quinta-feira, 28 de julho de 2016

Livro: Londres e Paris no século XIX: O espetáculo da pobreza.


Londres e Paris no século XIX.

Mª. Stella M. Bresciani.

Londres e Paris na modernidade encontram um novo olhar e através deste percebe-se a identidade de cada pessoa que passa por ele. Surge um sentimento de preocupação ante a pobreza que a multidão nas ruas revela. A vida cotidiana para muitos autores é um espetáculo dramático, a cena urbana durante o dia é tomada por trabalhadores, já a noite, que parece encantadora, é a amiga do criminoso, enquanto o operário curvado pelo cansaço retorna ao leito. A diversificação é outra entre o dia e a noite; prostitutas, mesas de jogo, restaurantes, teatros e orquestras, mas também os assassinos, ladrões em ação, execuções e catadores de lixo, becos pavorosos e linguajar das prisões. Uma população com medo, a violência é vista de outra forma, o assalto dos ladrões e o barulho da cidade. Os autores do século XIX retratam as cidades com uma riqueza boa de detalhes, e para eles viver numa cidade requer um conhecimento sobre seus sinais para a sobrevivência. Tanto o assaltante quanto o policial buscam a sua presa, há muitas diferenças da violência medieval para a moderna. Observar tudo, figura, roupas, ar, andar, rosto, expressão; gente atarefada, abrindo caminho pela multidão, pessoas saindo do trabalho, pessoas correndo contra o tempo. Não basta parecer indigente para ser ladrão, pode ser bonito, bem vestido, pois há uma expressão que diz "...os elegantes batedores de carteiras...". Nas camadas mais baixas da população, depara-se com a pobreza e a mais pura miséria. Com o desenvolvimento da cidade tem-se logo um crescimento demográfico e o uso de novas tecnologias: amontoado de casas, navios alinhados no porto, trânsito em movimento tanto nas ruas como nos rios onde barcos a vapor passam em velocidade, para a Inglaterra é tudo muito grande. Poe admira e gosta do desenvolvimento, enquanto Engles repugna-se com a revolta da natureza, menciona "...as pessoas se acotovelando, parecendo nada ter em comum...". Aparecimento de filas para todos os lados, congestionamento e o consumismo no olhar das pessoas, um crescimento e desenvolvimento da economia.

Há também individualismo, isolamento, egoísmo, pessoas voltadas a seus interesses. Bairros divididos, a classe operária de Londres encontra-se nos bairros ruins, com ruas estreitas, sujas, mal cheirosas, onde as janelas são todas quebradas e os muros descascados. A separação da população por classes tida como base essencial da sociedade. Ruas sujas, mas o povo apesar de inculto se diverte, o mercado público é uma característica do lugar, não há limpeza, não há conservação, não há verbas para consertar. A miséria e a sujeira resultam em uma população doente, por causa das condições totalmente insalubres que as rodeiam. Péssimas moradias, crianças doentias, superpopulação, nos corpos marcas da violência, onde jamais alguém penteia o cabelo, cortiços que abrigam coisas. Sem educação, sem acesso a informação, sem noção de higiene e cultura, vida curta para estes seres que criam-se na sujeira e nela acabam morrendo cedo. Sucessivas epidemias surgem deste mar de podridão causando conflitos modernos da "suposta civilização". Trabalho irregular, prostituição, biscates, desordem, preconceitos em geral, protestos públicos e tumultos. Espantoso crescimento populacional e estruturação do sistema de fábrica. As pessoas foram atraídas por um imaginário de crescimento profissional e econômico, uma oportunidade de vida. Porém com a super procura, houve o esgotamento causado pela demografia e o uso das fábricas para substituir a mão de obra considerada de baixo nível devido a miséria.

Londres era conhecida por possuir boa produção têxtil, construção naval, engenharia civil e mecânica pesada. Passou por uma epidemia de cólera que atingiu a construção civil de ferrovias. A concorrência começa a atuar e onde é dispendioso o uso das máquinas ocorreu a super exploração do homem. Junto ao crime vem a mendicância na cidade. O sistema de fábricas inspirou escritores e políticos, que relataram o progresso da classe operária. Para delimitar o espaço da pobreza a sociedade se defende com uma feroz repressão ao movimento dos desempregados no dia 13 de novembro de 1887, o Domingo sangrento - (Bloody Sunday) expressando seu temor e sua força. Esta virou música composta pelo conjunto U2 (banda irlandesa de rock) e proibida pela forma do protesto agressivo, mas depois de um certo tempo foi liberada. Formas explícitas dos centros comerciais, das indústrias, da miséria, da barbárie, do crime mas, também dos perigosos políticos. Na medida em que o tempo vai fluindo a miséria é cada vez maior, é como uma bola de neve. Homens que se tornam máquinas porque submetidos a elas.

