Havia chegado o momento de afastar um sócio incômodo: o poder da coroa espanhola. Incômodo e muito mais que isso, por que dificultava as transações mercantis, opunha restrições ao desenvolvimento de determinados setores produtivos, entregava o comércio com o além mar a um grupo de monopolistas privilegiados confiscava para si uma parte considerável do excedente econômico produzido pelo trabalho dos índios, limitava o acesso de crioulos aos postos fundamentais da administração pública e no cume da hierarquia social nem sempre conseguiam instalar-se os que aspiravam a isso em virtude de seu grande poder econômico. Os conquistadores vieram enriquecer-se com ouro e prata, quando possível, ou produzindo qualquer artigo que a Europa necessitasse.
Precisavam de mão de obra e tiveram-na primeiro nos índios e logo a seguir nos negros trazidos da África e escravizados. A contradição eclodiu de imediato e teve aspectos violentos por que a coroa quis preservar os índios de cujo trabalho, afinal, derivavam os tributos e a riqueza que o bom rei necessitava para mal baratear na Europa. A presença do Estado espanhol através de funcionários e cléricos evitou que o poder se fragmentasse em tantas partes quantas eram os latifúndios existentes. Cada um destes tinha autoridade sobre um número de índios, com o direito de expropriar o trabalho deles quando viviam nos povoados, organizados pela coroa ou conservados desde antes da conquista.
Os detentores do poder econômico não puderam entregar-se livre e tranquilamente a exploração das grandes multidões nativas, por que sempre alguma lei, alguma cédula real, algum funcionário obtuso ou clérico ou destinado vinham criar problemas, punir faltas, clamar contra as violências dos de cima e manifestar-se a favor dos direitos dos de baixa condição. A luta pela independência na América Espanhola implicou uma passagem de todo o poder político aqueles que já possuíam a maior parte do poder econômico. O latifúndio, a servidão, a escravidão e outros males prolongaram-se após a independência.
AMÉRICA CENTRAL.
Ao começar o século XIX, a Capitania Geral e Reino da Guatemala compreende as posteriores Repúblicas de Honduras, El Salvador, Guatemala, Nicarágua e Costa Rica. O latifúndio agropecuário e agro industrial (canavial e engenho de açúcar), constituía a estrutura produtiva predominante. Nas cidades encontramos uma massa de pequenos comerciantes e uma minoria muito exígua de poderosos mercadores. Além disso os mestiços mais conhecidos como ladinos e, frequentemente, como pardos, eram homens livres mas carente de terras. As leis liberais outorgadas no período da independência favoreciam os agricultores ladinos e isso determinou que o índio, com frequência se juntasse aos latifundiários crioulos na luta contra os liberais, que tendiam a cercear as terras comunais. A estrutura colonial dos povoados foi desmantelada, multiplicou-se a propriedade agrária em mão dos ladinos e aumentaram os latifúndios. Mas, de fato, a produção mercantil não prosperou durante a colônia, de modo que os latifúndios, quando não dedicavam sua produção totalmente ao alto consumo, enviavam seus excedentes ao mercado constituído pelas cidades.
Os grupos que levantam essas bandeiras, as mais avançadas para seu tempo, estão constituídos por religiosos regulares e seculares, médicos e advogados, empregados do governo, militares de média e baixa graduação, empregados de categoria modesta. No processo que conduziu a independência e a fragmentação da capitania nos atuais estados da América Central, os índios não desempenharam nenhum papel. E como não foi necessário organizar exércitos, por que a independência não foi consequência de uma guerra, como na América do Sul, nem se que para soldados foram solicitados. Foram uma massa passiva ou indiferente. Em 22 de dezembro os habitantes da cidade de Granada conseguiram a deposição das autoridades coloniais. Depois tomaram o castelo de San Carlos e aprisionaram vários militares espanhóis. Posteriormente, declarada na Guatemala a independência, as principais autoridades da cidade de Leon se opuseram, mas em Granada e em outras povoações a mesma foi aceita e jurada, assim como se manteve a união com a Guatemala, anos depois, ao conhecer a decisão independentista proclamada na Guatemala, o corpo municipal manifesta-se contra, e igualmente contra a constituição de uma junta consultiva.
Em síntese, pode se dizer, que a vontade de ser independente na América Central foi muito mais fraca que em outras regiões do império espanhol, por outro lado, a cota de riquezas que ia para as mãos da coroa na qualidade de tributos não era relevante num fluxo mercantil inexistente ou, na melhor das hipóteses extremamente fraco. Os realistas estavam consumando a independência com o máximo possível de salvaguarda para os interesses da coroa espanhola. Um congresso com representantes das províncias, inaugurado a 24 de junho de 1823, declarou a independência das províncias da América Central em relação ao México, Espanha e qualquer outro poder. Nasciam as províncias unidas da América Central.
Por: Prof. Vanessa.
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