão perfeitamente imparcial. A minha condição de mulher naturalmente pesa na interpretação de uma outra figura feminina tão controvertida quanto Jacobina. Como deixar de ver na acusada sua missão de mãe, por exemplo, às voltas com uma maternidade que lhe significou seis filhos em oito escassos anos? Como deixar deflagrar sinais inequívocos de corriqueira puberdade, quando a História descobre os primeiros indícios de seus problemas psicológicos aos doze anos? Como deixar de comover-se com a mulher que, coagida por ter assumido o seu papel de líder, separa-se de seus filhos, desconhecendo o rumo por eles tomado? De todo modo procurou-se aqui não incorrer em erros que tanto têm deformado a visão deste evento social.

 

Na tese Conflito social no Brasil - revolta dos Mucker, Janaína Amado comete dois enganos até certo ponto incompreensíveis. Cita. por exemplo, Wolfang Hoffmann Hamich como responsável pela afirmação de que o padre Ambrósio Schupp orientava cs Mucker (pág. 22). Tal citação, na página indicada da obra O Rio Grande do Sul, simplesmente não existe. Também despreza ou ignora a tradição da Capital das Rosas, a cidade de Sapiranga, ao dizer que Leopoldo Petry em seu livro O episódio do Ferrabrás contrapunha às acusações a Jacobina e seu marido com o argumento de que eles tratavam com esmero as suas plantações e jardins. No bem da verdade, Petry não procurou defesa nas roseiras, mas simplesmente retratou um costume conhecido dos sapiranguenses, amantes dos roseirais.

 

Carlos H. Hunsche não concorda com o termo "revolta", usado por alguns pesquisadores e, no caso especifico, o título dado por Janaina Amado à sua tese de mestrado - Conflito social no Brasil - a revolta dos Mucker. Hunsche justifica dizendo: "Não houve nenhuma revolta. Eles apenas se defenderam quando foram atacados. Viviam numa santa simplicidade, abandonados eclesiasticamente pelas igrejas, os protestantes, e mais ainda pelos católicos. Os católicos tiveram em 1849, os seus primeiros dois jesuítas quando começou a contra-reforma, assim recuperaram muito terreno que haviam perdido diante dos protestantes. Eles tinham a força da igreja católica, que era religião do Estado. Os casamentos mistos, os quais (havia um sem número) eram declarados inválidos e com todas as conseqüências. Imaginem que judiação mental para aquela pobre gente, que havia se casado com base numa orientação antes da vinda dos jesuítas, e que passam a declara-los inválidos. Reinou a confusão.

"Eram atacados pelo protestantismo, pelo catolicismo e pela maçonaria, tendo à frente o seu expoente máximo, o livre pensador Karl von Koseritz. No assunto contra os Mucker, os três lutavam na mesma direção. Eles declaravam que a superstição era uma queda ao medievalismo." Ruam Kem não concorda que a luta tenha sido da maçonaria, mas especificamente de Karl von Koseritz, que era maçon de alto grau e diretor de um jornal. A perseguição era de ordem pessoal. A maçonaria, como instituição, não teve interferência, conclui Kem.  

O cenário dos acontecimentos é importante. Começa-se por uma consideração de Leopoldo Petry, em O episódio do Ferrabrás: "Além do abandono espiritual devemos tomar em consideração o abandono material em que viviam os primeiros colonos. Os imigrantes aqui chegados em 1824 e nos anos seguintes, foram transportados com seus haveres para as picadas abertas na mata virgem, e ali abandonados à sua sorte. Trabalhar para sobreviver ou morrer - eis a alternativa ante a qual se encontravam. Preferiram trabalhar." O jornalista Karl Von Koseritz, escreveu em 1874, às vésperas do confronto de dois de agosto, que quando esteve pela primeira vez no local, sentiu "uma espécie de confrangimento no coração à visão do Morro do Ferrabrás com "aquela negra massa montanhosa, coberta de espessas matas". Imagine-se agora os colonos ali plantados ao pé do intransponível morro, destituídos de apoio e agarrados à sua histórica religiosidade, como ressalta Leopoldo Petry, animando-se a garantir que o germânico trouxe para o Brasil, como um patrimônio sagrado, o espírito religioso, aguçado pela reforma protestante. Viviam em um lugar chamado, antigamente de fazenda do Padre Eterno.

 

Moacyr Domingues descreve as transações realizadas na Picada do Ferrabrás, em documentação encontrada no Arquivo Histórico do Estado do Rio Grande do Sul: "A grande fazenda do Padre Eterno foi vendida ‘em partes, a duas sociedades' Blauth &Matte, que loteou a chamada Picada do Verão (Sommerschneis), com trinta prazos coloniais; e Schrnitt &Krrner que colonizou a Zona Norte do Ferrabrás (cinqüenta prazos), a Picada da Bica (dezessete prazos) e a Picada do Ferrabrás. "Esta começava a meio caminho entre a atual cidade de Campo Bom e a de Sapiranga, e passava além desta; situada ao sul da Serra do Ferrabrás, continha 62 prazos coloniais, medindo cada um cem braças (220 metros) de frente por 1500 braças (3300 metros) de fundos e área superficial de 150 mil braças quadradas ou 72,6 hectares.

 

"A picada propriamente dita, de uma extremidade à outra, mediria, se retilínea, 6820 metros, mas certamente uns sete quilômetros devido às curvas." Acredita-se que a colonização ali começou em 1845. O pai de Jacobina, André Mentz, adquiriu naquela área, em sociedade com seu irmão Libório Mentz, 363 hectares, comprando cinco prazos nos anos de 1856 e 1847. João Jorge Klein, cunhado de Jacobina, comprou um prazo em 1856. João Jorge Maurer, o marido, possuiu 45,375 hectares, embora constasse após sua morte, no inventário, "que os únicos bens que ficaram na herança é um pedaço de terras de matos e capoeiras com 62, 1/2 braças de frente ao sul com 1500 braças de fundos (...), com algumas ruínas da casa que foi incendiada".

 

No final da década de 1860, o município de São Leopoldo (emancipado em 1846) tinha como seu quarto distrito o lugar chamado à época de Capela de Nossa Senhora da Piedade, ou Hamburgerberg, hoje conhecido como Hamburgo velho. Em sua jurisdição ficava o Morro do Ferrabrás, que hoje em dia pertence ao município de Sapiranga, onde os jovens praticam seus vôos.

 

Na chamada Picada do Ferrabrás moravam o carpinteiro João Jorge Maurer e sua esposa Jacobina Mentz Maurer. Ela nascida em Hamburgo Velho, ele na Picada de São José do Hortêncio, ambos de origem alemã. Casaram-se em 26 de abril de 1866 em Hamburgo Velho. Moraram um ano na casa da sogra, no mesmo distrito. No ano seguinte, mudaram-se para a Picada do Ferrabrás. Segundo Carlos H. Hunsche, o movimento dos Mucker não é do Ferrabrás. Ali viveram quando jovens Jacobina e seu marido e umas novas famílias. Alerta Hunsche, ninguém pesquisou de onde vieram os Mucker, embora exista uma lista destas famílias no livro de Petry. A maioria dos Mucker procederam da paróquia do velho pastor, Hunsche, a paróquia de São José do Hortêncio e Linha Nova. Mais tarde, ao comprarem terras, acabaram saindo destas paróquias.

 

CN Mucker, Mucker, quer dizer santarrão ou beato, em alemão. Pode ser, como ensina Carlos H. Hunsche, resmungadores, encrenqueiros, naturalmente considerando-se a palavra no plural. De qualquer maneira, a expressão não ficou limitada a estas traduções ao longo dos cem anos que nos separa dos trágicos episódios de Ferrabrás. Facinoras, imorais, assassinos eram alguns dos termos mais frequentemente empregados para designar os seguidores dessa estranha seita nascida na ex-colônia de São Leopoldo, por volta do ano de 1868, quando João Jorge Maurer, o marido de Jacobina, solidificou sua fama de curandeiro. Houve uma falta de médicos e escolas neste período, que nos primeiros anos da imigração até 1830 não se constatava. Atribui-se esta falta como resultado do abandono sofrido pela colonização alemã devido à Revolução Farroupilha e a interrupção da vinda de outros imigrantes devido a esta revolução. Nesta lacuna foi fácil para João Jorge Maurer, que havia prestado serviço militar em Porto Alegre, procurar uma vida mais fácil e trocar as lides do campo pelo curandeirismo.

 

Há quem, determinando os períodos cronológicos da história dos Mucker, como faz Janaína Amado em sua tese de mestrado, divida o processo em sete fases distintas. A primeira naturalmente é aquela do curandeirismo de João Jorge Maurer, em 1868. A segunda, delimitada entre 1869 e 1871, começa no surgimento de Jacobina como o móvel do episódio. A terceira, entre 1871 e o final de 1872, seria aquela em que a seita passa a admitir novas idéias como o milenarismo, segundo o qual o fim do mundo estava próximo.

