Revolta dos Malês.
A Revolta dos Malês foi uma
revolta de africanos muçulmanos escravizados que aconteceu na cidade de Salvador, em 1835,
e mobilizou cerca de 600 africanos.
A Revolta
dos Malês foi uma revolta de escravos
que aconteceu na cidade de Salvador, na Bahia, em 1835. Essa foi a maior
revolta de escravos da história do Brasil e mobilizou cerca de 600 escravos que
marcharam nas ruas de Salvador convocando outros escravos a se rebelarem contra
a escravidão. A Revolta dos Malês, que ficou marcada pela grande adesão de
africanos muçulmanos, acabou fracassando e os envolvidos foram duramente
punidos.
Escravidão no Brasil.
A escravidão foi
introduzida no Brasil ainda no século XVI pelos portugueses. Os
primeiros africanos a desembarcarem como escravos foram trazidos para Recife.
Ao longo de mais de 300 anos de escravidão, indígenas, africanos e crioulos
(nascidos no Brasil) sofreram com a violência e a exploração dessa instituição.
Os escravos,
por sua vez, não eram passivos à sua situação e resistiam ao trabalho escravo
de diversas maneiras. Os escravos poderiam fugir individualmente ou até
coletivamente e muitos dos que fugiam se abrigavam em quilombos, um
reduto de escravos fugidos que teve em Palmares seu grande símbolo.
As revoltas também eram um ponto
importante e muitas delas eram violentas. Nelas, os escravos voltavam-se contra
seus senhores ou até mesmo contra as próprias autoridades da região em que eram
escravizados. A Bahia foi um grande símbolo de revoltas de escravos, sobretudo
na primeira metade do século XIX.
Revoltas na Bahia escravista.
Na primeira
metade do século XIX, a Bahia recebeu um grande número de africanos
escravizados, sobretudo nagôs (iorubás) e haussás. A grande presença de africanos naquele estado contribuía para
que eles se organizassem contra a escravidão, mas a rebeldia dos escravos
instalados na Bahia é explicada também pelo fato de que esses dois grupos
citados haviam um histórico recente de envolvimento em guerras.
Na primeira
metade do século XIX, aconteceram trinta
revoltas de escravos na Bahia, das quais metade
aconteceu na década de 1820, conforme pontua o historiador João José Reis|1|. A Revolta dos Malês foi o maior exemplo dessas
revoltas escravas na Bahia do XIX, mas além dela outras revoltas aconteceram,
como foi o caso da Revolta de 1807.
No caso da Revolta de 1807, uma conspiração de escravos foi
descoberta em maio daquele ano. Os escravos que estavam se organizando,
planejavam atacar igrejas católicas, queimar imagens católicas e promover a
ascensão de um líder muçulmano no poder de Salvador. Os planos dos escravos
incluíam a expansão territorial por parte do Nordeste brasileiro.
Outras
revoltas aconteceram em 1809, 1814, 1826 etc. A maior revolta africana que aconteceu no Brasil foi
a Revolta do Malês, que se passou em Salvador em 1835. Essa revolta mobilizou
cerca de 600 africanos escravizados e, apesar de ter sido fracassada no final, a possibilidade
de novas revoltas de escravos atemorizou os senhores de escravos, sobretudo
pelo medo de que o exemplo haitiano pudesse
se repetir aqui.
Participantes
A Revolta do
Malês aconteceu em Salvador, em 25 de janeiro de 1835. Na época, a capital da
Bahia possuía cerca de 65
mil habitantes e desse número cerca de 40% era de escravos. Se fosse
aglomerada toda a população de negros em Salvador, o número chegava a 78% da
população da cidade. Assim, somente 22% da população de Salvador era de brancos|2|.
Os
envolvidos nessa revolta foram, em sua maioria, escravos nagôs (também
conhecidos como iorubás) e haussás – embora os segundos estivessem em menor
número. Os participantes da revolta eram, em geral, muçulmanos, embora tenham existido aqueles
que fossem adeptos de religiões
de matriz africana.
O grande
número de muçulmanos participando dessa revolta influenciou na forma como ela
foi chamada. A palavra “malês” utilizada para nomear o acontecimento é derivado
de imalê, que no
idioma iorubá significa “muçulmano”. Ao todo, cerca de 600 africanos
participaram da Revolta do Malês.
