quarta-feira, 27 de junho de 1990

Influência dos Estados Unidos na globalização.


Influência dos Estados Unidos na globalização.
Introdução.
É impossível falarmos em globalização sem lembrarmos dos Estados Unidos da América, partindo do princípio que essa nação é uma das maiores concentrações de poder mundial na atualidade. Muitos são os motivos que contribuíram para a expansão norte-americana no mundo econômico globalizado. Mas para podermos entender melhor os fatos que a constituíram é preciso, antes entendermos o que aconteceu antes, tudo o que ocorreu e o concurso de circunstâncias que colaboraram para que isso acontecesse.
O Cenário Global no Fim do Século XIX.
No decorrer da idade moderna o século foi, sem dúvida, a época das maiores transformações político-sociais e de maior crescimento econômico o que prenunciaria a criação de uma nova ordem global. A globalização econômica foi a rigor, no século passado que estabeleceu suas bases no processo de evolução coerente, e sua estrutura institucional foi, com certeza, forjada no século atual. A força impulsionadora do expansão comercial internacional originou-se na industrialização da Grã-Bretanha e o escoamento da produção para as colônias, possessões e domínios imperiais. Bem como para nações tanto independentes como as em desenvolvimento. A interdependência global criou e desenvolveu mercados especializados. Com ordens e suprimentos de todas as partes do mundo, Londres passou a ser o núcleo do sistema internacional de preços. Linverpool comandava a produção de trigo americano, sua demanda e oferta: valendo-se dos novos meios interoceânicos de transporte e comunicações que, a despeito dos custos de frete permitiam operações de equalização de preços internacionais. Os Estados Unidos desenvolveram sua própria tecnologia com as invenções do telefone, métodos Kelly-Bessemer para a produção de aço, a lâmpada incandescente, o aperfeiçoamento do dínamo e a voltagem contínua. Resumidamente, pode-se afirmar que o vigor e a diligência do povo americano, em cerca de um século, levaram seu país de colônia à potência mundial. Adentrando no século XX, mais precisamente no início deste, pode-se constatar a brutal diferença existente entre a Europa e Estados Unidos e o mundo colonial afro-asiático e as subdesenvolvidas nações da América Latina. No continente europeu, o progresso deixara para trás os anos da Revolução Industrial com suas concentrações urbanas miseráveis, trabalho infantil e prisão por dívidas. Os americanos aderiram, na virada do século, ao refinamento cultural europeu, pois as elites e classes médias afluentes coexistiam com a pobreza urbana. A mobilidade social cresceu rapidamente nos EUA, com as fortunas, relâmpago de Rockfeller, Carnegie e Mellon.
Unipolaridade X Supremacia
A escalada dos Estados Unidos foi resultado de um processo de evolução política internacional, dotado de estratégias mutantes e muito flexíveis. Após a Segunda Guerra Mundial, a hegemonia norte-americana obteve um processo mais coerente, pois seus objetivos globais tornaram-se finalmente aparentes. Sendo válidos ou não, os interesses provenientes de círculos econômicos e financeiros em particular, cuidaram por assegurar, nesse período, que o dólar ocupasse a posição de “ fiat” mundial, que a abertura dos mercados mundiais aos investimentos americanos fosse permitida, que a expansão comercial e o fortalecimento de blocos fosse uma realidade em andamento, já que esses blocos seriam identificados com os objetivos globais da economia norte-americana. A impossibilidade das Nações Unidas garantirem a paz internacional justa e coincidente com os seus interesses globais, levam os EUA a uma política de confrontação e contenção do expansionismo estalinista no bloqueio de Berlim em 1948 e na invasão comunista na Coréia do Sul em 1950. A crise dos mísseis de Cuba marcou o recuo de Khrushov. Um dos pontos mais polêmicos e controvertidos da ascensão americana e que, ainda hoje, é fonte de incessante pesquisa histórica e incansáveis discussões, foram com certeza, os anos de Vietnã. Ocorre que o fiasco final e a amarga constatação de “o país que jamais perdera uma guerra”, dessa vez, estava de joelhos. A chamada “Teoria do dominó” mostrou que a habilidade norte-americana para levar adiante uma política asiática realista era infinita, pois apenas agora constatamos que essa mesma política pagaria dividendos no Extremo Oriente. As influências americanas no processo da globalização nem sempre são declaradas, são, muitas vezes, sutis. Mas pode-se citar a criação do FMI como um dos fatores decisivos para que os EUA acabassem por exercer um controle velado sobre várias outras nações. Sobre a criação do FMI (Fundo Monetário Internacional), é preciso situar que em 1944, em Bretton Woods, os países que formavam a aliança democrática, na luta contra o nazismo, estabeleceram as bases de uma nova estrutura econômica mundial. O propósito era fomentar o intercâmbio mundial, incentivando as práticas do livre comércio. Havia a garantia dos fluxos financeiros globais de capitais de investimento e ainda, a ajuda aos países em desenvolvimento que estivessem em dificuldades crônicas no seu balanço de pagamentos. Entre as funções do FMI, havia a promoção da cooperação monetária internacional e a expansão do comércio mundial. A manutenção da estabilidade cambial também era objetivo do FMI, que incentivava a cooperação de seus membros desejando evitar as depreciações competitivas. Os países em desenvolvimento, por sua vez, continuaram a ver agravados os seus problemas de transações correntes por causa do pagamento dos juros, principalmente, pois o recurso ao financiamento envolvia riscos comprovados de movimentação, ou seja, capitais especulativos visando ganhos rápidos e repatriação quando conveniente.