 

A quarta fase, cujo período vai de 1872 até maio de 1873, já encontra os Mucker pressionados, perseguidos, abandonando escolas, eleições e igrejas. Criam um mundo de leis próprias. Os velhos deixam de ser conselheiros, abrindo caminho para as lideranças mais jovens indicadas por Jacobina. Radicalizam-se também as posições que conduzirão os Mucker a um desfecho violento na luta contra a repressão cada vez mais organizada. Jacobina decididamente assume o papel de Messias, líder único e absoluto da seita. João Jorge Maurer, o famoso curandeiro passa para um-plano secundário.

 

A quinta fase, entre maio e dezembro de 1873, mostra os Mucker começando a se armarem, reconhecendo que a violência era um meio de ação aceitável para sua luta religiosa. A sexta fase, de dezembro de 1873 a junho de 1874, indica a queda definitiva de João Jorge Maurer e a conseqüente ascensão do jovem Rodolfo Sehn, aquele que foi descrito como o amante em cujos braços Jacobina morreu. Nesse período os Mucker rompem os últimos cordões que os ligavam ao mundo exterior, este horrível mundo que não se limitava aos inimigos de São Leopoldo: até mesmo o imperador, destinatário de um abaixo assinado pelas autoridades locais, fez voltar este pedido de consideração para estas mesmas autoridades. E eis a sétima fase, a última, em que se assumem posições bélicas de defesa e ataque, culminando com o confronto de dois de agosto, no qual Jacobina Mentz Maurer sucumbe varada por tiros militares junto com outros dezesseis seguidores da seita. Foram acusados de subversivos e comunistas, fanáticos e sanguinários - enfim, odiados e perseguidos, em uma espécie de cruzada que atinge ainda hoje seus descendentes pouco afeitos a depoimentos sobre os episódios que marcaram, como uma mancha ingrata, a colonização alemã.

 

É justo reconhecer que alguns pesquisadores como Carlos H. Hunsche Moacyr Domingues, Janaína Amado, o repórter Carlos Alberto Kolecza, Hugo Muxfeldt e o antropólogo Antônio Augusto Fagundes, mais recentemente partiram para árduas e sinceras tentativas de resgatar a verdadeira história dos Mucker, durante muito tempo limitada à versão nada imparcial do jesuíta Ambrósio Schupp, e a do "reabilitador" Leopoldo Petry. É possível, graças ao trabalho deles, vislumbrar-se com mais clareza o que era a solta e sobretudo o que conduziu os homens a ela. Pode-se avaliar, por exemplo, o abandono a que estavam relegados os colonos, jogados ali cinqüenta anos antes dos acontecimentos, sem médicos nem escolas. Não é outro o motivo da seita ter iniciado despretensiosamente, a partir do momento em que o marido de Jacobina, João Jorge Maurer, ganha a fama de curandeiro, que fazia milagres utilizando-se de ervas medicinais. Chegavam a chamá-lo de Wunderdoktor, ou seja: o Doutor Maravilhoso. É possível que por esperteza, como querem alguns, João Jorge Maurer tenha observado os dotes que a esposa possuía para auxiliá-lo na empreitada e a tenha estimulado decisivamente. E também é provável que desta fase despretensiosa, o casal passasse a um sistema mais organizado com o surgimento de João Jorge Klein, cunhado de Jacobina, homem culto, que escreveria as cartas do grupo. Foi considerado por muitos como o mentor intelectual dos acontecimentos. O movimento cresceu perigosamente, ameaçando os valores estabelecidos na região, subvertendo a ordem. Para Carlos H. Hunsohe, os Mucker são uma reação a um racionalismo, a um espírito morto, a uma tentativa de sair do marasmo deste racionalismo pelos meios simplórios de uma colônia que começava em pequenos círculos, dentro de sua própria família. Quase todos eram parentes. Era um movimento de família.

 

Os colonos achavam que Jacobina, por ser sonâmbula, sabia segredos desconhecidos dos demais mortais. Jacobina foi o mito deste movimento. Dela diziam: é o Cristo feminino, o Messias, a Mártir. É claro que os adversários a brindarão com outra espécie de nomenclatura, acusando-a de tara, prostituição, devassidão e o que mais se pode dizer de uma mulher, semi-analfabeta, que em vez de estar em casa, cuidando dos filhos e cozinhando, resolve assumir o papel de agente divina na terra. Jacobina incomodava porque também fugia aos padrões da colona da época. Não estava sozinha nem era a única responsável, dentro da seita dos Mucker, pelo que acontecera entre os anos de 1868 e 1874.

Vamos formar um triângulo imaginário para melhor entendimento de seu papel neste episódio. Em uma das pontas está Jacobina. Na outra, seu marido e companheiro, João Jorge Maurer. O outro vértice seria João Jorge Klein, considerado o mentor intelectual da seita. João Jorge Maurer tem uma importância vital, pois foi através dele, do seu trabalho e da fama de curandeiro milagroso que foram atraídos os primeiros seguidores da seita. Possivelmente ele tinha o intuito, com a esperteza adquirida no tempo da mulher, com sua ajudante nas curas, com aqueles misteriosos transes espirituais. Até um certo momento, a seita parecia despretenciosa e não despertava mais que olhares atravessados dos católicos, dos comerciantes e das autoridades. Embora João Maurer tenha sido considerado um boa-vida, na verdade nem ele e nem Jacobina enriqueceram. "O único sinal que se poderia encarar como de prosperidade econômica do casal", garante Janaina Amado "foi a construção de uma nova casa, ao lado da antiga em 1873, mas foi apenas uma casa erigida em sistema de mutirão pelos adeptos, para abrigar doentes e os membros do grupo em número sempre crescente".

 

Quanto a João Klein, cunhado de Jacobina, efetivamente poderia ter se ocultado atrás da fama que o casal Maurer recebia para instruí-los ao encontro dos seus desejos. Não se pode esquecer, por exemplo, que Klein era um pastor frustrado: ele foi proibido de pregar em Sapiranga, em 1859, por ser mestre escola e não um teólogo habilitado por autoridades competentes da Alemanha. Na verdade, não tinha formação teológica naquela época. Há quem diga que Jacobina foi um instrumento nas mãos dos dois homens, como afirma o psiquiatra Juan Kern, depois de estudar o perfil dos três. Pára ele: João Jorge Maurer era um boa-vida, um ignorante; João Jorge Klein, um espertalhão; Jacobina, pode ter sido uma inocente útil. Ou talvez, nem tão inocente assim, mas útil sem dúvida, se considerarmos o triângulo cujos lados mais pontiagudos determinam a sua história.

 

Leopoldo Petry nos relata um fato ligado à crendice popular, serviu para atrair maior número de pessoas às reuniões na casa de "Por ocasião do início da seita dos Mucker, apareceu na zona rural do Estado um opúsculo sobre sonambulismo e do qual se afirmava: tudo o que contém este livro é pura e santa verdade'. Aconteceu, por infelicidade, ter certo médico classificado como sonambulismo o estado de Jacobina e todos aqueles que tinham lido o mencionado livro, sentiam o desejo de ver uma legítima sonâmbula que, em sua opinião, seria uma vidente e, como tal, sabedora de segredos desconhecidos aos demais mortais. Não admira, pois, que esta gente ingênua vivia convencida de que a vidente, sabendo mais do que eles, e talvez inspirada por um poder sobrenatural se encontrava em condições de prestar-lhes explicações exatas sobre passagens obscuras da Bíblia." Foi esta a origem das reuniões na casa de Jacobina, alerta Petry, e que, uma vez conhecidas atraíam cada vez mais, um maior número de curiosos. "Nesta altura dos acontecimentos, Maurer concebeu a idéia, sem dúvida esperta, de aproveitar o estado de Jacobina para fins comerciais e deles auferir lucros. Sem capacidade intelectual suficiente para proceder com a necessária cautela, não demorou muito que se encontrasse em situação crítica. Não via possibilidade para recuar, porquanto o movimento já tornara proporções por demais expressivas. Obrigado a deixar livre curso à marcha dos acontecimentos, estes o levaram, junto com seus asseclas, à ruína". Finalizando, Petry coloca a ignorância e a crendice como causas dos graves erros ocorridos no Ferrabrás. Se o marido João Jorge Maurer utilizou-a, o cunhado João Jorge Klein foi importante na formação de Jacobina. Pensamento semelhante, que conduz Jacobina a um papel secundário nas primeiras etapas do movimento, atravessam a mente do psiquiatra Juan Kem, que viajou muito pelas colônias do Ferrabrás, pesquisando a história da líder dos Mucker. Kem aplica o método psiquiátrico à pesquisa histórica. E nesse "triângulo" faz a seguinte observação: "Ela foi apenas um elemento manejado pelo boa-vida Maurer e pelo perigoso Klein, que era o verdadeiro diretor de Jacobina". Carlos H. Hunsche, pesquisador e historiador, assim se refere a Jacobina: "Ela não quis ser o Cristo como os outros disseram. Embora sendo uma colona simplória, foi suficientemente inteligente. Ela não iria se declarar Cristo, estando dentro de seu coração a grande veneração de Cristo. Isto, foi dito pelos outros. 'Você é como Jesus!'Quem incutiu isto foi Klein, que lamentavelmente, não foi grande o suficiente para vislumbrar que com o sofrimento dela, a heróica morte dela e muitos outros aspectos, poderiam ter feito dela uma criadora de uma nova religião. Faltou o santo, como no caso de Jesus e seu apóstolo Paulo."