Em Paris é a mesma coisa praticamente, os bairros dos operários são chamados de bairros dos miseráveis. Em Londres a metade da população está na cidade e a outra parte no campo, já em Paris, 75% está no campo praticando a agricultura porque a urbanização é mais lenta na França, o que na Inglaterra já existia a meio século atrás. Locke e Adam Smith desfazem a imagem negativa do trabalho como patrimônio da pobreza: "O trabalho, considerado a fonte da propriedade, da riqueza e de todos os valores principalmente da própria humanidade". Esta mesma forma de encarar o trabalho também é apresentado pelo autor Edgar de Decca, em seu livro O Nascimento das Fábricas onde ele mostra a definição do trabalho visto por Locke, Marx e Adam Smith. As Casas de Trabalho, chamadas de Bastilhas pelo homem pobre tinham altos muros e possuíam disciplina carcerária, separação dos membros da família, trabalho pesado, refeições magras, proibição de fumar e visitas raras. Uma verdadeira prisão. Surgem doenças e deformações provocadas pelas condições de trabalho e moradia, pelas longas jornadas de trabalho, pela higiene precária, pela dieta insuficiente, pela promiscuidade e estudiosos da questão afirmam a culpa pela degradação de parte da população inglesa. O homem pobre, além disso tudo, era mantido fora da comunidade política. Londres: o sistema de fábrica despeja a escória humana, após isto sofre a crise da indústria local londrina em 1886 e 1887; em 1889 dá-se a greve dos trabalhadores nas docas. O autor fez uma análise das pessoas e seu comportamento, além dos muros das fábricas, este que circulam nas ruas das grandes cidades, coberto de sinais de miséria. Questiona a utopia liberal que acreditava ser o sistema de fábrica o ambiente ideal para a solução do problema da pobreza e da moralização do "homem pobre". Faz tempo que as máquinas chegaram para nos "ajudar" e governar, e se fôssemos sentar no banco de uma praça no centro, "até na rua dos Andradas" e olharmos hoje, veremos que não mudou muito !
Da Revolução Industrial, tem-se 4 revoluções que foram a máquina a vapor, a eletricidade, a energia nuclear e o motor de explosão. Braudel acha que no caso da Inglaterra, é privilegiada de 1780 a 1880. Hobsbawn, diz que em 200 anos, uma sequência de desenvolvimento econômico, o país estava acumulando excedente, inversão para a transferência econômica. 

A primeira coisa a ser feita pós independência, é fazer um empréstimo, pedir grana ! a Inglaterra estava acumulando excedente, estava produzindo acima de suas necessidades básicas e tinha que diversificar a aplicação. Aparentemente comercial, a economia inglesa se desenvolveu em outros setores com a agricultura básica. O homem tem necessidade de se desenvolver. Os manufatureiros, alfaiates, comerciantes, tinham como viver de suas profissões, já os camponeses agricultores não tinham. O progresso modificou a vida cotidiana das pessoas que tinham que ter um sistema de relações econômicas e comerciais. Transportes e comunicações baratas, nenhum porto do litoral tinha mais de 100 km, havia canais de navegação e no tipo de industrialização do século XVIII havia um equilíbrio entre a natalidade e a mortalidade. Mais da metade das crianças não chegavam a idade adulta, os sobreviventes duravam até os 45 anos mais ou menos. 

A taxa de nascimento era alta no séc. XVIII e a mortalidade foi diminuindo, consequentemente a revolução demográfica é concomitante com a Revolução Industrial. Já Revolução Agrícola é fruto do descobrimento das navegações porque são levados para a Europa produtos que não tinham e passam a ser uma opção de cultivo para aquelas áreas que não eram utilizadas, como por exemplo: o milho (americano), que tornou-se um dos três itens mais cultivados na Europa em matéria de grãos, o arroz e o trigo. A população aumenta e a Revolução se entrelaça, uma coisa está ligada a outra, a necessidade do homem desenvolve a tecnologia e a mudança vai acontecendo gradativamente e não brusca, como alguns a definem. Enquanto a Inglaterra coloniza os EUA, a França coloniza o Canadá, mas também colonizam o Norte da África onde depositam pessoas, para os franceses a imigração é rara, já os EUA recebem uma grande concentração de imigrantes da Inglaterra.

Por: Prof. Vanessa.

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