Reflexos & Reflexões.
A expansão das multinacionais americanas foi uma das causas que deram consistência à idéia de globalização econômica, que, após a Segunda Guerra assumiram um papel de renovadoras dos modos de produção. Fosse introduzindo novas tecnologias, ou, ainda, promovendo uma real revolução comercial. A informática torna-se o grande eixo do mundo interligado, e essa experiência, inicialmente projetada para que as bases americanas não fossem descobertas enquanto trocavam informações durante a Guerra Fria, acabou por tornar-se o ícone da representação de um mundo sem fronteiras onde as informações sejam elas, de que natureza for, são trocadas na velocidade real, independente da distância e da cultura do povo. As reformas apresentadas pelos EUA logo foram adotadas por outras nações, como por exemplo: a teoria da microeconomia da firma com racionalização dos métodos de produção e as inovações mercadológicas que foram logo adotadas na Europa e no Japão. Vale considerar a essa altura que a globalização não foi um processo único e monolítico, não possui critérios rígidos, e compõem-se, acima de tudo, de movimentos globais impulsionados pela evolução humana impulsionada pelo avanço da era da informática.
O Brasil e a Globalização.
Torna-se importante analisar os efeitos da expansão norte-americana sob o formato de impulsionador da globalização do planeta, no nosso próprio país, o Brasil. Alguns breves comentários acerca da fragilidade brasileira frente à máquina capitalista neo-liberal americana se fazem necessárias, tema que pela sua extensão e riqueza, torna-se difícil desdobrar sinteticamente.
Um Breve Retrospecto.
Sem um padrão monetário estável, o Brasil possui um sério desafio frente à etapa avançada da internacionalização, onde a massa de riquezas líquidas é imensa, e a integração cambial estreitou-se. Durante os anos 80, a reestruturação tecnológica, organizacional e gerencial derivada do impacto da terceira revolução industrial, reorientou os fluxos de investimento direto e o comércio internacional, assim como o movimento de capitais centrais industrializados. Com exceção da China e de algumas economias em desenvolvimento do leste asiático como por exemplo: Coréia do Sul e Taiwwan, que puderam se articular à reestruturação do sistema industrial; a dinâmica da economia mundial foi áspera com os países em desenvolvimento como o Brasil. Contrariando a trajetória histórica, que havia criado recorrentes oportunidades, as grandes transformações tecnológicas e organizacionais dos anos 80 e a integração restrita da economia mundial afetaram o Brasil e a América Latina de forma multiplamente desfavorável. Ora, começando pela crise deflagrada pela abusiva elevação da taxa de juros pelo FED entre 1979 e 1982, que marginalizou o país do mercado financeiro internacional, segregando a economia brasileira, desde o mercado financeiro mundial, até o início dos anos 90. Por outro lado, a grave desorganização das finanças públicas do nosso país, que por sua vez, eram decorrentes da “ crise da dívida” , acabou por sabotar a capacidade ordenadora do Estado o que abriu o caminho para uma violenta instabilidade inflacionária. Resultando disso, a perda do dinamismo da economia brasileira nos anos 80, aliado a um expressivo declínio dos investimentos concomitante as condições de difícil acesso das exportações nacionais aos mercados dos países desenvolvidos, levaram a uma defasagem no aproveitamento e incorporação das transformações tecnológicas e a sucessão da perda da posição do país no comércio internacional. Por fim, as intensas pressões exercidas pelos inter-blocos, especialmente pelos EUA e o Japão e o cada vez mais agressivo instrumento de pressão unilateral exercido pelos EUA, acabaram por reduzir o grau de liberdade política das nações em desenvolvimento. O Brasil e muitas outras economias foram alvo de gradativas e crescentes restrições e constrangimentos na segunda metade dos anos 80. Incrivelmente, ocorreu que no início dos anos 90 uma reviravolta se apresentou, pois a recessão que iniciou nos EUA, disseminou-se entre os países do G-7 durante os anos de 1990-1992. As tentativas de recuperar o crescimento e a fragilidade dos sistemas bancários levaram os próprios bancos centrais, liderados pelo FED, a reduzirem as taxas de juros. Isso permitiu aos mercados emergentes atraírem capitais financeiros em escala crescente. O que inicialmente parecia ser uma forma sensacional de fugir da crise e do subdesenvolvimento, logo se mostrou que era, na realidade, uma fonte de acúmulo de distorções. Esse era o preço do retorno dos países da América Latina ao mercado financeiro.
Conclusão.
A inegável influência norte-americana no processo chamado globalização deu-se sob vários aspectos. Desde os aspectos culturais, onde o “american way off life” imperou no imaginário de gerações até a influência da música, cinema, ...enfim, toda a invasão “made in USA”. Ironias à parte, a verdade é que a influência americana, hoje é um fato incorporado à nossa cultura, tendo, inclusive, elementos que são de uma certa forma, partilhados. Seria por demais extenso, mas nunca maçante continuar a discorrer sobre um assunto tão rico e polêmico como esse, pois a realidade(dura, é verdade) é que os Estados Unidos Da América estão incorporados não só à cultura e ao povo brasileiro, mas a muitos, senão quase todos. Os povos do globo.
Será isso uma das nuances da globalização?
Referências Bibliográficas.
GRIECO, Francisco de Assis. O Brasil e a globalização econômica – São Paulo: Aduaneiras,1997.
BAUMANN, Renato. O Brasil e a economia global – Rio de Janeiro:Campus,1996.
HARRIS,Bernard e James Mcmillan. A invasão econômica americana – Rio de Janeiro: Expressão e Cultura,1968.

Nenhum comentário:

Postar um comentário