 

Concluindo, Hunsche acredita que Jacobina queria apenas ajudar, mas era uma ingênua e estava lamentavelmente unida a um espertalhão. Ela quis o bem, mas não estava preparada, não tinha o espírito devidamente lúcido. João Jorge Mame, "Homem ainda moço, cheio de rosto, simpático, barba inteira e cerrada, cor de castanha. Nas linhas do rosto não se lhe descobre nenhum traço sequer que revele uma inteligência acima do comum, ou uma energia não vulgar; pelo contrário, tudo nele está a denunciar um temperamento pacífico e uma certa simplicidade bonachona. Escola não a freqüentou João Jorge: não sabe ler nem escrever. " Agraciado com esta descrição pelo padre Ambrósio Schupp, João Jorge Maurer realmente parecia o homem ideal receitado pelo doutor João Daniel Hillebrand como remédio para acabar com os ataques da menina Jacobina. "Tinha boa índole, era insinuante, de trato amável e um tanto refinado, cuidava da aparência e por isso não admira que Jacobina tenha se enamorado dele", observa Moacyr Domingues. Nascido a 28 de fevereiro de 1841, no lar evangélico dos alemães João Carlos Maurer e Maria Bárbara Voltz, o mais velho dos quatro filhos deste casal serviria à Guarda Nacional, em Porto Alegre, no início da guerra do Paraguai e ainda aprenderia o ofício de marceneiro. Julga-se que na colônia, de pouco lhe valia tal conhecimento. Pois, como diz Petry, parecia um luxo dispensável aos colonos da região recorrerem a um carpinteiro para mobiliarem suas casas.

 

Foi, porém, exatamente em uma carpintaria que Jacobina e João Jorge encontraram-se em São Leopoldo. Era a carpintaria de Pedro Mentz, irmão da mulher com quem João Jorge teve seus seis filhos: Jacob, Henrique, Francisco Carlos, Matilde, Aurélio e Leidard que tinha poucos meses no último combate os Mucker, em dois de agosto de 1874. No primeiro dos oito anos de vida conjugal, o casal morou com a mãe de Jacobina, dividindo a habitação ainda com Carolina, a filha mais nova da senhora Mentz. Um ano depois, provavelmente devido a desentendimentos com Carolina, os dois foram morar em Ferrabrás. Era o segundo semestre de 1867 e o casal já tinha um filho, Jacob. No ano seguir, de acordo com os registros mais insistentes, João Jorge começou a angariar a fama de curandeiro que marcaria sua vida. Tinha, então, 28 anos. O que teria levado este colono-carpinteiro a dedicar-se a cura dos doentes que provocava romarias em sua casa em busca de milagres?

 

Contam as versões mais lendárias, devidamente registradas com desconfiança pelo padre Schupp, que tudo teria começado em um encontro protagonizado por João Jorge e um curandeiro de nome Buchhom, responsável pelo estimulo a uma até então desconhecida vocação para a Medicina. Estava João Jorge na roça quando ouviu uma voz: "Que estás tu aí a mourejar? lança fora esse machado e trata de seguir a tua vocação: tu nasceste para médico!" Era um aviso dos céus, disso João Jorge não duvidava. Assim, imediatamente abandonou o machado e virou médico, conforme conta Schupp.

Padre Schupp conta, entretanto, que mal João Jorge retirou-se da sua lavoura "quando detrás de um arbusto vizinho, se esgueirava, sorrateiramente, um individuo de estatura alta, retirando-se com ar satisfeito e triunfante". segundo Klein, cunhado de João Jorge, foi precisamente do contato com o curandeiro que Maurer "amadureceu a resolução de tornar-se médico". Não foi, como se sabe agora, um médico comum. Tratava qualquer tipo de doença, mas pouco variava o método de cura, fundamentado basicamente no emprego de ervas medicinais, emplastos e ungüentos. É certo que virou um verdadeiro ídolo nas colônias próximas e distantes, supridas, enfim, da falta dos escassos médicos que vinham de longe e cobravam caro quando apareciam. Não foi à toa que logo João Jorge conquistou a fama outorgada pelo título que exibiu a partir de então: era o Wunderdoctor. O Doutor Maravilhoso. João Jorge Klein, costumava vestir-se de preto. Era alto e robusto. "De fronte espaçosa, cabelos negros, sobrancelhas hirsutas que sombreavam dois olhos penetrantes" - como descreveu padre Schupp. Nunca se naturalizou brasileiro. Se casou com Catarina, uma das irmãs de Jacobina. Com isso, conquistou uma posição privilegiada nos episódios de Ferrabrás dentro da família da mulher, na qual, segundo Moacyr Domingues, ocupou de inicio o posto de atento observador. "Mais tarde, deixou-se envolver pela seita e compartilhar de suas vicissitudes", acrescenta Domingues. Para muitos, o culto filho de Maria Ana e João Klein, nascido a quatorze de maio de 1820, na Alemanha, foi o "mentor intelectual" do movimento. Na verdade, possuía uma cultura acima da média dos moradores da colónia. Com curso no Seminário de Professores Públicos que licenciava para o magistério, João Jorge Klein ainda colaborava em dois jornais – o Deutsche Zeitung de Porto Alegre e o Der Bote de São Leopoldo, nos quais publicou artigos sobre agronomia considerados valiosos até mesmo por Koseritz. Trabalhou como pastor na Picada Café e na Picada 48, até o ano de 1865. Neste período viu que possuía qualidades de bom pregador. Não era amado, porém. como conta Koseritz "não só intrigava os membros de sua comunidade uns com os outros como também adquiria grande número de inimizades pelos seus escritos que, a par de idéias gerais, continham sempre insinuações de ordem pessoal, odiosíssimas e verdadeiramente venenosas". Por isso, logo foi substituído pelo pastor João Stanger. Voltou-se então para a agricultura, cumprindo atividades que provavelmente não correspondiam às suas aspirações de professor. Como observou o coronel Moacyr Domingues: "um homem de sua formação, de certo aspirava a posições de lideranças para as quais se sentia qualificado; caso se houvesse naturalizado brasileiro, teria tido acesso a cargos políticos e administrativos, mas ele nunca se interessou em conviver com o elemento luso-brasileiro e jamais se identificou com a nova pátria". Klein faleceu em Canoas, a seis de outubro de 1915, com 95 anos de idade. Moacyr Domingues, em sua pesquisa, chega à conclusão de que Klein, "O Misterioso", não passou, em todo o episódio, de ingênuo paladino duma causa perdida. Para Janaina Amado, Klein "não morreu pelo que acreditava nem combateu o que discordava. E ainda passou vários anos na cadeia". "Ela é uma bruxa, uma feiticeira! Ela é uma prostituta, uma sedutora de homens, uma mulher desregrada, uma embusteira religiosa." Jacobina foi acusada praticamente de todos os vícios de uma mulher ruim, ao longo desses anos que separam os episódios dos Mucker dos dias atuais. Não faltaram acusações ao nível de sua sexualidade, de sua fidelidade conjugal e mesmo a sua capacidade materna. Com um pouco de atenção e cuidado é possível ir se destruindo todas as versões fantasiosas que a mitificaram tanto. Por exemplo: consta o livro quatro, página oito, com número de ordem 262 na Matricula Geral de Enfermos da Santa asa de Misericórdia de Porto Alegre, que não foi constatada nenhuma enfermidade na paciente Jacobina Maurer, ali internada no período de 24 de maio a treze de junho de 1873. Tinha-se até pouco tempo uma outra versão sobre a saúde de Jacobina. Baseava-se principalmente no depoimento de seu cunhado João Jorge Klein: ". . . em sua meninice era uma criança doentia, muito disposta a chorar. Aprendia pouco e com dificuldades e sofria de insónia. Agitada durante as noites com sonhos, sofria de convulsões que faziam acreditar em manifestações epilépticas. As esperanças de melhoras nesse estado de saúde com o decorrer do tempo não se realizaram. A moléstia aumentou e Jacobina jazia muitas vezes sem sentidos, abaixo de convulsões, pronunciando palavras sem nexo. Consultando o médico João Daniel Hillebrnad, este aconselhou procurar o quanto antes um casamento para a mocinha." Hillebrand, no entanto, não limitava-se à receita do matrimônio. Sobre Jacobina, escreveu Klein em seu depoimento, "e de muitos parentes pelo lado materno, denotava, desde a mais tenra infância, disposição para o cretinismo e idiotia. Essas duas anormalidades manifestavam-se em tantos graus e variações com os indivíduos que dela são atacados. A predisposição para as mesmas é inata. A caixa craniana de Jacobina e de grande número de parentes seus era relativamente de pequenas dimensões e as fontanelas se fechavam prematuramente na mais tenra idade. "Dizia mais: O crânio demasiadamente reduzido em suas dimensões comprime a massa encefálica sempre irritada e em agitação, causando certas moléstias parecidas com convulsões, epilepsia e moléstias nervosas que despertam no paciente desejo de suicídio. Internada por vinte dias na Santa Casa de Porto Alegre, nenhum desses males foi sequer vislumbrado, conforme documento fornecido por aquela instituição, em treze de setembro de 1984. Posteriormente, registrei flagrante rasura no internamento de Jacobina Maurer na Santa Casa. Antes estava escrito "não consta", sendo a palavra "não" evidentemente apagada. Creditamos agora o que tem a dizer em 1984 - 3 anos desde a morte de Jacobina - o psiquiatra Juan Kem, 88 anos de idade, dos quais 64 em viagens pelo Rio Grande do Sul. "Nascida muito menor que os outros irmãos, apresentava desde cedo o que chamamos de 'ausências' (indivíduos desligados). O médico daquela época, doutor Hillebrand, clínico geral, receitou-lhe a terapêutica do 'himineu'. A himineu-terapia é a terapêutica das histéricas. Sugeriu-lhe que casasse. A família procurou então um empregado. E encontrou um que trabalhava na oficina do irmão de Jacobina. Era João Jorge Maurer, um tipo ignorante, mas muito esperto, que aceitou o matrimónio. No entanto era um homem diferente dos outros do lugar, pois tinha vindo a Porto Alegre fazer o serviço militar e tinha facilidade de relacionamento. Junto com Jorge Klein, foram os responsáveis pelos atos de Jacobina. "Ela via suas crises de ausência se intensificarem e como toda neurótica tinha grande capacidade de dissimulação. Assim os ataques ora eram legítimos ora eram dissimulados. O marido ganhava dinheiro com isso. O velho doutor Hillebrand foi novamente chamado para verificar o estranho caso de Jacobina, que nem um fértil casamento dava jeito. Segue o doutor Kern: "Usavam um tratamento quando ela desmaiava, que consistia em toques no seu clitóris, excitando-a ao ponto de atingir o orgasmo para voltar a si. "Naquela época, consultando-se a literatura francesa, Jacobina possuiria um quadro clínico de histero-epilepsia. Hoje se diria que foi um caso de disritmia cerebral de grau médio, porque, hoje temos a encefalografia. Os sintomas são de mera disritmia." O psiquiatra, quando se refere a Jacobina, costuma dizer que como todo neurótico ela não passou de um instrumento. Se orienta pela teoria do médico francês Charcot que afirma: os nervosos se procuram e os nervosos se encontravam. Em todos estes acontecimentos, ela não foi a mais importante, mas foi a figura que tornou possível o episódio conhecido como Muckers -'afirma doutor Kern. Mais recentemente, Carlos Hunsche traça um novo perfil da Profetiza do Ferrabrás, que deixa de lado a epilepsia, a catalepsia e o histerismo como causas dos transes que ela sofria. Nele, Jacobina aparece como uma mulher com percepções extrasensoriais, enquadradas hoje dentro do campo da parapsicologia, em que faculdades aparentemente sobrenaturais são explicadas como fenômenos da mente humana. Os poderes para os adeptos eram provavelmente iguais aos de Zé Arigó, o famoso médium de Congonhas do Campo (Minas Gerais).