Os
envolvidos com a Revolta do Malês optaram por fazer sua revolta no final do Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos.
Os africanos escolheram exatamente o dia da festa conhecida como Lailat al-Qadr, traduzida como Noite da Glória, que relembrava o dia em que
o Corão foi revelado a Muhammad (Maomé).
Essa revolta foi formada exclusivamente por escravos
nascidos na África, e os historiadores possuem algumas evidências que apontam
que os africanos envolvidos na revolta, caso fossem vitoriosos, voltariam-se
contra todos aqueles que tivessem nascidos no Brasil, sejam eles escravos ou
livres.
Os escravos
que participaram da Revolta do Malês eram majoritariamente escravos urbanos e trabalhavam em diversos
ofícios como sapateiros, ferreiros, carregadores de cadeira etc. Os escravos da
lavoura era a minoria dos envolvidos e os poucos que participaram da revolta
vieram da região do Recôncavo Baiano.
Líderes
A Revolta dos Malês contou com oito líderes dos quais
a maioria era nagô. O nome dos líderes dessa revolta eram:
1. Ahuna
2. Pacífico Licutan
3. Sule ou Nicobé
4. Dassalu ou Damalu
5. Gustard
6. Manuel Calafate
7. Luís Sanim (esse era do povo tapa e também chamados de nupes)
8. Elesbão do Carmo ou Dandará (esse era haussá)
Como terminou a Revolta dos
Malês?
A revolta eclodiu na madrugada do dia 25 de janeiro de
1835. Na ocasião, alguns escravos rebelaram-se abruptamente, porque sua
conspiração havia sido denunciada. Todo o planejamento tinha sido realizado
pelos escravos urbanos – aproveitavam-se do fato de possuírem uma maior
liberdade em relação ao escravo da lavoura.
As reuniões
aconteceram em diversos locais de Salvador, como nos locais de trabalho. Os
escravos africanos que se rebelaram estavam usando um abadá branco (roupa típica dos
muçulmanos) e estavam usando amuletos com escritos do Corão em árabe, como forma de proteção. As
batalhas estenderam-se na cidade de Salvador por quatro horas e resultou na morte de 70 africanos e 9
mortos daqueles que lutaram contra os africanos|3|.
A última
batalha aconteceu em um local de Salvador chamado Água de Meninos e ali, os africanos foram
derrotados. O combate em Água de Meninos estendeu-se até por volta das 4 horas
da madrugada e muitos dos escravos encurralados tentaram fugir a nado pelo mar
e muitos se afogaram tentando fazer isso.
·
Formas de punição
O historiador João José Reis
listou que as formas de punição foram as seguintes: prisão simples, prisão com trabalho, açoite, morte e deportação para a África|4|. Houve casos de africanos
sentenciados a sofrer 1200 chibatadas e dezesseis foram condenados à morte, mas
desses, 12 reverteram sua pena e só quatro
foram de fato executados.
O acontecimento da Revolta dos
Malês aumentou consideravelmente a repressão sobre os escravos africanos na
Bahia nos anos seguintes. Essa repressão afetou tanto escravos como libertos e
existem estudos que afirmam que dos 5 mil libertos que habitavam em Salvador
cerca de 20% foi forçada a retornar para a África|5|.
Esses libertos obrigados a retornar para a África foram o
reflexo de uma lei aprovada em Salvador no mesmo ano da Revolta dos Malês, que
afirmava que todos os africanos suspeitos de envolvimento com revoltas seriam
deportados para o continente africano.
|1| REIS, João José. Revoltas
Escravas. In.: SCHWARCZ, Lilia Moritz e GOMES, Flávio (orgs.). Dicionário da
escravidão e liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018, p. 393.
|2| REIS, João José. A Revolta dos
Malês em 1835. Para acessar, clique aqui.
|3| REIS, João José. Revoltas
Escravas. In.: SCHWARCZ, Lilia Moritz e GOMES, Flávio (orgs.). Dicionário da
escravidão e liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018, p. 395.
|4| Idem nota 2.
|5| BRITO, Luciana.
Retornados Africanos. In.: SCHWARCZ, Lilia Moritz e GOMES, Flávio (orgs.).
Dicionário da escravidão e liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018, p.
387.
Publicado por: Daniel Neves Silva
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