quarta-feira, 19 de julho de 2017

Oito lugares sinistros de Porto Alegre: veja as lendas urbanas mais famosas.

Passado sangrento

Oito lugares sinistros de Porto Alegre: veja as lendas urbanas mais famosas

Pontos insuspeitos da Capital escondem histórias de crimes brutais

Por: Bruna Vargas 19/07/2017 - 13h41min | Atualizada em 19/07/2017 - 17h37min
Oito lugares sinistros de Porto Alegre: veja as lendas urbanas mais famosas Edu Oliveira/Agencia RBS
Foto: Edu Oliveira / Agencia RBS 
Lugares tão insuspeitos como uma praça arborizada, uma vistosa mansão no Moinhos de Vento ou uma simpática via do centro de Porto Alegre escondem um passado sangrento: enforcamentos, cárcere privado, tortura e até linguiça de gente estão entre os acontecimentos sinistros que teriam ocorrido nesses e em outros pontos da Capital, assombrando o imaginário popular. Enquanto registros mostram que os mais famosos realmente aconteceram, outros nunca foram totalmente esclarecidos.
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— Há coisas imaginadas, como a história das linguiças de gente da Rua do Arvoredo (atual Rua Fernando Machado). Existia um cara que matava gente, mas não se comprovou que fazia linguiça das vítimas. Pelo menos três cadáveres foram encontrados na casa dele, inteiros. A história que se repete de boca em boca é sempre envenenada pela imaginação — avalia o historiador Sergio da Costa Franco, autor diversos livros sobre a Capital.
Para o professor do curso de História da PUCRS Charles Monteiro, apesar de haver componentes de ficção, as principais lendas urbanas de Porto Alegre não são apenas fruto da imaginação popular. São acontecimentos reais que chocaram por sua brutalidade, inseridos em contextos históricos específicos.
— Casos que entraram para a memória urbana, que são brutais, violentos e até absurdos, fazem parte da história e têm explicação histórica. O homem que matou a Maria Degolada, por exemplo, participou de um grupo de soldados que tinha a degola como prática. As pessoas pegam um caso como esse hoje e pensam: como isso acontece? Mas a barbárie não é à toa. Ela está assentada sobre práticas históricas — esclarece.
Monteiro explica que boa parte dos casos brutais que ficaram conhecidos ocorreram da metade do século 19 até meados do século passado, período que marcou a aceleração do processo urbano na Capital. O espanto causado por alguns deles ajudou a mistificá-los: poucos estavam dispostos a se envolver com esses eventos, o que fez com que não fossem investigados a fundo, ficando com lacunas. Com a mudança das regras sociais, as histórias ganharam ainda mais peso, segundo o professor, porque passaram a se confrontar com novos valores, que as tornaram inaceitáveis — para citar um exemplo, o enforcamento de condenados era permitido pela legislação brasileira até o fim do século 19.
Ao longo dos anos, livros, peças de teatro e filmes contaram as histórias ou fizeram referência a fatos perturbadores que teriam ocorrido na Capital — oito deles relembrados ao final da reportagem. Na visão do pesquisador da PUCRS, contar e recontar casos assim também é uma forma de assimilá-los, para que não se repitam:
— O afastamento e a negação são mecanismos de proteção que as pessoas têm: transformam aquilo em uma barbárie lendária. É importante porque elas reconhecem que não é um comportamento correto, que não faz parte dos padrões, uma espécie de limbo entre o civilizado e o bárbaro. A lenda coloca isso nessa fronteira, onde ela encontra um lugar pra conviver. 
1. Largo da Forca
Se hoje qualquer um pode circular impunemente sob as árvores da Praça Brigadeiro Sampaio, no fim da Rua dos Andradas, no passado, pisar no local era a certeza do fim para algumas pessoas. Da segunda metade século 18 até parte do século 19, eram levados para lá os escravos condenados à morte, para serem enforcados.
Devido à prática recorrente no tempo em que existia pena de morte no Brasil ‒ extinta no fim do Império ‒, a praça ficou conhecida como Largo da Forca. Em 1857, ocorreram as últimas execuções na área, que passou a ser conhecida como Praça do Arsenal. Com o fim da Guerra do Paraguai, em 1860, mudou de nome mais uma vez: tornou-se Praça da Harmonia.
A Praça Brigadeiro Sampaio foi rebatizada outras vezes antes de receber o nome definitivo, em 1965. É uma homenagem ao patrono da infantaria brasileira.
Em 2010, o local onde os escravos eram enforcados recebeu o primeiro marco escultural do Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre: um tambor gigante, pintado em amarelo e com símbolos da cultura afro.
Onde fica: Praça Brigadeiro Sampaio, Rua dos Andradas
Para visitar: o acesso é gratuito