De início Jacobina usava seus dons para-normais para curar, junto com o marido. Envolta pela própria fama de santidade, não resistiu à tentação do misticismo. Seu erro foi interpretar a Bíblia, abuso imperdoável aos inflexíveis pastores e padres. Enquanto a cura era do corpo, a acusação foi apenas de charlatanismo, e, quando passou a ser da alma também, de sacrilégio. O fanatismo de parte a parte, exigiu violência e, por fim, o martírio dos hereges. Nesta mesma direção, Antônio Augusto Fagundes, em sua tese de mestrado sobre as santas prostitutas (devoções populares), analisa o episódio Mucker dando um enfoque especial a Jacobina, que no seu parecer, "nos dias atuais, seria possivelmente uma bem sucedida mãe de santo na umbanda ou no batuque. Na época, porém, fruto de um contexto social desfavorável sem condições de cooptar ou absorver o fenômeno que se obrigava a gerar sua estratégia de sobrevivência, Jacobina foi tomada por profetiza e encarnou todas as qualidades idealizadas pelo grupo. Como sabia ler, ainda que precariamente e em alemão, passou a interpretar a Bíblia, dizendo o que o grupo queria ou precisava ouvir". Jacobina foi vítima de incontrolável processo de deterioração da psiquê. Ao resgatar seus primeiros passos, costumam-se localizar "estranhos ataques" quando a menina tinha doze anos de idade, esquecendo se era intencionalmente ou não, - que é justamente nesta fase da vida feminina que começam a surgir os fenómenos próprios da puberdade, como a menstruação. Na escola, Jacobina "passava por aluna de difícil percepção aprendendo precariamente a ler e a escrever, à custa de sérios sacrifícios", contou Carolina, sua irmã.

 

Necessário também se torna analisar a influência de sua mãe, Maria Elizabeth Mentz, uma viúva considerada excessivamente religiosa, cheia de princípios rígidos, que ensinava as filhas a rezar enquanto trabalhavam na roça. Mas quem era esta mulher que o padre Ambrósio Schupp descreveu como "uma mulherona forte"? Maria Elizabeth Müller Mentz, tinha 42 anos quando nasceu Jacobina, a sétima na ordem de nascimento de seus oito filhos. Quando Jacobina fez nove anos, Maria Elizabeth ficou viúva. Fazia um ano que tinha casado com o homem com quem tivera seus filhos. O marido tinha 61 anos, Maria Elizabeth tinha 50. Nascida em quinze de setembro de 1800 na Alemanha, ela chegou ao Rio de Janeiro em 1825, acompanhando o pai viúvo e cinco irmãos. Enquanto uma das irmãs, Maria Margarida Müller, fugia da família, Maria Elizabeth rumou para São Leopoldo, onde chegou em março do ano seguinte. Neste mesmo ano passou a viver com seu futuro marido, André Mentz, uma ligação que certamente escandalizava os rígidos padrões morais da família, provocando conflitos. Maria Elizabeth educou seus filhos dentro desses mesmos rígidos padrões. Jacobina, por exemplo, só se livrou do domínio materno quando casou e saiu de casa. Enquanto viveu com a mãe, conheceu uma mulher analfabeta, dominadora, de mau gênio, que se irritava com facilidade, chegando a ter inúmeros acessos de cólera, como registram vários pesquisadores. Sabe-se, a julgar pelos depoimentos mais credenciados, como de Moacyr Domingues, em sua A nova fase dos Muckers que era "uma mulher”, aferrada um tanto irracionalmente com convicções religiosas". Sua honestidade pode ser avaliada em um episódio narrado no livro de Leopoldo Petry, segundo um relato atribuído à filha Carolina, a irmã menor de Jacobina.

 

Durante a Revolução Farroupilha, a família Mentz fugia dos rebeldes "que tudo lhes haviam tomado e refugiou-se no mato; o pai certamente estava ausente, pois a mãe e os filhos foram encontrados por um irmão dela (de Maria Elizabeth), saído, à procura num matagal contínuo a uma roça, um comum casebre distruído pelo fogo". Como se imagina que estivesse essa colona com seus filhos chorando de fome? "Ao pé do montão de escombros e cinzas jazia uma marmita contendo um punhado de feijão chamuscado. Porém, apesar da fome que torturava a ela e aos filhos chorosos, a mãe recusava-se, e apesar da insistência do irmão e dos pequenos, a utilizar-se do achado, alegando que os objetos não lhes pertenciam". Sua religiosidade pode igualmente ser observada em outra narrativa de Carolina, ao contar que, muito pequena ainda, mal sabendo "balbuciar alguma palavra" foi levada pela mãe para a roça para, "sentada sobre um toro de árvore", aprender a rezar. Quando começaram a repetir-se as "revelações" de Jacobina, a mãe agiu com rigor em um episódio registrado no livro de Petry, sobre uma discussão entre Klein e o seu cunhado Jacob Mentz. Jacob acreditava na veracidade das revelações. Klein não se convencia. Jacob insistiu tanto que acabou irritando o calmo interlocutor. Maria Elizabeth interveio com decisão. "A velha senhora Mentz que entrementes se aproximava sobremodo irritada, interrompeu-o xingando em voz alta e dizendo não consentir discussões acaloradas e brigas em sua casa, e quem não quisesse sujeitar-se, procurasse olhar a porta pelo lado de fora." A senhora Mentz patrocinou um outro acontecimento insólito, que o padre Ambrósio Shupp considerou "ridículo num sentido, mas trágico e sombrio noutro". Um oficial de Justiça foi à sua casa buscar duas órfãs que estavam em poder de seu filho Jacob. Maria Elizabeth ficou tão enfurecida que desferiu uma dentada no ombro do acompanhante do oficial. Por esta época a senhora Mentz estava com 73 anos de idade.

