22 de Abril de 2016, por Elaine
Tavares
"Desembarque
de Cabral" - Oscar Pereira da Silva Pintor brasileiro (1865-1959)
A chegada dos portugueses à
costa da Bahia foi num cálido abril de 1500, dia 22. Os Pataxó
descansavam à sombra quando as 13 caravelas comandadas por Pedro Álvares Cabral
divisaram a terra. Diferentemente da região andina e do Pacífico, na costa
Atlântica as comunidades não estavam em estágios avançados de organização,
tampouco formavam estados. Eram grupos de coletores, caçadores e com alguma agricultura,
mas bem diferenciados por múltiplas etnias.
Na primeira visão que tiveram
da costa, os 1.400 homens que formavam a esquadra de Cabral pensaram que a
terra era apenas um monte, por isso, ainda à distância, deram o nome de Monte
Pascoal, já que estavam próximos ao feriado cristão da Páscoa. Depois,
acreditando que o monte era um ilha chamaram de Ilha de Vera Cruz. Quando foi
confirmado que não era mesmo uma ilha e que fazia parte de um novo continente,
o lugar foi chamado de “Terra de Santa Cruz”. Somente em 1511, com a descoberta
do pau-brasil, que é uma árvore típica da Mata Atlântica, o "novo
mundo" para os portugueses passou a se chamar Brasil.
Dois dias após lançarem âncora
no sul do que hoje é a Bahia, os comandantes das caravelas receberam alguns
representantes do grupo Pataxó - que ali habitavam - num dos barcos.
Apresentados a alguns objetos de ouro, os indígenas reconheceram o metal, o que
levou os portugueses a pensar que havia muito ouro por ali. Como ninguém se
entendia, pois um não falava a língua do outro, é bem possível que isso fosse
só um desejo dos portugueses, ansiosos por riquezas. O encontro entre
portugueses e os Pataxó foi documentado pelo escrivão Pero Vaz de Caminha, que
enviou o relato ao rei, e no qual ficava bastante visível o choque
cultural.
" O Capitão, quando eles
vieram, estava sentado em uma cadeira, bem vestido, com um colar de ouro mui
grande ao pescoço, e aos pés uma alcatifa por estrado. Sancho de Tovar, Simão
de Miranda, Nicolau Coelho, Aires Correia, e nós outros que aqui na nau com ele
vamos, sentados no chão, pela alcatifa. Acenderam-se tochas. Entraram. Mas não
fizeram sinal de cortesia, nem de falar ao Capitão nem a ninguém. Porém um
deles pôs olho no colar do Capitão, e começou de acenar com a mão para a terra
e depois para o colar, como que nos dizendo que ali havia ouro. Também olhou
para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o
castiçal como se lá também houvesse prata"
Nesse trecho da narrativa de
Caminha é possível perceber como tudo não passou de interpretação a partir dos
desejos. E segue a carta:
"Mostraram-lhes um
papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram
para a terra, como quem diz que os havia ali. Mostraram-lhes um carneiro: não
fizeram caso. Mostraram-lhes uma galinha, quase tiveram medo dela: não lhe
queriam pôr a mão; e depois a tomaram como que espantados. Deram-lhes ali de
comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel e figos passados. Não
quiseram comer quase nada daquilo; e, se alguma coisa provaram, logo a lançaram
fora. Trouxeram-lhes vinho numa taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram
nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes a água em uma albarrada. Não beberam.
Mal a tomaram na boca, que lavaram, e logo a lançaram fora. Viu um deles umas
contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito com elas, e
lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no braço e acenava para a
terra e de novo para as contas e para o colar do Capitão, como dizendo que
dariam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós assim por assim o desejarmos. Mas se
ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não o queríamos nós
entender, porque não lho havíamos de dar. E depois tornou as contas a quem lhas
dera. Então estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir, sem buscarem maneira
de cobrirem suas vergonhas, as quais não eram fanadas; e as cabeleiras delas
estavam bem rapadas e feitas. O Capitão lhes mandou pôr por baixo das cabeças
seus coxins; e o da cabeleira esforçava-se por não a quebrar. E lançaram-lhes
um manto por cima; e eles consentiram, quedaram-se e dormiram".
nossa fonte; http://www.iela.ufsc.br/povos-originarios/noticia/os-portugueses-chegam-pindorama
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