2. Rua do Arvoredo
Uma das mais famosas lendas urbanas de Porto Alegre daria inveja em Tim Burton. Conta-se que, no fim do século 19, José Ramos e sua esposa, Catarina Palsen, mataram uma série de pessoas em sua casa na Rua do Arvoredo ‒ atual Rua Fernando Machado ‒, no Centro. Após os assassinatos, consta que a dupla esquartejava os corpos e levava a carne a um açougue, no mesmo endereço.
Ali, o açougueiro Carlos Klaussner fabricava linguiça de carne humana, feita das vítimas de José e Catarina. Anos mais tarde, ao tentar encerrar a parceria, o próprio Carlos teria se tornado uma delas. Vendidas no comércio local, as linguiças teriam tido boa aceitação na Capital.
A história inspirou livros e peças de teatro, mas nunca foi totalmente esclarecida. Há processos criminais contra José Ramos, mas neles não consta a parte das linguiças de vítimas. Segundo o historiador Décio Freitas, autor do livro O Maior Crime da Terra, faltam páginas nos processos, manuscritos em português arcaico, que poderiam confirmar se a iguaria existiu.
Onde fica: Rua Fernando Machado, Centro Histórico
Para visitar: a via é pública

3. Casarão dos Kliemann
O inverno de 1962 foi marcado por um crime obscuro em Porto Alegre. Esposa do então deputado estadual Euclydes Kliemann, Margit Kliemann foi assassinada dentro da mansão onde o casal vivia com as filhas, no Moinhos de Vento. Após 55 anos, o caso segue sem solução.
No livro "Caso Kliemann: a história de uma tragédia", o jornalista Celito de Grandi conta que Margit teria sido atacada no alto da escada e golpeada repetidas vezes com um objeto cortante. Euclydes encontrou Margit caída, de bruços, com a cabeça numa poça de sangue. Apesar da falta de evidências, a polícia suspeitava do deputado e alimentou histórias fantasiosas na imprensa. No ano seguinte, Kliemann foi assassinado com um tiro no peito por um desafeto político em Santa Cruz do Sul. Um sobrinho envolvido em assaltos, que teria matado Margit ao ser flagrado roubando a casa dos Kliemann, também foi cogitado como culpado. O caso nunca foi esclarecido.
Onde fica: Rua Barão de Santo Ângelo, Moinhos de Vento
Para visitar: o imóvel é privado e não está aberto à visitação.

4. Igreja Nossa Senhora das Dores
Construída por escravos no século 19, a Igreja Nossa Senhora das Dores, no Centro, carrega o peso de uma maldição, de acordo com a lenda popular. Dizem que um escravo que trabalhava na construção do local foi condenado à morte injustamente. Antes de ser enforcado, ele rogou uma praga: seu senhor jamais veria a Igreja pronta.
Como a obra levou quase 100 anos para ser concluída, há quem acredite que a maldição funcionou e o fantasma do escravo estaria até hoje assombrando o local.
A pedra fundamental da obra foi colocada em 1807, quando foi construída uma capela. Em 1846, a igreja passou a tomar forma, mas os trabalhos só foram concluídos em 1904. Tombada em 1938 pelo Patrimônio Histórico, é a igreja mais antiga da cidade.
O local também não ficou imune à aura de morte que o cercava. Como estava muito próximo do Largo da Forca, onde ocorriam as execuções de escravos, o espírito dos enforcados ainda circularia por lá: há quem diga que sombras e vultos costumam aparecer durante a noite.
Onde fica: Rua dos Andradas, 587
Para visitar: o local está aberto à visitação diariamente, das 8h às 20h (aos domingos, fecha das 12h às 13h).

5. Museu Júlio de Castilhos
Duas mortes dramáticas ocorridas no começo do século 20 no casarão onde hoje funciona o Museu Júlio de Castilhos fizeram a fama de mal assombrado do local. Casa do então governador do Estado Júlio de Castilhos, onde vivia com esposa Honorina e seus filhos, o local foi onde o político morreu, em 1903, durante uma cirurgia para remover um câncer. Inconformada com a morte do marido, Honorina cometeu suicídio anos depois, em uma das dependências do casarão.
Aberto à visitação, o local permite conhecer o gabinete e o quarto de Júlio de Castilhos, além das salas Missioneira, Indígena, Escravatura e Revolução Farroupilha. O casarão conta com exposições temporárias e uma coleção de mais de oito mil objetos e documentos de grande importância na preservação da história gaúcha.
É preciso vencer o medo: há relatos de aparição de fantasmas e assombrações. Reforçam a fama de mausoléu relatos de que o local, anteriormente a construção do casarão, era onde funcionava o primeiro cemitério da cidade ‒ até hoje os ossos estariam enterrados por lá.
Onde fica: Rua Duque de Caxias, 1.205
Para visitar: de terça a sábado, das 10h às 17h.