 

Segundo Moacyr Domingues, Jacobina, para fugir do autoritarismo materno, "passou desde criança a usar de pequenos estratagemas, como meio de defesa e para receber algum mimo e atenção. (. . .) Se antes uma simples cena de choro era bastante para livrá-la momentaneamente da sufocante autoridade materna, já agora era preciso algo mais impressionante, como, por exemplo, um pretenso desmaio, um fingido alheamento a tudo quanto a rodeava. . ." E conclui: "Jacobina foi vítima de incontrolável processo de deterioração da psiquê, iniciado desde a mais tenra infância, devido a alguns fatores congênitos, mas desencadeados por uma educação exageradamente rigorosa. Por necessidade, aprendeu - sem ter disso consciência - a auto-hipnotizar-se ou auto-sugestionar-se : foi o coroamento de constante exercício de auto-domínio." Os "ataques" de Jacobina foram interpretados desta maneira por Moacyr Domingues. Moacyr Domingues questiona ainda a possibilidade de Jacobina ter-se tornado "uma criatura inconscientemente revoltada contra o mundo em geral, e também carente de amor e compreensão", devido a estes relacionamentos familiares. Se estes sentimentos foram ausentes na infância e na adolescência, "será que a admiração e respeito que mais tarde procurou infundir em seus adeptos, não foi a forma que julgou ter encontrado? Não terá sido o fanatismo religioso a forma de expressão desses anseios a custo refreados, mas afinal libertados quando ela escapou ao jugo materno? " Doutor Hillebrand, embora conhecesse muito bem Jacobina, nunca diagnosticou sua paciente, mas era "convicto de sua boa-fé ". Miguel Noe, marido de sua filha Aurélia, relata que "quando Jorge Maurer e Jacobina Mentz, pessoas jovens e robustas, estavam casados, ela, logo depois de ter tido sua primeira criança, aos dois anos de casada, adoeceu de repente, ficando muda e alheia a tudo. Por pouco tempo, porém, conseguiram fazê-la voltar a si chamando por ela e trabalhando nela. Com o tempo estes ataques se repetiram. Ela sempre voltava a si, às vezes demorava mais, outras não. Após um ataque, quando recuperava a lucidez, ela sentia o corpo pesado e ficava muito pensativa (. . .). Certo dia perdeu totalmente os sentidos, a força e a capacidade de pensar, seu espírito estava ausente, até que o mesmo se reincorporasse nela. As primeiras palavras pronunciadas depois de um desses ataques davam a impressão aos presentes de um comportamento fantástico, mas por outro lado, ela já anunciava o dia e a hora em que falaria novamente, o que se realizava (. . .). No momento em que o espírito dela se ausentava, seu corpo perdia a sensibilidade e o raciocínio até que voltasse. Desta maneira era participado ao espírito dela tudo quanto ela falava. Acontece que ela dizia as coisas inconscientemente ao ponto de terem de repetir-lhe quando voltava a si. " Estaria Jacobina ainda se auto-hipnotizando? Ou deixara emergir seus dons extra-sensoriais? Daquele momento para frente, (um período de oito anos que passou ao lado do marido João Jorge) Jacobina executou com desvelo seu papel de procriar: teve seis filhos, sujeitando-se à média da época. Vale, neste momento, reler as palavras de Moacyr Domingues: "A maternidade pode constituir-se em sucedâneo para certas frustrações desde que a mãe seja capaz de renunciar completamente às suas próprias aspirações, sublimando-as em favor da prole. Se Jacobina nunca conseguira encontrar solução satisfatória para seus problemas pessoais, encararia a maternidade como uma felicidade do céu, ou como um fardo a mais a carregar? " O fato é que, por escapismo, insatisfação ou por falta de domínio sobre as estranhas forças que atormentavam sua mente, Jacobina foi encarnando a figura mística, mágica e divina que os colonos do Ferrabrás, acostumados a freqüentar a casa para consultar João Jorge, tanto precisavam. Moacyr Domigues não acredita que seu marido tenha, em algum momento, "percebido o drama que se passava no íntimo da mulher. Ele ara um indivíduo que se preocupava com exterioridade, gostava do dinheiro e precisava ganhá-lo. Sua inteligência era medíocre, enquanto a de Jacobina, indiscutívelmente, era agudíssima."

 

Jacobina e João Jorge Maurer tiveram, como dissemos anteriormente, seis filhos: Jacó Maurer, nascido a 19 de maio de 1867. Henrique Maurer, nascido em 12 de agosto de 1868. Francisco Carlos Maurer, nascido em 11 de agosto de 1869. Matilde Maurer, nascida a 25 de dezembro de 1870. Aurélia Maurer, nascida em 9 de abril de 1872 e Leidard, nascida pelo mês de maio de 1874.

 

Ferrabrás, 24 de fevereiro de 1873. Hoje, mais uma vez trato-te de querido irmão. Deixaste-me como se eu fosse uma libertina. Agora pergunto eu: qual de nós dois é libertino, eu ou tu? Mas eu o suporto. O Senhor, porém, fiz: Ai dos escribas que fazem as leis injustas e proferem sentenças iníquas, para torcerem a causa dos pobres e oprimirem o direito dos infelizes, julgando que as viúvas devem ser a sua presa e os órfãos as suas vítimas. E que pretendeis fazer no dia da tribulação e do infortúnio, que já vem vindo? A quem ireis pedir socorro? Vós, porém, sabeis que ele é justo; pois como um filho serve ao pai, serviu ele a mim no Evangelho. E não tenho outro que de tão boa vontade me obedeça, nem que tão de coração vale por mim. Aflige-me, porém, caro irmão, que tenhas um coração tão duro que recuses reconhecer a herança celeste. Com o pai celeste eu peço: Volta e deixa o tumulto do mundo, pois feriste-me no coração, que sangra gota a gota. E que dirá nossa boa mãe, quando souber? Dirá então: como me dói o coração! Mas ainda podes remediá-lo. Lembra-te da lei que juraste; e se te lembrares dela, não a podes deixar, pois quem a despreza, não despreza a Deus, que soprou o seu espírito em vós. Do amor fraternal, não é preciso que eu vos fale, porquanto foste ensinado pelo próprio Deus a amar-vos uns aos outros. Querido irmão! Onde a tua caridade? A tua caridade desvaneceu-se. Onde a tua fé? Onde as tuas obras? Tens a fé e as obras, mas não para o pai celeste. Por isso, ficam cansadas as mãos e covardes todos os corações dos homens. O susto, o medo, a dor assalta-los-ão e as suas faces tornar-se-ão abrasadas."

Esta carta de Jacobina, escrita pelo seu cunhado Klein, foi enviada para seu irmão Francisco (Franz) com a intenção de que ele se aproximasse dela. Era o único irmão que não pertencia à "seita". De uma maneira sutil, apela para o amor filial e fraternal de Franz. Cegos, aleijados e outros doentes se curavam com o Doutor Maravilhoso, o marido de Jacobina.

 

Doente, médium, santa, feiticeira, o fato é que a partir de 1873 os Muckers, por ela liderados são ferozmente perseguidos. O ódio explode na colônia. Jacobina é presa, junto com o marido, em 1873. João Jorge Maurer depõe em 20 de maio. Em suas declarações, diz que sua mulher "não intervém nas curas que ele fazia", e as reuniões em sua casa eram "com o fim somente de explicar as sagradas escrituras ou o verdadeiro espírito delas", e as explicações eram ministradas por sua mulher, por inspiração divina. Disse também que Jacobina, "antes de ser inspirada", não sabia ler nem escrever, mas "depois disso soube ler em letra impressa e não em manuscrito". Quando lhe perguntam se "sua mulher sofre de ataques nervosos ou epilépticos", respondeu que "não sofre desse ataque, mas que estava muito cansada de seus trabalhos espirituais". Acrescenta também que seu último filho tem treze meses. Enquanto Maurer, após seu depoimento, fora enviado para Porto Alegre no dia 21, Jacobina permanecia no Ferrabrás. O doutor Sampaio, chefe da polícia ordenou que "de qualquer maneira" ela deveria ser conduzida a São Leopoldo no dia 22, o que de fato aconteceu. "As circunstâncias sob as quais Jacobina foi conduzida a São Leopoldo", observa Domingues, "estão relatadas num abaixo-assinado dirigido em fins de 1873, pelos membros da seita, ao imperador Pedro II; a certa altura, está escrito: (. . .) 'que, no dia 22 do mesmo mês (de maio), dia da Ascensão do Senhor, fora presa a mulher de Maurer, se achando ela doente de um mal que o costumava dar, ficando sem sentidos, sendo levada – por uma escolta de oito praças - em uma carreta, sendo que, na viagem que durou nove horas, foi ela insultada, continuando doente até aquela cidade, onde a depositaram na casa da Câmara, exposta ao público, tendo sido examinada por médicos, a fim de ver se era fingida a moléstia, com aplicações de agulhas e pontas de canivetes por todo o corpo e mais aplicações médicas pala ela tornar a si, o que conseguiram só depois de cinco horas.

