sábado, 28 de julho de 2018

Livro: História Polissemia de uma Palavra.


História polissemia de uma palavra.

Guilherme Pereira das Neves.

Estudos Ibero Americanos – Vol. X. Nº 1, Julho/84.

A Diversidade das Práticas Historiográficas.

Há uma diferença entre pensamento histórico e prática historiográfica. No pensamento histórico, na Grécia, tem-se Heródoto e Tucídetes. Com a mesma indagação que existe até hoje, presente na escrita. O pensamento procura identificar uma prática historiográfica única através das análises, e este foi se transformando e aperfeiçoando-se, e continua fazendo parte do trabalho dos historiadores. Michel de Certeau critica, pois o pensamento histórico não deve ser visto como certo ou errado, mas dependente do tempo em que aconteceu. A partir de dois problemas tem-se a visão filosófica de que o pensamento histórico antigo e os resultados nem sempre foram compatíveis, traduzindo-se em diversificadas práticas historiográficas. Na visão sociológica, essas práticas eram aceitas de acordo com cada modo de pensamento.

Início do século XIX distingue-se quatro práticas historiográficas, cada uma com seu problema. Essas análises existiam e aconteciam juntas ou separadas.

1º problema – Modelo da produção greco-romana: Historiadores extraíam lições para conduta afirmando que a história era exemplar. Heródoto e Tucídetes. História não muda, se repete.

2º problema – Modelo Cristão: pensamento concentrado na divindade absoluta, alterando o primeiro problema. Sentido Universal. Teocentrismo. Incertezas sobre a existência de Deus e a influência nos humanos, o pensamento histórico tornou-se uma filosofia.

3º problema – Modelo da Renascença: visão mais complexa, de um lado a revalorização da antigüidade clássica, onde historiadores greco-romanos voltam a ser modelos e o seu pensamento de história como exemplo provocou desprezo em mentes do século XVII. A filosofia da história transformou-se no pensamento, onde priorizava o uso da razão. 

A história se aproxima da ciência. Dúvida sobre os motivos e causas de atos humanos, no século XVIII. Montesquieu, Voltaire, Hume e Adam Smith. Explicar sociedade humana como um todo.

4º problema – Modelo da Idade Moderna- Teológico- Cristã: disputa e necessidade para compreensão e purificação de textos antigos que levaram a evolução da erudição, mas limitando-se os detalhes e escondendo-lhes da visão e compreensão maior.

Conclusão: o último problema vai desprezar o anterior e recuperar o mais antigo. Assim, o quarto despreza o terceiro para valorizar o segundo. O terceiro despreza o segundo para valorizar o primeiro.

Do século XVI ao XVIII, conviveram esses quatro paradigmas. No início do século XIX, com Ranke em sua obra “histórias dos povos latinos e germânicos” , (1824, data da profissionalização do historiador). Surge o problema da prática historiográfica contemporânea, propondo-se a utilização de documentos, para comprovação de explicações. Não está na natureza nem em fenômenos naturais, mas no campo da cultura. Os problemas continuaram. História filosófica se fragmentou abrigando-se nas ciências sociais, fugindo da órbita da historia, no início do século XX, historiadores tentaram uma aproximação.

O problema de Ranke caminhou paralelamente com a criação do ofício de historiador no século XIX, transformando a prática historiográfica.

No século XVIII ocorreu uma ascensão no campo intelectual, em relação aos outros, econômico, político e religioso. Primeiros vestígios de especulação na documentação que caracterizará a prática historiográfica do século XIX. A história passou a ser trabalhada por historiadores e não mais por filósofos, eruditos e artistas. Ranke e Guizot introduziram a disciplina nos currículos escolares, cadeiras de história na faculdades, fundaram instituições e arquivos e revistas especializadas. Criava-se o mundo dos historiadores, o campo intelectual da história. A instituição historiográfica relacionou o valor da história como conhecimento apropriado para despertar a idéia de nação. 

A história podia reivindicar num ambiente crescentemente cientificista, combinando explicação e prova, o caráter de uma ciência, perde-se a inquietação da história da filosofia que era conservada desde antigamente pois unia teoria e experiência para cada campo específico. O mundo dos historiadores reagia ou morria.

Fundação dos Annales de história econômica e social por Marc Bloch e Lucien Febvre, em 1929, indicam a reação historiográfica, abrindo para as ciências sociais das quais passou a importar modelos explicativos e técnicas de análises, aceitação do marxismo. Após a Segunda guerra mundial conseguiram poder intelectualmente na França e no exterior que pode ser considerado o problema da prática historiográfica profissional contemporânea.

François Furet, denominou a história narração e a história problema.

HISTÓRIA NARRATIVA – Anterior a Marx. Narração do que aconteceu de fato, intenção de produzir uma versão do ocorrido, capaz de torná-lo compreensível. Linhagem de Ranke, Guizot e Michelet. A documentação de época constitui a matéria prima da prática historiográfica, mais por seu objeto material do que por sua demarcação teórica. Documento como ponto de partida. Cumpre, catalogar, extrair dos textos a particularidade, o individual, o único e, com o auxílio sutil da crítica estabelecer os detalhes que caracterizam o evento. Pode-se chegar a alguns resultados claros, preciosos e objetivos, mas num nível elementar, o de nomes, locais e datas corretos de cada acontecimento, nada desprezíveis. Acontecimentos cronológicos. Historicismo identifica e explica o acontecimento através da data. Predomínio de guerras, tratados, decisões administrativas, opções políticas e atitudes coletivas. Instrumento essencial adequado para revelar a totalidade dos acontecimentos são as fontes, indispensáveis e que devem ser consultadas exaustivamente. Encontrada nos livros antigos, é uma história oficial, a cronologia está presente, os historiadores preferem documentos políticos e oficiais.

Valorização de personagens, heróis, acontecimentos excepcionais e fatos históricos.

HISTÓRIA PROBLEMA – Problemática antes de começar a pesquisar. O ocorrido como campo de prova para verificar a pertinência de uma certa teoria, sobre algum aspecto da sociedade, elaborada pela mente do pesquisador, como uma combinação de variáveis, na linhagem de Marx e das ciências sociais. Encontrada com historiadores de Marx para cá. A concepção de tempo é outra, de fato histórico, de documentos econômicos e sociais.


Por: Prof. Vanessa.

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