6. Castelinho do Alto da Bronze
Uma construção em estilo medieval à esquina das ruas Vasco Alves e Fernando Machado foi palco de um romance sombrio mais de meio século atrás.
Depois de se divorciar da esposa, no fim da década de 1940, o então político Carlos Eurico Gomes mandou construir um castelo para viver com Nilza Linck, à época com 18 anos, e o filho dela. O que sucedeu nos anos seguintes assemelhou-se ao drama de Rapunzel: obcecado por Nilza, Carlos a manteve prisioneira por quatro anos.
A vigilância era tão rígida que o homem a impedia de se aproximar das janelas do prédio. Depois de quatro anos (de 1948 a 1952), cansada do ciúme do marido, Nilza resolveu deixá-lo.
Mais tarde, a mulher contou sua história ao jornalista Juremir Machado, que escreveu o livro A Prisioneira do Castelinho do Alto da Bronze. Atualmente, o local abriga um espaço cultural, com exposições musicais, fotográficas, teatrais e das artes plásticas.
Onde fica: Rua Vasco Alves, 432
Para visitar: o local realiza eventos pontuais. Informações: (51) 3012-0983.

7. Morro da Conceição
Antigo Morro do Hospício, a Vila Maria da Conceição foi cenário de uma tragédia no fim do século 19. Maria Francelina Trenes, que namorava um soldado da Brigada Militar chamado Bruno Soares Bicudo, foi morta pelo homem no local.
Segundo o processo judicial da época, os dois estavam com amigos quando começaram a discutir. A briga acabou em violência: Bruno cortou o pescoço da mulher com uma faca ‒ o que deu à vítima o apelido de Maria Degolada.
O soldado foi preso, e o assassinato ganhou grande destaque pela sua brutalidade. No local do crime, foi erguida uma pequena capela em homenagem à mulher, identificando-a com Nossa Senhora da Conceição. O antigo Morro do Hospício passou a ser chamado de morro da Maria Degolada, e a vila construída no local levou o nome da santa urbana: Maria da Conceição.
Os devotos da santa a consideram milagrosa, mas com uma restrição: não atende a preces de policiais. Nem só os bons feitos, porém, imortalizaram Maria Francelina Trenes: dizem que até hoje a alma da moça assombra o morro.
Onde fica: a atual Vila Maria da Conceição fica no bairro Partenon
Para visitar: a visitação é desaconselhada, já que o local há anos sofre sob o dominío do tráfico de drogas.

8. Ilha do Presídio
Local de uma casa de pólvora do exército imperial no século 19, a Ilha do Presídio fez parte, mais de um século depois, de um dos períodos mais tensos da ditadura no Estado. A prisão da década de 1950 foi transformada, em 1964, em centro de detenção do aparato repressivo ‒ era o destino dos presos políticos.
Um dos fatos mais marcantes da Ilha foi o "caso das mãos amarradas". Em 1966, depois de sequestrado, preso e torturado durante cinco meses, o ex-sargento Manoel Raymundo foi morto e encontrado nas águas do Guaíba com as mãos atadas às costas. Entre os anos de 1965 e 1973, dezenas de jovens militantes de movimentos estudantis e de organizações clandestinas de resistência à ditadura foram detidos na ilha, entre eles Carlos Araújo e Raul Pont. Conforme o livro Ilha do Presídio ‒ Uma Reportagem de Ideias, os presos políticos eram enviados periodicamente ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops) da Capital, onde passavam por interrogatórios e torturas. Desde 2014, o local integra o Patrimônio Histórico e Cultural do Estado.
Onde fica: Ilha das Pedras Brancas, no Guaíba (na altura do bairro Tristeza)
Para visitar: a visitação é feita por meio de transporte náutico habilitado e agendado previamente. Quem fornece o contato para a marcação é a Secretaria de Turismo e Cultura, pelo telefone (51) 3491-1888.

fonte: http://zh.clicrbs.com.br/rs/porto-alegre/noticia/2017/07/oito-lugares-sinistros-de-porto-alegre-veja-as-lendas-urbanas-mais-famosas-9846483.html

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