 

"Numa carta dirigida a seu primo Lúcio Schreiner, a dezenove de maio do ano seguinte, onde lhe verbera o procedimento até então seguido, disse Jacobina - pela mão de Klein, como veremos - o seguinte: '. . . Ignoro se V.M. ainda tem algum respeito pela escritura sagrada; contra a qual tanto tem pecado, mas espero que V.M. ainda acredite que eu também sou de carne e osso e que me foi tão doloroso (como ao inocente. Abel quando Caim o matou) quando V.M., no ano passado, me fez levar à força, expondo-me ao escárnio e a um tratamento das massas. As sevícias que no ano passado no edifício da Câmara Municipal, me fez uma multidão de pessoas grosseiras e selvagens, ainda muito depois me ......... e o sangue humano que V.M. fez verter do meu corpo também brada da terra para o céu, pedindo vingança. (. . .) Mando agora procurar a meu marido cheia de tristeza. Diga-me, ao menos uma vez com franqueza, se V. e seus cúmplices não o agarraram também, como o pobre Guilherme Gaelzer e Cristiano Jtichter. 'De mim, V, só tirou sangue. Não me dirá V, se meu marido não foi devorado com carne e sangue, pele e ossos, cabelos e unhas?' "Os fatos, tão dramaticamente contados", conclui Domingues, "parecem uma violência revoltante e desnecessária".

 

No dia 23 de maio (sexta-feira), Jacobina responde a um interrogatório do chefe de polícia, tendo como intérprete juramentado, Luiz Kraemer Walter, pois não falava o português. Este interrogatório está contido em “A nova face dos Muckers” e é narrado da seguinte maneira: "Dedarou ser natural da Capela da Piedade (hoje Harnburgo Velho), com 31 anos de idade, filha de André Mentz e sua mulher Maria Mentz; casada com João Jorge Maurer, morava no lugar chamado Ferrabrás, ocupava-se do 'serviço doméstico de sua casa'e 'não sabia escrever, lendo apenas as letras impressas'. "Disse que nas reuniões que se realizavam em sua casa, o assunto de que se ocupam é a explicação da Bíblia, para o que ela se julga inspirada de cima; que não sabe como lhe veio essa inspiração, mas que entre ela e a divindade não há pessoa humana que lhe serve de intermediário. "Afirmou que 'professava, como ainda professa, a religião evangélica', mas que 'tem proibido a seus associados a frequência de suas igrejas, porque nelas se não explica o evangelho em seu verdadeiro sentido' e confessou que 'não presta obediência aos seus pastores'. "Confirmou que 'proibia a freqüência das escolas' pelos filhos de seus associados, 'pois que o ensino devia ser reformado sobre as bases da nova doutrina'." Não se julgava habilitada para curar cegos, aleijados e outros doentes iguais; as pessoas dessa condição que a acompanhavam "estavam se curando com seu marido", este "não tem habilitações científicas", mas "julgava-se com o dom de fazer estes curativos por inspiração divina". Perguntada se "cumpre todos os deveres conjugais e se ajuda o seu marido nos seus trabalhos", respondeu que "cumpre todos os seus deveres de mãe de família e se emprega nas explicações da Bíblia, mas que "não intervém nos curativos que seu marido faz". Perguntada se Maurer "recebia pagamento pelas curas que fazia", respondeu que "a maior quantia que ele recebeu, há dois anos, parece-lhe que foi de sessenta mil réis; e que outros curativos tem recebido um a dois mil réis por cada uma poção que ministra". A entrada na sua associação "era de livre vontade" e os adeptos não prestavam juramento prévio; as reuniões "são feitas de dia", mas "quanto à sua designação nada sabe por ser feita por seu marido, devido ao estado insensível em que ela se acha nessas ocasiões"; tampouco podia por essa razão dizer o número de pessoas que compareciam. Perguntada se era verdade que em certa reunião aparecera vestida de branco e com uma grinalda de flores na cabeça, respondeu que "não sabe, mas que se lhe diz que ela assim apareceu". Quanto à anunciada reunião geral no dia do Espírito Santo – que cairia a primeiro de junho, domingo - disse que "é verdade que tinha ou tem de haver essa reunião, mas que não sabia qual o fato ou aparição que tinha de haver". Perguntada sobre se era verdade que "o seu irmão Francisco lhe entregara um manuscrito sobre a marcha futura da sua seita e se pode apresentá-lo", respondeu que "é verdade, mas que entregou esse papel a outra pessoa, cujo nome não pode declarar". Como que aproveitando uma deixa, perguntou-lhe imediatamente a seguir o chefe de polícia "se conhece a João Jorge Klein e se ele ultimamente tem ido à sua casa", redargüindo ela que o conhecia, que é seu cunhado, "mas que não sabe se ele ultimamente tem freqüentado a sua casa. Pergunta-lhe então incisivamente o doutor Sampaio: "como assim responde, quando outras pessoas dizem que em um dos dias de reuniões em que ela apareceu vestida de branco, ele se ajoelhou a seus pés e lhe havia pedido perdão?" E ela respondeu "que nada sabe, pela razão já dita de não estar em seu sentido". Ai se encerra o interrogatório, durante o qual já declarara que "aos doze anos de idade teve uma grave enfermidade que muito a prostrou e depois disto só de seis anos para cà é que principiou a sofrer de seus de liquios usuais".

 

Segundo Moacyr Domingues, este depoimento de Jacobina "revela uma grande sagacidade: a mulher não era apenas extraordinariamente inteligente, como devia estar muito bem instruída. Pode-se ter a certeza de que nenhuma pergunta a surpreendeu: tudo quanto disse foi porque quis dizer, não porque houvesse sido apanhada desprevenida."

 

Jacobina é internada na Santa Casa em Porto Alegre a 24 de maio daquele mesmo ano. O marido já se encontra no quartel da polícia. "Nesse mesmo dia o chefe da polícia ordenava uma busca na casa de Maurer, bem como nos seus arredores e lugares suspeitos e especialmente em uma caverna quase desconhecida que se acha na serra, a fim de procurar armamento e munições de guerra." No dia 28, o chefe da policia regressou a Porto Alegre, dando por encerrada a sua missão; a trinta, uma sexta-feira, dirigiu ao provedor da Santa Casa o seguinte ofício: "Rogo a V. Sa. Se digne, pelos facultativos desse Pio Estabelecimento, mandar examinar a alemã Jacobina Maurer, que ai se acha recolhida a meu pedido, a de verificar qual a causa dos ataques que sofre, que a fazem perder os sentidos e conservar-se horas seguidas em completa imobilidade." "A treze de junho, o doutor Sampaio dirigiu ao provedor da Santa Casa este lacônico ofício: 'Rogo a V. Sa. se digne mandar alta à alemã Jacobina Maurer, que foi ai recofilida para ser observada'. Quanto à enfermidade de Jacobina, conforme documento fornecido por aquela instituição, nada foi constatado no período em que esteve internada.

 

João Jorge Maurer assina um "termo de bem-viver", comprometendo-se a não pertubar a tranqüilidade pública. Tanto Jacobina como João Jorge Maurer voltam para Ferrabrás, como heróis. "O fanatismo não diminuira e os adeptos continuavam tão aferrados quanto antes à fé nos poderes milagrosos do casal". Ninguém tentou um gesto de paz. Ninguém perguntou aos Muckers o que pretendiam ou de que se queixavam. João Jorge Maurer vai ao Rio de Janeiro onde quer tentar provar que os Mucker não merecem a fama que têm. "Aparentemente ignorando a viagem de Maurer ao Rio de Janeiro", diz o padre Schupp que o motivo de seu recente afastamento fora outro: Jacobina decidira substituí-lo por Rodolfo Sehn e desejava evitar que o marido "ficasse sendo testemunha constante de sua infidelidade". "Por isso foi mandado viajar" levando também, assim dizem, "a incumbência de sondar os ânimos nos pontos mais afastados da colônia, e de prepara-los para o reino do novo Cristo".

 

Sucedem-se os seguintes incidentes: um comerciante, Jacó Kramer, é encontrado morto e um colono, João Pedro Hirt, enforca-se depois de ser visitado pelo marido de Jacobina. Não há provas, mas a culpa é atribuída aos santarrões. Estamos no mês de outubro.

 

A 22 de novembro de 1873, o inspetor de quarteirões João Lehn sofre um atentado a bala. Suspeitos: os Muckers Jacó e Rodolfo Sehn.

 

A 30 de abril de 1874, dois mascarados matam Jorge Flaubert. Suspeito: o Mucker Robinson.

 

Moacyr Domingues questiona: "Até que ponto as suspeitas levantadas contra os Mucker pelas desgraças acontecidas em diversos pontos da colônia tinham fundamento? Impossível, certamente, apurar. Todavia, tudo contribuía para acirrar os ânimos, de parte a parte, segundo Nüe, os déricos evangélicos e católicos continuavam a instigar o povo contra eles; e afirma que muita maldade era praticada na colônia e injustamente imputada aos Muckers."

 

Comenta-se que Jacobina protege Rodolfo Sehn, elegendo-o como receptáculo de suas mensagens em lugar do marido. Sena é jovem, decidido e fiel à causa, como se verá na hora de sua morte. Vamos encontrar nos Apontamentos de Nòe, a justificativa deste acontecimento, narrada da seguinte maneira: "Rodolfo Sehn ocupou o lugar de ouvinte, por sua capacidade de pensar intensamente: para poder transmitir as declarações de Jacobina durante a ausência de seu espírito precisava-se de uma mente clara para captar tudo o que ouvia dela. Com isto Jacobina era fortemente atacada e sobre ela recaia a suspeita de que teria se separado do marido e estivesse a viver com Rodolfo Sehn, que ela separava casais e unia outros e cada adepto podia trocar sua mulher à vontade e que ela era uma mulher sensual. "

 

Analisando estas acusações, Janaina Amado, em sua tese de mestrado, faz as seguintes observações: a) todos os Muckers sempre negaram o fato. Se realmente promovessem orgias, considerariam a prática natural e defensável, como fizeram em relação a todas as outras atitudes que tomaram; b) nenhum casal Mucker se separou durante o movimento, todos continuaram a viver com seus respectivos maridos e mulheres. Se Jacobina ordenou a alguns "a não continuarem a viver com suas mulheres", a ordem não foi cumprida; estranhamente, porque já foi comentado que a palavra de Jacobina era lei, na época, para os Muckers. Na realidade, Jacobina pregava o seguinte: se o marido quisesse ser um Mucker e a mulher se negasse, ele deveria aderir de qualquer forma. E este caso de divergência entre casais só ocorreu uma vez, com Maria e Martinho Kassel. Ela estava indecisa entre a religião oficial e o grupo de Jacobina, enquanto ele queria ser Mucker, mas os dois acabaram abandonando o grupo e tendo o destino que se conhece. c) O fato de Jacobina ter se afastado, e, até mesmo se separado do marido, não constituía delito para os protestantes, que admitiam o divórcio; d) As "orgias sexuais" não condizem com as outras atitudes do grupo, as quais refletem uma moral muito rígida: não fumar, não beber, não jogar, não freqüentar ambientes sociais. "Ainda menos plausível", argumenta Janaína, parece a acusação de que Jacobina e Rodolfo Sehn era amantes, porque: a) segundo se dizia, Jacobina teria se unido a Rodolfo no início de 1874. Nesta época, entretanto, ela estava grávida: seu último filho nasceu em fins de maio de 1874, como se verá. Teria Jacobina se tornado amante de Rodolfo posteriormente, nos meses de junho e julho? Dificilmente, pois nesta época os Muckers estavam todos apinhados no Ferrabrás, combatendo contra as forças legais. E a dois de agosto de 1874, Rodolfo e Jacobina foram mortos; b) a mulher de Rodolfo, Guilhermina Sehn, tida geralmente como vítima da situação, revoltada contra Jacobina e o marido, declarou textualmente que "não era verdade o que o povo dizia, a saber, que seu marido Rodolfo Sehn e Jacobina Maurer era amantes, porque nunca houve nada entre eles deste tipo de coisa; que era verdade sim que tanto ela responde,  quanto seu marido Rodolfo freqüentavam a casa de Maurer, e que Rodolfo era muito chegado a Jacobina porque acreditava no que Jacobina pregava. E que ela respondente agia da mesma forma, mas nunca se haviam tratado entre seu marido e Jacobina Maurer assuntos de amor, porque tais assuntos eram mundanos e não cabiam na ordem das coisas. O, marido a respeitava, e se as coisas se tivessem passado como diziam o povo, ela não teria continuado a ir às reuniões na casa de Maurer, porque ela se respeitava e aos filhos, e também respeitava Jacobina Maurer." Para Janaina Amado, a "alegada imoralidade dos Muckers parece ter sido muito mais um elemento forjado pelos opositores do grupo que um fato verídico.

 

Nòe, em seu depoimento, afirma que a idéia partiu do clero, que se encarregou de difundi-la entre os colonos, como mais um motivo para afastá-los do Ferrabrás. É bem possível que as coisas tenham ocorrido realmente desta forma. Padres e pastores já tinham identificado Jacobina como 'demoníaca', 'bruxa' e 'embusteira'. Apontá-la como 'prostituta' apenas carregava mais o quadro. Em maio nasce Leidart Mentz Maurer.

 

A quinze de junho acontece a chacina da família de Martinho Kassel, um ex-Mucker arrependido. Ex-seguidor da seita, Martinho convencera a mulher a deixar os Muckers, supostamente porque Jacobina incentivava a troca de casais, a separação de casais. Martinho transformou-se em um ativo propagandista anti-Mucker, recorrendo à polícia com suspeitas de represália. Efetivamente, na manhã do dia dezesseis, o chefe de polícia recebeu uma comunicação dos vizinhos dos Kassel, dando conta que após ouvirem nove ou dez tiros para os lados da casa descobriram que ela tinha sido incendiada com a mulher de Martinho e cinco filhos do casal dentro. Martinho escapara porque tinha ido a São Leopoldo denunciar suas suspeitas da morte próxima. No túmulo dos Kassel ainda hoje repousa uma lápide que marca a tragédia na inscrição: "Aqui jaz a família Kassel, morta e queimada pelo bando dos Muckers, no dia 15 de junho de 1874. Paz para suas cinzas."

 

A partir deste acontecimento, "os jornais passaram a se ocupar com grande alarde dos adeptos de Jacobina, exercendo papel importante na formação da opinião pública provincial quanto aos Mucker", observa Janaina Amado.

 

No dia dezesseis, por ordem do presidente da Província Carvalho de Moraes, dos enviados homens para a região, foi solicitada a prisão preventiva de Carlos Einsfeld e Jorge Robinson, relacionando-os com a chacina da família Kassel.

 

No dia 23 de junho é pedida a prisão preventiva de João Jorge Alaurer, Jacobina Maurer e João Jorge Klein, "por haverem veementes indícios de serem os mandantes da chacina". No dia 24, Klein 1 preso e enviado para Porto Alegre. A violência explode na colônia. No dia 25 de junho, crimes são praticados em Campo Bom e Sapiranga. No dia 26, em revide, são incendiadas casas na Picada do Hortêncio e Unha Nova. Mais forças chegam da capital depois de 25 de junho, após estes incêndios e crimes.

 

"Procuremos, agora, verificar de que lado partiu a primeira violência, se dos Muckers, se de seus adversários", questiona Domingues. Carlos Alberto Kolecza, numa série de reportagens sobre o assunto, escreve: "Ninguém tentou um gesto de paz. Nunca alguém foi a Ferrabrás perguntar aos Muckers, o que eles pretendiam ou de que se queixavam. Os padres e pastores cavalgavam por perto, na tentativa de salvar ovelhas desgarradas e não passou pela cabeça de algum chamar Jacobina ou João Jorge para uma conversa. Ás autoridades policiais mantinham a seita sob severa vigilância. Os Muckers sabiam que quase diariamente estavam sendo espionados por Lehn. Se as lideranças jamais se preocuparam em dialogar com os Muckers, não seriam os colonos que tornariam a iniciativa " Os colonos formam exército de paisanos, cercam as casas dos Muckers, prendem mulheres e crianças. Jacobina foge para o mato, com a família e seus seguidores mais fiéis. Jacobina não morreu nos braços de Rodolfo Sehn, golpeada por baionetas. A história, contada muitas vezes até hoje, outorgou-lhe este fim de esboço imoral, mas que certamente seria mais romântico e agradável que o verdadeiro destino de Jacobina. E mesmo o exame dos relatórios policias narrando o estado em que se encontravam os cadáveres não indicam tal abraço. É possível que, desesperados pelo eminente banho de sangue em que mergulhariam inevitavelmente, todos tenham se aproximado na inútil tentativa de proteção mútua. O certo é que naquele dia dois de agosto de 1874, haviam dezessete pessoas entrincheiradas nas cabanas que serviriam de último refúgio para os Muckers. Para ali tinham ido os sobreviventes do ataque anterior, no dia dezenove de julho, sem a presença de João Jorge Maurer, marido de Jacobina, nem de João Jorge Klein. Desapontamentos de Miguel Nòe: "Pouco antes do último combate no mato junto à cabana, algumas pessoas que não haviam tombado em combate viram quando Maurer se despediu de sua mulher. Ela ainda lhe deu comida para levar em sua viagem e disse: 'Nesta cabana, eu tomo a minha criança, e minha criança, esta eu levo comigo. Não devo permitir que ela vá pelo mundo acompanhada por zombarias e vexames' "Estas foram as últimas palavras que ela disse a ele. Seus olhos o acompanharam quando ele desapareceu no mato e pede que lhe escrevam uma carta na qual ela designa onde deveriam ficar as outras cinco crianças e quem deveria ficar com elas. Provavelmente, nenhuma delas chegou ao endereço certo e onde foram os Maurer, também não se sabe até hoje. Um homem disse que lhes havia falado perto da fronteira de Uruguaiana. O falecido velho Schrnid, que estava trabalhando na medição de uma estrada, deu pouso a eles em seu acampamento e Maurer lhe teria falado longamente. Porém, onde eles queriam ir, ele não teria dito." No dia dezenove morreram cerca de trinta pessoas, inúmeros foram feridos e outros 52 foram feitas prisioneiras, conforme notícia de São Leopoldo de 22/7/1874.

 

"Ontem, às 7h30 da noite, chegou aqui a lancha a vapor que rebocava um lanchão com as famílias dos Mucker, a maior parte feridos dos que sobreviveram ao assalto e ruína do covil de Maurer e Jacobina, cujos nomes deu o Bote de hoje. "Após a chegada dessas famílias a Sãso Leopoldo, começaram a circular insistentes boatos de que os Mucker tentariam um ataque à cidade para resgatá-las; essa, a razão para serem removidas para Porto Alegre, onde chegaram à meia noite de 28, uma terça-feira."

 

Na relação, estão recolhidos à cadeia de Porto Alegre os filhos de Jacobina e João Jorge Maurer: Jacó, com sete anos feitos, entregue a Francisco Xavier Frederico, morador à rua General Silva Tavares; Henrique, com seis anos, entregue a Nicolau Birkenfeld Filho, morador na mesma rua; Francisco Orlos, com cinco anos, entregue a Germano Traub, à rua Santa Clara, 18; Matilde, com pouco menos de quatro anos, entregue ao mesmo; Aurélia, com dois anos e três meses, cujo destino não é citado. Também morreria, vítima deste confronto, o coronel Genuíno, que comandava as poderosas forças militares inimigas dos Muckers. Não se sabe com certeza, entretanto, se efetivamente o coronel foi alvo dos disparos dos adversários ou de tiros de armas de seus próprios soldados, como alude Moacyr Domingues, insinuando até que "Genuino teria sido morto por um dos seus soldados devido a um caso de vingança". Há outra versão. Nela seu matador seria mesmo um Mucker que emboscou-se na beira do mato do Ferrabrás quando, após capturar mulheres da seita, Genuíno promovia uma espécie de bacanal com suas cativas. Domingues não dá muito crédito à versão, mas publica-a talvez para mostrar que, mesmo com todos os boatos atingindo o comandante em chefe das forças armadas do Ferrabrás, permaneceu sendo intitulado de "bravo coronel", enquanto aos Muckers, o tratamento sempre foi visceralmente diferente. Com Genuino morto, assumiu o comando repressor o capitão Dantas, do 12º Batalhão de Infantaria. São suas forças, soldados e mais um grupo de vociferantes colonos, que vão se dirigir para o massacre junto às cabanas dos Muckers.

 

Do lado de dentro: João Sehn, Martinho Sehn, Jacó Sehn, Carlos Sehn, Conrado Nòe, João Nòe, Henrique Nòe, Valentin Vasun, Cristiano Karts, Carlos Maurer, Catarina Arend, Nicolau Barth, Nicolau Schnell, Jacó Maurer e mais a empregada de Jacobina, Ana Maria Hofstàtter, além, é claro, de Rodolfo Sehn e a própria Jacobina. A batalha durou dez minutos. Um único soldado tombou sob os disparos dos Muckers, que ainda feriram dois oficiais, doze soldados e três apaisanos. Todos os dezessete membros do grupo de Jacobina sucumbiram. Foram mortos com tiros endereçados ao peito João Sehn, Jacó Sehn, Conradu Nòe, João Nòe, Ana Maria Hofstàtter e Henrique Nòe, que também foi degolado conforme os exames de corpo de delito executado às nove horas da manhã daquele dia, pelo próprio chefe de polícia, servindo como escrivão André Ries e como peritos o major João Schrnitt, presidente da Câmara Municipal de São Leopoldo e do capitão Lúcio Schreiner, por irônica coincidência primo de Jacobina, que teve que testemunhar isso: Nicolau Schnell levou dois tiros, um na barriga e outro no esterno. Catarina Arend foi morta com "um ferimento a bala na região epigástrica". Martinho Sehn teve "um ferimento de bala na cabeça, entranhando no crânio, ofendendo o cérebro". Cristiano Karst levou um tiro na região umbilical e teve "um ferimento de arma branca". Carlos Sehn também levou um tiro e ainda apresentava "diversos ferimentos na barriga feitos com instrumento cortante e perfurante". Valentin Vasun levou dois tiros e também sofreu mais "um ferimento feito com arma branca na cabeça". Nicolau Barth não levou tiros: morreu de ferimentos de arma branca no crânio. Carlos Maurer não levou tiro: foi degolado. Jacó Maurer teve ferimento na altura do peito "com instrumento cortante e perfurante que trespassou o corpo de um a outro lado". ,' . E Rodolfo e Jacobina? Rodolfo, de acordo com o corpo de delito, sequer foi tocado por arma branca. Morreu abatido por quatro disparos: "dois na região abdominal e dois na região toráxica". Jacobina levou um tiro "na região frontal com abertura de saída no ocipital" e ainda foi ferida "com arma branca na região molar e labial". Teve morte instantânea. Rodolfo foi o último homem a morrer. Quando Jacobina foi atingida, Rodolfo Sehn deve ter corrido a ampará-la. Foi então abatido. Depois, como acredita Moacyr Domingues, um colono enfurecido deve ter desferido um golpe de facão em seu rosto quando ela já tombara ao solo. Ainda haviam duas mulheres vivas: Ana Maria e Catarina Arend, que como conta a história, preferiram morrer à entregar-se vivas para os seus captores com suas promessas de garantia de vida. Com esse massacre, aparentemente varriam-se os MucKers da face da terra naquela manhã de agosto Ferrabrás.

 

Feiticeira? Charlatã? Doente? Curandeira? A encarnação feminina de Cristo? Jacobina Mentz Maurer foi chamada de tudo. Não custava também ser chamada de prostituta, o que os padres fizeram, em mais uma tentativa de difamá-la. Jacobina foi o centro do episódio conhecido como os Mucker, acontecido no Morro do Ferrabrás, em Sapiranga, no Rio Grande do Sul. O final, em 1874, foi trágico com algumas dezenas de mortos. Cem colonos alemães, isolados, acreditando no fim do mundo, foram atacados pelo Exército e por outros colonos incentivados pela igreja e pela imprensa. Reagiram com violência.

 

BIBLIOGRAFIA

 

FLORES, Hilda Agnes Hubner. Canção dos imigrantes. Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, 1983. 

SANT'ANA, Elma. Jacobina Maurer - Coleção Esses Gaúchos. Porto Alegre, Tchê!, s/data.

 
EMENTA
 
      Caracterização dos povos autóctones rio-grandenses e análise da evolução histórica do Rio Grande do Sul durante o período colonial, imperial e republicano, com destaque aos aspectos  sociais,  econômicos,  políticos  e  culturais.       
 
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
 
1. Povos autóctones: primeiros habitantes do RS.
2. Território: aspecto físico e geral; integração do território. 
3. Ocupação do interior: primeiras explorações, primeiro estabelecimento oficial; os jesuítas. 
4. O povo rio-grandense: o indígena, o elemento negro e branco; imigração no século XIX.
5. Economia rio-grandense: agricultura, pecuária e indústria.
6. Vias de comunicação: rodovias, navegação interna e ferrovias.
7. Lutas externas: guerras das Missões Orientais; ocupação dos Sete Povos das Missões; campanha de 1801; conquista das Missões Orientais; invasões do Rio Grande do Sul.
8. Lutas internas: Revolução Farroupilha; os Muckers; Revolução Federalista.
9. A propaganda republicana: plebiscito samborgense; questão militar.
10. A sociedade rio-grandense: as estâncias; o espírito militar; carreiras, lendas e crendices; os centros urbanos.
11. O RS republicano: a Revolução de 1923; a Revolução de 1930; o Estado Novo; a década de 50; o golpe militar de 1964 e a reabertura política no RS.
12. Desenvolvimento cultural, político e econômico do Rio Grande do Sul contemporâneo: aspectos culturais, políticos e econômicos.  Capital e trabalho.           
 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA.
 
ALVES, Francisco das Neves; TORRES, Luis Henrique (Orgs.). Temas de história do Rio Grande do Sul. Rio Grande: Editora da Universidade da FURG, 1994.
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FLORES, Moacyr. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Nova Dimensão, 1996.
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BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR.
 
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Por Vanessa Candia.
Professora, Historiadora.              

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